quarta-feira, 2 de novembro de 2022

CURTAS-ANÁLISES RÁPIDAS - PARTE 8

 

Segue aqui mais uma sessão de análises curtas da série Curtas - análises rápidas.
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Perigosos anúncios de um golpe

        Estamos dentro da última semana que antecede o dia D do pleito em que definiremos o futuro do país e de nossas próprias vidas. As cartas não só já estavam na mesa, como o jogo eleitoral já corre nervosamente numa situação eleitoral já definida na estabilidade dos dados das pesquisas e de fatos a seguir, alguns anteriores.
        Na semana anterior, o atual presidente do TSE Xandão deu 48h para que a pasta da Defesa apresente o relatório das FAs sobre a segurança das urnas eletrônicas. Ainda que saibamos que a pasta não viu falha alguma, Bolsonaro decretou sigilo do relatório e mandou o ministro Paulo César resistir à determinação do TSE.
        Cumprindo prisão domiciliar em sua chácara em Levy Gasparian, interior do Rio de Janeiro, o ex-deputado e presidente do PTB Roberto Jefferson foi abordado por policiais federais sob ordem do STF. Resistindo à ordem de prisão por mais um crime político, atirou nos PFs ferindo-os nas cabeças. Ele portava fuzil e granada.
        No mesmo domingo, embalado pelo recorde global de mais de 1 milhão de visualizações de sua entrevista no Flow, Lula foi para novo comício em Natal, RN, onde é líder disparado. Durante o evento lotado, houve um tiroteio envolvendo traficantes de comunidades próximas.
        A politização no seio religioso continua como ataques à parte católica e o endeusamento substitutivo a Bolsonaro em igrejas das correntes pentecostal e neopentecostal, com preocupação entre lideranças católicas e protestantes esclarecidas.
        Como a abordagem policial ao petebista repercutiu muito na mídia televisiva hegemônica, Jair Bolsonaro fez um rápido pronunciamento pelo qual supostamente elogia os policiais que “abordaram um bandido", ironicamente seu aliado. Depois, disse que "nunca tirei fotos com ele", mentira exposta em fotos nas mídias e redes sociais.
        Embora paralelos, todos os fatos narrados têm uma amarra invisível e silenciosa, segundo alguns analistas. Faz sentido. O caso Roberto Jefferson ecoa fortemente na mídia, abafando a da proposta de congelar salários e benefícios sociais, o tiroteio em Natal, a politização religiosa e o relatório do MDefesa sobre as urnas.
        Analistas apontam que, embora distintos, todos esses fatos têm uma amarra invisível e silenciosa. Faz sentido, pois o caso do petebista está muito midiático abafando ao público os demais citados, inclusive a proposta de congelamento de salários e benefícios previdenciários.

Para saber mais
caso Roberto Jefferson (diversas mídias)
https://www.brasildefato.com.br/2022/10/24/tiros-interrompem-ato-pro-lula-no-rn-com-presenca-da-governadora-fatima-bezerra (tiroteio em Natal)
- https://www.brasildefato.com.br/2022/10/22/crescem-ataques-de-bolsonaristas-a-igreja-catolica-fieis-padres-e-ate-o-papa-sao-alvo
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Roberto Jefferson: de aliado a dor de cabeça

