A seguir, a terceira parte da série Curtas - análises rápidas. A fonte da imagem ao lado, escolhida, entre outras, como simbólica da série, é o Google.
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"Bolsonaro Genocida" vale ou não?
Praticamente fechado o relatório da CPI da C19 no Senado, o presidente Omar Aziz e o relator Renan Calheiros se discordaram a respeito da validação da expressão "crimes contra a humanidade" na incriminação do presidente Jair Bolsonaro. Mas, no final, mesmo favorável à acusação pelas evidências*, Renan aceitou não incluir.
Chega a campanha eleitoral e, com ela, o terror de predicados depreciativos e as incansáveis fake news, estas um combustível fundamental para o bolsonarismo. Xingado exaustivamente de alcoólatra, ladrão e agora diabólico para atrair a geral evangélica, Lula respondeu chamando Bolsonaro de genocida. Foi o suficiente para aumentar o piti presidencial.
Tendo-se em vista seus objetivos de satisfazer seu baixíssimo limiar de aceitação de críticas (e do seu ranking na corrida eleitoral) e usando o seu conceito distorcido de liberdade de expressão, Bolsonaro reagiu com pedido de censura a Lula e outros candidatos quanto ao termo "genocida". Ele não aceita de forma alguma essa acusação, sem prévias indicações.
Não é a primeira vez que Bolsonaro se demonstra ofendido em ser chamado de "genocida". Já pediu censura pública contra o termo, apesar das evidências reveladas na sua conduta anticientífica e insensível no ápice da pandemia de C19, e a grande cifra de mortos pela doença em menos de 2 anos (mais do que a guerra contra a Palestina, por exemplo). Mas não conseguiu calar o povo.
Talvez diferentemente do povo, talvez em campanha os candidatos evitem o termo, para evitar problemas com a Justiça eleitoral, agora presidida por Alexandre de Moraes, desafeto de Bolsonaro por mostrar rigor. Mas pode acontecer que o candidato à reeleição possa agir com propósito para causar distúrbio, talvez atrapalhar a chance de novos debates pools porventura marcados.
Em virtude dessa tese de urbanidade e da nova presidência do TSE, chamar Bolsonaro de genocida pode ser errado. Mas, para que isso valha, deve haver recíproca, ou seja, ele mesmo deve também se calar. O que, em tese, poderia explorar como "censura"' - ironicamente a mesma que quis aplicar aos adversários.
*Nota da A: discordo de Josias de Souza, pois a mortandade pela C19 e assassinatos de indígenas, associadas à conduta do governo indicam claramente o propósito.
Fonte: UOL (https://www.youtube.com/watch?v=zHOeZPcFP7U)
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Bolsonaro: o desespero que fake news não resolvem
Este blog já expôs o fato de políticos e partidos da esquerda explorarem pouco as páginas de redes sociais e canais de plataformas como Youtube e correlatos. Carlito Neto e Paulo Ghiraldelli têm se atentado a isso e se basearam na exemplar assiduidade dos bolsonaristas (com ressalvas, claro).
Bolsonaro é, de longe, o líder de maior assiduidade e audiência nas plataformas de redes sociais, estando à vontade na especialidade em profundir repetitivamente as mentiras, cuja novidade é apenas o anglicismo* que as nomeia. O risco de novas deleções não incomoda a caterva. A crítica de Carlito Neto foi traduzida na advertência de Janones a Lula e ao PT. Foi positivo, pois agregou mais audiência e novos inscritos em canais de esquerda independentes no Youtube e nas redes sociais, contribuindo para a melhora do petista nas pesquisas de opinião e intenção de votos.
Muito conhecidas, mentiras atribuindo obras petistas a Bolsonaro são acompanhadas hoje de novas fakes envolvendo políticos apoiadores de Lula, como Randolfe Rodrigues, a quem se atribui "controlar o STF", e a deepfake (edição de vídeo que altera áudios e imagens) com o Jornal Nacional "afirmando" liderança do nazifascista. Era para felicitar o presidente, mas...
São duas semanas infernais. Carta pela Democracia assinada até pela elite econômica, afagos a Lula na cerimônia da posse do desafeto Alexandre de Moraes no TSE, melhora do petista nas pesquisas de opinião e recusa de milicos ao 7/9 em seu favor o tornaram uma verdadeira bomba de nervos.
