segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Análise: por trás da hiperinflação dos combustíveis

 

        No tema Economia, representações da grande imprensa têm extensivamente apontado sobre os aumentos semanais resultando na carestia severa dos combustíveis para o consumidor final, em aparente crítica à falta de ação do governo para buscar meio de estancar o problema.
        A permanência dessa crise estabelece no povo a conclusão de que a hiperinflação voltou e teria falido o Plano Real, que fora desenvolvido na era Itamar Franco para criar uma moeda relativamente estável frente ao dólar e ao euro (câmbio flutuante), e combater o descontrole inflacionário sem prejudicar o mercado.
        Mas, o plano Real segue sem interferência nas leis do mercado atual, revelando que o problema, na verdade, se encontra na fragilidade das relações construídas com o mercado interno representado pelos serviços oferecidos à população e ao consumidor final, este em geral de camadas populares.
        Isso talvez esteja por trás das atividades de Paulo Guedes, o famigerado ministro Chicago boy do governo Bolsonaro, a mexer nos pauzinhos da solidez do plano Real através da fragilização do câmbio flutuante, tornando mais caras as moedas de ponta (euro, libra esterlina e dólar) para a nossa, e junto a outros meios, dificultando a economia popular. 

Fragilidade cambial, instrumento de partida

        Quando assumiu a pasta da Economia de Bolsonaro, Guedes viu um contexto socioeconômico em novo ciclo de empobrecimento, decorrente das medidas subtrativas da era Temer, como a dissolução da CLT que em  numerosos tópicos facilitou a vida dos empregadores e dificultou a dos trabalhadores em numerosos pontos. Mas Guedes achou isso muito pouco.
        Ele nunca escondeu sua crítica ao Plano Real e das facilidades de crédito popular do petismo, que permitiram à patuleia viajar de avião, cursar universidade e ter casa própria. Sua crítica, em conferência com megaempresários, foi no "absurdo" de "domésticas viajando para a Disney, uma festa danada".
        Por essa "festa danada" ele culpou a estabilidade da moeda brasileira pelo câmbio flutuante. Foi então que ele realizou a quebra desse câmbio, desvalorizando o real diante do dólar e outras, e garantiu aumentos de preços de uma infinidade de produtos e serviços, sobretudo alimentos e combustíveis.
        Se em algum momento as domésticas realmente foram tão longe e queriam voltar, não sabemos; a certeza é a de que, com a sindemia de C19, Guedes passou a boiada matando sonhos e deixando vazios bolsos, moradas e estômagos. Osso virou carne e empregos, quando há, são precários e juridicamente inseguros.
        Desaceleração- Diante do reclame do impactado mercado interno e também dos bancos, Guedes desacelerou o desvalor cambial, influindo em aumentos mais controlados dos preços de alimentos e outros insumos básicos, sem, no entanto, surtir efeito social positivo.
        Se os vegetais em geral (frutas, legumes, grãos, leguminosas, farinhas) tiveram desaceleração nas subidas de preços, o mesmo não se pode dizer, a princípio, da carne, que continuou alvo especulativo apesar do boicote chinês devido à confirmação de alguns casos de "doença da vaca louca".
        Mas a desaceleração não conteve a sucessão de aumentos dos preços dos combustíveis, refletindo em repetidas ameaças de paralisação dos caminhoneiros, já cansados das promessas do governo. Em conta-gotas, os aumentos semanais geraram alta acumulada de quase 100%, desde o seu início, como aponta o Instituto de Preços ao Consumidor (IPC-A).
        Para conter a sangria inflacionária, o Banco Central elevou a taxa de juros Selic de 2% a 7,75%, dando certo principalmente nos preços de gêneros alimentícios. Mas tal aumento leva à transferência de enorme volume extra para o mercado financeiro, que pode ultrapassar R$ 200 bi. Assim, o mercado abocanha mais de 4 vezes o antes destinado ao agora finado Bolas Família.

Mas, e nos preços dos combustíveis?
        Entre a patuleia, ainda reside em muitos o temor de que essa subida acima citada redundasse de novo naquela temida hiperinflação de antes do Real. Guedes disse que isso é impossível. Mas, em se tratando de Guedes, tudo é possível. Pois a contenção auferida pelos juros do BC não pareceu atingir o caso dos combustíveis.
        Numa forma tosca de "explicar" isso, Bolsonaro recentemente declarou estar "muito ansioso para se livrar da Petrobras", numa falácia a apoiadores de que ela se tornou um símbolo da "corrupção do PT", em referência ao esquema midiático conhecido como Petrolão.
        De fato, após a sanção presidencial da PL que aprova a entrega do grupo Eletrobrás para o setor privado sem que este possa reaproveitar os trabalhadores, Guedes coloca a Petrobras como o próximo alvo da sua mira privatista. Quase todas as refinarias, se não todas, já foram vendidas a preço módico. 
        Por isso, alguns na patuleia fazem analogia ao ocorrido com a privataria das Teles por FHC para explicar o fenômeno atual: nós que terminaremos, mais uma vez, pagando pela venda da nossa parte da empresa, podendo o setor privado pegar para si sem pagar, uma vez completado o valor venal.
        Há sentido. Com a venda da Telebrás em 1997, a patuleia viu novas taxas a cada semana, ponto fora da inflação de então. Após um tempo a privataria foi noticiada, com direito a esquema bilionário envolvendo o governo, até hoje impune. A inflação da energia elétrica foi a mesma coisa em 2021.
        Hoje, a inflação dos combustíveis aventou uma investigação, com descoberta surpreendente que pode nos levar à compreensão de que a privatização da Petrobras não passe de uma falácia. 