        Os últimos fatos protagonizados pelo presidente nacional do PTB Roberto Jefferson em Levy Gasparian, ainda bastante midiatizados e na boca do povo, abalaram as estruturas da campanha do presidente Jair Bolsonaro, que luta pela reeleição.
        Apesar de turrão e comprovadamente corrupto, Roberto Jefferson mostrou, nos fatos, ser um dos mais ferrenhos bolsonaristas, com condutas antiéticas como resistir à prisão, atirar em PFs, etc. Em seu governo desastroso, Bolsonaro tem contado com ele.
        A aliança é antiga: em 2002, Jefferson empregou Eduardo Bolsonaro, então com 18 anos e estudante de Direito na UFRJ, em cargo na Câmara. Ele pavimentou o nepotismo dos Bolsonaro na esfera federal. Hoje, Eduardo é deputado e Flávio, senador. 
        Mesmo cassado por corrupção ativa e ultimamente cumprindo pena domiciliar, o petebista tem comandado a campanha de Bolsonaro no município do interior do RJ, disseminando fake news mesmo sem poder (sentenciado em prisão domiciliar não pode acessar redes sociais). 
        Mas, após se entregar à PF, Jefferson declarou: “não admito abandono”, em alusão ao costume de Bolsonaro de desprezar apoiadores que terminam presos pelas balbúrdias, e ainda arrematou: “ou eu conto tudo”.
        Ironicamente, a fala de Jefferson veio após pronunciamento do mandatário em cadeia de TV, que o tratou como “bandido”, enquanto a PF se desmoralizou em conversa amistosa com o pedetista, na suspeita de que atirar e jogar granadas nos policiais foi factoide a serviço do bolsonarismo.
        Os acontecimentos do último domingo não só desmoralizaram a PF, como também piorou a crise na campanha de Bolsonaro, que não sabe mais o que fazer: ou mantém Jefferson como aliado, ou o rechaça de vez. Mas, de toda e qualquer forma, já é uma tremenda dor de cabeça.

Para saber mais
https://www.estadao.com.br/politica/renegado-agora-por-bolsonaro-roberto-jefferson-empregou-filho-do-presidente-na-camara/
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A Petrobrás no governo mais corrupto do mundo

        
Na era petista, a midiatização dos escândalos de corrupção alcançou o seu ápice, tendo-se, na coletânea, os escândalos financeiros como o mensalão (que envolveu a Petrobrás) e a Lava Jato, que envolveu a megaempreiteira Odebrecht.
        Tais escândalos contribuíram para a estigmatização de uma era na qual a democracia pós-ditadura alcançou o seu ápice. Manifestos de direita anticorrupção em sucessão ascenderam o extremista Jair Bolsonaro à presidência da República.
        Bolsonaro explorou isso ao seu jeito no mote moralista de costumes, família, cristianismo e a caça às bruxas da "corrupção petista" e do "comunismo globalista", além de um ufanismo nacionalista.
        Mas Bolsonaro bateu continência à bandeira dos EUA, polícias mataram mais inocentes, abusos domésticos explodiram, parentes e amigos trocaram tiros em brigas torpes, morreram quase 1 milhão pela pandemia, violência e outras causas. E, claro, investigações de corrupção e outros crimes foram travadas por sigilos.
        No âmbito da corrupção estão envolvidos 107 imóveis comprados por uma só família em 30 anos (parte em grana viva de R$ 26 milhões); recordes de dividendos da Petrobras em 2021 (R$ 72,71 bi) e 2022 (R$ 86,07 bi) para acionistas estrangeiros, mediante hiperinflação dos preços dos combustíveis. Fora o orçamento secreto de R$ 70 bilhões neste fim de ano.
        Sem contar o tráfico de armas, o conjunto supracitado revela o governo Bolsonaro como o mais corrupto da história do pós-ditadura, e seus escândalos "os maiores do planeta Terra" segundo Simone Tebet em entrevista a um podcast disponível no Youtube.
        Ao assumir o próximo governo, Lula enfrentará os maiores desafios de sua carreira, herdados do bolsonarismo: o centrão inchado pelo orçamento secreto, a possível hostilidade de bolsonaristas ressentidos (evangélicos ou não) e um déficit recorde, em centenas de bilhões. E a ferocidade do sistema neoliberal.
        
