sexta-feira, 26 de agosto de 2022

CURTAS - ANÁLISES RÁPIDAS 3 (com sabatinas!)

 

        A seguir, a terceira parte da série Curtas - análises rápidas. A fonte da imagem ao lado, escolhida, entre outras, como simbólica da série, é o Google.
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"Bolsonaro Genocida" vale ou não?

        Praticamente fechado o relatório da CPI da C19 no Senado, o presidente Omar Aziz e o relator Renan Calheiros se discordaram a respeito da validação da expressão "crimes contra a humanidade" na incriminação do presidente Jair Bolsonaro. Mas, no final, mesmo favorável à acusação pelas evidências*, Renan aceitou não incluir.
        Chega a campanha eleitoral e, com ela, o terror de predicados depreciativos e as incansáveis fake news, estas um combustível fundamental para o bolsonarismo. Xingado exaustivamente de alcoólatra, ladrão e agora diabólico para atrair a geral evangélica, Lula respondeu chamando Bolsonaro de genocida. Foi o suficiente para aumentar o piti presidencial.
        Tendo-se em vista seus objetivos de satisfazer seu baixíssimo limiar de aceitação de críticas (e do seu ranking na corrida eleitoral) e usando o seu conceito distorcido de liberdade de expressão, Bolsonaro reagiu com pedido de censura a Lula e outros candidatos quanto ao termo "genocida". Ele não aceita de forma alguma essa acusação, sem prévias indicações.
        Não é a primeira vez que Bolsonaro se demonstra ofendido em ser chamado de "genocida". Já pediu censura pública contra o termo, apesar das evidências reveladas na sua conduta anticientífica e insensível no ápice da pandemia de C19, e a grande cifra de mortos pela doença em menos de 2 anos (mais do que a guerra contra a Palestina, por exemplo). Mas não conseguiu calar o povo.
        Talvez diferentemente do povo, talvez em campanha os candidatos evitem o termo, para evitar problemas com a Justiça eleitoral, agora presidida por Alexandre de Moraes, desafeto de Bolsonaro por mostrar rigor. Mas pode acontecer que o candidato à reeleição possa agir com propósito para causar distúrbio, talvez atrapalhar a chance de novos debates pools porventura marcados.
        Em virtude dessa tese de urbanidade e da nova presidência do TSE, chamar Bolsonaro de genocida pode ser errado. Mas, para que isso valha, deve haver recíproca, ou seja, ele mesmo deve também se calar. O que, em tese, poderia explorar como "censura"' - ironicamente a mesma que quis aplicar aos adversários.

*Nota da A: discordo de Josias de Souza, pois a mortandade pela C19 e assassinatos de indígenas, associadas à conduta do governo indicam claramente o propósito.
Fonte: UOL (https://www.youtube.com/watch?v=zHOeZPcFP7U)
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Bolsonaro: o desespero que fake news não resolvem

        Este blog já expôs o fato de políticos e partidos da esquerda explorarem pouco as páginas de redes sociais e canais de plataformas como Youtube e correlatos. Carlito Neto e Paulo Ghiraldelli têm se atentado a isso e se basearam na exemplar assiduidade dos bolsonaristas (com ressalvas, claro).
        Bolsonaro é, de longe, o líder de maior assiduidade e audiência nas plataformas de redes sociais, estando à vontade na especialidade em profundir repetitivamente as mentiras, cuja novidade é apenas o anglicismo* que as nomeia. O risco de novas deleções não incomoda a caterva.
        A crítica de Carlito Neto foi traduzida na advertência de Janones a Lula e ao PT. Foi positivo, pois agregou mais audiência e novos inscritos em canais de esquerda independentes no Youtube e nas redes sociais, contribuindo para a melhora do petista nas pesquisas de opinião e intenção de votos.
        Muito conhecidas, mentiras atribuindo obras petistas a Bolsonaro são acompanhadas hoje de novas fakes envolvendo políticos apoiadores de Lula, como Randolfe Rodrigues, a quem se atribui "controlar o STF", e a deepfake (edição de vídeo que altera áudios e imagens) com o Jornal Nacional "afirmando" liderança do nazifascista. Era para felicitar o presidente, mas...
        São duas semanas infernais. Carta pela Democracia assinada até pela elite econômica, afagos a Lula na cerimônia da posse do desafeto Alexandre de Moraes no TSE, melhora do petista nas pesquisas de opinião e recusa de milicos ao 7/9 em seu favor o tornaram uma verdadeira bomba de nervos.
        Como aprendemos nos altos e baixos da vida pelos ditados dos nossos avós, a mentira nos afaga e ilude, mas têm perna curta e mostra o caráter de seu autor. Desmentida de imediato como as demais, a deepfake desiludiu e envergonhou os incautos crédulos que iriam eleger Bolsonaro. 
        Em tempo: se ele estivesse à frente mesmo, não faria sentido tanta raiva e meios desesperados de obter apoios poderosos. Se tivesse ouvido seus pais e avós, talvez estivesse mais maduro e tranquilo. E quiçá, mais saudável ou não tão adoecido.

* Adoção de termos em inglês para designar um fenômeno ou objeto.
Fonte: observação analítica própria dos fatos passados em diversas fontes.
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Bolsonaro e a liberdade de corrosão