Como aprendemos nos altos e baixos da vida pelos ditados dos nossos avós, a mentira nos afaga e ilude, mas têm perna curta e mostra o caráter de seu autor. Desmentida de imediato como as demais, a deepfake desiludiu e envergonhou os incautos crédulos que iriam eleger Bolsonaro.
Em tempo: se ele estivesse à frente mesmo, não faria sentido tanta raiva e meios desesperados de obter apoios poderosos. Se tivesse ouvido seus pais e avós, talvez estivesse mais maduro e tranquilo. E quiçá, mais saudável ou não tão adoecido.
* Adoção de termos em inglês para designar um fenômeno ou objeto.
Fonte: observação analítica própria dos fatos passados em diversas fontes.
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Bolsonaro e a liberdade de corrosão
Como sabemos, Jair Bolsonaro foi eleito no discurso "nova política" do tripé antissistema: o combate à corrupção por meio de uma "tarefa antipolítica", o "sagrado" direito amplificado do acesso, posse e porte de armas e munição pelos "cidadãos de bem" contra o crime urbano, e a agenda de "costumes cristãos".
Nesse discurso, Bolsonaro colocou tais métodos como os meios simbólicos de aniquilação do que ele dizia ser o sinônimo de corrupção, violência e de erotização infantil: o PT de Lula. Foi nesses motes toscamente bem explicados que o ex-militar conseguiu derrotar o professor e ex-ministro petista Fernando Haddad, no 2º turno.
Assim, veio a "nova política": na educação, a despolitização social; o aparelhamento das instituições investigativas (no STF só tentou) para se proteger e os seus filhos (cada um com um cacho de crimes e ilicitudes); por trás de cada cidadão de bem, o crime organizado; por trás dos costumes cristãos, o aumento da violência de gênero intrafamiliar.
Mas, algo mostrou que Bolsonaro queria ir além: para aumentar o seu poder diante do Legislativo e do Judiciário, planejou com seu sinistro Paulo Guedes a PEC32 (reforma administrativa, ainda em trâmite) para enfraquecer a ação dos servidores públicos como complemento ao aparelhamento das instituições investigativas.
Enquanto o trâmite da citada PEC está paralisado por conta dos interesses eleitorais dos parlamentares congressistas (e não se garante de ir à frente), Bolsonaro se aproveitou da atenção popular à pandemia de C19 em 2020 para impor sigilos de 100 anos em uma série de fatos, todos relacionados à sua vida e às ilicitudes dos filhos e aliados.
Com o discurso de liberdade de expressão (em reação às ações do STF), Bolsonaro pregou a liberdade de corrosão, com o maior sistema de corrupção da nossa história política, o esgarçamento do tecido social (anomia), seguidos despautérios contra a lei e a ordem, a promoção da anticiência e doença e seguidos indecoros na sua função pública.
Tem jeito?- Exemplificando-se o neonazismo hitlerista e o aumento da violência social, se acredita não ter mais jeito. Engana-se: pela luta de classes se opera não o extermínio das políticas nefastas, mas sim a retirada delas do poder e sua superação, implantando-se a política de liberdade institucional plena, da educação e da ciência, da lei e da ordem.
Quando isso vai acontecer, depende muito de nós mesmos, e as eleições de 2022 se tornarão o ponto de partida, e atenção firme e duradoura ao que vier.
Fonte: análise pessoal da conjuntura contextual de vários fatos, com base em várias fontes noticiosas: Brasil de fato, G1 Globo, Jornalistas Livres, The Intercept, Opera Mundi, DCM, Brasil247, blogs de notícias e análises, e grandes mídias também valem.
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Capitalismo sustentável. Só que não
A ideia de meio ambiente/ecologia surgiu na Revolução Industrial. Seus significados evoluíram com o tempo, desde a noção de intocabilidade até o atual conceito de bioeconomia ou economia verde, ligada ao bom manejo de áreas naturais remanescentes, gerência-reciclagem de lixo, agroecologia e recuperação de áreas degradadas.
A ideia se baseou na observação da crescente degradação do ambiente urbano pela fumaça das indústrias então movidas a carvão, mau cheiro, doenças ocupacionais e morte de peixes e de vegetais pela poluição, e pelo desenvolvimento dos primeiros estudos em série do gradual aumento térmico, o futuro aquecimento global.
O problema é que a expansão da indústria proporcionou na época forte retorno de capital e empregos, e não só consolidou o capitalismo preexistente, como promoveu novas indústrias, o que a classe política percebeu como desenvolvimento nacional, e os empresários de então, como alto lucro para si e os seus.