O Petrolão de Bolsonaro-Guedes

        Embora seja um contumaz anarconeoliberal, Guedes se viu sob pressões internas a partir do próprio Congresso: mesmo tendo aliados capitaneados por Lira, a oposição e não-aliados se uniram aos sindicatos dos profissionais da Petrobras contra a privataria. 
        Mas se aproveitou do triunfo, o extensivo aparelhamento institucional implantado pelo governo, para sair pela tangente: conseguiu um jeito de arrecadar grandes volumes de grana, que a grande mídia divulgou em tom de boa notícia, sobre o lucro recorde de R$ 75,1 bilhões obtidos pela Petrobras.
        A notícia referiu tal recorde a forte investimento acionário. Em si não é notícia falsa, nem ilegal é investir em ações. Todavia, logo descoberto algo errado que surpreendeu os investigadores, que explica bem por que Guedes se aproveitou do aparelhamento e... da forte carestia dos combustíveis. Tudo junto para montar um Petrolão versão Guedes.
        Mas, como ele consistiu? Para entender melhor, vale falar brevemente sobre o Bolsa-empresário.
        Com o nome oficial de Programa de Sustentação de Investimentos (PSI), ele foi criado na era FHC e teve fim anunciado na era Dilma no início de 2016. Foi um programa de crédito a juros de 5 a 7% a pequenos e médios empresários brazucas, como forma de investimento na indústria e geração de empregos.
        As negociações baixaram os juros iniciais para até 2,5% quitados pelo governo ao BNDES, o que contribuiu para se somar à dívida acumulada pelos contemplados, resultando cifra bilionária (daí veio a alegação de pedalada fiscal para depor Dilma). Mas a alegação para o fim do PSI foi mesmo o alto gasto, mais de R$ 270 bilhões, só em 2016.
        Explicado o PSI ou Bolsa-empresário, agora vale entender Petrolão versão Guedes, a partir de sua origem.
        Petrolão Guedes- Resulta de três fatores: captura da Petrobras e orçamento público pelo mercado financeiro, teto dos gastos e mudanças na determinação de preços de combustíveis da Petrobras, com vínculo de preços da empresa aos externos cobrados em dólares. Tudo isso a partir da era Temer.
        Com essa combinação, a Petrobrás deixou de ser uma fomentadora do desenvolvimento nacional para ser um conduto financeiro pelo qual o suado dinheiro dos mais pobres é dado aos mais ricos. Daí a inflação mais substancial desde a era Temer, com ápice médio de 69% nos combustíveis em geral. 
        O valor do óleo lá fora aumentou, mas sozinho não explica os absurdos internos. Aí entra a dupla Guedes-Bolsonaro, cujas barbaridades levaram à alta do dólar. O supracitado lucro bilionário deu à petroleira aumentou o retorno sobre patrimônio líquido (ROE) 7 vezes maior do que nas demais.
        Seria excelente grana para investir em emprego, renda e investimento em energia limpa, como tantas outras petroleiras. Mas não para Guedes e Bolsonaro: ao invés de desenvolver a nação, a empresa passou a superalimentar os bolsos de seus acionistas na Bolsa, enquanto noticiosos têm parabenizado as altas de lucro.
        Dos R$ 75,1 bilhões, 63,4 bi são dividendos, dos quais 42% vão para estrangeiros, 21% para os ricaços brasileiros que poupam e investem em ações, e 37% para o governo, que pelo teto dos gastos manda parte da receita excedente para o Tesouro e outra para títulos da dívida pública, enquanto o país fica a ver navios.
        Dois detalhes aí: os dividendos são isentos de imposto de renda, e os títulos da dívida pública, destinados inteiramente ao sistema financeiro, já abocanham a maior parcela de nosso PIB. No resumo da ópera, o mercado financeiro detém a maior parte de tudo isso.
        Auxílio Mercado- Na prática, o Petrolão Guedes é um dos abastecedores do Auxílio Mercado, a nova versão do bolsa-empresário usando, como fonte básica, a suada grana popular através de impostos e sobretaxas embutidos que elevam os valores de produtos e serviços oferecidos à população. 
        Ou seja, o Auxílio Mercado se constitui de várias bocas de ralo que conduzem essa fonte para o enriquecimento de um sistema especializado em acumular capital e investir em ações na Bolsa.
        Revelada pelo The Intercept Brasil, a descoberta desse esquema de transformação da Petrobrás em ralo para o Auxílio Mercado nos leva a inferir sobre a possível participação (ainda a confirmar) dos aumentos observados de taxas de outros serviços, como os bancários e, no pretexto da crise hídrica, da energia elétrica.

Reflexões sobre uma capitalização imoral
        Como já assinalado acima, o investimento em ações na Bolsa em nome de estatais não é ilegal. É um recurso usado há várias décadas, e entidades como Petrobrás e Banco do Brasil são de economia mista, isto é, suas ações são, pela lei, 51% públicas e 49% privadas. 
        Só que, pela lei, os volumes desses investimentos devem ser declarados ao poder público, tal como o viajante ao ir para o exterior tem que declarar suas quantias na moeda do país de destino para auferir legalidade e segurança de estadia.
        Mas a descoberta das supracitadas práticas do Petrolão Guedes revela o caráter sombrio e escuso das mesmas, e dos atores envolvidos. Ou seja, os R$ 7501 bilhões foram reconhecidos oficialmente, mas não, claro, o que é feito depois de dados esses lucros, por um círculo vicioso.
        Enquanto tudo isso é feito, cresce, sem previsão de recuo possível, a epidemia de miséria extrema e fome sobre 20 milhões, desemprego aumentando mais rápido do que emprego (até 80 milhões somando informais por conta própria), mais de 120 milhões em insegurança alimentar e o Ômicron C19 por aí.
        Em se falando da pandemia (e sindemia) de C19, vale saber que o hoje dominante Delta ainda faz estragos, enquanto se subestimam dados das mortes diárias e superestimam os de vacinados completos na esteira da oficialidade. O temido Ômicron ainda vai mostrar a sua verdadeira cara por aqui. A área está fértil, com aglomerações à vontade na falsa esperança do fim do flagelo.
        Com a exposição de tudo isso, vale ressaltar que o Petrolão Guedes (e outros condutos para enriquecer quem só suga da nação) são muito mais do que imorais. Subvertendo os princípios mais básicos da ética social e da vida humana, eles revelam a perversidade espúria de seus atores, que com os meios mais diversos travam uma verdadeira guerra contra a vida humana, em nome do capital.

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Imagem: Google

Notas da autoria

Para saber mais
- https://theintercept.com/2021/11/23/grana-gasolina-7-reais-abastece-auxilio-mercado-bolsonaro/
- https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/2016/05/colunas/painel_economico/500151-o-fim-do-bolsa-empresario.html

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Análise: a (má) cobertura da grande mídia sobre Lula na Europa

 

        No tema Política, a grande mídia brasileira tem se focado especialmente na cobertura sobre a filiação do presidenciável Sergio Moro ao Podemos e nas prévias tucanas para lançar, entre João Doria e Eduardo Leite, um candidato para chamar de seu, nessa ordem.
        Enquanto isso, as mídias independentes e as de esquerda têm se focado melhor na passagem do ex-presidente Lula por instituições universitárias e políticas da Europa, com direito a aplausos dos presentes e entrevistas a mídias locais.
        Já percebemos que as mídias europeias têm focos mais distribuídos do que a nossa ao abordar temas ligados à geopolítica e à economia. Os europeus sabem que nossas mídias agora concentram os focos nas pré-candidaturas da direita liberal, privataria de estatais e reforma do Estado.
        Mas, vale frisar que os focos mais distribuídos também não tornam a imprensa europeia muito confiável, como esclareceu o cientista político sergipano Carlito Neto, do seu canal O Historiador, no Youtube, apontando também a falta de cuidado de Lula na entrevista concedida ao espanhol El País.
        Pois a grande imprensa brasileira tem outras intenções por trás da concentração em focos específicos quando o assunto é política: concentrar atenção em Moro para, na medida do possível, solidificar a solidez da liderança do petista na preferência popular para 2022.