        Como sabemos, Jair Bolsonaro foi eleito no discurso "nova política" do tripé antissistema: o combate à corrupção por meio de uma "tarefa antipolítica", o "sagrado" direito amplificado do acesso, posse e porte de armas e munição pelos "cidadãos de bem" contra o crime urbano, e a agenda de "costumes cristãos".
        Nesse discurso, Bolsonaro colocou tais métodos como os meios simbólicos de aniquilação do que ele dizia ser o sinônimo de corrupção, violência e de erotização infantil: o PT de Lula. Foi nesses motes toscamente bem explicados que o ex-militar conseguiu derrotar o professor e ex-ministro petista Fernando Haddad, no 2º turno.
        Assim, veio a "nova política": na educação, a despolitização social; o aparelhamento das instituições investigativas (no STF só tentou) para se proteger e os seus filhos (cada um com um cacho de crimes e ilicitudes); por trás de cada cidadão de bem, o crime organizado; por trás dos costumes cristãos, o aumento da violência de gênero intrafamiliar.
        Mas, algo mostrou que Bolsonaro queria ir além: para aumentar o seu poder diante do Legislativo e do Judiciário, planejou com seu sinistro Paulo Guedes a PEC32 (reforma administrativa, ainda em trâmite) para enfraquecer a ação dos servidores públicos como complemento ao aparelhamento das instituições investigativas.
        Enquanto o trâmite da citada PEC está paralisado por conta dos interesses eleitorais dos parlamentares congressistas (e não se garante de ir à frente), Bolsonaro se aproveitou da atenção popular à pandemia de C19 em 2020 para impor sigilos de 100 anos em uma série de fatos, todos relacionados à sua vida e às ilicitudes dos filhos e aliados.
        Com o discurso de liberdade de expressão (em reação às ações do STF), Bolsonaro pregou a liberdade de corrosão, com o maior sistema de corrupção da nossa história política, o esgarçamento do tecido social (anomia), seguidos despautérios contra a lei e a ordem, a promoção da anticiência e doença e seguidos indecoros na sua função pública.
        Tem jeito?Exemplificando-se o neonazismo hitlerista e o aumento da violência social, se acredita não ter mais jeito. Engana-se: pela luta de classes se opera não o extermínio das políticas nefastas, mas sim a retirada delas do poder e sua superação, implantando-se a política de liberdade institucional plena, da educação e da ciência, da lei e da ordem.
        Quando isso vai acontecer, depende muito de nós mesmos, e as eleições de 2022 se tornarão o ponto de partida, e atenção firme e duradoura ao que vier.

Fonte: análise pessoal da conjuntura contextual de vários fatos, com base em várias fontes noticiosas: Brasil de fato, G1 Globo, Jornalistas Livres, The Intercept, Opera Mundi, DCM, Brasil247, blogs de notícias e análises, e grandes mídias também valem.
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Capitalismo sustentável. Só que não

        A ideia de meio ambiente/ecologia surgiu na Revolução Industrial. Seus significados evoluíram com o tempo, desde a noção de intocabilidade até o atual conceito de bioeconomia ou economia verde, ligada ao bom manejo de áreas naturais remanescentes, gerência-reciclagem de lixo, agroecologia e recuperação de áreas degradadas.
        A ideia se baseou na observação da crescente degradação do ambiente urbano pela fumaça das indústrias então movidas a carvão, mau cheiro, doenças ocupacionais e morte de peixes e de vegetais pela poluição, e pelo desenvolvimento dos primeiros estudos em série do gradual aumento térmico, o futuro aquecimento global.
        O problema é que a expansão da indústria proporcionou na época forte retorno de capital e empregos, e não só consolidou o capitalismo preexistente, como promoveu novas indústrias, o que a classe política percebeu como desenvolvimento nacional, e os empresários de então, como alto lucro para si e os seus.
        Mas em paralelo, mesmo vista por políticos e empresários como antidesenvolvimentista, a discussão ecológica cresceu graças às pontuações científicas das crescentes médias térmicas globais, continuidade da degradação ambiental e a corrosiva chuva ácida.
        Com o ganho de corpo da discussão ecológica, empresários e políticos viram que era melhor "abraçá-la" sem abrir mão das benesses capitalistas. Então surgiram indústrias como a de alimentos orgânicos e/ou veganos, de materiais reciclados e até mesmo em áreas de grande impacto, como a mineração.
        Só que, com algumas exceções, os capitalistas podem se tornar gananciosos e praticar ilicitudes. A cultura elitista da carteirada tornou o Brasil fértil para maquiagens vendendo a falácia de empresas "sustentáveis" ou ecologicamente corretas.
        Na era Bolsonaro, a maquiagem está plena. Através de bem elaborados mecanismos publicitários, com profissionais competentes e muito bem pagos, gigantes da mineração seduzem a patuleia e os políticos corruptos entregam praticamente de graça áreas de preservação permanente ou estações ecológicas com licenças ambientais criminosas.
        Enquanto a patuleia presta a atenção nos fatos em Brasília e arredores, o garimpo ilegal e madeireiros invadem terras indígenas e as devastam exaustivamente, atingindo limites próximos ao ponto de irreversibilidade, enquanto matam ou escravizam os milenares ocupantes. Por trás do crime organizado na floresta, estão os empresários "ecologicamente corretos".

Para saber mais
- https://www.cgee.org.br/-/bioeconomia-conheca-o-conceito-de-economia-verde-para-o-desenvolvimento-sustentavel
https://theintercept.com/2022/08/16/lobistas-mineracao-ilusao-garimpo-sustentavel/
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A resistência na desigualdade de gênero

        As sociedades ocidentais se vangloriam de seu status civilizatório por fatores como acesso aos serviços públicos e investimentos em C&T de qualidade suficiente para haver índices sociais e desenvolvimento humano satisfatórios, e PIBs mais altos. Daí serem centrais para a grande mídia.
        Entretanto, bons índices mascaram os valores culturais que escalonam patamares de cidadania de diferentes grupos. Em parte, a mídia tem culpa por dar mais relevância a discrepâncias em países mais pobres no mundo muçulmano do que às do ocidente cristão e rico.
        Um exemplo ocidental díspar é o Brasil. Rico e com dados macroeconômicos razoáveis (já foram melhores) e IDH mediano, o país tem índices alarmantes de criminalidade e forte desigualdade de valor por grupo/classe, inclusive nas relações de gênero.
        A desigualdade de gênero no Brasil sempre existiu, melhorando nos últimos anos pela legislação e mudanças impostas à mentalidade coletiva. Mas ainda há poucas mulheres na política, e a ascensão da extrema direita messiânica contribuiu para a violência de gênero retornar como regra relacional.
        Pouca mulher na política se deve ao patriarcalismo sexista. O que não impediu alguns destaques, como Luiza Erundina, Heloísa Helena, Jandira Fhegali, Sâmia Bomfim, Talíria Petrone e outras. Dilma Rousseff presidiu o país, um marco. A vereadora Marielle Franco foi morta por milicianos em 2018.
        Por serem políticas progressistas, elas incomodam. O sexismo foi camuflado por outros fatos na deposição de Dilma; Marielle foi morta por enfrentar criminosos. Mesmo de fora, Sônia Guajajara incomoda por ser indígena. E todas sofrem indecoros sexistas de seus (e suas) colegas adversários.
        Todas essas mulheres se configuram como exemplos ímpares na política. Se destacam mais como combatentes, e não para decorar os espaços que ocupam, a impedir ou retardar novos retrocessos em trâmite. E resistem. Por tudo isso, tanto incomodam e resistem aos assédios depreciativos.
        Mas, após cada comemoração de um progresso, elas sabem que são ainda muitos os desafios que devem ser enfrentados, inclusive nas pautas dos direitos sexuais e reprodutivos femininos defendidas. Elas provam que o sexo feminino não é frágil, e que motivação no embate não falta. Até a vitória!

