terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Análise: outros genocídios de Bolsonaro

 

        Repercute no mundo a comoção pela coletânea de fotografias da crise humanitária do povo indígena Yanomami, e revolta pelo crescente número de evidências cabais do descaso do governo Bolsonaro com os originários. Estima-se que a era Bolsonaro tenha ceifado mais de 2000 do total de 890 mil indígenas do país.
            No artigo anterior, os arts. 6º e 7º do Estatuto de Roma se confirmam nas provas da crise citada, mas cabe amplificar a dimensão dessa necropolítica em efeitos econômicos, cortes e disseminação de doença infecciosa grave, como se fazia no passado.
            Efeitos econômicos- o então ministro Paulo Guedes impôs muitos cortes em benefícios sociais diversos e trabalhistas, implicando em baixas na renda, no consumo alimentar, na habitação e outras necessidades. Serviços públicos essenciais sofreram cortes praticamente no talo.
            Resultados: inflação maior, 33 milhões com fome, de 90 a 120 milhões com todo tipo de insegurança alimentar, quase 30 milhões extremamente pobres, reservas alimentares do Conab vazias, ensino e saúde mais precarizados em recursos humanos e materiais, desemprego real não corrigido.
            A grave crise habitacional combinada à inflação e queda da renda/desemprego explodiu a geral sem-teto. Parte das famílias sem-teto ocupa hoje imóveis públicos e privados abandonados. A falta alimentar e a entrega a vícios favoreceram a explosão de furtos e de abordagens indesejadas.
            Saúde- Das 700 mil fatalidades pela C19, 4000 eram profissionais de saúde. Recordes fatais se anunciaram em surtos de dengue, tuberculose e doenças negligenciadas como malária. O Paraná lidera com a dengue e o Rio está com a tuberculose, esta última também por piora do saneamento nas periferias.
            As carências na saúde pública sempre existiram. A julgar pelos meandros da Lei 8080/1990, que o criou, o SUS já veio ao mundo subinvestido, e ainda assim, antes ele do que nada. Só que na era Bolsonaro não houve só subinvestimento, houve desinvestimento: em hospitais e institutos federais, referências nacionais, faltaram até os insumos mais básicos, como gazes, algodão, luvas, agulhas e máscaras.
            Meio ambiente/populações- o período 2019-22 foi de recordes de devastação ambiental. A Amazônia sozinha sofreu 61% de desmate a mais em 2022 do que no ano anterior. A Mata Atlântica e o cerrado sofreram cifras semelhantes de perda. Os mais afetados, obviamente, são populações indígenas e tradicionais.
            Por serem diretamente afetados pela devastação que ameaça ou atinge suas terras, indígenas e famílias camponesas são os mais afetados. Ainda se investiga o número total de homicídios de lideranças da floresta e de pequenos assentamentos produtivos.
            O que sabemos agora da crise Yanomami (que ainda tem mais 15 mil pessoas em risco) é inferível para outras comunidades indígenas afetadas pela mineração e outras atividades econômicas ilegais, que afetam mais de 100 diferentes terras indígenas. 
            A pedido do STF, o governo Lula age para estancar o flagelo, mas é um desafio enorme. Ainda assim se coloca disposto a levar a ordem a  cabo, enquanto o STF torna todo o governo Bolsonaro na condição de investigado. Sim, todo o governo, o que significa incluir toda a caterva que atuou no centro do poder nos últimos 4 anos.

            Tal como a mineração escravista de coltan (columbita + tantalita) na África ocidental, o garimpo ilegal nas terras indígenas brasileiras é praticamente incombatível. Os interessados maiores nas matérias primas são gigantes de eletrônicos como Apple, Samsung, Motorola, Xiaomi, Sony, Asus e outros.
            Aqui como na África, os nativos são submetidos a ameaças de morte, se não forem mortos de fato. Na Amazônia, clubes de tiro em torno das terras indígenas possivelmente dão suporte aos criminosos, o que merece ser investigado pela PF sobre possíveis assassinatos e desaparecimentos.
            Como se vê, são muitas as facetas do genocídio imputadas só à era Bolsonaro. Levantar números dos mortos também fará parte do governo da vida de Lula. É muito trabalho, mas já está de bom tamanho que todos saibam da dimensão da política de morte, para que ela nunca mais volte.

