domingo, 9 de dezembro de 2018

Antes de 2019, as velhas novidades de Bolsonaro

     As eleições já foram, mas ainda faltam alguns dias para 2019. E já há eleitos que ainda nem tomaram posse e já dão sua pinta e seu estilo. É o caso de Jair Bolsonaro - mais uma vez ele, nas linhas deste blog.
     No seu slogan prometendo moralização na política e na vida social, o presidente eleito já escolheu nomes para alguns de seus ministérios, como na Educação, na Ciência e Tecnologia, na Defesa, na Justiça e segurança, nas Relações Exteriores, na Agricultura, na Economia, na Casa Civil, na Saúde e, mais recentemente, na pasta que agrega Cultura e Direitos Humanos.
    Se o número mais enxuto de pastas é novidade positiva, o mesmo não se pode dizer das pregações dos escolhidos: Guedes e sua visão ultraneoliberal de Estado e economia, o viés autoritário dos militares, a sandice do "globalismo comunista e anticristão" do diplomata Ernesto Araújo e o antifeminismo de Damares Alves, para quem "a obrigação da mulher é ser mãe".
    Entre as velhas novidades se destacam o maior ataque aos direitos da classe trabalhadora com o aprofundamento da reforma trabalhista, a extinção da pasta do Trabalho, e promessa de reforma previdenciária dos servidores públicos. O novo edital do Mais Médicos para convocar brasileiros fracassou: as mais de 8000 vagas serão de estrangeiros, repetindo na base o mesmo plano B petista.
     Mesmo parecendo piada, as sandices de Damares e Araújo são de alto risco. Eles são bem queridos pela bancada evangélica, cujas ambições podem ser satisfeitas. As ambições de Guedes e de Moro também são arriscadas, pois suscitarão conflitos imensos em tentar pacificar uma grande e diversificada patuleia em fúria ao sentir na pele a perda de seus direitos.
     O significado moralista do slogan cai por terra: o novo ministro, Sérgio Moro, permanece parcial perdoando Lorenzoni e ignorando Lula, e as mais recentes denúncias de uma série de movimentações financeiras envolvendo o motorista e ex-assessor do filho Flávio Bolsonaro, e a atual mulher do presidente eleito, rendendo vários memes nas redes sociais.
     Todo o conjunto da obra governamental, embora ainda em processo de montagem, já anuncia como será o perfil do novo governo. Um governo marcado certamente por muitos conflitos de interesses classistas e hierárquicos dentro e fora dos bastidores políticos. A cultura política brasileira cobra um preço muito alto, e Bolsonaro terá que ter muita calma nessa hora.
     Afinal, como disse o então candidato Ciro Gomes, antes de ser rechaçado ainda no primeiro turno, ao criticar a adversária Marina Silva: "este é um momento de testosterona". Se for mesmo verdade isso, testosterona é o que tem faltado ao eleito nesses últimos momentos, e vai precisar muito dela para impor a sua força.
     

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