Para saber mais
- https://www.brasildefato.com.br/2022/08/22/violencia-politica-de-genero-apos-ascensao-historica-2022-pode-ser-marco-no-combate-a-crimes
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SABATINAS
-Bolsonaro no JN: embate com empate

        No esquentar dos tamborins eleitorais, a produção do telejornal Jornal Nacional (JN) da Rede Globo decidiu manter a sabatina com os presidenciáveis, um esquema bem interessante que estreou há 20 anos atrás, com Lula. Como na época bombou, para a emissora, o motivo é muito mais pela audiência do que para melhor conhecer os candidatos.
        Neste 2022, o candidato do primeiro episódio da série foi Jair Bolsonaro, o "nosso" mandatário em curso. É certo que William Bonner e Renata Vasconcelos tenham se preparado para recebê-lo, muito mais pela conduta possivelmente explosiva devido ao estado de nervos do ex-militar com os fatos do que pela conhecidíssima hostilidade ideológica.
        Mas, para a quase surpresa da produção da emissora, Bolsonaro não explodiu. Foi até controlado, apesar da hostilidade transparecida no olhar, na expressão facial e em algumas falas, como a insinuação de que Bonner o estaria motivando a ser ditador, ao responder à pergunta sobre as relações com o Centrão de Arthur Lira.
        Embora as perguntas feitas mostrassem profissionalismo, a dupla pareceu evitar desafiar Bolsonaro em temas de enorme importância, como agressões gratuitas a jornalistas, drogas com militar em avião presidencial, as fortes evidências das rachadinhas, nem cobrou explicações dos sigilos seculares. Podia ter pressionado mais sobre a gestão da pandemia.
        Mais tarde, no GloboNews, outra âncora apontou as duas lives de Bolsonaro desestimulando a procura de hospitais ao imitar a falta de ar dos doentes como mentira chocante. De fato choca, mas não foi a única. Bolsonaro mentiu descaradamente sobre as vacinas e os âncoras sequer o desmentiram.
        Comparativamente, Bonner se impôs melhor, mas poderia ser mais assertivo e fazer perguntas de peso como as sobre os temas citados em falta. Renata foi mais comedida, percebendo a misoginia dele. No fundo, pareceram dois vira-latas caramelo que só alardeiam, mas não mordem.
        Talvez por isso Bolsonaro às vezes ficava meio à vontade. Mas isso não significa vitória, que na prática terminou empatada. Mas, a definição do placar desta entrevista está nas mãos dos eleitores, cuja interpretação, mais emotiva, vai pesar a mão na balança de pesos da barbárie e da pacificação.

Fonte: impressão pessoal do vídeo da entrevista disponível em vários canais do Youtube.
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-Ciro no bistrô do JN

        No segundo dia da série de sabatinas com os presidenciáveis, o candidato da vez foi o pedetista Ciro Gomes. Criado no Ceará, estado que já governou protagonizando uma reforma educacional elogiada pela mídia e criticada por grande parcela de educadores, Ciro ainda goza de certa popularidade no Estado, mas atrás de Lula.
        Vale analisar comparativamente. Embora seja tão temperamental quanto Bolsonaro, Ciro tem certa razoabilidade ética, e talvez por isso a dupla de âncoras tenha se sentido mais à vontade - visível diferença com Bolsonaro. E, talvez por isso, a condução da entrevista tenha sido bastante morna e previsível.
        Também à vontade, o pedetista começou relativamente bem, apresentando o seu livro sobre PND, o seu Programa Nacional de Desenvolvimento, um conjunto elogiado de propostas que atesta inteligência e experiência política do candidato. Mas também inclui propostas polêmicas e difíceis.
        As políticas boas são desenvolvimentistas (infraestrutura, incentivos socioeconômicos, etc.), e já entre as polêmicas estão a famosa taxação de fortunas que todos prometem, e mudanças nas eleições de parlamentares, visando eliminar o nefasto Centrão. Utópicas demais para um país tão distópico.
        Ele esteve tão à vontade que cometeu pecados ridículos. Paranoicamente reiterou a equalização de Lula e Bolsonaro; apresentou números de seu programa de governo sem conseguir explicar o que faria para atingi-los - sem ser cobrado pelos entrevistadores. Essa parte ficou no ar.
        Outro costume terrível de Ciro é usar linguagem muito acadêmica, tanto nas críticas reiteradas aos adversários quanto nas explicações de seu PND. Uma linguagem que o distancia da patuleia que se vê impedida de compreender e impossibilita o tradicional corpo-a-corpo popular.
        Apesar de morna como se ocorresse num requintado bistrô, a entrevista foi boa para que saibamos melhor quem é Ciro Gomes e a intenção da emissora. As falas podem desmotivar a bolsonarização de parte de seus eleitores, mas as depreciações sobre Lula podem inviabilizar suas chances eletivas futuras.

