Crônicas e curtas da vida real
Um almoço quase indigesto
Numa pausa de trabalho de quinta-feira, fui almoçar num restaurante barato próximo. Dia lotado, com direito a uma fila inédita. O motivo? Duas feijoadas, a tradicional e a vegetariana. Sim, a turma adepta frequenta lá.
Assim que uma mesa próxima se esvaziou, sentei nela. Em seguida, vários trabalhadores, que se puseram a conversar entre os muitos nacos de carne mastigados em velocidade máxima.
Reforma da previdência foi o assunto deles. Um deles me chamou a atenção para emitir uma opinião a respeito do tema. Resisti de início, mas diante da insistência, procurei ser breve.
- Se fosse boa mesmo, por que então não aplicá-la ao alto escalão do legislativo e do judiciário? Por que há tanta miséria nos países que a adotaram?
Em meio à fala, um deles, grandão, já convencia os outros de que "vai sobrar dinheiro pro povo porque vai acabar com privilégios". Me silenciei, pra evitar encrenca. O grandão disse pra mim:
- Pode ficar tranquila, palavra de Bolsonaro!
Ao findarem seu almoço, os homens se levantaram. O grandão estendeu a mão para aperto e despedir.
- Foi um prazer, moça. Mas, me desculpe a curiosidade: tu votou em Lula ou Bolsonaro?
- Ninguém. E não teve Lula nenhum.
- Mas teve o Haddad, que é o Lula, que é o PT.
- Mas não votei em ninguém. - eu queria parar.
Aperto de mão, que ficou.
- Mas vamos rumo a Bolsonaro 2022!
- Ninguém 2022.
- Não, é Bolsnaro 2022.
- Ninguém 2022.
- Bolsonaro 2022.
- Ninguém 2022.
- Vai por mim, Bolsonaro 2022. - e emendou. - Vou lá senão o patrão nos pega pelo pé.
- Bom trabalho, e que tenha uma aposentadoria garantida.
ROSSINI, Salete. Da série CENAS DA VIDA URBANA, crônicas do real. Junho 2019.
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