Para saber mais

- https://www.diariodocentrodomundo.com.br/ricardo-barros-vira-socio-de-empresa-de-mineracao-para-extrair-manganes-no-para/

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quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Análise: Genocídio indígena, o nazismo na floresta

 

        No meu governo, indígenas não terão nem 1 cm de terra”. "Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema". “Só a terra Yanomami é 2 vezes o tamanho do estado do RJ, para uns 10 mil índios”. Jair Bolsonaro em campanha e no governo.

        Art. 6º. Genocídio. [...] qualquer um dos atos mencionados a seguir, praticados com a intenção de destruir total ou parcialmente um grupo nacional, étnico, racial ou religioso como tal. Matar membros do grupo; Causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; Submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física, total ou parcial [...]”
        Art 7º Crimes contra a humanidade [...] qualquer um dos seguintes atos praticados como parte de ataque generalizado ou sistemático contra população civil [...]. Homicídio; Extermínio; Escravidão; Deportação ou transferência forçada de populações; [...] Privação grave de liberdade; Tortura; Estupro, escravidão sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou outros abusos sexuais [...]; apartheid; desaparecimento forçado”. Estatuto de Roma 2012, que cria o TPI (com adaptações).

        As frases propaladas por Jair Bolsonaro revelavam o seu caráter anti-indígena. Já presidente, ele não demarcou nenhuma nova terra indígena, agradando os seus apoiadores mais fanáticos. Em seu governo promoveu encontros festivos com indígenas para encobrir seus crimes e... disseminar o Corona.
        Agora no governo Lula III, entre os sigilos de Bolsonaro paulatinamente revelados, surgem os números de uma nova tragédia: a dos indígenas. Não que ninguém soubesse das investidas de criminosos campais diversos. Mas de fato, ninguém soube ad dimensão do problema. Até o fim da última semana.
        Fotos de esquálidos Yanomamis severamente famintos e acometidos de doenças diversas pioradas pela fome comoveram internautas brasileiros e lá fora. De imediato, o MS de Nísia Trindade reforçou a Força Nacional do SUS para atender a centenas de desnutridos e doentes. Para aumentar a comoção coletiva, o terrível saldo fatal.
        Dados oficiais apontam 570 infantes mortos pela fome e mais de 130 adultos e crianças com complicações da fome e doenças como pneumonia e outras infecções. Acompanhado dos ministros Wellington Dias, Sonia Guajajara e Joênia Wapichana, Lula foi a Roraima visitar os indígenas e as instalações de saúde.
        Na visita, líderes indígenas relataram a Lula que dragas sugaram crianças Yanomamis e depois as cuspiram ao meio do rio, e que mulheres e adolescentes foram sequestradas para fins sexuais. Nos assassinatos relatados, os números não foram definidos.

Flagelo antigo
        O extermínio de indígenas se deu desde a colonização, com justificativas diferentes. Segundo a FUNAI, dos 3,5 milhões estimados em 1500, a população foi reduzida a 75 mil em 1980. Políticas indigenistas só avançaram após a ditadura militar em 1985. Em 2015 a população ultrapassou 900 mil segundo o IBGE 2021.
        Os motivos variam no tempo. Na colonização, bandeirantes mataram índios insubmissos; no Império, a aquisição de terras e fundação de novas cidades; e na República, o “progresso” na mineração e expansão da elite agrícola.
        Estima-se que nos 21 anos da ditadura militar, ações diversas mataram 8350 indígenas. Daí até 2017, a estimativa diminuiu, até Bolsonaro assumir a presidência da República.
        Detalhe em tempo: o extermínio histórico dos indígenas no Brasil não deve ser visto só fisicamente. Ele também se define como o fim das identidades ancestrais, o embranquecimento sociocultural. A conversão religiosa é um exemplo histórico marcante visto tanto agora quanto na ditadura e no passado longínquo.  

