O churrasco necropolítico: ele não é louco
Desde o último sábado 9/4, quando o MS passou às mídias o saldo oficial de mais de 10 mil mortos pela epidemia de Corona, houve uma repercussão, tanto internacional quanto nacional, do lazer presidencial nesse dia.Vamos ao breve histórico.
Durante a semana antes desse fatídico dia, diante de novos números, Bolsonaro declarou querer fazer churrasco no sábado para umas 30 pessoas, entre familiares, amigos e alguns "servidores humildes" próximos.
A declaração bateu como pedrada na cara de muitos, que meteram uma saraivada de críticas nas redes sociais. Até que, na quinta, o presidente disse que "o churrasco é fake news" e ofendeu os jornalistas.
Mas, no citado sábado, foi filmado deslizando sobre as águas com um jet ski, assessorado por um segurança. Conforme mostrado pelas mídias em geral, encontrou os amigos que os esperavam num barco, com uma pequena churrasqueira a bordo.
Sim, verdade. Uma declaração falsa sobre outra. Mas a anterior, sobre o churrasco com 30 convidados, foi meia verdade apenas, pois não foi num quintal de casa ou em granja, e muito menos para tanta gente. Foi mais familiar.
Mas, o que interessa mesmo a este artigo não é o lazer, é a indiferença aos sentimentos de mais de 11 mil famílias e grupos próximos que choraram e enterraram seus mortos. Em geral o consideram um tosco louco. Só que não...
Como foi explicitado em artigo anterior, ele tem um perfil muito compatível com o de um psicopata, uma personalidade fria e calculista que não tem remorso nem sentimentos, capaz de qualquer coisa para atingir seus objetivos. O tipo de pessoa para a qual os fins justificam os meios - e é aí que mora o perigo.
E com o tipo tão explorado no cinema, aquele que com frieza e calculo ceifa vidas com o requinte do açougueiro que corta uma carne enorme nas peças vendidas a preços diferentes em seu comércio.
Segundo Beatriz Barbosa, autora de Mentes perigosas, o psicopata assassino de cinema é minoritário; a maioria é de manipuladores narcisistas e 171. Mas os dois tipos têm em objetivo em comum: alcançar o poder. A diferença se vê nos meios.
O cargo de presidente da República é o poder máximo, mesmo com limites. É o líder que, no nosso regime, conduz a nação. E o poder alcançado não é para qualquer um.
Qual deles é o mais perigoso? A princípio, o assassino, afinal ceifa vidas. Mas, Bolsonaro parece atípico como sendo, aparentemente, uma soma dos dois tipos. Em sua vida atribulada de caráter duvidoso, há acusações de terrorismo, além dos enroscos políticos.
Para justificar seus meios, Bolsonaro aponta a proteção de seus filhos de caráter igualmente duvidoso. E a "salvação econômica" para justificar abrir tudo, e agora lançar uma MP segundo a qual quer se livrar da culpa pelas aglomerações e consequente mortandade.
O problema não é tanto a MP, mas o perigo representado por seu autor. E, não contente, ele assinou decreto repassando ao Ministério da Agricultura o aval para transferir à iniciativa privada as áreas naturais preservadas públicas. Incluindo reservas indígenas.
Pior: ele não está sozinho. Tem a ajudinha de seus ministros, cada qual executando, ainda que tropegamente, seus planos contributivos em nome de sua família e de mostrar absoluto poder sobre as instituições, as leis e a nação. Todos escolhidos a dedo, cuidadosamente.
Não, não é louco. Mas precisa ser parado imediatamente.
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