Para saber mais
- https://www.brasildefato.com.br/2022/08/23/em-entrevista-morna-no-jn-ciro-gomes-volta-a-igualar-pt-e-bolsonaro-e-insiste-em-plebiscitos
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-Lula: nas novidades, a velha pressão

        Se houvesse sabatina no dia 24/8 no JN, o candidato seria André Janones. Mas este desistiu da campanha presidencial para engrossar a fila de apoios à campanha de Lula, com forte efeito nas redes sociais. E, quem diria, no dia 25/8 veio a sabatina mais esperada, com Lula.
        Foi a mais esperada em decorrência de sua liderança firme nas pesquisas de preferência eleitoral popular, após quase quatro anos de uma era destrutiva. Mas a sabatina com Lula desperta expectativa também em seus inimigos políticos. Como o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro.
        Ele se disse disposto a ajudar "voluntariamente" o JN para uma entrevista de arrasar com Lula, com os temas relativos à Lava-Jato e os processos que o levaram à prisão. Jogo para ter mais crédito junto aos eleitores paranaenses na corrida pelo Senado. Com 24%, ele está atrás de Álvaro Dias (35%).
        Não foi preciso Moro na sabatina: Bonner e Renata tentaram evitar temas sociais mais profundos e importantes como a fome, as filas de ossos e carcaças que passaram a ter preço, altas taxas de informais e de desempregados - que Lula não deixou passar em branco, no mal explorado tema Economia.
        A dupla de âncoras preferiu abordar o mais possível sobre a escândalos de corrupção nos governos anteriores, como o Petrolão (que existe desde a ditadura), o mensalão e a Lava-Jato. Lula não hesitou em responder sobre o lawfare* e defender a liberdade das instituições e da imprensa para denunciar os escândalos de corrupção.
        Sem perder a urbanidade, o petista ainda caracterizou o governo Bolsonaro como conduzido por Arthur Lira e Paulo Guedes, enquanto Bolsonaro é "bobo da corte", e ainda fez piada com os âncoras. E ainda arrematou: "quero que o pobre tenha direito a um churrasco de picanha e cervejinha".
        Nesse resumo analítico, restou avaliar a partida como um todo: sem dar chance aos jornalistas, o petista deu um show, posteriormente comemorado tanto por populares comuns quanto por militantes petistas, com gritos alegres a expor emoções retidas nesses quatro anos da era Bolsonaro.
        Bolsonaristas convictos comemoram a audiência da sabatina de seu ídolo superior à do petista. Mas, vale lembrar de que audiência em si não determina ganho eleitoral. O determinante mais provável é a necessidade mais premente da grande massa popular que não consegue sustentar e alimentar a si e suas famílias ao mínimo contento necessário.

* Rede de intriga envolvendo autoridades e empresários com objetivo de interromper governos ou impedir chances eletivas de candidatos tidos como contrários a seus interesses.
Para saber mais
https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/moro-se-oferece-para-entrevistar-lula-no-jornal-nacional-tenho-experiencia/
- https://www.cartacapital.com.br/tag/entrevista-de-lula/
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Sabatinas: a intenção oscilante da grande mídia

        A série de sabatinas aos candidatos à presidência da República veio na fase decisiva da corrida eleitoral. As principais emissoras da TV aberta já disponibilizaram seu calendário e adaptam seus estúdios. A série da Globo, líder incontestável de audiência, já começou fervendo, atingindo a temperatura máxima com o presidenciável Lula.
        Falando em audiência, por enquanto o maior pico alcançado pelo telejornal global do horário nobre foi com a primeira entrevista, feita com Jair Bolsonaro em 22/8. Ainda que, em comparação com a feita com Lula neste dia 25/8, a condução da entrevista não tenha invocado na mesma catarse que a da quinta-feira.
        Embora já tenham feito entrevistas prévias com candidatos aos governos estaduais, as demais emissoras não chamaram tanto a atenção da patuleia quanto a Globo. Os fatores são óbvios: os sabatinados são presidenciáveis, o que gera mais expectativa; e a conduta diferenciada dos entrevistadores com eles.
        Outro fator é a postura dos entrevistadores conforme o nome. O tratamento diferente foi marcante para cada sabatinado até agora. Com Bolsonaro, um respeito quase temeroso; com Ciro, um relaxante clima de bistrô; e com Lula, quase um quintal com cachorros bravos. Até os principais focos diferiram.
        Com Bolsonaro, se centrou na gestão da pandemia e o indecoro com ministros do STF, sem cobrar explicações dos escândalos. Com Ciro foi a economia, sem cobrar explicações de metas em linguagem acessível. E com Lula se centrou mais na corrupção em governos anteriores e muito pouco na economia e política social.
        Vale avaliar os candidatos também. Enquanto Ciro estava totalmente à vontade, Bolsonaro teve postura agressiva mesmo controlado, e Lula se portou como gentleman popular, que não se intimidou mesmo nos momentos mais espinhosos.
        A análise já definiria um placar para candidatos e para os entrevistadores. das três entrevistas, duas deram empate: com Bolsonaro e Ciro. Com Lula, a mídia não esperava perder, mas reconheceu Como num pedido de desculpas, Bonner disse: "o senhor não deve nada à Justiça".
        Tanto os bolsonaristas quanto os lulistas se arrebataram nos seus respectivos dias. Mas, como reitero, uma sabatina e a reação emotiva coletiva não garantem uma vitória eleitoral. Ainda teremos mais entrevistas e debates em pouco mais de um mês do pleito. Em silenciosa expectativa, vamos seguindo adiante.

