sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Ligeirinhas 12 (Brasil, novos momentos)

 

Nísia sai, entra Padilha. E agora?

        Todos os governos passam por reforma ministerial anualmente e Lula 3 não é exceção. O destaque desta vez foi a demissão de Nísia Trindade do Ministério da Saúde. Mantida com firmeza por Lula 3 para afastar a ambição do Centrão, Nísia saiu com novidades controversas no currículo.
        O bom – ela resistiu aos ataques dos extremistas e do centrão nas convocações da Câmara. Fez a pasta retomar a normalidade científica e de prevenção após o desastre do governo anterior. E de certa forma, dialogou com servidores da saúde federal sobre salários e carreira. Mas...
        O ruim – assinou diploma de incompetente ao afirmar que a pasta “não consegue gerir sozinha a saúde federal do RJ”, repetindo a entrega fracassada dos hospitais federais do RJ e a possível inclusão dos institutos nacionais. E só visitou o Hospital Federal de Bonsucesso, já sob gestão do GHC, a portas fechadas.
        5 hospitais federais foram entregues: 3 ao município, 1 à Ebserh e 1 ao GHC*, todos de direito privado, cedendo servidores para os institutos, que o GHC quer tomar.  Se isso ocorrer, para onde irão os servidores após toda essa rede for entregue a entidades de direito privado, que preferem ter seu próprio pessoal?
        Nísia Trindade agora é substituída pelo médico e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. Para a pasta de Relações Institucionais, onde esteve, foi nomeada Gleisi Hoffman. A experiência de Padilha na Saúde é bem vista por alguns servidores velhos de guerra atuantes no setor.
        Padilha foi ministro da saúde em Dilma 1 (2011-14). Na época houve duas greves por reajustes salariais. Vieram esmolinhas através do diálogo com ele. Mas agora, a maior preocupação – sem perder atenção ao reajuste desse ano – é o rumo da gestão da rede hospitalar federal do RJ.
        Se o retorno de Padilha ao MS para manter afastado o olho gordo de Lira, cabe lembrar que foi na sua gestão que a Ebserh foi fundada. E como Lula é um político sabidamente hábil, a nomeação de Padilha é uma estratégia para dialogar com os servidores sobre seus destinos finais, se concluído toda a privataria.
        Mesmo que o governo atual tenha características mais neoliberais do que os anteriores – o que pode tornar a privataria irreversível –, os servidores da saúde federal vão lutar por seus direitos até o fim. E assim deve ser. A estrela da esperança de revirada deve ser a última a apagar.
*Grupo Hospitalar Conceição, empresa federal de direito privado e matriz gaúcha, presta serviços do SUS. (nome completo: Grupo Hospitalar Nossa Senhora da Conceição)



PGR matou o golpismo ou só adiou?

                    Após o suicídio de Getúlio Vargas em agosto de 1954, o Brasil ficou momentaneamente órfão de presidente. Uma instabilidade se instalou no momento, com um estranho rebuliço nas Forças Armadas, até que o general Henrique Lott gritou um “basta” garantindo o regime democrático.
        Fora o golpe que originou a República, o rebuliço de 1955 foi a primeira tentativa fracassada de golpe militar. Na era JK (1956-61), uma aparente calma reinou, até que novo motim fracassado dos milicos fez Jânio Quadros renunciar dando lugar a João Goulart, finalmente deposto em 1964.
        Bem-sucedido, o golpe militar de 1964 originou a ditadura de 21 anos, cujo saldo necropolítico foi muito maior do que o oficial. Em 1985 veio a transição para a democracia atual a partir de 1990, que se seguiu relativamente estável até 2016, quando a nova extrema-direita se publicizou.
        Parlamentar e civil, o golpe que depôs Dilma Rousseff em 2016 poupou o esforço dos milicos, que veladamente comemoraram a deposição de Dilma Rousseff. Estiveram nos altos escalões do governo Bolsonaro e saíram em Lula 3. Mas eles seguem firmes – até na cadeia, garantindo a virada 2026.
        Mesmo mais à direita do que nos governos anteriores, Lula 3 experimentou o golpismo nos protestos bolsonaristas pós-eleição e na intentona de 8/1. Planejados desde 2019 (daí Bolsonaro fazer 4 anos de campanha eleitoral), os tentos golpistas têm fracassado desde então graças à força do legalismo de vários ministros do STF.
        Mesmo denunciados pela PGR e com alguns presos, Bolsonaro (mesmo inelegível até 2030) e seus aliados querem retomar o poder em 2026. É um delírio, mas relembremos que o golpe bem-sucedido de 1964 veio após fracassos anteriores. O legalismo que os segura hoje pode falhar amanhã. A luta para evitar novo golpe é de todos nós.


