Um governo intolerante à diversidade
A mídia transmitiu um discurso por videoconferência do presidente Jair Bolsonaro à ONU, segundo a qual, além das menções sobre os incêndios e ao Covid, há "cristofobia" no Brasil. Sim, ele proferiu isso também.
O acréscimo se alude à preocupação da ONU com a intolerância religiosa, uma das violações crescentes aos direitos humanos no Brasil. A colocação fez o legislativo federal brasileiro reagir nas redes sociais.
A estranheza com a "cristofobia" foi pelo presidente talvez não saber o significado de fobia. Realmente a coisa não caiu bem, mas pelo visto o presidente não deu trela. O significado se explica no spoiler a seguir:
Na etimologia, o radical fobos significa, em grego, aversão, ou medo. Fobos é o nome de uma das duas luas do planeta Marte, em alusão ao mito greco-romano baseado na Odisseia de Homero: da união da deusa do amor Afrodite (Vênus) e Ares (Marte) nasceram Deimos (terror) e Fobos (aversão ou medo - que na nossa realidade pode se estender, também, como ódio).
Reflexos na política
Tirando a supracitada questão religiosa, a estranheza à maioria do parlamento e a cidadãos sensatos e bem informados se deve à distorção do discurso à realidade na qual não ha qualquer sinal de perseguição à imensa maioria dos brasileiros que professa as diversas vertentes da fé cristã.
Mas a fala tem seus fundamentos, na crítica crescente dos grupos progressistas àqueles que se arrogam de sua cristandade na total simpatia ao imbróglio ideológico do presidente. Desses grupos, os que mais preocupam o governo são os ligados ao agnosticismo e ao ateísmo, contra o stablishment bolsonarista.
Como sabemos, o bolsonarismo* é um imbróglio ideológico que, além do nazifascismo para perseguir "potenciais comunistas" e minorias étnicas, sexuais e religiosas, é cristofascista: visa "o eixo dos valores patrióticos da família tradicional e bons costumes" contra o feminismo, o aborto e até a ciência.
As escolhas de Bolsonaro por chefias "terrivelmente evangélicas" nas instituições públicas são alguns exemplos, bem como as participações diplomáticas em eventos internacionais, com inclusão do supracitado pronunciamento repassado por videoconferência à ONU. O que tem afrontado a laicidade estatal, com a incrível inércia do judiciário.
Na relação com a diversidade religiosa, étnica e rural
A direção do governo implicou negativamente na vida social pelo crescimento de crimes de ódio a grupos não cristãos, sobretudo aos afro-brasileiros, dado o racismo anti-africano. Que o digam os ataques aos templos e praticantes, reportados à exaustão pelas mídias.
Claro que sempre houve intolerância religiosa, dada a histórica aversão da ICAR contra qualquer fé não católica, hoje exaltada pelas vertentes cristãs mais reacionárias. A política de combate ao racismo religioso se dissolveu no bolsonarismo, e os ataques aumentaram.
Os índios sofrem as sequelas** da perda de identidade ancestral pelas conversões forçadas na colonização e, hoje, pelas igrejas neopentecostais hoje, como documentado antes mesmo de Bolsonaro. Mas hoje a conversão tem se alastrado com uma força ainda maior, como fruto da intolerância às tradições milenares, nativas e africanas.
Hoje, a evangelização de índios é, além de religiosa, uma estratégia política de facilitação da penetração em suas terras para a obtenção de madeira e minérios pelos EUA. Tanto é que, em quase 2 anos de governo, não se demarcou nova terra indígena. Pelo contrário: as invasões ilegais aumentaram muito, assim como o assassinato dos indígenas.
Claro que sempre houve intolerância religiosa, dada a histórica aversão da ICAR contra qualquer fé não católica, hoje exaltada pelas vertentes cristãs mais reacionárias. A política de combate ao racismo religioso se dissolveu no bolsonarismo, e os ataques aumentaram.
Os índios sofrem as sequelas** da perda de identidade ancestral pelas conversões forçadas na colonização e, hoje, pelas igrejas neopentecostais hoje, como documentado antes mesmo de Bolsonaro. Mas hoje a conversão tem se alastrado com uma força ainda maior, como fruto da intolerância às tradições milenares, nativas e africanas.
Hoje, a evangelização de índios é, além de religiosa, uma estratégia política de facilitação da penetração em suas terras para a obtenção de madeira e minérios pelos EUA. Tanto é que, em quase 2 anos de governo, não se demarcou nova terra indígena. Pelo contrário: as invasões ilegais aumentaram muito, assim como o assassinato dos indígenas.
Na questão rural, o governo já anistia a grilagem de terras já assentadas legais de posseiros independentes, quilombolas e MST, sem decreto. O presidente já freou a reforma agrária. Com a ajudinha das igrejas, já que o presidente do INCRA é evangélico.
Na relação com direitos humanos, cultura e ciência
Presentes no grupo fanático que insultou a menina vítima de estupro que teve aborto em Recife, os ultracatólicos se opõem à relativa tolerância da CNBB aos não cristãos. Igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais, ao contrário, têm posição muito prosélita e são as mais próximas de Bolsonaro.
