domingo, 26 de janeiro de 2020

A geosmina e o seu verdadeiro produtor

     Em mais de duas semanas deste mês de janeiro, recorrem notícias relativas à água alterada do rio Guandu que tem saído das torneiras com odor e sabor terrosos, e em alguns lugares, com cor marrom-amarelada.
     Análises noticiadas apontam polêmicas quanto à origem da alteração da água, mas nota-se unanimidade entre diferentes mídias e autoridades: a constatação da presença de geosmina na água.
     Mas, bem, o que é geosmina? Que organismos a produzem? Eles podem prejudicar a saúde? É complicado entender isso? Não. Vamos por tópico.
     Etimologicamente, o termo geosmina significa "perfume da terra", em grego. É um composto orgânico aromático, de molécula álcool bicíclico, derivado da reação da água com o composto decalina, presente no solo.
     A geosmina é solúvel em água, o que favorece a sua disseminação em cursos d'água com as chuvas.
     Não há relatos na literatura que apontem toxidade da geosmina à saúde humana, nem controle do Ministério da Saúde à substância. O que tem sido dito pela Cedae e pelas mídias.
     As mídias e a Cedae têm atribuído a produção da geosmina às cianofíceas. Mas o que são as cianofíceas?
     As cianofíceas ou cianobactérias, são um grupo de bactérias fotossintéticas. São o mais antigo grupo de organismos fotossintéticos da história da Terra, tendo surgido há perto de 3,4 bilhões de anos atrás.
     As cianoficeas respondem pela transformação da atmosfera do planeta, injetando doses colossais de oxigênio, gás que interferiu em numerosos processos químicos e físicos na água, nas rochas e no próprio ar. Agradeçamos a elas por existirmos.
     De vida livre, essas bactérias formam grandes colônicas verde-azuladas em corpos de água doce, salobra e salgada. Secretam seguidas camadas de carbonato de cálcio, a compor o estromatólito.
     Muitos estromatólitos por aí denunciam a antiguidade das cianofíceas. Embora bem menos abundantes hoje, elas ainda são comuns em águas bem iluminadas como na costa oeste da Austrália e muitas lagoas limpas por aí.
     O estromatólito é a grande evidência de como esses organismos são antigos. Embora mais restritas hoje, as cianofíceas ainda existem em relativa abundância em águas cristalinas, como a costa oeste da Austrália e lagoas limpas no mundo.
     Mas, a despeito da ênfase nas cianofíceas, não há ligação entre elas e a geosmina. Quem produz essa substância é o Streptomyces coelicolor, um fungo microscópico do solo. Ele produz a já citada decalina.
     Em período de calor úmido o S. coelicolor se reproduz muito banhando o solo de decalina, que reage com a umidade saturada (e ozônio). E vem o apreciado "cheiro de terra molhada": a geosmina.
     Sim, por sua natureza aromática a geosmina pode conferir o odor e gosto terrosos à água. Mas, conforme outros dados no artigo anterior, vale refletir se vale mesmo a pena dar ponto final a ela como causa das citadas alterações.
     Em tempo: vale refletir também se os profissionais das mídias têm consultado os profissionais adequados quando se trata do organismo relacionado à substância. E isso pode causar mais dúvida na confiabilidade nas análises da Cedae.    

     
     

Nenhum comentário:

Postar um comentário

CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...