domingo, 30 de dezembro de 2018

Facada em Bolsonaro: a controvérsia em retrospectiva
     Juiz de Fora, 6/7/2018. Campanha de Bolsonaro. O então presidenciável sofreria uma facada no abdômen e encaminhado em seguida à Santa Casa de Misericórdia. Tudo foi muito rápido, registrado em muitos celulares e câmeras. O autor do crime, Adélio Bispo, foi preso de imediato e no depoimento enfatizou ter agido sozinho, sem influência de partido ou adversário político.
     Um prato bem cheio, o fato se transformou em notícia num segundo em todos os canais de mídia e nas redes sociais. Para seus eleitores, fãs e aliados, é verdade incontestável; para os seus opositores, uma farsa bem montada, enunciando uma série de pontos que motivem sua desconfiança.
     A afirmação de Gilmar Mendes (STF) de que a prisão tornará Lula um mártir, dado o clamor popular por sua liberdade e estar sempre em alta nas pesquisas de intenção de votos até ser substituído por Haddad, mexeu com os brios de Bolsonaro. 
     A data do presumido ataque esbarra na da Independência, valiosa entre militares, e na cidade natal do germe do golpe militar de 1964. Além da maior firmeza de seus eleitores e fãs, que consideram Bolsonaro "vítima de crime comunista do PT", a IURD, via Edir Macedo, lhe declara apoio. Enfim, ele pode sentir o gozo de ser mártir.
    Nesse ínterim, a denúncia de disparo de "zaps" de fake news via caixa 2 de empresas é noticiada nas grandes mídias e acirra a polaridade político-ideológica nas ruas, com presumíveis ataques ocasionais. 
     Análises de vídeo e fotos pelos oposicionistas revelariam local da presumida facada diferente do "sentido" pelo candidato. Foi vazado que o chefe da equipe de saúde que o socorreu é um renomado oncologista. De fato, já é conhecido que Bolsonaro usa, há dois anos, uma bolsa de colostomia no abdômen.
     As recusas às primeiras entrevistas (Globo e Band) foram compreendidas, mas não a da Record poucos dias após o "terrível" atentado. Já os debates políticos foram todos recusados pelo militar, ao ponto de incomodar: o já candidato Haddad chegou a propor debate no hospital. A recusa, mais forte no segundo turno, a geral interpretou como medo de encarar o petista. E Bolsonaro, flagrado serelepando por aí... 
     Como se não bastasse, passadas as eleições que garantiram a vitória ao militar, foi vazada na internet, através de canais de mídia, o aborto do inquérito da facada, por ordem superior. Não passou despercebido o silêncio ensurdecedor dos Bolsonaro desde então, e a partir daí já se indaga que fim teria levado Adélio Bispo. 
     O silêncio da família Bolsonaro e o mistério em torno do destino de Adélio podem funcionar como abafa geral entre os bolsonaristas, que acreditam acriticamente nos acontecidos. Mas não cala a crescente suspeita dos oposicionistas. Agora dominam o cenário notícias de corrupção envolvendo o ex-assessor de Flávio Bolsonaro. Mas, aí já se inicia outra história.
     

      
     

domingo, 9 de dezembro de 2018

Antes de 2019, as velhas novidades de Bolsonaro

     As eleições já foram, mas ainda faltam alguns dias para 2019. E já há eleitos que ainda nem tomaram posse e já dão sua pinta e seu estilo. É o caso de Jair Bolsonaro - mais uma vez ele, nas linhas deste blog.
     No seu slogan prometendo moralização na política e na vida social, o presidente eleito já escolheu nomes para alguns de seus ministérios, como na Educação, na Ciência e Tecnologia, na Defesa, na Justiça e segurança, nas Relações Exteriores, na Agricultura, na Economia, na Casa Civil, na Saúde e, mais recentemente, na pasta que agrega Cultura e Direitos Humanos.
    Se o número mais enxuto de pastas é novidade positiva, o mesmo não se pode dizer das pregações dos escolhidos: Guedes e sua visão ultraneoliberal de Estado e economia, o viés autoritário dos militares, a sandice do "globalismo comunista e anticristão" do diplomata Ernesto Araújo e o antifeminismo de Damares Alves, para quem "a obrigação da mulher é ser mãe".
    Entre as velhas novidades se destacam o maior ataque aos direitos da classe trabalhadora com o aprofundamento da reforma trabalhista, a extinção da pasta do Trabalho, e promessa de reforma previdenciária dos servidores públicos. O novo edital do Mais Médicos para convocar brasileiros fracassou: as mais de 8000 vagas serão de estrangeiros, repetindo na base o mesmo plano B petista.
     Mesmo parecendo piada, as sandices de Damares e Araújo são de alto risco. Eles são bem queridos pela bancada evangélica, cujas ambições podem ser satisfeitas. As ambições de Guedes e de Moro também são arriscadas, pois suscitarão conflitos imensos em tentar pacificar uma grande e diversificada patuleia em fúria ao sentir na pele a perda de seus direitos.
     O significado moralista do slogan cai por terra: o novo ministro, Sérgio Moro, permanece parcial perdoando Lorenzoni e ignorando Lula, e as mais recentes denúncias de uma série de movimentações financeiras envolvendo o motorista e ex-assessor do filho Flávio Bolsonaro, e a atual mulher do presidente eleito, rendendo vários memes nas redes sociais.
     Todo o conjunto da obra governamental, embora ainda em processo de montagem, já anuncia como será o perfil do novo governo. Um governo marcado certamente por muitos conflitos de interesses classistas e hierárquicos dentro e fora dos bastidores políticos. A cultura política brasileira cobra um preço muito alto, e Bolsonaro terá que ter muita calma nessa hora.
     Afinal, como disse o então candidato Ciro Gomes, antes de ser rechaçado ainda no primeiro turno, ao criticar a adversária Marina Silva: "este é um momento de testosterona". Se for mesmo verdade isso, testosterona é o que tem faltado ao eleito nesses últimos momentos, e vai precisar muito dela para impor a sua força.
     

CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...