O presidente quer reassumir a agenda de costumes em textos já enviados ao Congresso, parados devido às prioridades nas propostas administrativa e tributária de Guedes, ambas em análise, e à tragédia pelo Covid no país. E não há previsão de que sejam discutidas este ano.
As pautas de costumes são: Escola sem Partido; Estatuto da Família; redução da maioridade penal; combate à "ideologia de gênero" na escola e outras, como a que criminaliza o aborto mesmo nos casos legais e restringe direitos dos LGBTQs e de proteção à criança e mulher vítimas de violência.
Para o MEC, Bolsonaro nomeou um pastor, visando a maior penetração de temas cristãos e o fim da "ideologia de gênero" nas escolas. No ano passado foi desengavetada a proposta que obriga o ensino do criacionismo para ensinar sobre a origem da vida, ao lado da Evolução.
Para o MEC, Bolsonaro nomeou um pastor, visando a maior penetração de temas cristãos e o fim da "ideologia de gênero" nas escolas. No ano passado foi desengavetada a proposta que obriga o ensino do criacionismo para ensinar sobre a origem da vida, ao lado da Evolução.
A cultura sofre engessamento desde o ano passado, dada a exaltação dos secretários a temas gospels como alvos de investimento público em shows, teatro, cinema e TV. Mas a vultosa grana pública à Record e SBT por afinidade política não tira da Globo o título de campeã de audiência.
Já circula nas redes recente matéria do The Intercept sobre a estratégia Córtex de vigilância de pessoas pelo governo, com mecanismos de inteligência artificial que rastreia até por câmeras de segurança instaladas em prédios públicos, comerciais e residenciais. Tudo ideológico, claro.
Estratégia parecida foi o dossiê antifascista do Ministério da Justiça com mais de 450 nomes de servidores, sob alegação de "terrorismo". Por ordem do STF o doc foi interrompido, mas a política persecutória continua de pé, via monitoramento de redes sociais dos servidores, no intuito de apagar postagens críticas.
Já circula nas redes recente matéria do The Intercept sobre a estratégia Córtex de vigilância de pessoas pelo governo, com mecanismos de inteligência artificial que rastreia até por câmeras de segurança instaladas em prédios públicos, comerciais e residenciais. Tudo ideológico, claro.
Estratégia parecida foi o dossiê antifascista do Ministério da Justiça com mais de 450 nomes de servidores, sob alegação de "terrorismo". Por ordem do STF o doc foi interrompido, mas a política persecutória continua de pé, via monitoramento de redes sociais dos servidores, no intuito de apagar postagens críticas.
O acachapante negacionismo do governo ao aquecimento climático, à destruição das áreas naturais e à tragédia brasileira da pandemia se revela uma intolerância à ciência. E, ao mentir para a ONU que paga auxílio emergencial de U$1000 a cada brasileiro, o presidente assina o certificado de intolerante à verdade.
As pautas de costumes do governo são levadas tão a sério pelos fanáticos e simpatizantes que se percebeu o aumento substancial de crimes de intolerância contra todos os grupos que eles passaram a ver como problemas para o governo. E contam até com participação das PMs nesse jogo infeliz.
Enfim, concluindo...
A meta de governo para controle de tudo - de instituições à vida privada - revela algo muito mais distante de uma política de ordenamento social do que se imagina. Bem pelo contrário, se revela um indutor da anomia social.
Pois quando assim se revela, tal política mostra a persona autocrática de Bolsonaro, que se nega a conhecer a realidade social a partir da perspectiva histórica mais básica: o Brasil se fez na diversidade, à qual ele direciona a sua total intolerância. E a anomia é o reflexo fiel de seu eu caótico.
As pautas de costumes do governo são levadas tão a sério pelos fanáticos e simpatizantes que se percebeu o aumento substancial de crimes de intolerância contra todos os grupos que eles passaram a ver como problemas para o governo. E contam até com participação das PMs nesse jogo infeliz.
Enfim, concluindo...
A meta de governo para controle de tudo - de instituições à vida privada - revela algo muito mais distante de uma política de ordenamento social do que se imagina. Bem pelo contrário, se revela um indutor da anomia social.
Pois quando assim se revela, tal política mostra a persona autocrática de Bolsonaro, que se nega a conhecer a realidade social a partir da perspectiva histórica mais básica: o Brasil se fez na diversidade, à qual ele direciona a sua total intolerância. E a anomia é o reflexo fiel de seu eu caótico.
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**Nota1: infecções contagiosas dos colonizadores, alcoolismo, suicídio de jovens, violência e crimes comuns como extorsão e roubos.
Nota2: os links podem ser acessados ao clicar nos trechos em roxo e em azul.
Crédito da imagem: Google imagens.
*Bases deste blog relacionadas a bolsonarismo:
Biopoder na punição da vítima
Biopoder de Hitler a Bolsonaro
Bolsonaro: nazifascismo à brasileira?
O que anticiência e pseudociência têm em comum
O bolsonarismo pós-Bolsonaro
Olavismo, uma base bolsonarista
Cristofascismo, base bolsonarista
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