Para saber mais
- https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2022/08/23/interna_politica,1388338/bolsonaro-no-jornal-nacional-confira-os-destaques-da-sabatina.shtml
- https://exame.com/brasil/lula-no-jornal-nacional-veja-os-principais-destaques-da-entrevista/
- https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/lula-gerou-mais-engajamento-que-bolsonaro-e-ciro-no-jornal-nacional-mostra-levantamento/
- https://www.moneytimes.com.br/na-sabatina-de-lula-no-jn-o-que-chamou-a-atencao-foi-a-postura-dos-entrevistadores/
- https://www.poder360.com.br/eleicoes/sabatina-de-lula-no-jornal-nacional-vira-meme-nas-redes/
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Contrarreforma, a obsessão de Lula

        Antes mesmo do Brasil, o governo da Espanha havia sancionado uma nova lei que reformou a legislação trabalhista, com maior distribuição de direitos aos empregadores e em detrimento das classes trabalhadoras. Essa linha reformista nas leis trabalhistas também afetou outros países.
        Cientes disso, o governo Temer lançou a versão brazuca que, como já abordado aqui, vendendo a falsa informação, alardeada pela grande mídia, de que levaria a um boom de empregos. Resultou então numa lei que quase findou a CLT, sobrando direitos aos empregadores e deveres aos trabalhadores.
        Mesmo prevendo maior liberdade quanto aos vínculos trabalhistas e facilidade nas negociações, a nova CLT não cumpriu seu papel de reverter o aumento do desemprego a partir de 2015. Os vínculos mais frágeis e salários mais baixos promoveram mais demissões do que novas admissões.
        Após os mais de 14% de desemprego na pandemia de C19, o governo Bolsonaro se felicitou com algumas milhares de novas contratações formais: uma boa motivação eleitoral. As contratações foram, na prática, extremamente precárias, quase informais, e média salarial inferior ao salário-mínimo. Isso resultou do "ou tem emprego ou tem direito", na retórica bolsonarista.
        Normalmente, percebemos na cultura mercantilista no Brasil que quanto menos direitos, melhor. Por isso, Bolsonaro dissera em 2019: "ou tem emprego ou tem direito", emendando que "o povo está com direitos demais, vamos mudar isso aí". Daí, a carteira verde-amarela e outras alterações na lei.
        No tour pela Europa em novembro de 2021, Lula conversou com o premiê da Espanha, por quem soube da contrarreforma na legislação sobre políticas públicas, que contemplou a reestatização na seara de serviços públicos e o fortalecimento dos direitos trabalhistas. Ambos conversaram novamente em janeiro deste ano
        Naquele tour pela Europa em novembro de 2021, Lula conversou com o premiê da Espanha, por quem soube da contrarreforma que fortaleceu vínculos e direitos trabalhistas e reestatizou serviços públicos, como saúde, educação, saneamento básico e o subsolo.

Para saber mais
- https://www.nexojornal.com.br/expresso/2022/01/12/A-contrarreforma-trabalhista-da-Espanha-que-inspira-Lula 
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quinta-feira, 18 de agosto de 2022

CURTAS - ANÁLISES RÁPIDAS 2

 

        Esta é a segunda parte da série Curtas - análises rápidas, como uma experiência nova no blog. 
        Todas as imagens das publicações são obtidas do Google.
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Campanha da cristopatia

        A campanha oficial ainda nem se abriu, e já dá mostras do que virá. Entre todos os presidenciáveis, Lula e Bolsonaro se destacam, Enquanto um é sucesso entre os grupos de interesse, o outro segue estratégias em desespero.
        Para reverter a altíssima rejeição feminina, Jair Bolsonaro usa sua esposa Michele como isca para atrair as mulheres evangélicas, em paralelo aos disparos massivos de mentiras e factoides messiânicos para o público evangélico, ao arrepio da nova lei eleitoral.
        Nos púlpitos das grandes organizações evangélicas ou em outros eventos gospels, Michele discursa que o Palácio do Planalto "era dos demônios e agora é de Cristo", e que Lula "é do demônio", em alusão ao vídeo postado por ela no Instagram de Lula banhado em pipoca em sessão afro-brasileira.
        Nesse contexto delirante incluindo Lula, Michele pega carona na demonização do comunismo, calcando-o como uma alegoria fantástica que, na prática, imita a ala fundamentalista estadunidense na paranoia que liga o comunismo ao pânico moral, criando uma sopa de ingredientes desconexos.
        Além do discurso da intolerância religiosa, se insurge a ideia de que mulheres independentes e à altura dos homens "não são exemplos de mulheres cristãs". Coitadas das empregadas domésticas e de outras trabalhadoras que se viram como podem para sustentar suas famílias pobres.
        Além das mentiras de fatos políticos, os disparos em massa reforçam entre o público evangélico a mensagem da intolerância, revelando uma campanha ainda mais beligerante, misógina, intolerante e, pior que sim, cristofascista. Ou, se acharem melhor, cristopatia.

Para saber mais
- https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2022/08/10/com-intolerancia-religiosa-michelle-expoe-ao-ridiculo-a-diplomacia-do-pais.htm
- https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/08/michelle-bolsonaro-ecoa-intolerancia-de-evangelicos-ao-repostar-lula-em-ritual-do-candomble.shtml
- https://www.brasildefato.com.br/2022/08/10/nao-vote-em-racista-leia-as-reacoes-aos-ataques-de-michelle-bolsonaro-as-religioes-afro 
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Cristopatia e seus culpados
 
