quinta-feira, 14 de março de 2019

Governo Bolsonaro e Venezuela: um papagaio de pirata em guerra

     Quando assumiu o governo, Jair Bolsonaro publicamente se declarou inimigo do atual líder da Venezuela, Nicolás Maduro, e sua política “de esquerda”. Incompatibilidade ideológica ou, meramente, um comportamento de Maria-vai-com-as-outras?
     Bolsonaro é da direita conservadora em costumes e no “alto valor” da fé cristã dominante, assimilando o neoliberalismo econômico agressivo. Profundo admirador de Donald Trump, vê seu governo como o dele, inclusive na visão sobre Maduro. Mas uma diferença fundamental os opõe.
     Enquanto Paulo Guedes propõe o entreguismo de empresas públicas e recursos naturais, nos EUA impera, independentemente do partido governante, o férreo protecionismo territorial dos mesmos, apesar da presumida liberdade de propriedade privada do subsolo para exploração.
     É pelo protecionismo que os EUA se desculpam na adversidade política para atacar militarmente nações muito ricas em recursos naturais e/ou minerais tão cobiçados. Para se ter uma ideia, a Bolívia do socialista Evo Morales é rica em gás natural, mas não se fala em intervenção militar.
     A Venezuela repousa sobre campos gigantes de petróleo. Na superfície e subsolo da sua preservada Amazônia, muitos outros recursos. Uma forte crise política e socioeconômica, reforçada pelo embargo dos EUA. Solidariedade de Bolsonaro. Tudo perfeito para motivar o ataque dos EUA.
     Trump demonstra seu desejo de depor Maduro à força. Motivo: para ele, o liberal Guaidó no poder abre portas para a exploração fácil e indiscriminada de petróleo. Para Bolsonaro, Maduro é um “perigoso entrave à democracia venezuelana” – puro fisiologismo, quase infantil.
     Diante de tudo isso, não é à toa que movimentos de esquerda ou simples anti-Bolsonaro alertam tanto sobre a verdadeira intenção de Trump (e Bolsonaro) na deposição forçada de Maduro. A tosca ajuda humanitária brasileira foi uma grosseira cortina de fumaça, que só reforçaria ainda mais as críticas da comunidade internacional.
     Enquanto isso, continua a debandada de venezuelanos para países vizinhos. Nem tanto por Nicolás Maduro, ou Guaidó, mas para escapar da crise, da iminência de uma guerra internacional e para alcançar seu maior e mais simples desejo, a dignidade de vida para si e os seus.
Revisto em março/2019

O “Madurismo”: consequência interna ou externa?

     Após a morte do popular presidente da Venezuela, Hugo Chaves, após lutar contra um câncer de anos, o antes vice Nicolás Maduro o sucedeu no posto máximo, observado pela encurralada oposição, que não disfarçava a sua apreensão. Será que Maduro seria a continuidade de Chaves?
    A resposta aparece anos depois: uma versão bem autoritária e endurecida, que estaria refletindo na saída de muitos venezuelanos. Além da adversidade política ao embargo dos EUA, Maduro se volta contra o Brasil de Bolsonaro, ao qual fecha as suas fronteiras.
     O fechamento ao Brasil também tem razões políticas: antes, o presidente Jair Bolsonaro havia declarado ajuda militar aos EUA para possível ataque à Venezuela a fim de tirar Maduro do poder à força. Em contrapartida, Maduro encontra a solidariedade militar da poderosa Rússia.
     Esse quadro divide opiniões nas redes sociais. Parte da esquerda defende Maduro enquanto governo eleito na última votação. Outra parte admite a crise e não gosta do madurismo, o estilo Maduro de governar. O debate sobre o assunto nas redes sociais é intenso.
     As críticas nas reais intenções de Trump sobre o abundante petróleo venezuelano são muitas e fundamentadas em fatos anteriores. Entre os críticos do madurismo, o baixo quórum de eleitores (30%, o voto lá é facultativo) e pela grave crise de abastecimento interno e inflação.
     É sabido que a crítica ao madurismo, no plano político-ideológico se iniciou, na realidade, com o chavismo de Chaves. Embora tenha sido comparativamente mais suave, o chavismo foi criticado igualmente por acusações de ataques a oposicionistas.
     Chaves foi mais inteligente na sua relação com a classe empresarial e com o povo, conseguindo melhorar alguns serviços públicos e diminuir a desigualdade econômica. Já Maduro endureceu relações com o empresariado e com os opositores, gerando a crise interna, sociopolítica e econômica.
     Um prato cheio para os EUA idealizarem o embargo econômico tal como já fazem com Cuba há décadas. O que aprofundou a crise de abastecimento interno e disparou a inflação. Enquanto a grande mídia vende que o problema foi causado pelo madurismo, a ONU critica o embargo.
     Enquanto esse fogo cruzado só acirra o temor do povo venezuelano da iminência de guerra internacional, resta aos especialistas diversos se elucubrar em conjeturas diversas sobre as origens da grave crise interna atravessada pela Venezuela. E nós, torcendo pela retomada da paz e da democracia.
Revisto em março/2019.

MEC: uma carta para a indiferença
     Ontem, o MEC emitiu de Brasília uma espécie de documento em papel oficial caprichosamente timbrado com o brasão da República e assinado pelo ministro braso-colombiano Vélez Rodríguez.
     A carta solicita às escolas públicas e particulares do país a, antes das atividades, perfilar os alunos para cantar o Hino Nacional e, no fim, exclamar o slogan do governo, Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. Tudo a ser filmado pelos docentes.
     De pronto, a notícia caiu nas redes sociais. Uma reação mais positiva entre o povo na alegação de tradição, e outra mais negativa entre educadores, com direito a explicações na lei.
     O slogan fere o § 2º do art. 37º e o art. 227º da Carta Magna de 1988, que vetam tal imposição nos exercícios públicos por respaldo ao Estado democrático de direito. A filmagem vai mais longe: fere a privacidade e a liberdade da comunidade escolar, que inclui familiares dos alunos, e ao ECA, pelo caráter arbitrário e opressor. Facultativo pela LDB/1996, o Hino não foi criticado.
     Sobre o Hino Nacional, em particular, um aviso que irá desgostar alguns bolsonaristas mais fervorosos: a proposta de entoá-lo a critério da escola foi de Fernando Haddad, ministro da educação entre 2005 e 2011, na era petista. Essa proposta segue previsão da Constituição e da LDB/1996, ainda em vigor. 
     Diferentemente, a intenção de Vélez foi de torná-lo obrigação reiterando o caráter disciplinador da escola, diante da impossibilidade de militarizar de fato a maioria das escolas públicas - daí entrar a história da filmagem. Nadinha a ver com alguma intenção de melhorar a qualidade do ensino.
     A filmagem, aliás, caiu nas redes sociais como uma luva para críticas, bem humoradas ou não. A sugestão mais comum foi de foi filmar as carências estruturais severas, violência, desvalorização social, econômica e trabalhista dos docentes, e a distância de muitos pais com a escola. Cenas de um descaso injustificável do próprio MEC com a educação.
     O MEC foi intimado pelo MPF a se explicar em 24 horas. Vélez se declarou mal interpretado, mas aboliu o slogan. Talvez ao reconhecer, mesmo a contragosto, sua indiferença ao maior princípio precípuo do MEC, o dever de garantir educação pública gratuita, democrática e de qualidade a todo o povo.

CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...