Análise: comemoração do golpe de 1964
A proposta surge em meio à crescente raiva popular contra a inércia propositada do governo na gestão da sindemia de C19, em plena maximização com aproximadamente 300 mil mortos, segundo dados oficiais captados pelo consórcio de mídia.
Houve uma reação nas redes, embora comparativamente menor do que o ocorrido com o apelido mortífero que encarnou no governante. Talvez por menos pessoas terem acompanhado essa novidade por trás do festival de metralhadora giratória contra tudo e todos.
-> Um desejo antigo
O desejo de Bolsonaro em oficializar e abranger a comemoração do aniversário do golpe de 1964 não é nova. Ele se manifestou publicamente nos primeiros meses de seu governo, mas sem propor por enquanto, pois o clima geral ainda não era, ou não parecia propício.
Vale salientar que isso tem suas razões, explicitadas a princípio na sua vida pregressa na caserna, mesmo sofrível e repleta de irregularidades, segundo nota do próprio Exército que determinara o seu afastamento gratificado com a reforma a lhe garantir a patente de capitão.
Nos seus "causos", muitos dos quais inventados, Bolsonaro contou que chegou a ajudar militares no interior de SP, na busca de gente do grupo de Carlos Marighella, no final dos anos 1960. Mas a sua admiração pelas comemorações do golpe de 64 sempre foi muito sincera.
Seria ele um espírito golpista? Bem, possivelmente não. Na época ele era um jovem frango ainda menor de idade, mas, já definindo a sua decisão de entrar na carreira militar, pelo menos. O que viesse seria lucro.
O lucro que ele quis resultou em sua ambição desmedida em atos indisciplinados na caserna, que todos já sabem: se achava merecedor de grande riqueza. Por isso viu na política o lugar certo onde se esbaldaria em liberdade e libertinagem - que se veriam ainda hoje.
-> Proposta do autocrata insatisfeito: reflexão final
O alcance da presidência da República representa, para ele, o poder máximo, não só de estar no cargo mais alto do Executivo, e sim, principalmente, se achar com liberdades irrestritas. De ouvir da nação "excelentíssimo senhor presidente, capitão Jair Messias Bolsonaro".
Como falado antes, a sua prática política é a projeção de sua pessoa, o seu próprio eco para toda a nação, no lançar de um personalismo paranoide, escoltado pelos filhos de utilidade bem duvidosa e uma penca de seguranças, muitos de origem suspeita.
O sadismo de cortes reiterados nos setores mais sensíveis em pleno avançar da sindemia de C19, da destruição ambiental sistemática, da liberação de agrotóxicos condenados globalmente e outros, com ajuda dos ministros e inércia do Congresso, revela a sua pessoa e seu caráter autocrata personalista.
A autocracia personalista de Bolsonaro é o arquétipo do ditador. É intolerante a tudo que discorde de suas ideias e que impeça o seu modus operandi, mesmo que o STF vete vários de seus decretos.
Apenas uma minoria de brasileiros atende hoje à sua impulsiva necessidade de ser admirado. Mas um punhado não satisfaz seu apetite voraz de poder infindo. Parte para dominar tudo e todos, vindo aí então a proposta da comemoração do golpe de 1964.
É usual os quartéis das FFAA celebrarem o golpe, na ausência do presidente. Foi nessa contexto, e usando a nostalgia popular dos "bons tempos das ruas tranquilas", que Bolsonaro agora comemorará em cerimônia junto aos militares em Brasília.
A repercussão internacional foi ruim. O relator especial da ONU para a verdade Fabián Salvioli considerou ser "imoral e inadmissível" celebrar os "crimes horrendos" cometidos pela ditadura, e visar uma revisão para detrimir uma incontestável verdade histórica.
Bolsonaro verá na comemoração judicialmente permitida o momento oportuno de se mostrar "o grande", reforçando a autoestima já deturpada pela psicopatologia, e sua monocracia totalitária por repressão à patuleia e mortes por queima de arquivo - verdades tão duras e incontestáveis quanto os horrores do golpe.
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Imagem: Google.
Notas da autoria
1.
Para saber mais
- https://oimparcial.com.br/colunas/bastidores/bolsonaro-propoe-comemorar-55-anos-do-golpe-militar-no-brasil/
- https://www.dw.com/pt-br/comemorar-golpe-de-1964-%C3%A9-imoral-e-inadmiss%C3%ADvel-diz-relator-da-onu/a-48121663
- https://exame.com/brasil/militares-fazem-ato-em-sp-em-comemoracao-ao-golpe-de-64/
- https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/governo-bolsonaro-ganha-na-justica-direito-de-celebrar-golpe-de-1964/
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