Lula: dos discursos e palestras à entrevista ao El País

        Líder na preferência popular para 2022, Lula foi à Europa a convite de autoridades, acompanhado de velhos aliados e partícipes de seu governo, entre eles os ex-ministro Aloysio Mercadante (MEC) e o diplomata Celso Amorim (Relações Exteriores).
        Na Alemanha encontrou Angela Merkel e o sucessor socialdemocrata Olaf Schölz; voou para Bruxelas, onde palestrou no Parlamento Europeu em conferência realizada por socialdemocratas; e foi recebido com honras de chefe de Estado pelo presidente francês Emanuel Macron.
        Com Macron, os principais destaques da conversa foram as necessidades mais urgentes do Brasil como o combate à fome causada pela política de desmonte interno e o desmatamento, crise sanitária e um pouco sobre política internacional.
        Dois destaques na passagem: foi aplaudido de pé pelos presentes no Parlamento, e também no vetusto e famoso Centro de Ciências Políticas da Universidade de Sorbonne, na França, onde recebeu um prêmio concedido por prestigiada revista especializada em Política Internacional, após ver Macron.
        Temas como problemas brasileiros (depleção da economia e da política e fome), macroeconomia e diplomacia na política internacional ganharam destaque na sua passagem pela Europa. Em Bruxelas, se revelou "disposto a proteger o meio ambiente e povos indígenas, e recuperar a economia e o prestígio do Brasil no cenário internacional", se for eleito presidente.
        Depois, ele foi para Madri, onde teve um encontro com o ex-primeiro ministro da Espanha, Filipe Gonzalez, socialdemocrata tendente à esquerda. A simpatia entre ambos se mostrou notória. Após esse encontro, ele foi entrevistado pelo jornal El País, o maior e mais conhecido da Espanha.

        Entrevista ao El País- Na entrevista, concedida a duas jornalistas, foram abordados vários temas, entre eles meio ambiente, a corrida para a sucessão presidencial brasileira e as expectativas do próprio petista para 2022, e claro, a política internacional.
        Perguntado sobre sua candidatura, o petista mais uma vez negou ter se confirmado candidato, mas como disse em Bruxelas, "é preciso voltar para que o Brasil possa recuperar a sua economia interna, e também o prestígio internacional" - base do que seria o seu projeto de governo, se eleito.
        Sobre essa não confirmação, ele explicou que há questão sociopolítica "maior do que a vontade pessoal", devido à construção de alianças com partidos de outros vieses, pois "antes das eleições, temos que pensar em como governar" para que haja viabilidade ao retorno do desenvolvimento.
        Sobre o Brasil "estar quebrado", Lula não citou o recorde de arrecadação de impostos (R$ 2,1 tri) em outubro, mas deu a entender sua explicação pelo desmonte das políticas públicas, iniciado na era Temer e aprofundado (e ainda não encerrado) na era Bolsonaro-Guedes-Lira.
        Ele chama o desmonte de "políticas reversivas" que acabaram "levando o país a cair da 6ª para a 13ª economia do mundo", ligadas sobretudo à destruição da política industrial: "deixamos de ser um sonho para os investidores estrangeiros, e passamos a ser um pesadelo".
        Sobre a fome geral, ele reiterou: "não posso admitir que o mundo produza mais alimentos do que a humanidade possa comer, e que mais de 800 milhões de pessoas com fome no mundo". Esse é um mote relembrado de seus tempos da primeira campanha para presidente da República.
        Outro tema abordado na entrevista foi sobre as possibilidades de recuperação econômica no pós-pandemia, no qual se revelou otimista e apontou os exemplos dos EUA e da própria UE na criação de fundos: "O Estado tem que ser o indutor [...], tem que colocar o dinheiro para que a economia cresça. Na crise de 2008 fizemos isso".
        Política internacional- nesse tema, a entrevista partiu para as relações diplomáticas com nações cujos governos foram tomados pelo que as jornalistas apontaram como sendo autoritários: Nicarágua, Cuba e Venezuela. Apontamento espinhoso, dada a polêmica sobre ideologias políticas específicas.
        Lula disse ser favorável à alternância de poderes, e governante eleito que logo se impõe perpetuar no poder contra a oposição e a vontade popular "vira um pequeno ditador", e daí estar "completamente errado" nesse sentido. 
        E questionou numa comparação interessante: "se Angela Merkel governou por 16 anos e não foi ditadura, por que o de Daniel Ortega, ou de Evo Morales, o seria?", citando dois nomes que tiveram governos longos. A comparação com Ortega soou surpreendente para as entrevistadoras, em que uma replicou: "mas Merkel não prendeu ninguém".
        Lula seguiu em tréplica: "eu não quis dizer isso, apenas digo que, até onde sabemos, Ortega foi eleito por seu povo". Mas emendou: "agora, se ele quer se perpetuar no poder prendendo opositores e investindo contra a vontade popular e as necessidades do país, ele está totalmente errado", também se referindo ao cubano Díaz-Canel, que enfrenta manifestos populares.
        Spoiler: a menção de Lula ao boliviano Morales se deu pela longevidade similar de governos e de atuações sem prender opositores. 
        As citações acima se referem aos questionamentos das jornalistas à defesa contínua de Lula de não interferir nas decisões internas dos países. A respeito desse tema, o petista afirmou que "não podemos interferir contra a vontade popular, pois temos que respeitar a autodeterminação dos povos".
        Na internet, a entrevista foi transmitida em tempo real como transmissão ao vivo, facilitando o acesso imediato nas redes sociais por algumas comunidades (de mídias e nomes públicos) e usuários.

