segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Bolsonaro e a crueldade eficiente


     Tosco, pouco inteligente, mal educado, grosseiro, boca suja, indecoroso. Mentiroso, negacionista, antiético. Intolerante, perseguidor, egocêntrico, narcisista, traço de psicopata, insensato, imprudente, insensível, autocrata, genocida, antipovo. Misógino sexista, homotransfóbico e racista.
     Sobram maus adjetivos e fatos para Jair Bolsonaro, adicionados no avançar de seu governo.
     Indecoro com jornalistas e colegas em seus tempos de parlamentar, e agora, presidente, se acha cheio de todas as liberdades e pratica vários crimes de responsabilidade. Descaso com a coisa pública, a sociedade e o ambiente.
     Junta-se também as tretas com todas as instituições internacionais, entre elas e ONU e a a OMS, às quais se nega a respeitar tratados de direitos humanos, medidas de proteção ao meio ambiente e mitigação de contágio do Corona, respectivamente.
     Vale lembrar da Córtex, política de vigilância sobre os cidadãos por meio de milhares de câmeras inteligentes espalhadas por aí: um claro desrespeito ao direito de ir e vir, que pode ter um significado ideológico mais extenso do que se imagina. E mil artimanhas para proteger os filhos cada vez mais cercados pelas investigações da PF e na mira da Justiça.
     E há tantos outros fatos, que fariam este texto muito longo se fossem postos aqui. Além do estado policial/paramilitar que mudou a abordagem de crime e violência em lugares como o já perdido Rio de Janeiro, há as políticas econômicas coroadas com o ralo de R$ 2,215 trilhões públicos aos bancos na era Corona e os -10% de PIB, na maior queda livre da nossa história.
     As mirabolâncias dos filhos Flávio (01), Carlos (02) e Eduardo (03), para não serem pegos pela PF. O impeachment de Witzel - ainda que este tenha suas culpas - foi arranjado para livrar o 01 de ser pego pela PF-RJ e justiça-RJ, aparelhando-as com nomes a seu favor, via Claudio Castro, o governador interino. E 02 e 03 se mirabolando para escapar do pega de Brasília.
     E, mesmo com isso tudo, o que ocorre para ele se manter no poder, e ainda causando tretas com instâncias superiores como o Congresso e o STF, que têm garantias para impor os limites constitucionais às liberdades do presidente? Por incrível que pareça, até agora, a resposta são vários pontos altos para Bolsonaro.
     O primeiro, o marketing pessoal sustentado por dois personagens: o tradicional, que atiça os fãs chegados à violência e à difusão de fake news; e o "paz e amor" em rincões então "lulistas". Se o primeiro é base do perfil bolsominion citado, o segundo ilude incautos com o Renda Brasil e água em um canal transposto do Velho Chico.
     Renda Brasil que tem mais cara de não sair do papel do que tudo, pois Paulo Guedes quer diminuir salários de servidores públicos do "carreirão", da base da pirâmide de renda pela Reforma Administrativa para repassar as migalhas ao tal plano. Como se esses servidores fossem classe média - só que não.
     O segundo é o proveito inteligente dos predicados louco e idiota, atribuídos ao presidente pelos indignados. Ele abusa da esperteza e de sua tosquidão, que lhe dão o ar do brasileiro carismático e com senso de humor. Mas Lula também é naturalmente tosco, embora tenha a personalidade bem diferente da de Bolsonaro.
     A tosquidão de Lula é naturalmente carismática: ele não se esforça para tal, por ser líder popular por natureza. Já a de Bolsonaro é agressiva e sarcástica, daí o esforço daqueles para compor o "paz e amor" que, mesmo falso, pareceu conquistar a incauta geral do interior.
    Mas o esforço valeu: em agosto/2016, Dilma foi deposta, e depois vieram as eleições nos municípios que elegeram muitos candidatos da direita no interior, graças à retomada à direita liberal por Temer. Bolsonaro sabia disso, daí o proveito de sustentar um perfil populista para as próximas eleições.
     O terceiro é a manutenção de Paulo Guedes na Economia, que muito agrada ao mercado megaempresarial-financeiro. A mídia da casa grande admite a sua fritura, mas quer mantê-lo lá, daí esconder o supracitado ralo trilhonário. Exceto se houver um substituto idêntico.
     O quarto é a fraqueza momentânea da oposição à esquerda democrática: parece não haver candidato à altura a prefeito, com poucas exceções. Mas se vê uma cautela quanto a 2022, para evitar proveito político de acusação de campanha antecipada, um crime eleitoral que o próprio Bolsonaro pratica, pelas instituições aparelhadas.
     Enfim, há muitos elementos que devem ser alvos de conhecimento e debate junto às bases, para que estas sejam motivadas a reagir com elaboração de estratégias que possam desgastar em definitivo o governo atual e, aí sim, obter no voto a consequência final. Quem viver, verá que, por mais bem aparelhado que seja, não há mal que sempre dure.

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Crédito da imagem: Google imagens-charges.

Para saber mais:
- https://www.youtube.com/watch?v=BLTONE7HisE
- https://theintercept.com/2020/09/21/governo-vigilancia-cortex/

   
   

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