        Como acabamos de ver, a campanha de Jair Bolsonaro assume de vez a sua faceta cristopática, mediante o uso da primeira-dama como valiosa isca para fisgar uma parcela importante do segmento evangélico: as mulheres. Faz pleno sentido.
        Conforme a moralidade cristã pentecostal e neopentecostal, a mulher é a principal fundadora e educadora familiar, daí se acreditar, no conservadorismo cultural, ser o mais alto papel social feminino. No discurso cristopata, como vimos, a mulher independente e nulípara não é o tipo ideal.
        Já se verificam perguntas por aí sobre por que essa convergência político-religiosa na campanha com essa faceta. Bem, vale lembrar de que Bolsonaro não é o primeiro a conversar com evangélicos para fins eleitorais. Lula, Dilma, Serra e até Haddad fizeram o mesmo. Com Bolsonaro, a novidade é a faceta fundamentalista.
        Cabe ressaltar que a fusão político-religiosa não surgiu do nada. É um reflexo da flexibilidade protestante em permitir pastores serem políticos de fato. Não seria um mal se o respeito aos limites da laicidade constitucional ocorresse desde o início. Aí, as bancadas bíblicas dos Legislativos federal e regionais são, sim, culpadas, por saberem desses limites.
        São culpadas por usar foro privilegiado para transformar as casas públicas em extensões das suas igrejas, em cultos e discursos moralistas gritantes, ao mesmo tempo que desprezam as prioridades mais urgentes para as necessidades da nação.
        Mas não são as únicas culpadas. Colegas e governantes têm sua parcela de culpa ao lhes dar a indevida atenção
        Mas não é a única culpada. Colegas dos Legislativos e os governantes têm sua parcela de culpa por dar indevida atenção para assuntos moralistas sem qualquer ligação com as prioridades da nação, como os flagelos socioeconômicos e a eterna precariedade dos serviços públicos essenciais.
        A atenção indevida elevou não só as lideranças políticas. Seus rebanhos também foram alçados a um patamar de destaque sem nenhuma razão. A fé não torna os cristãos melhores, a atenção arrazoada pode torná-los piores, às vezes arrogantes. Isso pode explicar o desprezo de alguns grupos por eles. 
        Além disso, políticos e imprensa são culpados por subestimar Bolsonaro a um "louco extremista" com discurso extremista, de apologia a caos e morte. Talvez por acharem que "não há como retroceder", sem lhe notar a psicopatia que o permitiu observar e se aproveitar dessa atenção indevida mencionada.
        Nunca se observou antes que candidatos adversários entre si se juntassem para derrotar Bolsonaro como nessa corrida eleitoral. Se a maioria da patuleia mantiver a consciência de agora, a derrota dele pelas urnas é certa. Mas até aí tudo bem. Já os efeitos nefastos e do bolsonarismo e da cristopatia vão durar um bom tempo à frente.

Nota: as fontes dessa análise são muita observação do cotidiano sociopolítico, conversas com pessoas de fé evangélica e reinterpretação de alguns vídeos de canais sérios e competentes
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2023 e o déficit do absurdo

        Nesses dias foi aprovada a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2023. Segundo a grande mídia virtual e impressa, o novo governo pegará um déficit bastante alto, devido à EC dos auxílios recentemente promulgada e que elevou o potencial eleitoral do presidente Jair Bolsonaro.
        Ainda segundo a grande mídia, o quantitativo total do déficit foi motivado pela EC dos auxílios que furou a bolha do teto dos gastos públicos, ao leve sopro no salário mínimo e às perversões das emendas ao relator e orçamento secreto, somando algo em torno de R$ 66 bilhões.
        Não bastasse ser alto o valor desse déficit, vale salientar que a grande mídia tem comemorado o lucro recorde dos bancos em quase R$ 70 bilhões, segundo declaração do sinistro Paulo Guedes. Até descobrirmos de tão altos, são valores subestimados.
        Em vídeo no Youtube, o ex-banqueiro, economista, escritor Eduardo Moreira disse que o governo causou um rombo no tesouro público muito maior do que o midiático, de mais de R$ 150 bilhões. A outra mentira também é o valor dos lucros dos bancos: o total real é de R$ 132 bilhões em 2021. É uma pancada no estômago no país da fome.
        Na teoria fria da economia, o lucro dos bancos não é incluso entre os fatores do déficit para o ano seguinte. Mas deveria entrar. Pois é o Banco Central que decide repassar parte do tesouro (PIB) para o montante da dívida pública, destinada a mimar o sistema financeiro. 
        A estratégia eleitoreira pode frustrar Bolsonaro no final, mas deixará um desafiador legado para o novo governante em 2023. Temas sensíveis como verbas para serviços públicos essenciais, programas sociais em geral, valorização do salário mínimo e salário de servidores públicos estão ameaçados. 
        Sim, 2023 será o ano em que o déficit do absurdo será finalmente do conhecimento do povo como a maior façanha antieconômica do governo Bolsonaro. Para reverter o buraco, serão necessários muito esforço e uma inteligência política tão absurda quanto o rombo.

Para saber mais
https://www.youtube.com/watch?v=xfXkKKrFu1Q (Eduardo Moreira- Guedes e Bolsonaro mentiram para você!)
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Efeito Janones (2ª parte)

        Ao fazer parte da rede de políticos apoiadores de Lula, o deputado mineiro André Janones mostrou a que veio. Como descrito no artigo da primeira parte da série, ele cobrou de Lula que se aproximasse do povão para falar de suas propostas e desmentir factoides em linguagem simples e popular. Na esfera virtual, pelos populares "Zap" e Telegram.
       Em verdade, a ideia tuitada de Janones foi um aviso crítico construtivo para toda a esquerda, para sair da bolha do academicismo que a tem caracterizado há muitos anos. A restrição aos sofisticados discursos de cátedra a tem engessado e afastado da base popular que a inspira. Agora é hora de partir para a prática.
        Não é para menos. Os bolsonaristas dominam essa esfera com facilidade e disseminam mentiras velhas e novas, com efeitos favoráveis aos Bolsonaro. Janones aponta que a convergência do contra-ataque para as citadas ferramentas é o meio que falta para evitar a perigosa virada do jogo eleitoral.
        A tática pelo visto deu efeito. A começar pela reação desesperada da equipe de Bolsonaro com a tuitada e o consentimento da equipe de Lula e bases mititantes para conquistar esses espaços. E como empurrão, a Carta do Povo de Eduardo Moreira já bomba, com crescente engajamento popular.
        Esse planejamento se refletiu também nas primeiras pesquisas da semana que começa: para 
já se reflete nas primeiras pesquisas da semana, com nova subida de Lula aumentando a distância em relação a Bolsonaro. 
        Até parece que Lula estava adivinhando o que viria quando o convidou para ampliar a rede de apoios políticos. É a segunda parte do efeito Janones.

Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=eOwj5WJ6qwY (Galãs Feios - Janones critica discurso elitista da carta para a democracia)
- https://www.cartacapital.com.br/politica/fsb-lula-volta-a-crescer-e-amplia-vantagem-sobre-bolsonaro
- https://www.youtube.com/watch?v=uSOvAT6tEgY (canal Desmascarando - nova subida de Lula)
- https://www.youtube.com/watch?v=K21TbjfNUXI (Eduardo Moreira - Carta do Povo, em corte de live)
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Vai que é tua, Xandão!

        O ministro do STF Alexandre de Moraes tomou posse da presidência do TSE. Diferente das posses anteriores, a de Moraes viralizou como matéria principal nos noticiosos de todos os portes e tendências. Não seria para menos mesmo. E não faltaram momentos inusitados e aplausos de pé pela plateia de políticos e... embaixadores.
        Em longos 2 anos Bolsonaro e Moraes tiveram um embate sem tréguas, por culpa exclusiva do primeiro, por incitar atos coletivos contra as instituições em geral, disseminação de mentiras em redes sociais e encontros públicos, e caos social amplo, atentando contra a República e a democracia.
        Em seu discurso de posse, Alexandre mostrou o tom característico de sua têmpera de xerife. Ao anunciar a posse de Moraes, o corregedor eleitoral Marcos Campbell Marques frisou: "ninguém melhor do que ele para conduzir as eleições de modo firme". Um recado direto para os Bolsonaro.
        Incômodos- acompanhado da primeira-dama e do filho Carlos, Bolsonaro foi protocolar sentando-se ao lado de Moraes. Carlos ficou entre a plateia e não aplaudiu em nenhum momento. Os três saíram de fininho, ignorados pelos demais, durante os cumprimentos finais e fotos no pós-cerimônia. 
        A conduta sisuda e protocolar de Bolsonaro não disfarçou seu visível incômodo com os recados diretos dos discursos de Campbell Marques e de Moraes, e com as presenças dos inimigos políticos petistas Lula e Dilma, nas primeiras cadeiras bem à sua frente.
        Talvez com exceção de Temer, os ex-presidentes pareciam plenos e felizes. Perceberam o recado para os Bolsonaro. Quanto ao sorriso de Dilma, ela compreendeu quando Marques apontou a deposição em 2016 como "fato extremo", enquanto o sisudo Temer o tempo todo evitou olhar para a sua esquerda.
        Alexandre de Moraes na presidência do TSE pode gerar efeitos importantes, talvez o principal deles o de talvez intimidar o presidente Bolsonaro e os militares mais bolsonaristas a moderarem no tom. Agora é a hora do xerife. Vai que é tua, Xandão!
        PS: antes da solenidade, Lula foi adulado pelos convidados em geral, inclusive embaixadores e graúdos do Judiciário, e alvo de olhares admirados em frente a Moraes e Bolsonaro. Este último teve que guardar solenemente a sua raiva até ir embora saindo (literalmente) pela porta dos fundos.
        
Para saber mais
- https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/08/16/alexandre-de-moraes-toma-posse-no-tse-e-enaltece-a-confianca-no-voto-eletronico
- https://www.migalhas.com.br/quentes/371815/confira-memes-da-posse-de-alexandre-de-moraes-na-presidencia-do-tse
- https://valor.globo.com/politica/noticia/2022/08/16/ninguem-melhor-que-moraes-para-conduzir-as-eleicoes-de-modo-firme-diz-corregedor-eleitoral.ghtml
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Ameaça de uberização

        Desde os anos 2000, a internet tornou possível o boom de ocupações de entregas de bens e serviços, graças à inovação do sistema e-commerce, maximizado pela pandemia de C19. Até aí, tudo bem, absorveu muita gente antes sem ocupação. Mas isso também envolveu alguns aspectos negativos, a serem explicados a seguir.
        No Brasil, a legislação trabalhista já reconhecia o serviço de entregador, uma profissão inexigível de alta escolaridade ou qualificação específica. Entretanto, muitos tinham vínculo informal com seus empregadores, principalmente no e-commerce, devido à frequente inexistência de sedes físicas.
        Os altos índices de informalidade na área constituíram para o ex-presidente Michel Temer a isca ideológica de sua política mercantilista, vista, portanto, como justificativa de "adaptar a lei trabalhista às exigências do mercado moderno e eletrônico, visando mais empregos": a reforma trabalhista.
        Em vigor desde 2017, a reforma trabalhista retirou vários direitos trabalhistas. Ou, quiçá, transferiu mais direitos para os empregadores para desonerar os encargos com empregados formais. Ainda previu novos vínculos trabalhistas com e-empresas sem sedes físicas, via aplicativos de celular.
        O sucessor Jair Bolsonaro e seu fiel ministro Paulo Guedes ainda viram "direitos excessivos" dos trabalhadores, dissolvendo mais alguns com novas alterações da lei de 2017. A moda das alterações bolsonaristas é a de "parceiro autônomo", ou "uberizado" entre seus críticos.
        Embora seja formal e garanta direitos resquiciais, a uberização é um vínculo frágil e precário, cuja natureza muitos "parceiros" mal compreendem. Para obter o valor de um SM, o colaborador por app tem que trabalhar em média até 6-8h semanais a mais do que um trabalhador de 40h.
         Como o Congresso e o governo já se apressam em votar a PEC32 (reforma administrativa, que findaria o RJU), o especialista Ricardo Antunes teme que os servidores públicos, já ameaçados há tempos, sejam convertidos à precarizada CLT, ou mesmo uberizados.
        Imaginem, um Estado completamente uberizado.  Será que sobrevive? Do pouco que sabemos, nem mesmo nos decantados EUA isso acontece.

Para saber mais
https://operamundi.uol.com.br/20-minutos/76151/ricardo-antunes-se-nao-lutarmos-todos-nos-seremos-uberizados
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Por que investigar o caso Marielle é um bem de todos?