Repercussão na grande mídia brasileira

        Dada a sua liderança popular, é natural que Lula aplaudido e premiado em turnê pela Europa cause grande repercussão midiática, com direito a debates acalorados nas redes sociais.
        Mas, foi em cima da entrevista, particularmente a respeito da política internacional, que Carlito Neto chama a atenção ao dizer que Lula deveria aprender a ser mais sagaz nas entrevistas para a grande mídia ocidental. 
        A observação faz sentido, visto que as grandes mídias ocidentais selecionam como ditaduras os governos tidos como esquerdistas, enquanto há nações governadas por ditadores de extrema direita que impõem grande sofrimento a seus povos, sem nenhum alarde dessas mesmas mídias.
        Há bons exemplos. A república de Mianmar, na antiga Indochina, é governada por uma ditadura militar de extrema direita, bem como alguns países africanos; e a Tailândia, uma monarquia absolutista autoritária e opulenta. Se elas fossem lembradas na entrevista, talvez Lula não desse chance à atitude da grande imprensa brazuca.
        Tal atitude foi apontada por Carlito Neto como distorção, contida nos textos escritos e no vídeo claramente editado que foi extensivamente aproveitado. Daí acusarem o petista de minimizar o "grave teor autoritário" dos citados governos, e a não interferência interpretada como "simpatia".
        CNN Brasil e UOL consideraram "infeliz" a comparação dos governos Morales e Merkel; a CNN citou a questionável fraude eleitoral seguida da renúncia forçada do boliviano. O G1-Globo mencionou a crítica de Lula a Ortega, mas deixando a entender uma suposta proximidade com o sandinista. 
        Outras mídias, como a R7 da Record, também publicaram a versão editada do vídeo da entrevista com menções críticas às falas; a R7 sequer mencionou a fala da "autodeterminação dos povos'.
        Apartidarismo?- tendo a Globo como líder nacional, a grande imprensa brasileira procura dar o seu ar de neutralidade político-partidária ao criticar tanto nomes de centro-esquerda quanto os da direita como Bolsonaro e seus aliados no Congresso. 
        Para o advogado e youtuber José Fernandes, do canal Portal do José, isso é só maquiagem fática. Faz sentido: ao minimizar a turnê de Lula a breves textos, mídias como Globo e Estadão destacam os novos nomes do momento: Deltan Dallagnol e, sobretudo, Sergio Moro.
        Já sabemos que, pela Lava Jato, Moro tirou Lula da corrida presidencial de 2018. Agora aspirante presidenciável pelo Podemos de Álvaro Dias, ele ocupa mais páginas impressas do que outros fatos relevantes como as offshores de Guedes, a corrupção do centrão de Lira e mais gente comprando osso.
        Como o The Intercept Brasil já publicou há algum tempo, a intenção de mídias como a Globo e Estadão é enfatizar a Lava Jato como um partido não oficial de ideologização da ética para ter Moro como "candidato moral". Eficiente estratégia: ele está agora em 3º na preferência eleitoral.
        Em 2015, o JáÉ Notícias publicou artigo no qual afirma a grande imprensa brasileira como hostil ao PT e a Lula, ao minimizar o investimento público feito na era petista e os avanços, mesmo tímidos, decorrentes desses investimentos.
        Antes do terremoto político da Vaza Jato do The Intercept Brasil, o Pragmatismo Político apontou a tendência da grande imprensa brasileira em narrar fatos de forma a desestimular o debate público sobre os temas políticos. Não é por acaso que hoje deparamos com as fake news como um fenômeno normalizado - que Lula apontou na entrevista.
        Como publicou o GGN, se trata do falso apartidarismo reinante na imprensa brasileira, no intento de definir as regras do jogo político, no qual a posição das esquerdas deve ser sempre subalterna aos interesses da direita, que representa o personagem mais central de todo esse jogo: o grande capital.

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Imagem: Google

Notas da autoria

Para saber mais
https://www.youtube.com/watch?v=C8tGxPPGb0I (O Historiador - imprensa distorce sobre entrevista de Lula ao El País)
- https://www.youtube.com/watch?v=bxGDtwQ7Y70 (entrevista de Lula ao El País - com cortes sutis)
https://theintercept.com/2021/11/20/viagem-lula-grande-imprensa-globo-candidato-sergio-moro/
https://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/02/a-imprensa-brasileira-e-a-obscuridade-de-seus-interesses.html
https://jornalggn.com.br/midia/o-falso-apartidarismo-da-grande-imprensa-brasileira/
https://www.jaenoticia.com.br/noticias/2014/08/17/9726-para-jornalista-grande-imprensa-brasileira-tem-antipatia-a-lula-e-ao-pt
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/11/viagem-protocolar-de-lula-a-europa-vira-triunfo-diplomatico-inesperado.shtml
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/11/17/lula-recebe-na-franca-premio-de-revista-especializada-em-politica-internacional.ghtml
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/11/23/lula-entrevista-el-pais.ghtml
https://www.brasildefato.com.br/2021/11/21/em-entrevista-ao-el-pais-lula-fala-de-possivel-projeto-para-2022

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Análise: "redução de danos" no Enem, segundo Bolsonaro

 
        Neste fim de semana ocorrem as provas do ENEM mais esvaziado que se tem notícia. Motivos para esse esvaziamento estão em discussão desde que o MEC negou isenção de pagamento de estudantes pobres. 
        Como a auto exoneração de 37 servidores do Inep contou com protesto dos mesmos, erguendo faixas e cartazes, o senso comum logo imaginou se tratar de reajuste salarial. Nada disso: cartazes e faixas tinham notas reveladoras de fatos nada a ver com salários.
        A auto exoneração com direito a protesto foi transmitida por várias mídias e repercutiu nas redes sociais com intensos debates. E nessa divulgação, um fato revelador: a indiferença dos dois principais chefes em questão, Danilo Dupas (Inep) e o pastor Milton Ribeiro (ministro MEC). Culminada na completa ausência de diálogo com os servidores para buscar contorno do problema.
        O motivo descrito nos cartazes e faixas era a suspeita de interferência do governo na elaboração das provas, envolvendo alguns fatos e personagens bastante reveladores desse mau comportamento político.
        E tudo explodiu logo após Ribeiro e seu chefe Bolsonaro, em visita no Espírito Santo, anunciarem que "agora o Enem vai ter a cara do governo".

ENEM

        História- O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998, no fim do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso. Segundo o MEC na época, a finalidade do ENEM era a avaliação institucional das escolas das redes pública e privada de todo o pais reconhecidas no MEC que tenham o Ensino Médio, a partir do aprendizado e conhecimentos dos alunos concluintes.
        Em 2005, o Enem assumiu nova cara, em decorrência da sua nova finalidade: servir de vestibular, porta dos educandos para a universidade, respeitando as pontuações mínimas de aprovação por cada curso. 
        Há também o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), criado após o Enem com a finalidade avaliativa, só que voltada para concluintes de graduação de universidades públicas e privadas reconhecidas pelo MEC (seus cursos idem).
        Elaboração- As provas do Enem são elaboradas por servidores graduados ou pós-graduados, e as do Enade pelos pós-graduados latu sensu (especialização) ou strictu sensu (mestrado, doutorado), numa sala secreta do Instituto Nacional de Educação e Pesquisa (Inep), órgão do MEC.
        Embora o acesso a essa sala seja vetado a qualquer outra pessoa, exceto os elaboradores, se sabe que o recinto é, na verdade, um laboratório com computadores sem internet, um por pessoa, com uma interface1 instalada para montagem das provas. A sala tem câmeras por todo lado, sem ponto cego.
        Antes de entrar na sala, os elaboradores passam por detecção de metais, pois não pode entrar com metal, daí irem sem celulares e adornos. Visando evitar repetição de questão pretérita e formulações confusas, eles verificam tudo minuciosamente. Tudo é feito com muita antecedência.
        Todos os anos, as provas do Enem são elaboradas com 180 questões retiradas do Banco Nacional de itens com milhares de questões redigidas por professores escolhidos por edital. A equipe do Inep escolhe por nível de dificuldade adequado a cada período.
        As provas finalizadas e impressas são depois lacradas em embalagens próprias, que são abertas pelos alunos só quando dada a largada. O acesso público às provas e gabarito ocorre no dia seguinte à finalização completa do exame.

