quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Borderline: vivendo nos extremos


      Esta é a vida dos sujeitos com o Transtorno de Personalidade Borderline, tema deste que é o oitavo artigo da categoria #Curiosidades- transtornos de personalidade.
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     Escrever sobre a depressão, a pedido, foi inspirador para explorar mais a categoria de #Curiosidades deste blog para os temas da Psicopatologia, com abordagens sobre os transtornos psíquicos e as suas possibilidades de tratamento ou cura.
     Foi feita uma pesquisa aprofundada sobre o tema, que é bem amplo e, daí, as leituras exigiram uma categorização. A partir daí, foi preferível fazer um filtro para a categoria psiquiátrica dos transtornos de personalidade.
     Cada um de nós carrega uma identidade própria, a partir do somatório de temperamento (propriedade inata) com o caráter (sociocultural), o Eu individual: é a  personalidade, que vem do grego persona, pessoa. As várias personalidades derivam de vários temperamentos e como assimilamos os valores socioculturais.
     Quando a personalidade deixa de ser sadia para ser patológica é atributo de psiquiatra e psicólogos devidamente habilitados em Psicopatologia, que percebem o patológico a partir de alteração relacional e comportamental inflexível e mal adaptativa, acompanhada de sofrimento subjetivo.
     A partir da compreensão de personalidade, o objetivo deste artigo é abordar sobre o transtorno de personalidade borderline ou limítrofe.

-> Transtorno de personalidade limítrofe ou Borderline
       
     O transtorno de personalidade borderline (TPB) ou limítrofe (TPL) é uma condição de extrema instabilidade e sensibilidade em relações interpessoais e autoimagem, descontrole nas alterações de humor e na impulsividade, intolerância à solidão e crises do tipo suicida, segundo o Manual DSM de Transtornos-TPB.
     Medo, pânico ou raiva intensos sobrevêm à ideia de abandono ou negligência do outro. Mudança de opinião abrupta e dramática sobre alguém. Empatia ocorre desde que o outro esteja sempre disponível podendo virar desprezo ou raiva intensos. Sem autocontrole, a irritabilidade ou ansiedade pode gerar a inconveniência.
     Vergonha e culpa se seguem às explosões de raiva ou sarcasmo, reforçando a ideia de ser mau. A mudança na autoimagem é súbita, como nos objetivos, valores, opiniões, carreira e amigos. Carência interior gera raiva 'justificada' por se achar maltratado, vindo em seguida a forte sensação de vazio. As intensas alterações de humor, em geral de horas, refletem a forte sensibilidade do paciente.
     A impulsividade extrema é característica, com desenfreio em jogos de azar, direção imprudente, sexo, comida, bebida, automedicação gastos, autolesão punitiva não suicida. 10% dos casos cometem suicídio, 40 vezes mais do que na população em geral. O suicídio é ligado à decepção com o outro.

Associação, etiologia, incidência, diagnóstico e tratamento:
     Segundo anamneses e pesquisas, o TPB pode se associar a outros transtornos de humor, e estresse pós-traumático, mas a manifestação isolada é bem comum, e cada paciente se manifesta diferente: ou é raivoso, impulsivo, ou humor instável, etc.
     A etiologia se liga a estresses na 1ª infância (0-3 anos), abusos sexuais, separações ou abandono. A hereditariedade se observa em propensão em até 5 vezes maior do que na população.
     Pessoas com TPB são entre 1 e 5% na população geral. Mulheres parecem ser maioria, ainda que entre a população geral seja de 1:1. Cerca de 20% dos internados em centros psiquiátricos têm TPB, conforme dados dos EUA. No Brasil não há dados atualizados, mas estima-se serem parecidos.
     A consulta diagnóstica é recomendada no início da vida adulta. Se usa no mínimo cinco critérios diagnósticos: - tentam evitar abandono real ou imaginado; - relacionamentos instáveis e intensos, com extremos de apreciação e depreciação; - perturbação na autoimagem; - impulsividade em pelo menos 2 quesitos; - recorrência de comportamento suicida ou autolesão.
     Outros critérios de exemplo: - instabilidade afetiva devido às oscilações de humor; - sentimento crônico de vazio (tédio); - raiva intensa, inadequada e sem controle; e - episódio psicótico transitório.
     O TPB se trata na psicoterapia, em relação profisional-paciente respeitosa e longa o suficiente para despertar no tratado confiança e segurança; pode ser individual ou grupal. As medicações são para os sinais prevalentes: antidepressivo para oscilação do humor, antipsicótico para a raiva, etc. Cada pessoa a
     O TPB é tratável com psicoterapia, com conversas longas e relação profissional-paciente respeitosa e coesa para garantir a este confiança e segurança; pode ser grupal ou individual. Já as medicações são por indicação específica, como antidepressivos para oscilação do humor, antipsicótico para a raiva, etc.

-> Reflexões finais

     Como mencionado no artigo sobre depressão, o TPB é um transtorno psíquico heterogêneo (cada paciente se manifesta de um jeito), importante problema de saúde que compartilha com a depressão, esquizofrenia, transtorno paranoide e outros um risco de passagem em centro psiquiátrico.
     Quanto mais grave o transtorno, maior o sofrimento infringido ao paciente. E o TPB envolve toda a família, dado o desgaste da convivência extremamente difícil e desafiadora. A inconveniência devida ao descontrole sobre impulsividade, emoções e humor pode ser alvo de estigmas pelos que ignoram o transtorno. Mas o paciente não pode ser descartado por isso: ele precisa de ajuda.
     Muitos pacientes com TPB não aceitam sua condição por vários fatores. No Brasil faltam educação e a saúde pública sofre desinvestimento e desmonte crescentes. Cada sessão psicoterápica custa caro, e não tendo como arcar, a maioria se limita ao paliativo medicamentoso.
     O que reforça a necessidade de olharmos esses pacientes com o carinho que merecem e a realidade de sofrimento do TPB. Há saída. E cabe a cada um de nós, mostrar a eles que é possível enfrentar o transtorno de forma a propiciar, ainda que ao mínimo, a merecida qualidade de vida.
     
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Imagens: Google

Notas da autoria:
1. Autolesão não suicida (ALNS) como autopunição por se considerar mau.

Para saber mais:
- https://psiquiatriabh.com.br/sobre-o-transtorno-de-personalidade/#:~:text=A%20personalidade%20%C3%A9%20uma%20palavra,s%C3%B3cio%20e%20culturalmente%20%E2%80%93%20o%20car%C3%A1ter.
- https://infomedica.fandom.com/pt-br/wiki/Transtornos_da_Personalidade_Lim%C3%ADtrofe
- https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-de-personalidade-borderline-tpb#:~:text=O%20transtorno%20de%20personalidade%20borderline,diagn%C3%B3stico%20%C3%A9%20por%20crit%C3%A9rios%20cl%C3%ADnicos.

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