Mas em paralelo, mesmo vista por políticos e empresários como antidesenvolvimentista, a discussão ecológica cresceu graças às pontuações científicas das crescentes médias térmicas globais, continuidade da degradação ambiental e a corrosiva chuva ácida.
Com o ganho de corpo da discussão ecológica, empresários e políticos viram que era melhor "abraçá-la" sem abrir mão das benesses capitalistas. Então surgiram indústrias como a de alimentos orgânicos e/ou veganos, de materiais reciclados e até mesmo em áreas de grande impacto, como a mineração.
Só que, com algumas exceções, os capitalistas podem se tornar gananciosos e praticar ilicitudes. A cultura elitista da carteirada tornou o Brasil fértil para maquiagens vendendo a falácia de empresas "sustentáveis" ou ecologicamente corretas.
Na era Bolsonaro, a maquiagem está plena. Através de bem elaborados mecanismos publicitários, com profissionais competentes e muito bem pagos, gigantes da mineração seduzem a patuleia e os políticos corruptos entregam praticamente de graça áreas de preservação permanente ou estações ecológicas com licenças ambientais criminosas.
Enquanto a patuleia presta a atenção nos fatos em Brasília e arredores, o garimpo ilegal e madeireiros invadem terras indígenas e as devastam exaustivamente, atingindo limites próximos ao ponto de irreversibilidade, enquanto matam ou escravizam os milenares ocupantes. Por trás do crime organizado na floresta, estão os empresários "ecologicamente corretos".
Para saber mais
- https://www.cgee.org.br/-/bioeconomia-conheca-o-conceito-de-economia-verde-para-o-desenvolvimento-sustentavel
- https://theintercept.com/2022/08/16/lobistas-mineracao-ilusao-garimpo-sustentavel/
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A resistência na desigualdade de gênero
As sociedades ocidentais se vangloriam de seu status civilizatório por fatores como acesso aos serviços públicos e investimentos em C&T de qualidade suficiente para haver índices sociais e desenvolvimento humano satisfatórios, e PIBs mais altos. Daí serem centrais para a grande mídia.
Entretanto, bons índices mascaram os valores culturais que escalonam patamares de cidadania de diferentes grupos. Em parte, a mídia tem culpa por dar mais relevância a discrepâncias em países mais pobres no mundo muçulmano do que às do ocidente cristão e rico.
Um exemplo ocidental díspar é o Brasil. Rico e com dados macroeconômicos razoáveis (já foram melhores) e IDH mediano, o país tem índices alarmantes de criminalidade e forte desigualdade de valor por grupo/classe, inclusive nas relações de gênero.
A desigualdade de gênero no Brasil sempre existiu, melhorando nos últimos anos pela legislação e mudanças impostas à mentalidade coletiva. Mas ainda há poucas mulheres na política, e a ascensão da extrema direita messiânica contribuiu para a violência de gênero retornar como regra relacional.
Pouca mulher na política se deve ao patriarcalismo sexista. O que não impediu alguns destaques, como Luiza Erundina, Heloísa Helena, Jandira Fhegali, Sâmia Bomfim, Talíria Petrone e outras. Dilma Rousseff presidiu o país, um marco. A vereadora Marielle Franco foi morta por milicianos em 2018.
Por serem políticas progressistas, elas incomodam. O sexismo foi camuflado por outros fatos na deposição de Dilma; Marielle foi morta por enfrentar criminosos. Mesmo de fora, Sônia Guajajara incomoda por ser indígena. E todas sofrem indecoros sexistas de seus (e suas) colegas adversários.
Todas essas mulheres se configuram como exemplos ímpares na política. Se destacam mais como combatentes, e não para decorar os espaços que ocupam, a impedir ou retardar novos retrocessos em trâmite. E resistem. Por tudo isso, tanto incomodam e resistem aos assédios depreciativos.
Mas, após cada comemoração de um progresso, elas sabem que são ainda muitos os desafios que devem ser enfrentados, inclusive nas pautas dos direitos sexuais e reprodutivos femininos defendidas. Elas provam que o sexo feminino não é frágil, e que motivação no embate não falta. Até a vitória!