Fraudes

        Embora a segurança seja preocupação máxima, infelizmente o trabalho não é totalmente imune a fraudes. Já foram reportados casos, como vazamento antecipado de questão e/ou gabarito, geralmente atribuído a perfis hackers - que podem estar dentro ou fora do Inep.
        Diferentemente da formulação confusa ou questão repetida, de caráter acidental à primeira vista e passíveis de anulação simples durante a aplicação da prova, o vazamento antecipado é tipificado como crime, no caso um estelionato de natureza cibernética.
        O que espanta nisso é o fato de a sala de elaboração ser vetada para internet. Daí, frequentemente recair suspeita, primeiramente, sobre os próprios elaboradores das provas, o que, em caso comprovado, configura crime contra a administração pública. Bem... até chegar o Enem de 2021.
        Interferência do governo- Estudantes ouvidos por El País relataram desorganização no Enem 2021. O que se delineia, pelo visto, desde 2019. No Rio, houve protestos de estudantes impedidos de entrar no primeiro dia de prova.
        Desorganização em si não é crime, porém dá espaço para descalabros como interferência política, que se escancara, muitas vezes, como especialidade do governo atual.
        O Enem 2021 não é o primeiro a sofrer com a interferência. Em 2020, o descabeçado ex-MEC Abraham Weintraub tentou impedir o tema Pajubá, referente ao dialeto dos transgêneros, sem sucesso. O tema seguiu no exame, já menos procurado do que o anterior.
        Agora, a interferência política se saiu mais organizada do que o Enem, através de relatos de parte dos 37 servidores não identificados, por meio de entrevista concedida ao G1-Globo e que foi parar no televisivo dominical Fantástico no último dia 21, com certa riqueza de detalhes.
        Pressão- os elaboradores revelaram ter passado por intensa pressão da alta chefia por conta dos conteúdos das áreas de Humanas (Língua Portuguesa, Filosofia, História, Sociologia). A pressão vinha por assédio moral contínuo de tom ameaçador.
        PF na sala durante elaboração- se a sala é inacessível às demais categorias de servidores, ainda mais durante a elaboração, a presença de um agente da PF foi afrontosa duas vezes, pela irregularidade da sua presença e também por atuar de forma a intimidar os profissionais.
        "Grande erro é achar que você pode simplesmente pegar uma prova e sair riscando itens que você não gosta do conteúdo deles", relata um servidor. Outro aponta: "o corpo técnico e pedagógico se vê obrigado a refazer a prova duas vezes", revelando a pressão traduzida por trabalho extra.
        Outro servidor disse que o PF passou pelo rito de segurança e entrou na sala, e cobra: "o Inep precisa explicar como essa pessoa foi parar lá dentro, quem autorizou a entrada, o que ele fez, que nível de controle a gente tem das informações que ele acessou lá". Essa pressão se ligaria a um outro problema, que foi relatado com mais detalhes.
        Censura- servidores relatam censura às questões, quando foram vistas pelo diretor de avaliação em educação básica Anderson Oliveira: "Esse dirigente [...] foi até o ambiente seguro, fez a leitura [...] e solicitou a exclusão de mais de duas dúzias de questões dessa primeira versão da prova"
        Segundo o servidor, as questões excluídas se referiam ao contexto sociopolítico e socioeconômico do Brasil: "se tratavam principalmente da História recente, dos últimos 50 anos. No ponto de vista da equipe técnica, não havia qualquer reparo pedagógico a ser feito na primeira versão da prova".
        Devido a essa censura, os servidores se viram obrigados à segunda versão da prova, contestando a baixa da qualidade e do nível de dificuldade resultante da exclusão daquelas questões. "Isso foi objeto de se fazer uma terceira versão da prova", contou o servidor, que completou que algumas das questões retiradas voltaram reformuladas.
        Outro alvo de veto relatado pelos servidores foi um poema de Manoel de Barros, em sua obra O livro das Ignorãças, acusado de contradizer a Bíblia. Manoel escreveu: "No descomeço era o verbo", opondo-se à passagem "No princípio era o Verbo, e o Verbo está com Deus" (João 1:1-4). Segundo os censores, "fere o sentimento religioso e a liberdade de crença". Oi?
        Dupas- servidores apontam que o Inep sempre foi dirigido por nomes com trajetória acadêmica, não vista em Dupas, "uma pessoa sem experiência, sem currículo", escolhida pelo ministro por "estar disposto a fazer o que eles queriam: entrar na prova e retirar o que o presidente não iria gostar", detalha um deles, se referindo ao presidente Bolsonaro.
        Um dos entrevistados disse que, apesar de toda pressão, "a prova atendeu aos objetivos" do Enem. Nesse ponto, podemos dizer, foi graças à reinclusão daquelas questões após reformulação.
        TCU- Os relatos detalhados dos servidores foram suficientes para que o Tribunal de Contas da União fosse acionado para investigar se houve interferência do governo na elaboração das provas.

Críticas em paralelo e reflexões finais

        O fato de um servidor ter dito que a prova "cumpriu o seu papel" não evitou críticas de partícipes do exame e internautas. Alguns alunos o consideraram "extenso e cansativo", outros notaram questões "bem difíceis". Outros relataram não ter visto interferência política nas provas - talvez só dessem conta ao ver noticiosos na internet.
        Entre os internautas nas redes sociais houve críticas bem humoradas em algumas questões, como a da letra da música Admirável gado novo, de Zé Ramalho, em alusão aos bolsominions, chamados de "gado" pela patuleia crítica ou oposta ao governo. Uma nota crítica talvez despercebida pelos censores.
        Outro alvo de fortes críticas nas redes sociais foi o tema da redação, Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania. Alguns o consideraram impróprio para o Enem, outros o viram como contradição à política de extermínio por retirada de direitos, negação à comida e saúde, e espalhe da C19.
        Em relação à C19, houve quem relacionasse uma analogia entre muitos dos nascidos sem registro e as muitas subnotificações que, por baixo do tapete da oficialidade, engrossam a mortífera estatística oficial de mortes desde o seu início da pandemia.
        Vale ressaltar o caráter contraditório da justificativa de que a supramencionada citação de Manoel de Barros "fere a liberdade religiosa". Se a Bíblia é livro sagrado só dos cristãos, as crenças não cristãs são prontamente excluídas, e aí se revela o cristofascismo bolsonarista. E até onde sabemos, não existe governo teocrático pela liberdade de crença e culto.

        Por fim, no reino excludente da era bolsonarista, muitos estudantes foram impedidos de fazer suas provas, além de não terem conseguido o direito à isenção por baixa renda. E, para os partícipes, sem nenhuma culpa nisso, resta-nos desejar boa sorte, e a esperança de mudar essa triste realidade.
        
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Imagem: Google

Notas da autoria
1. Um software corporativo onde basta o servidor escrever seus conteúdos e, na impressão, haja o conhecido formato de provas para concursos públicos e vestibulares.

