Coronavírus: do pânico ao preconceito
Desde os anos 1980, quando o HIV despontou como um vírus de uma doença fatal e pouco conhecida, a hoje conhecida Aids, diferentes eventos viróticos com muitas vítimas fatais viram manchetes no mundo.
E a cada divulgação pelas mídias se seguem sentimentos de pânico e insegurança. Agora se tem informe do brasileiro Arenavírus e, principalmente, do asiático Coronavírus, tema deste texto.
Causador de grave infecção respiratória, o Coronavírus parece ter infectado o primeiro humano por contato com uma cobra num mercado em Wuhan, China. Suspeita-se que roedores e morcegos também o transmitam.
O Coronavírus também se transmite pelo ar. O que responde, somado às muitas viagens internacionais, pela enorme facilidade de propagação do patógeno, que atinge países próximos, alguns da Europa e nas Américas.
Foco de origem, a China tem mais de 800 mortos e 13 mil infectados. Números bem menos vistosos estão em outros países. O Brasil tem 19 confirmações até o momento.
Antes dos números atuais, a ONU acendeu o alerta vermelho de risco global.
Já surgem estratégicas de contenção. Com 800 mortos e 12 mil infectados no momento, a China corre contra o relógio, com o surgimento relâmpago de hospitais visando o tratamento e pesquisas de combate.
Em outros países asiáticos com casos, cidadãos foram proibidos de consumir os apreciados roedores, cobras e morcegos e, como os chineses, passaram a usar máscaras.
Com exceção dos repatriados, que farão quarentena, aeroportos de vários países estão proibidos de receber novos voos da China. Todas as confirmações anteriores foram de pessoas que voltaram de Wuhan já infectadas.
Enquanto outras nações já repatriavam seus cidadãos, aqui Bolsonaro relutou inicialmente, mas liberou um avião para repatriar os brasileiros que vivem em Wuhan e adjacências.
O governo acreditara antes que não entrariam infectados, mas estes já haviam entrado antes das primeiras notícias apavorantes.
Além da saúde, se estimam outros impactos. Enquanto o mercado prevê queda econômica global significativa, autoridades da saúde temem o risco de concretizar uma pandemia por conta de mau investimento na saúde pública nas nações em desenvolvimento.
Mas um impacto ainda maior, ainda que oculto, pode agudizar as estimativas citadas. É o social, pelo risco de agudizar a xenofobia, em especial a sinofobia, aversão aos chineses. E é bom ressaltar: o primeiro é antigo e ainda forte no Ocidente, por ligação com o racismo.
A sinofobia irá mais fundo em um aspecto específico: um racismo basicamente estrutural, contra os aspectos culturais dos chineses, cujo gosto alimentar por animais silvestres se revela aos sinófobos como execrável exotismo.
A xenofobia estrutural já mostra suas caras no Brasil, com direito a denúncias, uma delas já publicada pela Revista Forum de 1/2/2020: a jovem cujo nome revela ascendência japonesa foi chamada de "chinesa porca" por uma senhora em metrô do Rio.
O insulto da senhora que foi filmada se estendeu a outros povos orientais e até aos negros, cuja higiene seria ligada à escravidão. A matéria com o vídeo já viralizou em redes sociais.
Nas redes sociais, ativistas ocidentais de proteção animal publicam matérias fortes com vídeos de carne de cachorro na China. Repulsivo entre nós, mas normal para eles, que fazem festivais gastronômicos com essa carne há muito tempo.
E não é só a China que consome cães. Tailândia, Coreia do Sul, Vietnã, Canadá e Suíça são grandes consumidores dessa carne. Na África, o consumo se dá em tempos de escassez de alimentos ou em rituais religiosos.
Mas, é bom salientar: o preconceito se revela como a primeira consequência do pânico. Um tanto de pânico, somado à ignorância e a um certo sensacionalismo midiático, gera impacto ainda macroeconômico ainda maior.
E se globaliza ainda mais rápido do que o próprio Coronavíris e a sentença de morte que possa carregar. O que pode ser pior.
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