quinta-feira, 8 de agosto de 2019

O governo Bolsonaro é mesmo uma ditadura?

      Bolsonaro foi eleito por aqueles que, em sua maioria, queria um Brasil novamente "nos eixos", com "valores e regras tradicionais e definidos", como nos tempos dos militares.
      Assim como seu vice, vários ministros e outros do alto escalão são militares, nomeando-os para substituir quem lhe desagrade os caprichos ideológicos e pessoais, não importando as consequências sócio-institucionais disso.
      Como na ditadura, governa por decretos. Extinguiu dezenas de conselhos populares, afastando o povo das decisões políticas. Com Guedes dissolve aos poucos direitos sociais com "reformas" draconianas, e dá velado apoio a Moro na deturpação dos princípios de justiça.
      Se diz o "Johnny Bravo", em alusão ao personagem de HQ macho, fortão e branco, uma grotesca caricatura do jovem estadunidense estiloso, mas fracassado e sem perspectiva.
      Assume postura vergonhosamente arrogante em público, com palavrões sobre sua posição e abandonos súbitos de entrevistas ao ouvir uma pergunta certamente desagradável ou que parta de uma mulher.
      É indiferente ao abate progressivo de lideranças populares fora de Brasília, apoia invasões em terras indígenas e reservas ambientais, matando habitantes e a floresta e fomenta o ódio coletivo a opositores e minorias.
      Assiste com indiferença ao abate progressivo de lideranças populares fora de Brasília e invasões em terras indígenas, matando algumas pessoas e a floresta, e fomenta o ódio coletivo a opositores e minorias.
      Na surdina demite um renomado diplomata para indicar o pupilo Eduardo Bolsonaro à embaixada dos EUA. Uma estratégia de intempestiva investida estadunidense nas riquezas enterradas nas áreas indígenas e de proteção ambiental.
      A maioria dos setores de esquerda vê no governo Bolsonaro uma nova ditadura, mas com outra roupagem. Parece concordar com isso o sociólogo espanhol Manuel Castells, em O Globo de 17/7/2019:
"Por que se ataca Paulo Freire? Porque no mundo, e não só no Brasil, ele é um símbolo. (Na) Universidade Stanford [...] ele era adorado, porque seus princípios são adaptados ao que é a nova sociedade: criar pessoas livres e autônomas, capazes de promover sua própria aprendizagem, guiados por seus professores. Isso é muito perigoso para aqueles que querem manipular. Paulo Freire é liberdade, e a liberdade é agora o maior obstáculo que existe para que se siga desenvolvendo essa ditadura sutil que estão tentando impor ao Brasil".

      Mas outros não partilham dessa visão. O humorista Fábio Porchat, do canal Porta dos Fundos, diz no Globo de 29/7/2019 que "É uma época ótima para fazer piada. Difícil foi na ditadura. Difícil é fazer humor para o censor. [...]. O humor não está sendo podado, não está tendo uma censura ao humor".
      Dessa afirmação compartilha o filósofo Paulo Ghiraldelli, em seu canal do YouTube, no vídeo intitulado Sob que regime vivemos, de 27/7/2019: 
"É um regime de anti-ditadura, de desregramento das leis, de destruição do Estado e da sociedade [...], podendo levar a uma anomia social: podemos acordar no dia seguinte comandado por milícias" (com adaptações).
      Ghiraldelli explica que a liberdade das publicações pode se manter, mas o regime é bem pior do que a ditadura devido à deturpação completa das leis e o comando social das milícias, com o autoritário aval governamental.
      O estilo autoritário e autocrático do governo faz confundir com ditadura. E, a julgar pelo exposto, é um quadro muito, muito sombrio, e o desconhecimento de setores de luta sobre isso mantém a porta aberta para o caos anômico do bolsonarismo.
      

Um comentário:

  1. Esse Ghiraldelle só tá aí para confundir a esquerda festiva, quem nem esquerda de verdade é.

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