terça-feira, 4 de junho de 2019

Crônicas e curtas da vida real

Um almoço quase indigesto

     Numa pausa de trabalho de quinta-feira, fui almoçar num restaurante barato próximo. Dia lotado, com direito a uma fila inédita. O motivo? Duas feijoadas, a tradicional e a vegetariana. Sim, a turma adepta frequenta lá.
     Assim que uma mesa próxima se esvaziou, sentei nela. Em seguida, vários trabalhadores, que se puseram a conversar entre os muitos nacos de carne mastigados em velocidade máxima.
    Reforma da previdência foi o assunto deles. Um deles me chamou a atenção para emitir uma opinião a respeito do tema. Resisti de início, mas diante da insistência, procurei ser breve.
     - Se fosse boa mesmo, por que então não aplicá-la ao alto escalão do legislativo e do judiciário? Por que há tanta miséria nos países que a adotaram?
     Em meio à fala, um deles, grandão, já convencia os outros de que "vai sobrar dinheiro pro povo porque vai acabar com privilégios". Me silenciei, pra evitar encrenca. O grandão disse pra mim:
     - Pode ficar tranquila, palavra de Bolsonaro!
     Ao findarem seu almoço, os homens se levantaram. O grandão estendeu a mão para aperto e despedir.
     - Foi um prazer, moça. Mas, me desculpe a curiosidade: tu votou em Lula ou Bolsonaro?
     - Ninguém. E não teve Lula nenhum. 
     - Mas teve o Haddad, que é o Lula, que é o PT.
     - Mas não votei em ninguém. - eu queria parar. 
     Aperto de mão, que ficou.
     - Mas vamos rumo a Bolsonaro 2022!
     - Ninguém 2022.
     - Não, é Bolsnaro 2022.
     - Ninguém 2022.
     - Bolsonaro 2022.
     - Ninguém 2022.
     - Vai por mim, Bolsonaro 2022. - e emendou. - Vou lá senão o patrão nos pega pelo pé.
     - Bom trabalho, e que tenha uma aposentadoria garantida.

ROSSINI, Salete. Da série CENAS DA VIDA URBANA, crônicas do real. Junho 2019.

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