        Negra e lésbica casada, a carioca Marielle Franco saiu do Complexo da Maré, onde cresceu, para estrear na política (PSOL) pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, ao ser eleita em 2016. Ela foi executada a tiros de fuzil, com o seu motorista Anderson, em rua da Lapa após um encontro com mulheres da periferia no citado e famoso bairro boêmio do centro da cidade.
        Da natureza da execução nem é preciso falar, pois já sabemos como foi, inclusive de sua autoria, Ronnie Lessa, ligado à milícia Escritório do Crime, de Rio das Pedras. Até aí, tudo bem. Mas isso é só a ponta inicial da investigação, pois tudo evidenciou que Lessa o fez a mando de alguém. E é aí que a PF se deparou com um problema.
        A mando de "autoridades superiores", a investigação em torno do crime foi interrompida, e delegados "rebeldes" tiveram suas atividades impedidas por exoneração ou "sumiço". Da evidência a patuleia carioca já suspeitava: era mando de alguém poderoso. Ou alguéns. E desde então não se investiga mais o contexto e os envolvidos "superiores" do crime.
        O que se revela um problema mais amplo do que uma questão da identidade da patuleia periférica e das famílias de policiais mortos que Marielle ajudava. É mais do que o simbólico Dia Marielle Franco de Luta Contra o Genocídio da População Negra e Periférica. É uma luta que envolve todos nós, a eficiência e seriedade institucionais e a sobrevivência da democracia.

Para saber mais
https://operamundi.uol.com.br/web-story/marielle-franco-todas-lutas-sao-nossas/
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A luta pela independência continua

        Segundo a historiografia oficial, em 7 de setembro de 1822 o então aspirante a imperador D. Pedro I, acompanhado de um grupo da cavalaria militar que o escoltava, a independência do Brasil. Apesar de Portugal só reconhecer o novo status mais tarde no mesmo ano, o dia 7/9 se tornaria especial para os brasileiros desde então.
        Desde que a data foi instituída pelo império nascente, a sua comemoração foi manifestada em desfile cívico, inicialmente restrita a militares, e depois nas poucas escolas básicas existentes, com a incorporação dos Hinos Nacional e da Independência. Atualmente, o desfile comemorativo só é obrigatório entre militares, incluindo escolas.
        Vale salientar que essa comemoração é da Independência relativa à Coroa Portuguesa, à qual a nossa querida Pindorama foi submetida a três longos séculos de exploração massiva de recursos biológicos e minerais, com uso da escravocracia. Sem explorar criticamente a nossa soberania, representada por tantos brazucas ilustres.
        Essa lacuna revela um importante problema educacional, no que se refere à consciência. A ditadura militar e o governo Bolsonaro são os dois principais exemplos de como a nossa noção de independência serve como maquiagem para um continuado mecanismo de colonização não oficial. 
        Essa neocolonização se revela na severa dependência econômica em que o Brasil se encontra, tendo que obedecer aos interesses do mercado financeiro internacional. Quanto os EUA, além do capital, ainda se repete a história anterior ao do Império, com a entrega de nossa rudimentar soberania. 
        Um estado de coisas que Bolsonaro, perto do fim de seu mandato,  pretende manter através do sequestro do dia 7/9 com as intenções mais escusas possíveis.

Para saber mais
https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2022/08/centrais-200-nomes-independencia-7-de-setembro/
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A Petrobrás e o Brasil em caso de reeleição

        No sobe e desce dos números da eleição de 2022, Lula e Bolsonaro têm se distanciado e se aproximado diversas vezes. Nesse momento, estamos em gradual novo distanciamento, mas ainda muito tímido, indicando a necessidade de Lula reconquistar os segmentos mais resistentes ao seu retorno.
        Ainda que o contexto seja bastante complexo, tal como o próprio Brasil, já percebemos que o fator de maior peso para a manutenção do peso eleitoral de Bolsonaro está na disseminação de fake news, ultimamente aquecida com temas de teor religioso, direcionada para o segmento evangélico pentecostal e neopentecostal.
        Embora sejam importantes no que tange ao progressivo aproximar do que promete ser o mais acalorado pleito eleitoral desde a redemocratização, a abordagem dos impactos das notícias falsas sobre o resultado das eleições e a distorção educativa das mesmas andam encobrindo um perigo importante, em caso de reeleição de Bolsonaro.
        O perigo está em um novo olhar ao destino da Petrobrás. Bem, como já sabemos, o governo Bolsonaro não é o primeiro a ambicionar a privatização da nossa petrolífera. Collor e Fernando Henrique já deram sinais, sem sucesso, e a ideia voltou a ser sinalizada com mais frequência após a lacuna petista. E Guedes tem se mostrado muito, mas muito ambicioso.
        Não é para menos. Hoje, quase 70% das ações da petrolífera estão em mãos de acionistas do mercado financeiro internacional, sustentados principalmente pela grana pública repassada pelo próprio governo federal, cujas ações são "mais caras" do que as estrangeiras graças aos aumentos absurdos dos combustíveis para o consumo interno.
        Para Guedes, o atual status da empresa, após o lucro recorde de R$ 60 bilhões só no primeiro semestre de 2022, a deixou "no ponto certo para ser privatizada", após a entrega de refinarias e da fábrica de fertilizantes, esta última hoje nas mãos de Putin. 
        O detalhe, que deixou o influencer Eduardo Moreira pistola, é a ideia por trás da declaração supracitada do sinistro Guedes. Em verdade, se o governo for reeleito, ele vai doar a Petrobrás ao exterior. Isso mesmo, literalmente, doar um patrimônio nacional, fruto de um movimento pelo petróleo 100% nacional iniciado há quase um século.
        Moreira (link do 2º vídeo) disse que o plano de doação é uma aventura mais temerária do que já o é a privataria em si. Tendo com base a informação de um analista sério do Ministério da Economia, o plano de Bolsonaro e Guedes arrisca a condenar um patrimônio nacional dos mais estratégicos e símbolo de soberania a virar pó. E, com ele, o próprio país.

Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=aQ3ZRiLqsGs (Eduardo Moreira - a letra real e difícil de engolir sobre a Petrobras)
- https://www.facebook.com/eduardomoreirabrasil/videos/segredo-revelado-sobre-o-plano-do-bolsonaro/1630857280452119/ (o verdadeiro plano de Bolsonaro e Guedes para a Petrobrás)
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CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...