Para saber mais
- https://www.brasildefato.com.br/2022/08/22/violencia-politica-de-genero-apos-ascensao-historica-2022-pode-ser-marco-no-combate-a-crimes
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SABATINAS
-Bolsonaro no JN: embate com empate
No esquentar dos tamborins eleitorais, a produção do telejornal Jornal Nacional (JN) da Rede Globo decidiu manter a sabatina com os presidenciáveis, um esquema bem interessante que estreou há 20 anos atrás, com Lula. Como na época bombou, para a emissora, o motivo é muito mais pela audiência do que para melhor conhecer os candidatos.
Neste 2022, o candidato do primeiro episódio da série foi Jair Bolsonaro, o "nosso" mandatário em curso. É certo que William Bonner e Renata Vasconcelos tenham se preparado para recebê-lo, muito mais pela conduta possivelmente explosiva devido ao estado de nervos do ex-militar com os fatos do que pela conhecidíssima hostilidade ideológica.
Mas, para a quase surpresa da produção da emissora, Bolsonaro não explodiu. Foi até controlado, apesar da hostilidade transparecida no olhar, na expressão facial e em algumas falas, como a insinuação de que Bonner o estaria motivando a ser ditador, ao responder à pergunta sobre as relações com o Centrão de Arthur Lira.
Embora as perguntas feitas mostrassem profissionalismo, a dupla pareceu evitar desafiar Bolsonaro em temas de enorme importância, como agressões gratuitas a jornalistas, drogas com militar em avião presidencial, as fortes evidências das rachadinhas, nem cobrou explicações dos sigilos seculares. Podia ter pressionado mais sobre a gestão da pandemia.
Mais tarde, no GloboNews, outra âncora apontou as duas lives de Bolsonaro desestimulando a procura de hospitais ao imitar a falta de ar dos doentes como mentira chocante. De fato choca, mas não foi a única. Bolsonaro mentiu descaradamente sobre as vacinas e os âncoras sequer o desmentiram.
Comparativamente, Bonner se impôs melhor, mas poderia ser mais assertivo e fazer perguntas de peso como as sobre os temas citados em falta. Renata foi mais comedida, percebendo a misoginia dele. No fundo, pareceram dois vira-latas caramelo que só alardeiam, mas não mordem.
Talvez por isso Bolsonaro às vezes ficava meio à vontade. Mas isso não significa vitória, que na prática terminou empatada. Mas, a definição do placar desta entrevista está nas mãos dos eleitores, cuja interpretação, mais emotiva, vai pesar a mão na balança de pesos da barbárie e da pacificação.
Fonte: impressão pessoal do vídeo da entrevista disponível em vários canais do Youtube.
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-Ciro no bistrô do JN
No segundo dia da série de sabatinas com os presidenciáveis, o candidato da vez foi o pedetista Ciro Gomes. Criado no Ceará, estado que já governou protagonizando uma reforma educacional elogiada pela mídia e criticada por grande parcela de educadores, Ciro ainda goza de certa popularidade no Estado, mas atrás de Lula.
Vale analisar comparativamente. Embora seja tão temperamental quanto Bolsonaro, Ciro tem certa razoabilidade ética, e talvez por isso a dupla de âncoras tenha se sentido mais à vontade - visível diferença com Bolsonaro. E, talvez por isso, a condução da entrevista tenha sido bastante morna e previsível.
Também à vontade, o pedetista começou relativamente bem, apresentando o seu livro sobre PND, o seu Programa Nacional de Desenvolvimento, um conjunto elogiado de propostas que atesta inteligência e experiência política do candidato. Mas também inclui propostas polêmicas e difíceis.
As políticas boas são desenvolvimentistas (infraestrutura, incentivos socioeconômicos, etc.), e já entre as polêmicas estão a famosa taxação de fortunas que todos prometem, e mudanças nas eleições de parlamentares, visando eliminar o nefasto Centrão. Utópicas demais para um país tão distópico.
Ele esteve tão à vontade que cometeu pecados ridículos. Paranoicamente reiterou a equalização de Lula e Bolsonaro; apresentou números de seu programa de governo sem conseguir explicar o que faria para atingi-los - sem ser cobrado pelos entrevistadores. Essa parte ficou no ar.
Outro costume terrível de Ciro é usar linguagem muito acadêmica, tanto nas críticas reiteradas aos adversários quanto nas explicações de seu PND. Uma linguagem que o distancia da patuleia que se vê impedida de compreender e impossibilita o tradicional corpo-a-corpo popular.
