domingo, 10 de maio de 2020

Corona: no Rio, a "seleção natural"

     Imagens terríficas de corpos mortos ensacados em plástico em macas nos corredores e em camas ao lado das dos vivos internados caíram nas redes sociais repercutindo no país e no mundo.
     Igualmente, imagens de covas coletivas em que se enfileiram caixões ou de construção de novos gaveteiros viralizam nas redes sociais. Do Brasil e do mundo.
     Diante disso, junto aos novos decretos de proteção social profilática, a ascensão mais veloz do Covid no país, junto à indisciplina de grande parcela popular, em parte sob a influência de Bolsonaro, batem cabeça em busca de novas estratégias de contenção do flagelo.
     Uma delas é o estrangeiro lockdownexpressão inglesa que significa um "trancamento", em tradução literal. O que já expressa claramente o retrato do caos na saúde. Foi decretado em alguns estados, como Maranhão e Amapá, entre outros.
     Entre os Estados do centro-sul brasileiro se reluta decretar lockdown: Doria e Witzel supõem haver fortes riscos. O Sudeste é ainda concentra quase metade das confirmações de infectados e mortos no país.
     Mas um tópico inusitado, tema deste artigo, é a criação de um protocolo de pontos** pelo qual, quanto maior a soma de pontos de risco, mais atrás na fila de espera ficará o paciente confirmado ou suspeito de Covid.
     Algo que, em análise bem fria, se torna análogo à seleção natural de Darwin*.
     Na natureza, os seres vivos evoluem graças a fatores ambientais e genéticos. Os mais aptos podem a transmitir aos descendentes seus melhores caracteres. Já os menos aptos, doentes ou com mutações genéticas, tendem a desaparecer. É a seleção natural.
     Charles Darwin não criou a teoria da evolução por seleção natural num piscar de dedos. Foi minucioso em seus experimentos em campo, bem como nos estudos em laboratório, em pontos como anatomia comparada, anomalias, etc.
     No campo, viu que as condições ambientais influem em mudanças nas populações, levando ao domínio de caracteres adaptados ao que se tem. Com ajudinha de raras mutações positivas, que influem nesses caracteres.
     Darwin percebeu que mutações negativas são as que impõem caracteres que abreviam seu potencial adaptativo. Em humanos, a síndrome de Marfan, anomalia dos tecidos conjuntivos, gera sequelas aórticas e cardíacas que levam a cirurgias de tempos em tempos.
     A síndrome de Marfan é apenas um dos muitos exemplos de mutações genéticas que causam abreviações assim. Há outros simplesmente incompatíveis com a vida, ao ponto de a gestante sofrer um aborto espontâneo.
     Em muitos casos, os fatores de risco relativos ao Corona podem estar ligados a mutações genéticas (história familiar ou implícita), como muitas doenças crônico-degenerativas, alergias, autoimunes, cardiovasculares, renais, câncer, etc.
     Pelo protocolo, se um paciente suspeito de Corona somar o número de condições clínicas crônicas prévias e idade, vai ficar atrás na fila. Quanto maior a soma, mais atrás. Sob o risco de morrer ali mesmo, sem socorro. 
     Na fria imposição da natureza, em sua busca inexorável pela restauração do equilíbrio, isso é um mecanismo de seleção natural. Mas, humanamente, já é uma cruel jornada entre a possível oportunidade de sobrevida e a morte em definitivo.
     É inevitável se perceber que o Coroa desperta mais essa lição, como agente seletivo do que a tecnologia médica busca sempre driblar. Mas, humanamente, o protocolo se tona instrumento do quanto a seleção artificial imita, ainda que grotescamente, a natural.
     Mas, finalizando: Charles Darwin não tem culpa nenhuma pelo nosso caos. 

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*Nota da autoria 1: a explanação sobre a teoria da evolução por seleção natural de Charles Darwin foi simplificada visando facilitar a compreensão dos leitores e traçar a analogia com os tópicos do tema do artigo. 
**Nota da Autoria 2: após a repercussão nas mídias, não sei dizer se o protocolo de pontos foi decretado ou cancelado, uma vez que não consegui acesso a notícias sobre.

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