Era Bolsonaro
        O triste revival da ditadura produziu uma cifra inacreditável de mortes indígenas: mais de 2625, fora as subnotificações. Do total estimado, mais de 700 são Yanomami, pelas mais diversas causas evitáveis, inclusive intoxicações¹. O total de homicídios ainda é incerto.  Foram 656 mortes anuais, contra 397 anuais pela ditadura.
        Suspeita de sequestro de bebês indígenas, Damares Alves é investigada por impedir ajuda de água, alimentar e médica, e de financiar, com verba da saúde indígena, uma ONG evangélica ofertando aviões e helicópteros para missionários irem cristianizar povos isolados na Amazônia profunda.
        Exonerado em 2019 por denunciar garimpo ilegal em terra Yanomami, Bruno Pereira, da Funai, foi assassinado junto com Dom Philips ao denunciar caça e pesca ilegais no vale do Javari. A repercussão global dos homicídios ainda ressoa e já sepultou, na época, a reputação resquicial de Bolsonaro.
        Notícia mais recente da UOL revela que a crise humanitária pode revelar um número ainda maior de crianças mortas de fome, doenças evitáveis, malária e intoxicações.

        A extensa Terra Indígena Yanomami (TIY) abriga 8 povos indígenas. Os 7 outros são os ye’kwana e os isolados da Serra da Estrutura, do Amajari, do Auaris/Fronteira, do Baixo Rio Cauaburis, os Parawa’u e os Surucucu/Kataroa. É uma área de grande riqueza biológica e mineral, alvo de empresários vorazes que agem ao arrepio da lei.
        Para servidores da saúde indígena na Amazônia, a tragédia Yanomami é a maior crise humana regional já vista, e pode engrossar com novas investigações, incluindo demais povos acessados. Liberta da trava de Bolsonaro, a PF levantará mais dados investigativos da crise em breve.
        As revelações dos sigilos de Bolsonaro chancelam novas investigações sobre o total de fatalidades originárias em 4 anos. A média de 656/ano poderá inchar: segundo dados do MapBiomas, o garimpo ilegal aumentou 3.350% na TIY no período 2016-22, das eras Temer e Bolsonaro.
        A live da UOL com a ministra Sonia Guajajara antes da eleição revelou que a terra indígena Guajajara (TIG) no Maranhão sofreu mais invasões por gente dos fazendeiros e PMs desde a era Temer, com pico em 2019-22. Apontou ainda homicídios de líderes no interior nordestino, cuja autoria inclui com maior frequência os PMs.
        Genocídio- a crise humanitária dos Yanomamis materializa desde 2020 a intenção genocida de Bolsonaro, bem como denúncias do gênero já enviadas ao Tribunal de Haia, criado pelo Estatuto de Roma em 2012. Nova denúncia já foi elaborada por advogado indígena incluindo os registros fotográficos e textuais do recente e comovente fato.
        Outras autorias- Bolsonaro é o pior, mas não o único em crimes contra indígenas. No Centro-Oeste, terra do agro, políticos ruralistas protegem crimes do agro. No MS, os Terena foram forçosamente migrados e fragmentados em pequenos grupos refugiados em terras demarcadas e áreas preservadas. Eis os crimes do Art. 7º do Estatuto de Roma.
        Em MG, a mineração ameaça os povos do Norte e do Leste, mesmo em terras demarcadas, pelos relatos dos Krenak e dos Xacriabás. Ricamente financiado por gigantes mineradores, o governo Zema se cala desprezando a triste história da violência campal largamente avalizada pela ditadura militar.
        Vale citar também que a evangelização forçada de indígenas é um velho problema e virou crime contra a CF/1988 e o estatuto da FUNAI. Já relatados nos anos 1990, suicídios ou drogadição são relatos comuns nas unidades de saúde indígena e decorrem de perda de identidade pela evangelização.
        Parte dos indígenas autoevangelizados foi cooptada pelo bolsonarismo e contribuiu para a piora da destruição ambiental e da violência contra povos que mantêm identidade ancestral. Nesse sentido, se tornam cúmplices de uma política genocida. Em tempo: o objeto da cristianização é a tomada de terras.
        Conforme o exposto, o conjunto causal da mortandade é tão complexo quanto antigo, muito avolumada pela omissão das autoridades. A evangelização é usada para domar indígena. Mas nada disso justifica relativizar a prática de Bolsonaro no que chamam de holocausto Yanomami.
        Considerando-se que genocídio é o grande volume fatal implicado sobre grupos populacionais específicos, não há como relativizar um governo que matou mais de 700 mil pela C19 e avalizou chacinas policiais contra pobres periféricos e ceifou mais de 2625 indígenas em apenas 4 anos. É genocídio. Mais claro do que isso não há.

