2021 e as possíveis lições de 2020
2021 finalmente chegou. Após as festas de Ano Novo, o tempo voa nesse primeiro dia de janeiro e clamam por uma nova reflexão sobre o ano que acaba de dar adeus, mas que deixa um indiscutível legado.
2020 definitivamente entrou para a história. Os motivos para tanto se concentram na sua atipicidade. Foi um ano de muitas descobertas científicas, divulgadas extensivamente pelos noticiosos on-line. E, as teorias conspirações acompanhando, como moscas, seguindo também numerosos assuntos políticos.
Se destacaram descobertas pré-históricas e arqueológicas inéditas; pandemia de C19 e a corrida contra o relógio para combatê-la; o destaque chinês na cena global; e níveis inéditos de crise generalizada e mortes pela C19 no Brasil.
O objetivo deste artigo visa uma reflexão sobre as possíveis lições do legado deste ano intenso que se passou, a partir dos fatos mais bizarros que marcaram os contrastes e as atipicidades.
-> C19: o ano da ciência e conspirações xenofóbicas
No fim de dezembro de 2019, a OMS fora avisada por cientistas chineses da existência de um novo e perigoso Coronavírus que explicaria a misteriosa doença respiratória letal de alguns anos antes. Ciente do rápido espalhe do vírus, a OMS avisou todos os líderes nacionais em janeiro de 2020.
Ninguém se moveu, e o novo vírus continuou se espalhando. A mídia da casa grande mostrou cenas chocantes, e em fevereiro, a OMS declarou pandemia de C19. Trump e Bolsonaro alimentaram os seus súditos com teorias conspiratórias acusando o país asiático de usar o vírus para dominar o mundo.
As teorias conspiratórias foram tão rápidas quanto o empenho dos chineses em construir hospital em 10 dias em Wuhan, desinfecção de cidades nos países contaminados e o fechamento das atividades não essenciais. Mas a acusação central de vírus ser "chip de comunismo" permaneceu.
Conspirações na contramão da ciência: se comprova certos fármacos ineficazes na C19, os líderes da
Conspirações iam na contramão da ciência: se comprova que os fármacos não têm efeito na C19, os conspiração os promovem; se a doença é perigosa e sistêmica, eles negam. A máscara "é ficção". E, a cada variante do vírus descoberta, uma loucura nova é inventada. Mas a ciência não para.
Bolsonaro e Trump espalham fake news, mas não são os seus criadores. Foram os respectivos gurus Olavo de Carvalho e Steve Bannon, com toda a força da elite neopentecostal e pentecostal e hordas de súditos ideológicos entre as patuleias. Em meio a tudo isso, quem ganhou espaço foi o vírus.
E, enquanto os pró-ciência e conspiradores se digladiam, surgem as primeiras vacinas para que, em dezembro, a maioria das 50 nações contempladas já iniciassem a vacinação. E, junto aos movimentos anti-vacina, seguem mais teorias conspiratórias, em especial sobre a chinesa Coronavac.
Nisso, 2020 se destacou como o ano da xenofobia sinofóbica, contra a China e seu povo. Ao lado de muitos momentos de solidariedade em meio ao aumento do abismo socioeconômico mundial.
-> O ano da China
Em passagem na China em outubro de 2019, Bolsonaro declarou: "estou em um país capitalista". A declaração em tom bem humorado foi dada a jornalistas brasileiros que foram cobrir o encontro com o líder Ji Xiaoping e empresários chineses.
A declaração foi totalmente razoável. A China apresenta um crescimento econômico continuo, em patamares nunca alcançados pelos demais países do globo, nem mesmo pelos decantados EUA.
Nas redes sociais se encontram várias imagens e vídeos a mostrarem um desenvolvimento urbano notável: se nos anos 1970 a população era em maioria rural, hoje se inverteu: hoje, mais de 65% vivem nas cidades, lotadas de comércios, serviços e indústrias de todos os ramos.
A grande mídia diz que a China está à frente do mundo neste ano. Um engano, que se explica.
O governo chinês deu abertura a um capitalismo interno bem singular, ainda controlado, mas nem por isso menos pujante. Foi a partir de investimento público pesado nessas atividades, inclusive na tecnologia. Isso a diferenciou dos demais países soviético-maoístas.
Diferente desses colegas, a China primou pela sofisticação tecnológica. Se nos anos 1970 os demais andavam em carros dos anos 1950, nas ruas chinesas circulavam carros modernos, fabricados pelas indústrias locais somente para uso interno.
A maior abertura foi a exportação de seus produtos tecnológicos, iniciada quase entrando nos anos 2000. A progressiva desindustrialização ocidental pelo neoliberalismo abriu mais portas para a China em suas parcerias. Daí, a industrialização de eletrônicos para consumo interno e externo foi um pulo.
A pandemia foi apenas outro fator para a China consolidar seu lugar mais alto no pódio. Por ter sido a primeira a criar políticas de mitigação com isolamento, desinfecção de ruas, construção de hospitais em dias, exportação de insumos para o mundo e, agora, as vacinas da Sinovac e Sinofarma.
A China já é a maior potência há anos. A pandemia de C19 veio para comprovar sua liderança.
-> Reflexões finais
Não resta dúvidas de que 2020 foi um ano de muita revelação. A C19 escancarou os preconceitos promovidos por governos extremistas e culturas violentas. Escancarou também o fundamentalismo religioso, a mesquinhez dos mais ricos e o desprezo pelos pobres.
Mas também mostrou muitos momentos de solidariedade. Foi a solidariedade que levou europeus e chineses a mitigar a primeira onda da C19. Mas individualismo e ambição ainda dominam a cena: os bilionários enriqueceram mais bilhões ainda, e os pobres praticamente se miserabilizaram.
Escancarou o caráter e as intenções genocidas de governantes tradicionalistas autoritários, os quais afundaram seus países na submissão ao vírus e na miserabilização social. Mas mostrou, nas urnas, que a maioria dos cidadãos brasileiros e estadunidenses não quer mais esses líderes.
Em termos econômicos, 2020 comprovou o neoliberalismo como facada no Ocidente, que agora se curva ao grande país oriental faz-tudo. Que o fervor neofinanceiro foi o fator da derrocada econômica e não o C19.
2020 mostrou que a China é, em definitivo, a líder global. E a C19 foi a pá de cal a consolidar tal liderança, que não tem nenhuma previsão de quedar.
Não há como crer que nesse ano novo haja mudanças significativas, na socioeconomia e na nossa humanidade. Mas há ainda possibilidades de luz no fim do túnel, mesmo no Brasil das aglomerações e da depressão socioeconômica. Quem viver, verá.
Porque uma coisa é certa: 2020 nos deixa muitas lições, justamente por ter sido tão pesado. Nos resta ter a necessária percepção e sensibilidade para escolher as melhores a serem aplicadas neste ano que entra.
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Notas da autoria:
1.
Imagens: Google. Fotomontagem: autoria do blog.
Para saber mais:
- https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,a-china-ja-e-a-maior-economia-do-mundo,70003478227
- https://brasil.elpais.com/economia/2020-09-27/em-meio-a-pandemia-a-economia-chinesa-e-a-vencedora-no-jogo-do-tabuleiro-economico-mundial.html
- https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50165787
- http://g1.globo.com/economia/seu-dinheiro/blog/samy-dana/post/o-segredo-do-crescimento-industrial-chines.html
- https://www.metropoles.com/brasil/anvisa-aprova-importacao-de-2-milhoes-de-doses-de-vacinas-pela-fiocruz?utm_source=push&utm_medium=push&utm_campaign=push
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