sábado, 27 de julho de 2024

ANÁLISE: Lula 3 e fim da saúde federal

 

      Quando se fala em saúde pública, logo se pensa nas unidades municipais e estaduais. Normal: elas estão em mais de 5000 cidades do país. Mas há também a saúde federal. Só que esta não é tão difundida.
            Com 70% de instituições e servidores concentrados no Rio de Janeiro, somente com Lula 3 ela entra no debate político no tema SUS-Ministério da Saúde – o que expressa sua imensa importância.

Referências nacionais 
            A saúde federal se compõe de diversas instituições: fundações (inclusas as de pesquisa e de combate a endemias, vigilância em saúde, e toda a rede hospitalar universitária e independente.
            Exceto os hospitais universitários (HUs), só o Rio de Janeiro tem 6 hospitais federais (HFs, gerais) e 3 institutos nacionais (INs, especializados), todos eles referências nacionais em atenção de alta complexidade em saúde pública. Essas unidades cariocas representam 70% do ramo no Brasil.
            Carências – a rede federal sempre sofreu carências de recursos estruturais, materiais e humanos. Concursos de 1983, 1995, 2005 e 2010 e manutenções estruturais cobriam parte de uma crise existente desde que existe saúdepública.
            Em momentos de greve, os servidores eram acusados de mercenários pela mídia – em eufemismos, claro. A eterna desculpa da falta de grana dura até hoje. Mas as greves sempre foram além dos salários: os servidores sabiam das ameaças por trás da desculpa.
            De olho – na era FHC, o ministro Bresser Pereira escreveu os Cadernos MARE, nos quais propôs a privatização dos serviços nas pontas dos ministérios (escolas e universidades, de postos e UPAS aos grandes hospitais). A publicação abriu a porteira do desmonte.
            Ameaças – a rede federal foi abordada em dois artigos, Um monstro chamado Ebserh, e Saúde federal, futuro incerto. O primeiro trata sobre o risco de entrega dos HFs, e o segundo, sobre a incerteza do destino dos servidores federais em caso de cessão da rede.
            Após o último grande concurso RJU para saúde federal (2005), Lula assinou a Lei de Contratos Temporários da União (CTUs) para Calamidade Pública para suprir hospitais de campanha das FFAA. Hoje, a saúde federal tem mais profissionais CTUs  e cargos administrativos terceirizados do que servidores efetivos.
            A criação da Ebserh em 2012 para gerir hospitais universitários foi intuída pelos servidores como uma nova fase de desmonte no setor. Apesar da mobilização na época, todos os HUs conhecidos são hoje geridos pela Ebserh – que está insaciável.
            2024: a reportagem do Fantástico sobre a crise da saúde federal no RJ “reeditou” a reportagem de 1985 que culpou os servidores pela crise. Este ano a Globo se cuidou, mas sabemos que ela é favorável ao fim do RJU. E depois, na desculpa governamental de resolver problemas de gestão, vieram três repentes.
            Três HFs cariocas foram entregues: o de Bonsucesso ao Grupo Hospitalar Conceição (GHC), do Andaraí ao município, e o de Servidores do Estado (HFSE) fundido ao HU Gaffrée-Guinle da Unirio, engolido pela Ebserh. Neste último ainda falta a canetada. Tudo isso sem diálogo com os servidores neles lotados.
            Os HFs da Lagoa e de Ipanema estão na mira do município. Entre os INs, parte do INCA foi entregue à integração público-privada (IPP). O INTO e o INC estão sob ruidoso silêncio do governo e até do Congresso, exceto as vozes esparsas e solidárias do PSOL.

Expectativa – 
            Após o revés quase paralisante da era 2019-22, muitos servidores da saúde federal votaram em Lula. Por sobrevivência e esperança diante do discurso de campanha pelo SUS. Mas eis que deparamos com o desenrolar do fatiamento da rede.
            Servidores lotados nos HFs estão indignados (com razão) com o ocorrido e em expectativa de seu futuro incerto. Se as empresas de saúde da Prefeitura e do Estado relutam dividir espaço com servidores RJU, eles não sabem para onde ir. Restarão INC e INTO?  Não sabemos.
            Ainda há outra razão da indignação dos servidores da saúde federal: a indiferença aparente do governo à tão esperada carreira da PST (previdência, saúde e trabalho), com direito ao adicional de qualificação, dado que a maioria dos que ocupam cargos intermediário tem, ao menos, graduação superior completa.
            Parte da saúde entrou em greve não unânime, elogiada por uma parte e criticada por outra. Uma terceira parte luta informando os usuários sobre o desmonte em andamento enquanto os atendem. Nessa luta diversa há o combustível esperança.
            Fracassada em experiência anterior, a municipalização pode dar ruim de novo. A amarra legal da lei 8112/1990 pode complicar o sonho privatista de todos os lados, especialmente o envolvimento da Ebserh, que pode ser abortado se houver ilicitude no contrato que ainda não foi assinado.
            Seja como for, os servidores da carreira PST (previdência, saúde e trabalho, o escalão mais baixo da esfera federal) se moldam na luta. A atenção ao povão é um exemplo de luta que dá sobrevida ao sistema público e amplo. Cansa, mas vale a pena, “hasta la vitória”.

Para saber mais
 ----

            













            
            
            

Nenhum comentário:

Postar um comentário

CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...