domingo, 11 de agosto de 2019

Novelas bíblicas como patrimônio: só elas?

      Na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), os deputados Carlos Macedo, Daniel Librelon e Tia Ju (todos do PRB) e Rosemberg Reis (MDB) ensejam o reconhecimento, pela entidade, das novelas bíblicas como patrimônio imaterial do estado.
      Nada demais no projeto, senão por duas razões óbvias: com provável exceção de Reis, que não revelou sua igreja, os demais são da IURD, sendo os dois primeiros citados bispos e Tia Ju fiel influente da igreja; e só a Record produz tais novelas no país.
      E todos sabem que a Record e a IURD praticamente se confundem, pois estão ligadas ao "papa" Edir Macedo. Ah, e o PRB também foi fundado pela IURD, como parte do projeto de poder do próprio Macedo.
      Daí o projeto ser alvo de críticas. Carlos Minc (PSB) aponta a prioridade em "temas de besteirol ideológico", a indiferença dos proponentes a temas urgentes como saúde, educação e segurança, e o gasto de tempo e grana pública com algo sem utilidade.
      Minc não tencionou atacar evangélicos: as grandes igrejas têm se assumido como instituições ideológicas ao priorizar políticas de seu interesse direto, a incitação à eleição de candidatos ligados e a citada fundação do PRB pela IURD. O resto não importa para eles.
      Outro ponto a merecer pauta e que faz jus ao título deste artigo é a seletividade: o projeto só trata de novelas bíblicas, sem menção das restantes, grandes sucessos da teledramaturgia.
      De fato, o projeto dos proponentes mostra-lhes a ignorância, senão interesse sectário: há muito as novelas brasileiras são apreciadas em diversos países, capitalistas ou não. Só na antiga URSS, a primeira versão da "Escrava Isaura" já foi reprisada várias vezes.
      A nossa teledramaturgia no exterior, liderada de longe pela grade da Globo, não só mostra o seu valor como fonte extra às emissoras, mas também nos revela que nossas novelas já eram vistas como patrimônio cultural. Só o Brasil talvez não percebesse isso.
      Mas, quem sabe, o interesse dos proponentes da Alerj seja o de sobrepor o valor das novelas bíblicas ao das tradicionais novelas globais: afinal, o que vale para eles são o interesse econômico e o avançar do projeto de poder do "papa" da IURD.

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