Para saber mais
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), 1998. Disponível em http://portal.mec.gov.br/enem-sp-2094708791
- https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-educacionais/enade 
- https://brasil.elpais.com/brasil/2021-11-17/apos-bolsonaro-sugerir-interferencia-no-enem-governo-entra-no-modo-reducao-de-danos.html?sma=newsletter_brasil_diaria20211118
- https://www.agazeta.com.br/es/politica/enem-vai-ter-a-cara-do-governo-sim-diz-ministro-da-educacao-em-visita-ao-es-1121
- https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2021/11/14/exclusivo-servidores-do-inep-detalham-interferencia-no-conteudo-das-provas-do-enem.ghtml
- https://www.conjur.com.br/2021-nov-19/tcu-abre-investigacoes-interferencias-governo-enem
- https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/11/19/tcu-abre-procedimento-para-apurar-se-houve-interferencia-em-orgao-que-elabora-enem.ghtml
- https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59327095 (Enem com a cara do governo e mais elitizado)
- https://educacao.uol.com.br/noticias/agencia-estado/2021/11/21/prova-do-enem-no-rio-tem-protesto-contra-interferencia-do-governo-no-exame.htm
- https://www.campograndenews.com.br/lado-b/comportamento-23-08-2011-08/poeta-manoel-de-barros-foi-vetado-do-enem-por-contrariar-trecho-da-biblia
 

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Análise: Auxílio Brasil e Precatórios, ajuda breve, calote perene

        Acossada pelo STF, que vetou o pix dos deputados que iriam receber os valores bilionários do orçamento secreto, a Câmara dos Deputados aprovou, com 328 votos, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios. A aprovação ocorreu mais na garantia dos deputados de receber a grana de uma forma qualquer que drible o cerco do STF do que por alguma empatia com o governo Bolsonaro. O texto aprovado pela Câmara foi enviado para o Senado.
        Os precatórios se referem à quitação de dívidas, referendada por sentença judicial, pela União assim condenada, aos Estados autores do processo. Basicamente, o texto da PEC quer mais fôlego e maior número de parcelas para quitar os pagamentos.
        Embora tenha obtido essa vitória parcial na Câmara, o governo agora terá que tentar convencer o Senado a aprová-la. Algo mais difícil, pois o Senado, apesar de ter bem menos cabeças do que a Câmara, tem uma ala governista mais exigente, mas também uma oposição bem mais robusta, que teve importante destaque nas descobertas escabrosas feitas pela CPI da C19.
        Mas, será que a aprovação dessa proposta dos precatórios é mesmo positiva para o Brasil? A ver a seguir.

Entendendo o apelo do governo, em teoria, claro

        Segundo o texto da referida proposta, a União terá mais tempo para poder juntar o montante dos recursos necessários para quitar a dívida com os Estados. Segundo o ministro da Economia Paulo Guedes, o adiamento da quitação disposto no texto da proposta era para evitar um rombo nos estreitados limites da emenda do teto dos gastos públicos, que permite o aumento dos gastos até o limite da inflação do ano anterior.
        Mas, Guedes espertamente voltou atrás e incluiu no seu texto um artigo que coloca os precatórios da União como exceção às regras do teto dos gastos, o que permite o rombo para completar o montante necessário definido pela Justiça, em caso de não tê-lo feito o suficiente  no tempo hábil de tolerância conforme a lei.
        Essa dívida independe da parte reversa, isto e, a dívida dos Estados com a União - ainda que seja também bilionária, e passível de se transformar em precatórios se a União reclamar. Essas dividas se relaciona aos mais diversos fatores, de acordo com os dados de cada Secretaria Estadual da Fazenda.

        Pontos importantes- Existem dois pontos considerados importantes pelo governo para a aprovação da PEC dos precatórios. São as verbas do Auxílio Brasil (estimado em R$ 400, perto de 50% mais do que o Bolsa Família) e o reajuste salarial dos servidores públicos, após rígido congelamento que se arrasta desde 2016, aumentando a corrosão dos rendimentos pela inflação acumulada.
        Auxílio Brasil é uma proposta do governo Bolsonaro que pretende substituir o Bolsa Família, programa aperfeiçoado pelo primeiro governo Lula para prover famílias que tenham cerca de um quarto do salário mínimo por pessoa, e cujo valor dado a cada família era de R$ 300. Segundo a promessa do governo atual, o Auxílio Brasil promete pagar até R$ 400 para as famílias cadastradas.
        Quanto aos servidores públicos, uma classe em progressivo encolhimento devido à ausência quase completa da política de concursos públicos para repor s vagas dos aposentados e da terceirização que agora atinge as atividades-fim de uma instituição, as perdas acumuladas para a inflação são enormes, sendo agravadas no governo atual, cuja política econômica destrutiva realimenta a inflação com ameaça hiperinflacionária.

Reflexões: até onde os calotes podem ir

        Vale lembrar de que, apesar das promessas, a PEC dos precatórios já ganhou o delicado apelido de PEC do Calote. Apelido esse que, inicialmente, não partiu do povão, mas sim dos bastidores da própria política, que não têm só adeptos dos vícios do Centrão; tem também opositores importantes, inclusive em partidos de aluguel na direita.
        Um deles é a deputada Zenaide Maia (Pros-RN), que classifica tal PEC como "um calote à sociedade brasileira", uma "mentira que está sendo contada", segundo fonte do Senado (ver fonte nas referências).
        Na verdade estamos mudando a Constituição para acabar com o Bolsa Família, que nunca teve prazo, nem é auxílio emergencial. Era uma situação social que a gente já não tem mais, assim como não tem o Renda Brasil, como foi proposto originalmente. Estamos assistindo a uma mudança na Constituição para passar um calote nos que apelaram até a última instância para conseguir aquilo a que têm direito por lei.
        Explica-se a impressão da deputada. Versão aperfeiçoada do Bolsa Escola criado na era FHC (1995-2002), o Bolsa Família foi uma política proativa de distribuição de renda. Para receber o benefício, os responsáveis deveriam comprovar que seus filhos pequenos estavam matriculados em escolas públicas e vacinação em dia registrada em cartão do SUS, além da renda. 
        Problemas de fiscalização à parte (empresários fraudaram para obter o benefício), o Bolsa Família era voltado para mitigar, mesmo timidamente, a desigualdade socioeconômica (daí o seu caráter perene), com ajuda de programa de crédito financeiro facilitado junto aos bancos.
        Através das estratégias de Guedes, em especial a partir de 2020, o governo Bolsonaro reaprofundou as disparidades socioeconômicas, e o Bolsa Família ficou inoperante para esse fim proativo, mas foi importante para as famílias cadastradas enquanto durou. Agora, o governo cria o Auxílio Brasil, como substituto do Bolsa Família e do coronavoucher criado na emergência da C19 do ano passado. E com um detalhe bem amargo: ele está previsto para durar até o fim de 2022. Ou seja, efêmero.
        O fato de ser finalizado automaticamente no final de 2022 revela a faceta eleitoreira do Auxílio Brasil. Como se não bastasse, corre o risco de nem ser adotado oficialmente, caso a PEC dos precatórios, da qual o programa depende como já disse o governo, seja reprovado pelo Senado, mesmo se passar pela CCJ, também presidida por um governista. Como podemos ver, o fim do Bolsa Família foi precipitado, e não dá para dizer que não foi intencional.
        Antes mesmo de Bolsonaro, foi promulgada por Temer a emenda constitucional n. 55, o Teto dos Gastos, cuja limitação dos gastos públicos aos limites inflacionários durará até 2036, afetando mais ainda tudo que deveria passar incólume: saúde, educação, C&T (ciência e tecnologia), saneamento (para fins de privatização), segurança pública e meio ambiente. A deputada não mencionou, claro, nem a grande mídia, mas é fácil ver que permanecem intocáveis os vultosos gastos com penduricalhos salariais da elite do funcionalismo (civil e militar) e da classe política.
        No governo Bolsonaro, os investimentos públicos nessas áreas tão essenciais caiu ainda mais. Recentemente soubemos que Guedes mandou cortar mais de 90% dos recursos destinados à C&T, e mais de 50% na educação básica e no SUS. O governo Bolsonaro, aliás, conseguiu o mérito de praticamente paralisar os investimentos públicos. Essa paralisia até conseguiu o afastamento de grandes investidores.
        Servidores públicos- Recentemente, o presidente Bolsonaro disse à mídia que com o aprove pleno da PEC dos precatórios, os servidores públicos serão  contemplados com um reajuste salarial. "Não é o quanto que eles merecem, mas vou reajustar". Antes da primeira votação da PEC no plenário, o presidente da Câmara, Arthur Lira, havia dito, em tom de chantagem (ou ameaça?) que "se a PEC não for aprovada, não haverá salários para os servidores públicos".

