segunda-feira, 25 de maio de 2020

Reunião ministerial do crime

     A reunião ministerial ocorreu no Palácio do Planalto em 22/4, mas aparentemente não despertou interesse da geral. O interesse veio após o já ex-ministro Sérgio Moro depor sobre um vídeo não divulgado da mesma.
     O motivo: a interferência do presidente na instituição no RJ e em Brasília para impedir o progresso de investigações contra seus filhos Flávio e Carlos.
     Além da evidente interferência, o decano do STF Celso de Mello, ao avaliar o vídeo na íntegra, descobriu um conteúdo muito pior do que se pensava. Estarrecido, ele autorizou divulgar na mídia. A cobertura maior foi da Globo News.
     O vídeo estarreceu geral. Muitos palavrões em tom explosivo verteram de quase todas as bocas ali presentes. Alguns ficaram mudos. A metralhadora de Bolsonaro, foi a campeã com 29 do total de 41 do xingatório contabilizado pela imprensa.
     "Não vou esperar foder minha família [...] Se tiver que trocar, eu troco e ponto final", explodiu, sobre as nomeações da PF, em desafio ao STF. Em vários momentos, "puta que pariu", e outras finezas.
     "Vamos vender essa porra do Banco do Brasil logo", bradou explosivamente o ministro Paulo Guedes. Ele mandou o povo "se foder" em aplicações em bancos privados, que cobram taxas maiores, após a entrega do BB.
     Presidente da Caixa, Guimarães também se referiu à própria instituição como "merda" em um momento de sua longa e confusa fala, que envolveu a detenção da mulher e filha de um amigo no Rio que havia furado o isolamento numa praia.
     Os governadores também foram taxados: Doria (SP) de bosta, e Witzel (RJ) de estrume, respectivamente. O motivo, obviamente, é a defesa destes ao isolamento social para retardar a velocidade de crescimento de contaminações e mortes pelo Corona.
     Detalhe: o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, também foi xingado em evento anterior, por conta do caos provocado pelo descontrole da doença na cidade, que enfrenta um colapso sem precedentes na saúde e no funerário.
     Não bastando os palavrões, a verborreia de ofensas marcou a reunião que mais pareceu um encontro de botequim ou, certamente, de mafiosos da Cosa Nostra. Se é que estes chegavam a tal nível nas suas reuniões do passado.
     "Tem que prender todos os vagabundos aí, a começar pelo STF", bradou Weintraub, que atacou a instituição "que não serve para nada". A ofensa foi também dirigida ao Congresso Nacional devido à possível votação de impeachment.
     "Tem que prender todos os governadores e prefeitos", propôs Damares, para demonstrar apoio ao presidente. Ao tratar sobre a contaminação dos índios pelo Corona, delirou como se fosse uma atribuição dos governos anteriores. 
     Outro que delirou absurdo foi o Salles, do Meio Ambiente: "Temos que aproveitar e passar a boiada em cima (da Amazônia), aproveitando a distração com o Covid". Com que Guedes concordou dizendo que "vamos ganhar muito dinheiro vendendo tudo isso aqui".
     Fala recorrente de Bolsonaro foi sobre armar todos os brasileiros: "todos os brasileiros de bem têm que ter armas, pois vai ter uma guerra aqui", sugerindo distribuir armas para a geral. E emendou: "É muito fácil tocar uma ditadura aqui, tem que armar todo mundo!", de modo a selar a sua política de caos e morte.
     Entre os poucos calados estavam os ex-ministros Moro, Teich e o vice Mourão. O segundo parecia não esconder o nervosismo, ou medo, que afirmou ter sentido na reunião, numa entrevista neste dia 24/5 na Globo News.
     É perfeitamente razoável a definição dos ministros do STF para o vídeo: "um festival de horrores", de tão baixo o nível e espúrias e criminosas as intenções da equipe de governo. É de assustar e atemorizar qualquer pessoa minimamente consciente da liturgia dos cargos.
     As propostas são muito mais do que frutos de uma política alucinada e estapafúrdia. São mais do que insanas. São criminosas, contra a democracia e a soberania, e merecem uma punição exemplar. Mas, isso vale para o STF.
     Quanto à reunião, dada a urbanidade protocolar exigida nas liturgias dos cargos ocupados, resta finalizar: mais pareceu mesmo uma reunião de perigosos serial killers influentes, uma autêntica formação de quadrilha.
     

     
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