Para saber mais
- http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/tpi/esttpi.htm (íntegra do Estatuto de Roma, 2012)
- https://www.youtube.com/watch?v=nK2TI28wHmk (UOL, número de crianças Yanomami mortas pode ser pior)
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segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

CURTAS 17 - ANÁLISES

Bois de piranha, legado fascista

        A história nos tem mostrado uma conduta comum em muitos fatos: massas protagonistas de fatos relevantes, impulsionadas por ideias e/ou crenças de um líder, seja este político, religioso ou mesmo midiático. E, a julgar pelos resultados, o final não tem sido feliz.
        Não por acaso, tais coletivos são chamados massa de manobra devido à manipulação pelo líder, ou bois de piranha, em analogia aos peixes (líderes) devorarem (dominarem) bois encurralados nos rios e alagados.
        Ainda é objeto de estudos por que alguns grupos se entregam mais do que outros, mas é certo que as TICs geram mais capilaridade de absorção de informações e de seus efeitos, pois mas fontes corroboram um discurso determinado.
        Mas a manipulação massiva já era muito eficiente antes das TICs. A religião é um poderoso recurso por atuar na fé, sentimento caro por abordar o transcendente. Daí ela ser usada como espaço político. A seguir, alguns exemplos históricos de ações coletivas.
        Nazismo- na ideologia mística de extrema-direita, Hitler seduziu massas para a sua política de extermínio de "não arianos"¹. O holocausto judaico teve um fator econômico: ricos empresários judeus empregavam trabalhadores germânicos, ao invés do contrário.
         Seis milhões de pessoas morreram diretamente em campos de concentração nazistas. Para esse sucesso, foram usadas teorias conspiratórias como uma dominação mundial judaica e perseguição aos cristãos por comunistas.
        Jim Jones-  de família muito religiosa, este pastor estadunidense criou uma seita de caráter personalista, na qual se julgava um enviado de Deus para guiar os fiéis ao paraíso na iminência do fim do mundo. 
        Em 1978, Jones e seus fiéis voaram para a Guiana, na América do Sul, fixando-se na floresta. Com suposta revelação de fim do mundo próximo, deu aos fiéis um chá com ervas venenosas, resultando em grande suicídio religioso que repercutiu no mundo.
        Terror islâmico- relevante a partir dos 1960"s, cometeu atentados suicidas a bomba e conflitos armados no Oriente Médio. Mas já avança no Ocidente em represália às tomadas dos países da OTAN² no intuito de tomar-lhes terras ricas em petróleo e gás.
        O islamismo é polêmico quanto aos gêneros, mas não é terrorista. A ideologização religiosa fanatizante é o grande problema, tal como o nazicristianismo bolsonarista.
        Bolsonarismo- o nazismo tropical substitui o catolicismo por igrejas pentecostais e o arianismo pelo racismo típico, e inclui aporofobia (aversão a pobres). Do brasileiro Jair Bolsonaro, impôs a anticiência e levou à morte mais de 700 mil pessoas na pandemia.
        Em 8/1/2023, hordas bolsonaristas invadiram e destruíram acervos históricos e simbólicos no STF, Congresso e Palácio do Planalto. Mais de 1500 foram presos e agora responderão por crime de terrorismo.
        Mídia- se destacam as hegemônicas, de grande porte, vertente econômica liberal e com apoio empresarial e político, com maior penetração social graças à ampla divulgação e informes de linguagem acessível e direta.
        Chamar de boca de fumo locais de venda de drogas ilícitas nas zonas populares, e de pontos de comércio ilegal de drogas apartamentos das zonas nobres induz o leitor à ideia de os locais populares são “perigosas fontes de criminalidade”.