        Não há ainda como saber se a PEC poderá institucionalizar o calote nas mais diversas instâncias públicas, pois, para começar, o texto ainda passará por votação pelo Senado, com direito a mudanças em um ou outro artigo aqui e ali para ajustes. Mas não se descarta a possibilidade de aprove da PEC no Senado, mesmo tendo este uma oposição mais robusta.
        Quanto às supostas garantias de verbas para o Auxílio Brasil e o aumento salarial dos servidores públicos, o caráter desse governo nos impede qualquer mensuração prévia no sentido positivo. Ou seja, a PEC pode virar uma EC nova na Constituição, e os benefícios não irem além de palavras perdidas ao sabor do vento e do tempo.
        Pois a possibilidade de aumento salarial corre o risco de nunca sair, pelo menos enquanto Bolsonaro for o governante. Principalmente por manter Guedes, um dos seus ministros mais eficientes no quesito política de sadismo destrutivo na tão estratégica área da economia, com direito a dar uma forcinha extra na gestão nazistoide da sindemia de C19.
        E vale, portanto, acrescentar, em linhas mais rápidas, que esse sadismo econômico se estendeu claramente no fim do Bolsa Família para criar outra incerteza chamada Auxílio Brasil. O caráter eleitoreiro deste programa que não sabemos se sairá do papel ou da promessa revelou no fim do Bolsa Família mais do que mero erro primário. Infelizmente, como já podemos perceber, foi intencional.

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Imagens: Google (montagem da autoria do artigo)

Notas da autoria
1. 

Para saber mais
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/11/10/para-zenaide-maia-aprovacao-da-pec-dos-precatorios-e-um-calote-na-sociedade
https://www.brasildefato.com.br/2021/10/30/calote-pec-dos-precatorios-afeta-pagamento-de-professores-da-rede-publica
https://www.conjur.com.br/2021-ago-27/torre-pec-precatorios-tentativa-calote


Análise: chapa Lula-Alckmin, faca de dois gumes

 

        Com a crescente rejeição popular ao governo Bolsonaro apresentada pelas mais recentes pesquisas de intenção de votos, a onda surfada por Lula, líder na preferência popular, se torna mais alta com possível vitória em 1º turno se a eleição fosse hoje. 
        Em 2020, já intuindo sobre o que aconteceria com a campanha anticiência de Bolsonaro, Lula começou a articular a sua pré-campanha tão logo o STF anulou os julgamentos de Curitiba que o condenaram. Já na mesma época vieram as primeiras pesquisas de intenção de voto a revelar forte rejeição a Bolsonaro. 
        Por muito tempo, o ex-presidente formou chapa puro-sangue, não confirmada, com o seu pupilo Fernando Haddad, mas sem deixar de dialogar com lideranças de centro, como as do MDB, PSB e até o PL do Centrão e, mais recentemente, o tradicional oposto PSDB.
        Como queria promover Haddad para disputar o governo de SP e evitar nova chapa puro-sangue, Lula buscava formar alguma aliança com as lideranças de centro. Assim, chegou a conversar com um conhecido nome do tucanato: Geraldo Alckmin.
        Sem esconder sua preferência, Lula tem estado em diálogo intenso com Alckmin, que segundo rumores, estaria de saída do PSDB, o que ainda não foi confirmado. O ex-governador paulista disse ter se sentido “honrado” com a procura do petista para formar chapa como vice.
        Segundo a imprensa, o PSB, que afirmou apoiar Lula, teria sondado Alckmin diante do rumor da saída do PSDB. Mas o próprio Alckmin nada confirmou, estando ainda oficialmente no PSDB. Se confirmada a chapa Lula-Alckmin, ou PT-PSDB, quais reflexões serão plausíveis sobre ela? Sigamos.

Brevemente sobre Geraldo Alckmin

        Este blog já tratou brevemente sobre a biografia de Lula, tanto no plano pessoal quanto político. Neste, vale traçar um pouco sobre Geraldo Alckmin.
        Paulista de Pindamonhangaba, descendente de imigrantes sefarditas de fé católica, Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho se formou em medicina pela Universidade de Taubaté, e especializado em anestesiologia. Também é professor da Faculdade de Medicina da Universidade Nove de Julho, instituição particular situada em São Paulo.
        Em paralelo aos estudos, o jovem Geraldo já se interessava em seguir carreira política, ainda nos anos 1970, entrando no MDB aos 19 anos. Sua estreia ocorreu em 1972, como vereador em sua cidade natal. Em 1977 se tornou prefeito, e em 1982, deputado estadual.
        No início dos anos 1990, nomes como Bresser Pereira, Franco Montoro, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e outros fundaram o PSDB, então como centro-esquerda, que com FHC presidente se guinou à direita. Alckmin nele se filiou, permanecendo nele desde então.
        Consolidada a redemocratização, vários nomes da política, entre eles Bresser Pereira, Franco Montoro, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e outros fundaram o PSDB, então uma sigla de centro-esquerda, que com FHC presidente se guinou à direita. Alckmin nele se filiou sendo reeleito deputado estadual em 1990. 
        Politicamente sortudo, foi vice do eleito governador Mário Covas, formando chapa puro-sangue, em 1994. Em 2000 tentou a prefeitura de São Paulo, mas perdeu. Com a morte de Covas em 2001, se tornou governador. Nisso obteve notável experiência política.
        Presidência- Em 2002 tentou pela 1ª vez a presidência, chegando ao 2º turno, perdendo para Lula. Em 2006 tentou de novo e o final se repetiu, devido em parte aos boatos de que ele venderia as estatais restantes, inclusive BB e Caixa - reflexos negativos da privataria de FHC.
        Estando o PT no poder, o tucanato se colocou oposição franca, o que continuaria mesmo após a deposição de Dilma Rousseff em 2016. E Alckmin, naturalmente, assimilaria a posição de sua sigla.
        Feitos positivos- Alckmin é autor da Lei 8087/1988, o atual Código de Defesa do Consumidor (CDC); relator da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), e relator do projeto de lei que facilita e disciplina a doação de órgãos para transplantes.
        São pontos inegáveis que se tornaram imprescindíveis para segurança jurídica dos consumidores contra os abusos de empresas prestadoras de serviços diversos e as redes comerciais em geral via CDC; e a favor dos avanços da medicina com o reaproveitamento de órgãos sadios para salvar milhares de vidas.
        Feitos negativos- seu pior feito a privataria de estatais paulistas, como o Banespa, várias rodovias e de ferrovias, através do Programa Estadual de Desestatização, o qual presidiu no governo do falecido Mário Covas. Não atendeu a servidores da Educação durante greve por melhores condições de trabalho e salários.
        Suspeitas- a suposta malversação de recursos para merendas escolares do Estado foi a principal suspeita sobre o então governador Alckmin, em seu mandato mais recente.  A suspeita perdurou na atual era Doria, mas foi esquecida pela sindemia de C19 e os seguidos escândalos envolvendo o presidente Bolsonaro.
        Momento atual- sem mandato, aguarda as prévias do PSDB sobre a escolha do candidato para a presidência, se Doria ou Leite, e a depender do resultado poderá, ou não, ir ao PSB, e daí dar resposta ao chamado de Lula, para definir tudo em dezembro. As prévias tucanas se realizarão em 21/11.

