terça-feira, 23 de junho de 2020

Guedes, o submarino sob a tempestade

     Não bastasse a guerra dos Bolsonaro, contando com seus apoiadores, contra a atuação do STF em relação às muitas imprudências e demonstrações irresponsáveis da equipe de governo, surge outro rebuliço na guerra: a captura de Fabrício de Queiroz.
     A prisão de Queiroz respondeu à pergunta que ficou na boca do povo: cadê o Queiroz?, por conta de outros processos policiais resolvidos e o dele não. Nesse meio tempo Bolsonaro alimentou a catarse de seus fãs como "enviado de Deus".
     Certamente todos no Rio sabem da proximidade velha entre os Bolsonaro e Queiroz, ex-capitão da PM e cabeça da milícia carioca. Essa proximidade mostra a natureza da família e a prisão do amigo a desmascara publicamente.
     A prisão dele é para os Bolsonaro uma bomba pior do que a execução do miliciano Adriano, executor de Marielle e Anderson. Esse assombroso segredo mais condena do que protege a família das investigações e aguça ainda mais a antiga suspeita pública.
     Por baixo da superfície do mar fedorento, um submarino opera em silêncio. É Guedes, que as mídias da casa grande insistem em poupar. Indiferente à tragédia do Corona na superfície, o ministro do caos econômico centra a sua atenção em planos nada brasileiristas.
     São as propostas de que já sabemos: capitalização da previdência social, enfraquecimento da lei e justiça trabalhistas, a venda, em preço da casca de banana das nossas estatais Caixa (CEF), Banco do Brasil, Correios, a Eletrobrás e a Petrobrás para as grandes transnacionais.
     Das instituições acima, BB, Eletrobrás e Petrobrás são entidades de economia mista, com 49% de capital privado, e as demais, de capital 100% público. O regime trabalhista é celetista. Em teoria, características "privatizantes", só entre aspas mesmo. Mas, por que a ambição?
     Guedes se guia pela sua formação no movimento dos Chicago Boys, que formou os mais ricos banqueiros e especuladores do mercado financeiro mundial. Mas, também especializou na indiferença à necessidade equilibradora do Estado para preservar a parte socioambiental.
     Trabalhou no Chile com o sanguinário Pinochet, ídolo de Bolsonaro: capitalizou a gestão de serviços públicos essenciais (saúde, educação, infraestrutura, segurança), e a previdência, o que reduziu à extrema pobreza milhões de chilenos. Ele e Pinochet saíram em 1989, mas o pior ficou. E aguçou com o tempo.
     Apesar de vender a falácia do Chile como a Suíça da América Latina, graças à previdência privatizada e não às belas paisagens naturais com altos picos nevados ao fundo, ele tem ciência do estrago socioeconômico de seu feito, pois evita retornar lá a todo custo!
     O exemplo chileno serve para mostrar o quão arriscadas são as propostas e manobras de Guedes para o Brasil. Mas é bem possível que a coisa não se feche, não só por causa da corda bamba em que o governo se esforça em equilibrar, mas também por empecilho histórico.
     A ideia de vender as estatais brasileiras é de agora. No governo FHC, a privatização muito intensiva reduziu quase 70% do volume estatal, na siderurgia (CSN), mineração (Vale) elétrico (centrais estaduais), no financeiro (bancos estaduais) e no transporte (rodovias e ferrovias).
     Os economistas da época chegaram a crescer o olho na Petrobrás e BB, mas houve reação popular. Não conseguiram o intento, mas extinguiram o monopólio da petrolífera na pesquisa e exploração de petróleo e gás. Cientes, apesar dos rumores. os petistas e Temer não seguiram adiante.
     A indiferença de Bolsonaro à nação mune a pauta privatista. Por isso que o tema para essas estatais retornaram com força para o ministro como "porra de BB", "merda desses Correios" e tudo que ele considera um verdadeiro cocô público.
     Mas há uma barreira de história e lucratividade. Os Correios se originaram em 1663 e se tornaram a atual ECT em 1969. Os bancos foram fundados por D. João VI e a Petrobrás, em 1953, na era Vargas. São patrimônios sólidos, que enchem a nação de orgulho.
     Como empresas 100% públicas, os Correios e a CEF geram enormes lucros diretos ao próprio Estado, fora as arrecadações de impostos. Com BB e Petrobrás, a forte rentabilidade infla o valor das ações públicas e privadas. A enorme clientela gira dezenas de bilhões anuais, tal como o ainda alto valor do petróleo.
     Além disso, vale dizer da barreira encontrada na incerteza do futuro do governo Bolsonaro, que se esforça em se equilibrar na corda bamba. Em cena segue o julgamento do TSE que pode cassar a chapa presidencial, a primeira na história da República. 
     Fora isso, as votações das reformas não anda devido à estagnação e ameaças do presidente de ainda cancelar o Coronavoucher aos necessitados, o que enrola relações com o Congresso, cujo o presidente permanece impávido, sentado na pilha de pedidos de impeachment brotados de todo lado.
     Se a chapa for cassada, o submarino desaparecerá e o Brasil será salvo pelo gongo. O Brasil segue, deitado eternamente em berço esplêndido à espera do desfecho final. E nós ficamos na torcida por um possível desfecho feliz. Quem viver, verá.

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Crédito da imagem: Google (https://museulinguaportuguesa.org.br/objetos-com-p/) 

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