domingo, 3 de maio de 2020

"E daí?": o esgar genocida

     "E daí? Lamento, não posso fazer nada. Me chamo Messias, mas não faço milagre".
     O bordão de Bolsonaro foi uma resposta à pergunta de um jornalista sobre a cifra oficial de 5017 mortos por Covid neste dia 28 de abril, superando o recorde chinês de mais de 4800 no pico epidêmico local.
     A fala se acompanhou de um desprezível dar de ombros e esgar de frieza misturado com irritação por se sentir contrariado.
     Enquanto isso, milhares de brasileiros no território todo se perdiam entre a tristeza da perda de entes queridos e o desespero de atendimento em unidades de saúde lotadas e profissionais esgotados e sacrificados.
     Mas, não é a primeira vez que Bolsonaro dá mostras de sua verdadeira faceta. Ele já mostra desde antes de entrar na vida política.
     Bolsonaro entrou na AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras) em 1973, e em escolas militares se qualificou artilheiro, paraquedista e se graduou em Educação Física. Em 1986, se tornou capitão. Mas recebeu apelidos pejorativos como "Bunda suja" e "Cavalão".
     Agressividade com colegas, tendência à indisciplina, indiferença à hierarquia e à ética de lealdade institucional. Desempenho de trabalho irregular Ganância financeira que levou a um garimpo irregular na Bahia e a planejar explosões em banheiros de vários quartéis.
     Por tudo isso, somando-se a a acusação de terrorismo por desconsiderar danos estruturais e à vida de seu plano felizmente frustrado, Bolsonaro foi severamente advertido, mas parece que não se importou. E terminou preso.
     Caiu na reserva e saiu do Exército em 1988, aos 33 anos. Embora a ficha militar descreva alguns dados importantes, a partir da qual foi decretada a saída da carreira militar, a família refuta veementemente qualquer coisa nesse sentido.
     Foi para a política, no mesmo ano de 1988. Melhor oportunidade financeira com direito à vida nababesca sem esforço não há. No Rio de Janeiro, seu reduto eleitoral até hoje, foi eleito vereador, e depois, deputado federal por 7 mandatos.
     Se na vereança foi discreto, como deputado se sentiu à vontade. Apenas 3 de suas mais de 100 propostas legais foram aprovadas, se destacando mais por sua verborreia ideológica contra pautas das minorias sociais, diversidade, esquerda e direitos humanos em geral.
     Colegas partidários de esquerda eram suas vítimas maiores. Suas prediletas foram Maria do Rosário (PT) e Jean Wyllys (PSoL), a quem dirigiu ofensas e provocações várias vezes, sendo processado por danos morais. Indenizou, mas continuou o desdém.
     Houve vários processos judiciais, em especial por racismo, homofobia e ofensas sexistas, com perda de causas na maioria. Uma das ex-esposas chegou a acusá-lo de agressão, mas logo recuou.
     A lista de processos judiciais não parou aí. Houve outros, principalmente relacionados com homofobia e racismo, em que perdeu causa. Uma das ex-esposas chegou a montar acusação por agressão, mas voltou atrás.
     Na questão da segurança, tem defesa polêmica às milícias do Rio de Janeiro como forma de segurança em subúrbios e comunidades, e não escondeu as ligações, suas e de seus filhos, com pessoas da milícias, com exemplos já conhecidos, antes de ser presidente.
     Foi eleito nos alicerces de cristofascismo, propriedade privada, família, posse de arma para "cidadão de bem", maior poder às organizações de Edir Macedo, R. R.Soares e Silas Malafaia, pela defesa à ditadura militar e contra a ciência e a esquerda.
     A ideologia agressiva, em resposta "a tudo que está aí", criou um fã-clube violento que, atiçado pelo presidente, acumula vários registros de ataques a opositores e diferentes. Mesmo hoje, com Coronavírus e tudo.
     Negando a realidade do Corona, Bolsonaro mostra mais de seu caráter: ao invés de notas condolentes, sorria a cada 1000 mortos. Nas 5017 vítimas, o frio e antissocial bordão E daí?. E, sem remorso, ainda nega sua responsabilidade pelas mortes.
     Interessante é que a subida da curva epidêmica de Corona no Brasil coincide com o 31 de março, dia do golpe militar de 1964. Desde então a curva de mortes e infectados aumenta exponencialmente. E ele segue sorrindo e aglomerando gente por aí.
     Em 30/04, a cifra fatal de 6.267, superior à soma de todos os países da América do Sul que apresentam dados oficiais. Mais um sorriso satisfeito, lógico.
     E, atualmente, com quase 100 mil casos infectados e mais de 6.700 mortos, Bolsonaro foi a Goiás, onde aglomerou populares em sorrisos, selfies e contatos físicos. E dá de ombros.
     Sua indiferença não se resume à vida do povo brasileiro. Causa preocupação internacional com notas de repúdio de governantes e instituições como a ONU e a OMS. A economia cai mais ainda e o ministro da Saúde continua perdido.
     Em resposta a todos que se sentem incomodados ou a alguém da sua equipe que trabalhe diferente de sua "lei", ele ameaça. Desde o início de seu governo. E se vitimiza a cada problema que o acuse. Aliás, nunca falou nada razoável até hoje. Mas... foda-se.
     Com a saída de Moro, em depoimento em Curitiba, e notícias-crime de ministros do STF, o destino de Bolsonaro vai se reconfigurando devagar, a prestação. Enquanto isso, sorridente, ele continua de boa, sem remorso algum. Que se danem!
     Somando-se dados da ficha militar e as condutas até hoje, vale lembrar de Beatriz Barbosa, psiquiatra, autora de Mentes perigosas: ela certamente apontaria Bolsonaro como alguém com perfil psicopata ou sociopata. E dos perigosos.
     E segue o baile. Enquanto não o convocam para julgamentos, tanto aqui no Brasil quanto no Tribunal Internacional de Haia, ele segue a sua proposta necropolítica. Com o satisfeito esgar de um genocida.

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Crédito da foto: printandonews-instagram (via Google).

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