Para saber mais
https://demori.substack.com/p/o-maior-assalto-da-historia-ao-cofres?utm_source=substack&utm_campaign=post_embed&utm_medium=email (newsletter por e-mail em outubro/2022)
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Na guerra eleitoral, privataria ambiental

        A política ambiental foi uma das pautas da comemorada sabatina de Lula no Jornal Nacional antes do 1º turno das eleições. Assunto perfeitamente necessário, considerando-se a destrutiva era Bolsonaro. Foi interessante que o petista responsabilizou em parte o agro pelo problema, contra a grande mídia que geralmente o vitimiza. 
        Agora, enquanto as eleições, pesquisas eleitorais de última hora e bolsonarices roubam a atenção pública, silenciosas canetadas têm se seguido à revelia da grande imprensa. A atenção ao tema tem sido das mídias independentes ou de esquerda.
        Na memória popular só tem a Amazônia, e muito mal o resto. Quase ninguém sabe que a metade da população de onças-pintadas está em risco de morte em consequência dos grandes incêndios que consumiram 40% da extensão do Pantanal em 2021.
        Reeleito, Zema (MG) entregou mais parques estaduais à iniciativa privada. Alguns dizem: "calma, é só concessão!", esquecendo-se de que a nossa experiência é grande o suficiente para sabermos que concessão e privataria são uma coisa só, e anuncia que MG vai virar uma peneira de mineradoras ameaçando geral por todo lado.
        Em contexto nacional, se lembram de quando Ricardo Salles anunciou liberar as áreas de manguezais e restingas à especulação imobiliária? Pois é. Veio a gritaria e a ideia abafou, mas se seguiu: foi autorizada por Tarcísio de Freitas, garupa de motociatas de Bolsonaro, a entrega de parte do litoral de Pernambuco para a Bemisa.
        Com manguezais, restingas e praias em estado natural, a ilha de Cocaia, em Cabo de Santo Agostinho, é um lindo paraíso com pesca artesanal de frutos do mar para pratos típicos servidos nos caríssimos restaurantes frequentados por ricaços e turistas estrangeiros dispostos a gastar.
        A Bemisa é do grupo Opportunity, dos bilionários Paulo Guedes e Daniel Dantas, este também minerador, pecuarista e especulador de imóveis rurais. O grupo coleciona multas do Ibama de R$ 323 milhões, de 2015 a 2019. O ex-Ibama Eduardo Bim anulou R$ 94 milhões da Agro Sta. Bárbara (AgroSB), integrante do grupo, ainda em 2019.
        Livre da Equipe Nacional de Instrução do Ibama, a AgroSB tem mais de 500 mil hectares de terra e igualmente em cabeças de gado. Após a saída de Bim, o então ministro¹ Tarcísio deu Cocaia. Uma privataria ambiental ensaiada na calada noturna que só veio à tona na presente guerra eleitoral. E na qual a grande mídia sequer se toca.
        Na privataria ambiental, estes são apenas dois exemplos. Há outros em curso nesse fim da era Bolsonaro, que não podemos descartar, mesmo não divulgados na grande mídia. Quiçá essa eleição final seja tão decisiva para findar essa perversidade. Antes tarde do que nunca.

Nota da autoria:
¹ Pasta da Infraestrutura.

Para saber mais
https://www.brasildefato.com.br/2022/10/25/governo-bolsonaro-entrega-ilha-em-pe-para-mineradora-do-maior-infrator-ambiental-do-brasil.
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Um debate definitivo

