terça-feira, 28 de abril de 2020

Corona: Governo vs servidores da saúde

     China: após silêncio inicial, profissionais que atenderam às primeiras vítimas de Covid 19 contraíram a doença; médico que havia anunciado o Corona morreu infectado. Desde então, o governo ergue hospitais em tempo recorde.
     Itália: profissionais de saúde pública se viram em fronts de 24 a 48 horas seguidas para conter a doença que ainda mata bastante. Muitos contraem o Corona, com algumas mortes.
     EUA: no atual epicentro, recordes de mortes e relatos de enfermeiros e médicos doentes e vários óbitos. Governo Trump libera $ 3 trilhões para as empresas de saúde atenderem negros, latinos e pobres após denúncias de discriminação.
     Brasil: profissionais de saúde relatam falta de equipamentos como respiradores, EPIs e a carência de pessoal, obrigando a plantões longos. Por conta disso, estima-se que mais de 3 milhões desses profissionais e outros estejam infectados. Daí para mais.
     Mais Brasil: recorde de mortes em SP levou a mais de 2000 no total estadual desde o início da pandemia. Tendência deve se seguir nos demais estados onde o surto tem sido agressivo, como RJ, AM a CE. 
     Com esse quadro, o país ultrapassou o número neste dia 28/4 o total de mortos da China do período do ápice do flagelo, com mais de 5010 vítimas. E a curva estatística não para de subir e de assustar...
     Prefeito de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, contrai Coronavírus. Caxias hoje é o município da Baixada com os maiores números de infectados e mortos, após manter abertas as atividades econômicas.
     Uma enfermeira se infectou e corre risco em hospital municipal no Rio após intensa rotina de lide no front. Sua mãe não resistiu e sua filha se recupera isolada em casa.
     Em vídeo, filmado em hospital, um médico relata seu sofrimento sintomático por conta do Covid-19 após também ter passado por front de atendimento em hospital público, também no Rio. Ele se recupera bem.
     Outro médico, em Niterói, relata em mínios detalhes a rotina de vestir e retirar seus EPIs disponíveis, procurando não se contaminar. Ele relata adoecimento de colegas médicos e da enfermagem, e a carência de EPIs.
     Profissionais de enfermagem de unidade federal, trabalhando prontamente no front, relatam ter pesadelos e noites mal dormidas por conta de tensões, angústias e o testemunho de colegas que se infectaram no covidário.
     Sem se identificar, servidor da saúde federal denuncia insuficiência e inadequação de EPIs no hospital, bem como denúncia, por sindicato, de carência de servidores da saúde e de EPIs em várias unidades.
     Em Manaus e Fortaleza, a situação é catastrófica sobre os profissionais em decorrência do aumento rápido da epidemia de Corona. Na capital amazonense, os necrotérios dos hospitais estão lotados e há colapso funerário.
     Enquanto isso, em Brasília, os números do MS saltam e o total brasileiro de mortes supera o da China atual, e Paulo Guedes ainda reclama "a necessidade" de corte salarial, pois "o servidor não pode ter a geladeira cheia [...]".
     Antes da pandemia, a hostilidade aos servidores do majoritário baixo clero, que recebem salários baixos e há tempos congelados, já eram hostilizados pelo mesmo Paulo Guedes, que os chamou de "parasitas do Estado". 
     A hostilidade dos governos aos servidores é antiga, transcendendo nas mídias e até no povo. É ainda forte o folclore de servidores que trabalham mal e ganham uma nababa.
     A hostilidade dos governos contra os servidores não se iniciou com o atual, e se espalha nas mídias televisivas, cujas programações tornaram folclóricos o mau atendimento ao público e vida nababesca.
     Porém, a diferença é que no governo atual os ataques estão sendo mais agressivos e bem constantes, e a indiferença do atual ministro da saúde e do presidente ao cenário vivido pelos profissionais do front é assustadora.
     Para ajudar, grande parcela da população, em parte por pressão financeira, se nega a seguir isolamento social e se aglomeram, contribuindo para o crescimento mais rápido da curva epidêmica do Corona.
     Fora os testemunhos, por relatos, vídeos e noticiários, de agressão de populares diretamente contra trabalhadores da saúde pública. A violência é utilizada como instrumento ideológico do governo atual desde seu início.
     Se existe uma lição que o Corona pode deixar para nós é ser, também, usado como objeto do projeto neofascista ultraneoliberal capitaneado por Bolsonaro, Guedes, militares e Teich, para alimentar, em nome do capital, a indústria da morte.
     Mesmo que, para isso, não só permaneçam, como fortaleçam o descaso com a saúde pública e a gravidade da pandemia, a afetar, como infecção e morte, aqueles que se viram para manter ou salvar vidas alheias e sustentar suas próprias famílias.

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Crédito da figura: profissionais italianos entre a exaustão e a angústia, Google.

Veja também: sobre os mitos referentes aos servidores públicos de baixo clero: 
     

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