Bolsonaro: nazifascismo à brasileira?
A mudança político-ideológica no Brasil, através de Bolsonaro, vista por alguns como 'nova política', significa o retorno aos preceitos fascistas no Brasil.
No seu eterno discurso de 'combate à ideologia', Bolsonaro traduz por "combate ao socialismo", que na prática nunca houve no Brasil. No máximo, a política social-democrática do período lulista.
Na sua condução política, ele conseguiu confundir o significado de ideologia, para avançar seu poder, E o consegue mesmo aos tropeços. Tanto que os seus seguidores confundem nazismo com... esquerda.
Alguns esquerdistas ligam Bolsonaro ao fascismo de pinta nazista pelo preconceito anti-diversidade que o presidente exibe com natural arrogância, tida pelos seguidores como sinceridade.
Diante dessa confusão, vale traçar uma análise reflexiva sobre fascismo e nazismo para se entender cada um deles. Afinal, eles podem confundir à primeira vista, mas têm diferenças.
Em seu livro Anatomia do Fascismo, Robert Paxton define fascismo como, inicialmente, "uma curiosa mistura de patriotismo [...] e de nacional-socialismo", que Mussolini mais tarde acrescenta "ataques à propriedade [...], propensão para atos violentos, anti-intelectualismo, rejeição à soluções de compromisso e de desprezo pela sociedade estabelecida".
Nessa linha mussoliniana se verificam elementos comuns ao nosso bolsonarismo, entre os quais o mote patriota (nacionalismo), o gosto pela violência e o anti-intelectualismo, que se mostra na estagnação de programas científicos e culturais.
O filósofo paulista Paulo Ghiraldelli nega Bolsonaro fascista, dada à redução do Estado, em contraste com o Estado corpulento do fascismo italiano, embora não negue muita semelhança entre ambos, particularmente no conservadorismo e no autoritarismo.
Faz sentido: enquanto no fascismo italiano a autoridade estatal se simboliza nos poderes estabelecidos, no bolsonarismo há supervalorização da pessoa do presidente (personalismo), a despeito da inegável presença operante do Legislativo e do Judiciário.
Mas Gustavo Monteiro aduz, em sua resenha, que "os governos [...] caracterizados como fascistas apresentam diferenças ideológicas e práticas difíceis de serem incorporadas em mesma caracterização", o que se entende que algumas distinções não desfazem a essência ideológica.
Nesse sentido, é interessante que o fascismo se encaixe em ditaduras socialistas soviética e similares, pela mistura de personalismo e Estado opressor, independendo, assim, de direita ou esquerda. Aliás, extremismos dissolvem ligação com algum direcionamento ideológico.
Mas, há alguns opositores que também consideram Bolsonaro simpático ao nazismo, pelas pérolas referentes a Hitler e Goebbels e desprezo à diversidade. Como já se sabe, Hitler foi longe em perseguir , à exceção dos aliados italianos.
No estudo de Rollemberg, o nazismo foi um movimento ideológico, e o fascismo, político. O nacionalismo extremista se centrou na unidade racial e cultural alemã, ao ponto de pregar o extermínio de judeus, comunistas, minorias sexuais e outros.
O termo "socialismo" serviu de isca para fisgar socialistas e comunistas. Tal afirmação serviria como informe aos defensores da extrema-direita que ligam erroneamente o nazismo à esquerda. Apesar do conhecimento histórico, a distorção ressurge forte no bolsonarismo, que chegou a ser criticado pela embaixada da Alemanha no país.
Ciente de algumas confusões, Rollemberg cita distinções como distorção científica nazista (experiências bizarras de Mengele com prisioneiros) com o anti-intelectualismo fascista; e o racismo italiano estrutural, em comparação com o alemão, francamente ideológico.
Aponta também semelhanças: "antiburguesia" (exceto a alemã), violência, totalitarismo e cristocentrismo, antipatia ao ateísmo socialista e à laicidade democrata-liberal capitalista. É desse gap de correlações político-ideológicas que surge o nazifascismo, hoje absorvido em alguns grupos extremistas isolados.
O nazifascismo se definiria, na visão de Rollemberg, como um foco contrarrevolucionário, oposto frontal à natureza revolucionária e popular do comunismo e do socialismo. E a junção dos elementos nazifascistas, de certa forma, germinaria no Brasil como bolsonarismo.
O bolsonarismo veio pela aparência popularesca de Bolsonaro, que diz defender a liberdade e a democracia, mas saúda o cristocentrismo, a homogeneização sociocultural e o totalitarismo de ambos, com a diferença de absorver o neoliberalismo entreguista de seu ministro Guedes e distorcer a realidade dos fatos.
Dessa forma é possível compreender o bolsonarismo como uma soma político-ideológica de alguns elementos nazifascistas, que o apraz em sentir-se à vontade ao expressar preconceitos à diversidade social e ser favorável a métodos violentos para exterminar opositores políticos e grupos sociais que divirjam de seus desígnios.
O desprezo do bolsonarismo à cultura não é total, ele se volta contra todas as manifestações que não agradem ao líder. Da mesma forma, as religiões, a diversidade étnica e sexual que o presidente vê como obstáculos ao seu desejo de poder autocrático.
A misoginia e a violenta repulsa ao opositor ou diferente (podendo chegar à morte em um contexto político) são preconceitos adicionais no bolsonarismo. O primeiro o difere do nazismo e do fascismo, que usavam as mulheres nas suas práxis, e o segundo, embora fosse elemento nazifascista, também teve influência olavista.
Outra característica do bolsonarismo é as falácias conspiracionistas que hoje são alvos da CPMI das fake news. Houve falácia nazista contra os judeus alemães, culpando-os pela severa crise econômica local, e para justificar suas práticas cruéis.
Outro elemento fascista do bolsonarismo é a ameaça. Em entrevista ao Uol, o ex-deputado Fernando Gabeira analisou a intenção de Bolsonaro pela reunião ministerial de 22/4. Segundo ele, as FFAA já perceberam que armar a população é para a guerra civil contra a autoridade contrária a ele, e nada fazem para conter ou dissuadir.
A análise de Gabeira é importante tendo-se em vista o caráter agressivo do bolsonarismo com vistas a retirar direitos (inclusive à vida) em nome de um poder absoluto fantasioso e do ultraneoliberalismo de Guedes.
E a maior parte da população brasileira parece ter percebido a faceta fascista do líder, daí os movimentos em massa e os 36 pedidos de impeachment, 35 nas mãos de Rodrigo Maia, que nada faz. Uma expectativa cujo passar do tempo tende a se transformar em angústia e também em depressão.
Mas, como salientam Paxton, Rollemberg e mesmo Ghiraldelli, a história tem mostrado que extremismos têm a antipatia da maioria das nações, por significarem opressão sobre os povos em censura e perda de liberdades e mesmo de direitos. E que, sempre que ressurgirem, devem ser combatidos.
Portanto, o bolsonarismo, como um nazifascismo à brasileira travestido de liberdade civil, e dada a sua agressividade, deve ser prontamente eliminado. Antes da nossa falência final. Ou nós, ou ele.
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Fontes:
http://dagobah.com.br/wp-content/uploads/2016/09/PAXTON-Robert.-A-Anatomia-do-Fascismo-1.pdf
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