Apesar de morna como se ocorresse num requintado bistrô, a entrevista foi boa para que saibamos melhor quem é Ciro Gomes e a intenção da emissora. As falas podem desmotivar a bolsonarização de parte de seus eleitores, mas as depreciações sobre Lula podem inviabilizar suas chances eletivas futuras.
Para saber mais
- https://www.brasildefato.com.br/2022/08/23/em-entrevista-morna-no-jn-ciro-gomes-volta-a-igualar-pt-e-bolsonaro-e-insiste-em-plebiscitos
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-Lula: nas novidades, a velha pressão
Se houvesse sabatina no dia 24/8 no JN, o candidato seria André Janones. Mas este desistiu da campanha presidencial para engrossar a fila de apoios à campanha de Lula, com forte efeito nas redes sociais. E, quem diria, no dia 25/8 veio a sabatina mais esperada, com Lula.
Foi a mais esperada em decorrência de sua liderança firme nas pesquisas de preferência eleitoral popular, após quase quatro anos de uma era destrutiva. Mas a sabatina com Lula desperta expectativa também em seus inimigos políticos. Como o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro.
Ele se disse disposto a ajudar "voluntariamente" o JN para uma entrevista de arrasar com Lula, com os temas relativos à Lava-Jato e os processos que o levaram à prisão. Jogo para ter mais crédito junto aos eleitores paranaenses na corrida pelo Senado. Com 24%, ele está atrás de Álvaro Dias (35%).
Não foi preciso Moro na sabatina: Bonner e Renata tentaram evitar temas sociais mais profundos e importantes como a fome, as filas de ossos e carcaças que passaram a ter preço, altas taxas de informais e de desempregados - que Lula não deixou passar em branco, no mal explorado tema Economia.
A dupla de âncoras preferiu abordar o mais possível sobre a escândalos de corrupção nos governos anteriores, como o Petrolão (que existe desde a ditadura), o mensalão e a Lava-Jato. Lula não hesitou em responder sobre o lawfare* e defender a liberdade das instituições e da imprensa para denunciar os escândalos de corrupção.
Sem perder a urbanidade, o petista ainda caracterizou o governo Bolsonaro como conduzido por Arthur Lira e Paulo Guedes, enquanto Bolsonaro é "bobo da corte", e ainda fez piada com os âncoras. E ainda arrematou: "quero que o pobre tenha direito a um churrasco de picanha e cervejinha".
Nesse resumo analítico, restou avaliar a partida como um todo: sem dar chance aos jornalistas, o petista deu um show, posteriormente comemorado tanto por populares comuns quanto por militantes petistas, com gritos alegres a expor emoções retidas nesses quatro anos da era Bolsonaro.
Bolsonaristas convictos comemoram a audiência da sabatina de seu ídolo superior à do petista. Mas, vale lembrar de que audiência em si não determina ganho eleitoral. O determinante mais provável é a necessidade mais premente da grande massa popular que não consegue sustentar e alimentar a si e suas famílias ao mínimo contento necessário.
* Rede de intriga envolvendo autoridades e empresários com objetivo de interromper governos ou impedir chances eletivas de candidatos tidos como contrários a seus interesses.
Para saber mais
- https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/moro-se-oferece-para-entrevistar-lula-no-jornal-nacional-tenho-experiencia/
- https://www.cartacapital.com.br/tag/entrevista-de-lula/
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Sabatinas: a intenção oscilante da grande mídia
A série de sabatinas aos candidatos à presidência da República veio na fase decisiva da corrida eleitoral. As principais emissoras da TV aberta já disponibilizaram seu calendário e adaptam seus estúdios. A série da Globo, líder incontestável de audiência, já começou fervendo, atingindo a temperatura máxima com o presidenciável Lula.
Falando em audiência, por enquanto o maior pico alcançado pelo telejornal global do horário nobre foi com a primeira entrevista, feita com Jair Bolsonaro em 22/8. Ainda que, em comparação com a feita com Lula neste dia 25/8, a condução da entrevista não tenha invocado na mesma catarse que a da quinta-feira.
Embora já tenham feito entrevistas prévias com candidatos aos governos estaduais, as demais emissoras não chamaram tanto a atenção da patuleia quanto a Globo. Os fatores são óbvios: os sabatinados são presidenciáveis, o que gera mais expectativa; e a conduta diferenciada dos entrevistadores com eles.