Essa chapa é possível?

        A chapa ainda não foi confirmada, as duas partes ainda estão para pensar e pesar prós e contras de seus partidos, além de pensarem na compatibilidade em propostas específicas de governo.
        Uma vez que o PSDB desde a era petista tem estabelecido uma relação de oposição ao petismo, a pergunta acima revela certo aturdimento. Mas, alguns canais dentro e fora do jornalismo já expuseram suas impressões analíticas, variando do otimismo ao pessimismo mais franco.
        Para o otimista youtuber Paulo Ghiraldelli, a chapa "pode ser imbatível", compatibilizando o desenvolvimentismo de Alckmin com o proativismo de Lula, para recuperar as condições econômicas dos mais pobres, castigados pelo governo Bolsonaro. O que desespera os minions.
        O otimismo de Ghiraldelli reside no espírito conciliador de Lula somado à abertura de FHC para o diálogo, e no fato de ambos se conhecerem há décadas. Ele aponta a necessidade de discernir políticas públicas, coadunáveis nas propostas da chapa, e diferenças partidárias, basicamente ideológicas.
        Já Carlito Neto (canal O historiador) discorda, se baseando na deposição de Dilma por seu vice a mando de terceiros poderosos, para haver chance de Lula sofrer o mesmo a mando do mercado, muito ouriçado por conta das ações antipopulares de Guedes-Bolsonaro.
        O professor e youtuber Roberto Cardoso, do Pensando Alto, também diz temer possível intenção de Alckmin pela deposição de Lula, por pressão mercadológica sobre a governança ou por possível novo lawfare que movimente o Centrão e até o judiciário, dado que o petista é muito visado.
        Roberto Cardoso, do canal Pensando Alto no Youtube, também diz temer que Lula seja deposto como Dilma, mas também se lembrando do lawfare que o perseguiu até que fosse preso. 
        Na matéria do Globo se aponta que o PT considere difícil a chapa se confirmar, por temor de que o governo Lula fosse impedido por ranços partidários ou por pressão mercadológica, mas a conciliação entre os dois maiores nomes, Lula e FHC, pode ser positiva para a chapa.

Reflexões finais
        Dado o exposto acima, sobram incertezas em relação às certezas, pelo menos em curto prazo. A única certeza a ser explícita agora é que não podemos declarar a chapa Lula-Alckmin como impossível de se formar, diferenças pessoais à parte no campo político.
        Lula sabe das prévias tucanas e da rusga Alckmin-Doria. Daí aguardar o resultado dessas prévias, sua chamada a Alckmin ser um dos acenos às siglas centristas em busca de um nome compatível com o seu para uma chapa forte.
        Plenamente ciente da forte reatividade (polarização) no ar, e do temor do PT sobre a possibilidade de ser impedido de governar se eleito, Lula não se limita a Alckmin: o aceno a este é um dos vários para siglas de centro nas quais procura um nome compatível para formar chapa forte e também um leque maior de apoio eleitoral.
        Mas, o petista aparentemente não esconde a sua preferência pelo tucano por conta da experiência política, ao ponto de se referir positivamente a ele na sua passagem no Parlamento Europeu em Bruxelas, durante sua palestra aplaudida de pé pelos presentes. 
        E a chance de Alckmin migrar ou não ao PSB parece não fazer diferença para Lula que, como já citado, parece priorizá-lo. De qualquer forma, ele declara respeitar a espera de Alckmin pela resposta nas urnas tucanas, prometendo não interferir na sua escolha final. 
        Vale salientar que, partido à parte, Lula tem bom trânsito com o velho conhecido FHC, com quem troca respeito mútuo, assim como existe o mesmo com o próprio Alckmin. Mas isso, em paralelo às diferenças partidárias.
        Enfim, a despeito das dificuldades existentes, não há, em absoluto, impedimentos para que a chapa Lula-Alckmin se forme. Até mesmo PSB tem alguma diferença política com o PT, embora seja mais próximo do que o PSDB atual. 
        Mas há duas possibilidades de impedimento: uma, maior, se Eduardo Leite vencer as prévias no PSDB, o que mantém o ex-governador no partido; e se o próprio Alckmin decidir recusar a proposta. O que é bem remota, pois ser vice é um gigantesco passo para se aproximar do que sempre quis: ser presidente da República.
        O que vier depois, só na hora saberemos quem terá acertado, se Lula e Ghiraldelli, ou se Carlito Neto ou Roberto Cardoso. Quem viver, verá.

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Imagem: Google

Notas da autoria
1. 

Para saber mais
https://pt.wikipedia.org/wiki/Geraldo_Alckmin
https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2021-11-15/lula-alckmin-chapa-presidencial-neste-ano.html
https://oglobo.globo.com/politica/chapa-de-lula-com-alckmin-considerada-dificil-pelo-pt-mas-nao-impossivel-25274057
https://www.youtube.com/watch?v=emERfU1-QJE (chapa provoca chilique na Jovem Pan - Ghiraldelli)
https://www.youtube.com/watch?v=V5_Pu5eerWM (as conversas estão andando! - Ghiraldelli
https://www.youtube.com/watch?v=NkCjuUij4Zg (Roberto Cardoso- PT teme deposição de Lula pelo mercado)
- https://www.metro1.com.br/noticias/politica/115416,psb-barganha-alckmin-vice-de-lula-por-apoio-a-cabeca-de-chapa-em-ao-menos-5-estados

CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...