Monarquia: solução à crise sociopolítica?
Numa roda de conversa, são captadas algumas mensagens que remetiam à possibilidade de restauração da monarquia no Brasil. Esse assunto se encontra forte em alguns grupos por conta da explosiva crise política encabeçada por Bolsonaro.
Quem nunca se atentou ao assunto antes achará que isso é de momento, principalmente com dois impeachments só na Nova República (1985-hoje). Mas, a ideia é bem antiga, vem desde os início da República.
Mas, por que a monarquia? Será ela uma solução para os problemas sociopolíticos do Brasil? Antes de responder às perguntas, vale identificar uma corrente que surge com esse movimento: o monarquismo.
Fundado por herdeiros da família imperial, o monarquismo é uma corrente ideológica que apregoa a manutenção ou retorno da monarquia como regime no Brasil. Há dois grupos, o colonialista e o imperialista, sendo este o majoritário.
Os colonialistas defendem o reino à moda europeia. Já os imperialistas, o retorno da família imperial ao poder, com governo parlamentarista.
Os seguidores acreditam que a República foi um golpe militar que trouxe forte corrupção e problemas políticos e sociais. É compreensível.
De fato a República foi um golpe militar comandado por Deodoro da Fonseca. Floriano Peixoto se recusou a montar resistência imperial e ainda sucedeu Deodoro na presidência. Os monarcas se exilaram na França, levando um pequeno saco de terra, com o qual D. Pedro II seria enterrado conforme desejara.
Monarquistas creem que o Brasil império viveu estabilidade sociopolítica. Só que não. D. Pedro I foi impopular até falecer, em 1836, pelos gastos exorbitantes de dinheiro público na Casa. Com D. Pedro II, o Brasil virou palco de revoltas como a dos Farrapos (1835-45), da Garrafada (1831) e da Cabanagem (1834-40).
A Guerra do Paraguai (1864-70) endividou fortemente o país e fez escravos como soldados, com muitas baixas. O que piorou a nódoa do sistema escravista no Brasil imperial.
A maior parte da população era analfabeta e rural. Prevista na Constituição de 1824, a política de educação em massa só sairia do papel com a emergência da economia industrial e urbana no país, em plenos anos 1930.
Segundo os monarquistas, a corrupção seria quase nada se o Brasil ainda fosse império, devido ao poder moderador, pelo qual o imperador poderia demitir os parlamentares acusados e mesmo o primeiro-ministro. Mas, na prática...
Houve corrupção e outros males, como nepotismo, compra de títulos e troca de favores. A família de D. João VI se fixou no melhor local carioca, via troca de favores com o traficante de escravos Elias Lopes, que teve títulos de nobreza. D. João VI "gerou" mais marqueses, condes, barões e viscondes do que Portugal em 700 anos. Antes dele, terras públicas e privadas daqui eram usadas como moedas de troca e a "caixinha", cobrada do povo para comprar títulos.
Essas práticas contagiaram os pobres devido ao aperto burocráticos e centralistas, herança lusitana, agudizando-se no Império. O cafezinho após o almoço no restaurante surgiu quando os funcionários públicos, nobres na época, diziam: "se pode servir o almoço, por que não pode o mesmo com café?". Dessa cultura de privilégios vem a elite egoísta e preconceituosa e muito burocrática que conhecemos.
A intensa burocracia que se agudizou no Império corrompeu os mais pobres, que juntavam pó de pirita ao ouro para vender mais caro para os aventureiros, e esconder cargas preciosas em imagens de santos para escapar de impostos pesados, surgindo o dito "santo do pau oco", para apontar o esperto que se faz de bondoso. Daí o atual jeitinho brasileiro, fruto da necessidade de sobrevivência.
Embora imorais e tipificadas no atual código penal como delitos, as más práticas são muito frequentes, algumas delas bem sofisticadas, graças à evolução digital no sistema bancário. O que demandou da parte de instituições como a PF e o MP inteligência artificial para chegar às evidências criminais e seus autores.
Ainda assim, os monarquistas dizem que falta o poder moderador. Na verdade ele não se extinguiu, apenas foi transformado em entidades independentes e auxiliares do judiciário: PF e MP, que atuam sobre crimes contra o erário público, inclusive o nepotismo.
Claro que D. Pedro II foi um visionário em alguns aspectos. No meio ambiente, recuperou grande extensão de terras tornadas públicas após falência do café, resultando na atual Floresta Nacional da Tijuca. Na imprensa também. Assim como tivemos presidentes com desempenho razoável em algumas políticas, como Vargas, JK e Lula. Apesar dos pesares.
Mas, com a escravidão foi contradito, através de concessão de alforrias, mantendo o tráfico de escravos. O herdeiro e hoje deputado federal Luis Phillipe de Órleans e Bragança, disse no ano passado que escravizar "é aspecto da natureza humana", justificando a herança escravista no abismo socioeconômico e no racismo, mesmo dizendo que "a família imperial tem sangue negro".
São contradições que correram na história brasileira desde os seus primórdios coloniais até hoje. Fosse hoje monarquia e Bolsonaro imperador, ele esgarçaria o regime, as leis e o estado democrático de direito, com intensa criminalidade no poder, exatamente como faz agora. E os monarquistas de hoje clamariam pela... República.
Portanto, o problema não está no regime, se monárquico ou republicano. O problema está em quem governa e a qualidade de seus relacionamentos, resultante muito mais numa história de valorização do engodo em detrimento de uma educação que fomente a cidadania partícipe da vida política. Essa, sim, é a grande "salvação da pátria".