        Estúdio da rede Globo, 28 de outubro de 2022. Estava o ambiente pronto para receber os candidatos Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva para o último debate antes da finalíssima de domingo, que em fim decidirá o futuro da nação para o período 2023-27.
        Ainda nos corredores, os presidenciáveis concederam suas falas, enquanto o jornalista William Bonner e equipe de produção estavam nos preparos finais, e 100 cidadãos indecisos e jornalistas de outras mídias eram conduzidos a um auditório com telão para assistir ao debate.
        Produção- o programa foi conduzido em 4 blocos intercalados com momentos de relax e os candidatos falarem com as respectivas equipes, enquanto os 100 cidadãos avaliavam os candidatos em cada bloco assistido aos profissionais presentes.
        Embate- o debate entre os presidenciáveis se transformou num embate. Lula foi bem centrado e controlado, e mesmo falhando em uns momentos, soube manipular a situação e administrou melhor o tempo.
        Bolsonaro já estava tenso quando chegou com sua equipe ao estúdio. Desestabilizar o petista era a sua meta, e para isso partiu para os ataques pessoais, sem alcançar resultado. Foi manipulado pelo adversário, que soube administrar o debate.
        Mediador- âncora do JN há décadas, o jornalistas William Bonner estava mais calmo, por ser apenas dois candidatos, ainda que fortemente rivais entre si, para mediar. Esteve calmo e firme o tempo todo e soube conduzir o programa.
        Avaliação- teve critérios subjetivos (conduta, comunicação, expressão) e objetivos (os temas focados). As avaliações eram calculadas estatisticamente, mas sem valor de medida para intenção de votos, ainda que pesquisas posteriores considerassem os efeitos do debate.
        Segundo cálculos levantados, Lula foi bem avaliado, variando de 51 a 57%, com ápice no 3º bloco e menor no 1º. Bolsonaro foi melhor no 1º e pior no 3º, com ligeira melhora no último, mas ainda assim, inferior ao petista.
        Os comportamentos dos candidatos definiram o tom do debate e, também, o rumo da finalíssima eleitoral. Os números apenas atestaram. A perda de compostura de um diante do controle total do outro mostrou um debate muito definitivo para a finalíssima desse domingo.

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Carla Zambelli e o fim de Bolsonaro

         
        Jair Bolsonaro construiu uma carreira política ininterrupta, iniciada com a vereança em 1990, seguindo para o Congresso em sete mandatos seguidos como deputado federal, e chegou ao ápice em 2018, elegendo-se presidente da República. Nesse contexto, ele é uma raridade.
        Como sabemos, ele se elegeu refletindo e explorando valores do Brasil profundo, com moralismo de costumes, heteronormatividade, patriarcalismo, velhos preconceitos, militarismo, armamentismo e uma política mística, catastrofista e nazista: o bolsonarismo.
        Embora Bolsonaro fosse mais conhecido a partir do petismo, o bolsonarismo surgiu no início da carreira política, com simpatizantes saudosistas da ditadura militar. No petismo, fez "amigos" das bancadas bíblica e da bala no Congresso.
        Atraiu novos nomes que foram eleitos em 2018 na sua esteira, entre eles mulheres como Joyce Hasselmann, Soraia Thronicke e Carla Zambelli. Dos três exemplos, somente Zambelli se mantém com fidelidade canina a Bolsonaro, o acompanhando onde pudesse ir.
        Ela ganhou notoriedade em suas postagens de fake news em redes sociais e entrevistas em alguns podcasts no Youtube. Numa das entrevistas ela foi embora ao dar desculpa de ir ao banheiro. Se isso poderia ser suficiente para a sua fama, não foi o seu máximo.
        No dia 29/10, véspera do 2º turno, ela desceu com seguranças numa rua dos Jardins, em Sampa, tropeçando logo após um cidadão negro passar. Rapidamente ela o acusou mirando-o e seguindo-o com arma em punho. A correria se seguiu, o cidadão entrou num bar, e ali ela o teria cercado e o liberado após ele pedir desculpas.
        Um ápice de fama nada bom. Afinal, ela cometeu os crimes de porte ilegal de arma na véspera eleitoral, falso testemunho (ou calúnia), ameaça e racismo. Se ela quis aparecer bem nas ruas de um bairro nobre, conseguiu. Mas, quem corre risco é a sua carreira política, levando o presidente Bolsonaro a tiracolo.

Notas da autoria
¹ Manifestos populares gigantes e multipartidários em todo o país, na era Dilma.
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