Outro fator é a postura dos entrevistadores conforme o nome. O tratamento diferente foi marcante para cada sabatinado até agora. Com Bolsonaro, um respeito quase temeroso; com Ciro, um relaxante clima de bistrô; e com Lula, quase um quintal com cachorros bravos. Até os principais focos diferiram.
Com Bolsonaro, se centrou na gestão da pandemia e o indecoro com ministros do STF, sem cobrar explicações dos escândalos. Com Ciro foi a economia, sem cobrar explicações de metas em linguagem acessível. E com Lula se centrou mais na corrupção em governos anteriores e muito pouco na economia e política social.
Vale avaliar os candidatos também. Enquanto Ciro estava totalmente à vontade, Bolsonaro teve postura agressiva mesmo controlado, e Lula se portou como gentleman popular, que não se intimidou mesmo nos momentos mais espinhosos.
A análise já definiria um placar para candidatos e para os entrevistadores. das três entrevistas, duas deram empate: com Bolsonaro e Ciro. Com Lula, a mídia não esperava perder, mas reconheceu Como num pedido de desculpas, Bonner disse: "o senhor não deve nada à Justiça".
Tanto os bolsonaristas quanto os lulistas se arrebataram nos seus respectivos dias. Mas, como reitero, uma sabatina e a reação emotiva coletiva não garantem uma vitória eleitoral. Ainda teremos mais entrevistas e debates em pouco mais de um mês do pleito. Em silenciosa expectativa, vamos seguindo adiante.
Para saber mais
- https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2022/08/23/interna_politica,1388338/bolsonaro-no-jornal-nacional-confira-os-destaques-da-sabatina.shtml
- https://exame.com/brasil/lula-no-jornal-nacional-veja-os-principais-destaques-da-entrevista/
- https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/lula-gerou-mais-engajamento-que-bolsonaro-e-ciro-no-jornal-nacional-mostra-levantamento/
- https://www.moneytimes.com.br/na-sabatina-de-lula-no-jn-o-que-chamou-a-atencao-foi-a-postura-dos-entrevistadores/
- https://www.poder360.com.br/eleicoes/sabatina-de-lula-no-jornal-nacional-vira-meme-nas-redes/
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Contrarreforma, a obsessão de Lula
Antes mesmo do Brasil, o governo da Espanha havia sancionado uma nova lei que reformou a legislação trabalhista, com maior distribuição de direitos aos empregadores e em detrimento das classes trabalhadoras. Essa linha reformista nas leis trabalhistas também afetou outros países.
Cientes disso, o governo Temer lançou a versão brazuca que, como já abordado aqui, vendendo a falsa informação, alardeada pela grande mídia, de que levaria a um boom de empregos. Resultou então numa lei que quase findou a CLT, sobrando direitos aos empregadores e deveres aos trabalhadores.
Mesmo prevendo maior liberdade quanto aos vínculos trabalhistas e facilidade nas negociações, a nova CLT não cumpriu seu papel de reverter o aumento do desemprego a partir de 2015. Os vínculos mais frágeis e salários mais baixos promoveram mais demissões do que novas admissões.
Após os mais de 14% de desemprego na pandemia de C19, o governo Bolsonaro se felicitou com algumas milhares de novas contratações formais: uma boa motivação eleitoral. As contratações foram, na prática, extremamente precárias, quase informais, e média salarial inferior ao salário-mínimo. Isso resultou do "ou tem emprego ou tem direito", na retórica bolsonarista.
Normalmente, percebemos na cultura mercantilista no Brasil que quanto menos direitos, melhor. Por isso, Bolsonaro dissera em 2019: "ou tem emprego ou tem direito", emendando que "o povo está com direitos demais, vamos mudar isso aí". Daí, a carteira verde-amarela e outras alterações na lei.
No tour pela Europa em novembro de 2021, Lula conversou com o premiê da Espanha, por quem soube da contrarreforma na legislação sobre políticas públicas, que contemplou a reestatização na seara de serviços públicos e o fortalecimento dos direitos trabalhistas. Ambos conversaram novamente em janeiro deste ano
Naquele tour pela Europa em novembro de 2021, Lula conversou com o premiê da Espanha, por quem soube da contrarreforma que fortaleceu vínculos e direitos trabalhistas e reestatizou serviços públicos, como saúde, educação, saneamento básico e o subsolo.
Para saber mais
- https://www.nexojornal.com.br/expresso/2022/01/12/A-contrarreforma-trabalhista-da-Espanha-que-inspira-Lula
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