sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Reflexão: Opa!, isso é uma ameaça?


     Este é apenas mais um artigo que nos chama para a reflexão, sobre uma passagem nova de Bolsonaro. E vocês, caros leitores, vão saber o porquê.

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     Pelo visto, o forte agito dessa semana não se resumiu às eleições dos nomes tão esperados pelo governo - às custas de R$ bilhões e mais cobranças de espaço no governo -, e aos discursos. Também se marcou em conflito entre alguns parlamentares e o presidente Bolsonaro, com vaias a este.
     O barraco ocorreu durante a cerimônia de abertura do ano legislativo, dois dias após intenso pleito para presidente das duas casas legislativas do Congresso, que elegeu o "novato" Rodrigo Pacheco no Senado (em ambiente mais tranquilo) e o ficha corrida Arthur Lira na Câmara após uma tumultuada sessão.

-> Motivações do barraco

     Logo após a referida cerimônia, Bolsonaro cobrou ao Congresso pautas que considera prioritárias. As pautas: reformas tributária e emergencial propostas por Guedes, a acachapante agenda de costumes, e as que considera ainda mais importantes, e as questões relativas à segurança pública1.
     Boa fatia do congresso compartilha com Bolsonaro o mesmo olhar sobre a reforma tributária, que encontra forte oposição em outra fatia. O olhar contra se deve ao caráter regressivo: quanto mais baixa a renda, maior a carga tributária. Ou seja, trocar o seis de agora por meia dúzia amanhã. Ou piorar.
     A PEC emergencial se dispõe basicamente sobre o corte de 25% dos salários e jornada de trabalho de servidores públicos em geral. Também encontra forte oposição porque há uma frente parlamentar pelo serviço público, formada por aqueles originalmente servidores. Vai ser fogo no parquinho.
     Quanto à segurança pública, geral sabe que Bolsonaro foi eleito na panaceia de polícia ostensiva e facilidade de obtenção armas pelos cidadãos "de bem". Eleição esta que deu mais poder às milícias e à maior mortalidade sobre cidadãos inocentes.
     O decreto das armas e o PL do temido excludente de ilicitude são preciosos para Bolsonaro. Afinal, compõem a panaceia demagógica que o elegeu em 2018. Fora o desejo de reforçar as milícias. Todos temas já tratados neste blog, que sabemos contribuírem para aumentar a guerra urbana.
     Não bastando isso, Guedes faz cortes sucessivos estrangulando os serviços públicos essenciais, ao ponto de mais de 70% do PIB serem hoje intocáveis títulos da dívida pública. Daí tanto valor à PEC dos gastos. Agora, os alvos são os servidores da base da pirâmide do funcionalismo.
     As outras prioridades bolsonaristas são: flexibilização das licenças ambientais (que as empresas e grupos ilegais já desrespeitam), mineração em zona indígena, privatização de parques nacionais e de estatais - outros temas passíveis de forte resistência na tribuna.
     Outro assunto valioso para Bolsonaro é a agenda de costumes, tão cara à bancada cristofascista, que tanto grita contra os pecados alheios, mas fecham os olhos aos seus (desprezar a crise da C19 e demais flagelos em geral, e ter a mesma ganância do Centrão). Em plena sindemia de C19.
     E falando em C19, a condução criminosa se reforça com a falta de proposta sobre prorrogação do auxílio emergencial e sobre orçamento e recursos à saúde e combate à sindemia, o que pode dificultar ainda mais a aquisição ou fabricação de novas vacinas e futuras campanhas de vacinação.
     Toda essa conjunção de fatos ouriçou a ira não só de parlamentares da oposição, com quem Centrão concorda no quesito da sindemia e na pauta ambiental: o vaiaram erguendo cartazes e o chamaram de fascista e genocida.

-> Respostas do outro lado: reflexões finais

     A reação da oposição e concordantes deixou um certo clima de constrangimento entre o povo na mesa do presidente da Câmara, interrompido pelos parlamentares governistas, que inicialmente iam se vociferar contra a oposição, mas logo deram seu barulho: "Mito! Mito!, Mito!"...
     Foi uma contrapartida bastante motivadora para Bolsonaro, que sorriu em seguida respondeu ter sido "um enorme prazer ter servido nessa casa por 28 anos", e arrematou no final, com olhar fixo em seus adversários: "nos encontraremos em 2022". Foi aplaudido por seus aliados ideológicos.
     Pode-se dizer que a resposta de Bolsonaro tenha soado em tripla interpretação. Se direcionada aos aliados ideológicos, foi como um afago; para a maior parte, não governista nem oposição, percebida como um aceno cínico; e para a oposição, um recado direto de que não vai sossegar. Ou uma ameaça?
     De qualquer forma, a resposta foi um recado claro de que Bolsonaro não desistirá da campanha de reeleição que já ocorre "sutilmente", fundida em meio a inaugurações e sanções de projetos que o povo acredite serem benefícios próximos a atenuarem sua vida, penosa para boa parcela.
     Em meio à tragédia da C19, agora em mais de 230 mil mortos, a maioria das citadas propostas pode não ser votada neste mandato por insuficiência de tempo útil para análises, contrapropostas e escolha de textos melhores para votação. 
     Na tragédia da C19, agora em mais de 230 mil mortos, que pode levar à extensão da decretação de calamidade até junho (daí a briga pelo auxílio emergencial), a maioria das propostas pode não sair do papel neste resto de mandato por tempo insuficiente. Daí a campanha antecipada do presidente.
     O que, para a oposição, pode ser uma ameaça de algo muito, mas muito pior. Opa!, isso é uma ameaça?
     
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Imagem: Google (edição: autoria deste artigo)

Notas da autoria
1. Liberdade de posse e porte de armas para cidadão civil, excludente de ilicitude e outros já tratados neste blog.

Para saber mais
- https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/02/4904446-bolsonaro-e-vaiado-e-chamado-de-genocida-e-fascista-no-congresso.html
- https://oglobo.globo.com/brasil/chamado-de-genocida-por-deputados-no-congresso-bolsonaro-reage-nos-encontramos-em-22-24867835
- https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,apos-ser-chamado-de-genocida-pela-oposicao-bolsonaro-diz-nos-encontramos-em-2022,70003604244
- https://www.youtube.com/watch?v=twimdl34Yrk


 

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