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Com informações baseadas em Wikipédia, Uol política e Aventuras na História.
Quem nunca se atentou ao assunto antes achará que isso é de momento, principalmente com dois impeachments só na Nova República (1985-hoje). Mas, a ideia é bem antiga, vem desde os início da República.
Mas, por que a monarquia? Será ela uma solução para os problemas sociopolíticos do Brasil? Antes de responder às perguntas, vale identificar uma corrente que surge com esse movimento: o monarquismo.
Fundado por herdeiros da família imperial, o monarquismo é uma corrente ideológica que apregoa a manutenção ou retorno da monarquia como regime no Brasil. Há dois grupos, o colonialista e o imperialista, sendo este o majoritário.
Os colonialistas defendem o reino à moda europeia. Já os imperialistas, o retorno da família imperial ao poder, com governo parlamentarista.
Os seguidores acreditam que a República foi um golpe militar que trouxe forte corrupção e problemas políticos e sociais. É compreensível.
De fato a República foi um golpe militar comandado por Deodoro da Fonseca. Floriano Peixoto se recusou a montar resistência imperial e ainda sucedeu Deodoro na presidência. Os monarcas se exilaram na França, levando um pequeno saco de terra, com o qual D. Pedro II seria enterrado conforme desejara.
Monarquistas creem que o Brasil império viveu estabilidade sociopolítica. Só que não. D. Pedro I foi impopular até falecer, em 1836, pelos gastos exorbitantes de dinheiro público na Casa. Com D. Pedro II, o Brasil virou palco de revoltas como a dos Farrapos (1835-45), da Garrafada (1831) e da Cabanagem (1834-40).
A Guerra do Paraguai (1864-70) endividou fortemente o país e fez escravos como soldados, com muitas baixas. O que piorou a nódoa do sistema escravista no Brasil imperial.
A maior parte da população era analfabeta e rural. Prevista na Constituição de 1824, a política de educação em massa só sairia do papel com a emergência da economia industrial e urbana no país, em plenos anos 1930.
Segundo os monarquistas, a corrupção seria quase nada se o Brasil ainda fosse império, devido ao poder moderador, pelo qual o imperador poderia demitir os parlamentares acusados e mesmo o primeiro-ministro. Mas, na prática...
Houve corrupção e outros males, como nepotismo, compra de títulos e troca de favores. A família de D. João VI se fixou no melhor local carioca, via troca de favores com o traficante de escravos Elias Lopes, que teve títulos de nobreza. D. João VI "gerou" mais marqueses, condes, barões e viscondes do que Portugal em 700 anos. Antes dele, terras públicas e privadas daqui eram usadas como moedas de troca e a "caixinha", cobrada do povo para comprar títulos.
Essas práticas contagiaram os pobres devido ao aperto burocráticos e centralistas, herança lusitana, agudizando-se no Império. O cafezinho após o almoço no restaurante surgiu quando os funcionários públicos, nobres na época, diziam: "se pode servir o almoço, por que não pode o mesmo com café?". Dessa cultura de privilégios vem a elite egoísta e preconceituosa e muito burocrática que conhecemos.
A intensa burocracia que se agudizou no Império corrompeu os mais pobres, que juntavam pó de pirita ao ouro para vender mais caro para os aventureiros, e esconder cargas preciosas em imagens de santos para escapar de impostos pesados, surgindo o dito "santo do pau oco", para apontar o esperto que se faz de bondoso. Daí o atual jeitinho brasileiro, fruto da necessidade de sobrevivência.
Embora imorais e tipificadas no atual código penal como delitos, as más práticas são muito frequentes, algumas delas bem sofisticadas, graças à evolução digital no sistema bancário. O que demandou da parte de instituições como a PF e o MP inteligência artificial para chegar às evidências criminais e seus autores.
Ainda assim, os monarquistas dizem que falta o poder moderador. Na verdade ele não se extinguiu, apenas foi transformado em entidades independentes e auxiliares do judiciário: PF e MP, que atuam sobre crimes contra o erário público, inclusive o nepotismo.
Claro que D. Pedro II foi um visionário em alguns aspectos. No meio ambiente, recuperou grande extensão de terras tornadas públicas após falência do café, resultando na atual Floresta Nacional da Tijuca. Na imprensa também. Assim como tivemos presidentes com desempenho razoável em algumas políticas, como Vargas, JK e Lula. Apesar dos pesares.
Mas, com a escravidão foi contradito, através de concessão de alforrias, mantendo o tráfico de escravos. O herdeiro e hoje deputado federal Luis Phillipe de Órleans e Bragança, disse no ano passado que escravizar "é aspecto da natureza humana", justificando a herança escravista no abismo socioeconômico e no racismo, mesmo dizendo que "a família imperial tem sangue negro".
São contradições que correram na história brasileira desde os seus primórdios coloniais até hoje. Fosse hoje monarquia e Bolsonaro imperador, ele esgarçaria o regime, as leis e o estado democrático de direito, com intensa criminalidade no poder, exatamente como faz agora. E os monarquistas de hoje clamariam pela... República.
Portanto, o problema não está no regime, se monárquico ou republicano. O problema está em quem governa e a qualidade de seus relacionamentos, resultante muito mais numa história de valorização do engodo em detrimento de uma educação que fomente a cidadania partícipe da vida política. Essa, sim, é a grande "salvação da pátria".
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Com informações baseadas em Wikipédia, Uol política e Aventuras na História.
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