Mais um crime do agro

        O agro é um tema rico neste blog. Graças aos seus crimes já abordados, como abuso de agrotóxicos, desmatamento descontrolado, grilagem de terras, mando de assassinatos de lideranças comunitárias diversas e ambientalistas e colaboração com a ditadura militar.
        Mas há outro, muito midiatizado agora: o desperdício de alimentos, como protesto alegado de “baixos preços dos alimentos”. Essa prática não é novidade: ela é conhecida há décadas, só é esquecida. Já foi abafada por censura na era militar, e por esquecimento da própria mídia em rememorar.
        Muitas vezes, esse descarte era midiatizado ao mostrar índices altos de desperdício por famílias populares, de 1/3 em média. Essa proporção aumenta quando outros protagonistas, como produtores, transportadores (caminhoneiros) e comerciantes são revelados, podendo chegar a 40% do total produzido.
        O que dá o caráter nefasto e criminoso a essa prática é observarmos que as imagens não são de produtos típicos do grande agro, mas de pequenos e médios produtores, como frutas, verduras, legumes e carne tradicionalmente destinados a mais de 70% da patuleia brasileira. Mas há explicação para isso.
        Birras à parte, em parte a culpa é de Brasília. O governo federal assinou um Plano Safra recorde, de mais de R$ 400 bilhões – desses, só R$ 76 milhões foram destinados exatamente para quem mais responde pela alimentação dos citados 70%. Agora, o governo cede mais R4 4 bilhões. Para quem?
        Essa desproporção pode justificar o acinte – só em parte. É alto o custo em garantir boa produtividade para conseguir alimentar mais de 70% da população brasileira. E não tem os mesmos privilégios tributários desfrutados pelo grande agro, que ainda ganha ao exportar suas commodities.
        Mas o desperdício não se justifica. Os alimentos continuam caros ao consumidor final. Para baratear o custo de produção, os pequenos e médios produtores podem aproveitar tudo na reciclagem de seus solos para plantio. Lição valiosa que o MST já mostra há tempos e ninguém quer aprender.


No debate, um perigo oculto do BP

        No sábado, fui comprar uma marmita de vegetais em restaurante dentro de um clube dentro de casa. Ao pagar a marmita, eu e meu amigo senhor Saulo, dono do estabelecimento, conversamos um pouco. Na TV, a notícia envolvendo uma galera num iate de bilionário chamou a nossa atenção.
        - Basta sonegar imposto para enricar o suficiente para comprar um iate desses – disse eu.
        - Rico paga imposto, muito imposto. Quem não paga é pobre – disse Saulo.
        - Só não paga o Leão até quem ganha pouquinho mais de R$ 2000. Os demais impostos pesam mais nos pobres, proporcionalmente.
        - O resto dos impostos está no consumo, os ricos também consomem.
        - Os bilionários consomem... o que produzem, daí ser bem diferente. Os outros, inclusive os empregados dele, pagam mais.
        - Se é assim, por que o governo não faz nada para acabar com isso? É uma prova de que não existe o que você está falando. Sei que você prega igualdade, mas igualdade é impossível!
        - Como você explica então o enriquecimento em R$ 43 bilhões só dos bilionários brasileiros durante o ápice  da pandemia? – pausei. – Saulo, igualdade nunca existiu, concordo com você, mas os governos podem socializar os tributos para reduzir desigualdades, mas não o fazem por conveniência.
        - Salete, sugiro que você veja o canal do Olavo de Carvalho no Youtube, ele antes de morrer explicou tudo isso direitinho e você vai entender e dar razão a ele.
        Aí entendi tudo. Saulo segue a Brasil Paralelo (BP), plataforma de audiovisual profissional que tem até um bilionário acionista e de perigo penetrante. Invisivelmente, ela se infiltra nas periferias mais pobres e/ou desavisadas a partir de escolas, creches, igrejas e até determinadas faculdades para formar acadêmicos revisionistas Mas o caminho até esses destinos foi sinuoso.
        Primeiramente, a BP soprou uma brisa constante entre a classe média conservadora em que está meu amigo Saulo. Não respondi nada, por saber lavagem cerebral sofrida. Me despedi dele de boa, consciente do quão ferrado ele está. Como muita gente Brasil adentro. Triste, muito triste.



        
     
        
            

        
        
















        

2 comentários:

  1. [assinou diploma de incompetente ao afirmar que a pasta “não consegue gerir sozinha a saúde federal do RJ”]. Exatamente isso.

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