        A cobiça dos líderes em formar movimentos de massa é antiga e não há possibilidade de findar. Psicólogos sociais afirmam os coletivos como naturais, e sociólogos apontam como remodeladores do nosso sinuoso curso histórico político, civilizatório e econômico.
        A constante crise civilizatória chancela movimentos extremistas opostos que vivem um feedback. Migrações massivas por guerras ou mudanças climáticas e ambientais são exemplos de crises capazes de insurgir movimentos desse tipo.
        Coletivos também podem revelar líderes personalistas, portanto, fascistas ou nazistas. Estes são problemáticos, pois a destruição e o caos são seus objetivos finais.
        Portanto, líderes sempre existirão e seduzirão novos coletivos. Pois aí a humanidade se molda e evolui perenemente, como se fez ao longo da nossa história.

Notas da autoria
¹ Não se liga à cor de pele, mas à origem em comum com os dravidianos hindus.
² Organização do Tratado do Atlântico Norte, que agrega vários países ocidentais.
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Taxa de ultraprocessados e o agro familiar

        Comida ultraprocessada é a submetida a várias etapas de processamento industrial assumindo aparência, cor e textura diferentes do estado in natura
        As proteínas animais são muito populares, têm fácil e variado preparo e já são pré-cozidas. Versões veganas são mais tímidas, mas vêm ganhando espaço.
        A indústria desses alimentos recebe incentivos tão fortes que a dieta brasileira hoje é dominada por eles. Vemos mais supermercados abarrotados deles do que quitandas com alimentos frescos in natura.
        Agora o governo quer taxar os ultraprocessados. O motivo é angariar mais incentivo à agricultura familiar, cuja produção chega a 70 dos lares e foi desinvestida pelo governo anterior.
        Não é novidade o petismo investir em difundir alimentação saudável em escolas, lares e locais de trabalho, visando reeducação alimentar e combate à fome. Mas no contexto do pós-Bolsonaro há um problema.
        O governo anterior retirou IPI de jet-skis, iates, cruzeiros e produtos do agro, e jogou na área alimentar. Para a indústria do ramo, a taxação pode reduzir o consumo popular dos ultraprocessados, que são fortemente promovidos pelos supermercados.
        O capital lucra com mazelas sociais, e daí, gigantes sonegadores não aceitarão fácil contribuir. Mas segue um paralelo de suma importância sobre a taxação:
        Ela "tem papel essencial no combate à fome [...] e pode financiar políticas públicas (a partir de) uma reforma tributária pensada para incentivar a produção e o consumo de alimentos menos industrializados ou in natura".
        É a afirmação de pesquisadores brasileiros que defendem uma reforma tributária progressiva, contribuir em minar a fome e investir em políticas públicas maiores.
        Os pesquisadores da ACT Promoção da Saúde acrescentam sobre impactos da comida ultraprocessada na saúde, como obesidade, hipertensão, diabetes e suas complicações. 
        Com isso os pequenos agricultores e outros produtores tradicionais agradecem. Mas a pressão do mercado - e dos produtores - exigirá muita inteligência do governo em lidar com o problema. Torçamos para que a empreitada se converta em sucesso.

Para saber mais
https://www.brasildefato.com.br/2023/01/19/taxar-alimentos-ultraprocessados-pode-significar-mais-recursos-para-politicas-sociais 
- https://www.brasildefato.com.br/2022/02/28/supermercado-promove-ultraprocessados-mas-tem-meios-para-venda-de-comida-saudavel-diz-estudo 
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Bolsonaro e a psiquiatria como álibi

        Anderson Torres voltou ao Brasil e se entregou à PMDF graças à prisão decretada por Alexandre de Moraes. Segundo noticiosos, o ex-ministro da justiça e ex-secretário de segurança pública do DF recebeu a visita de um psiquiatra em sua cela no Batalhão de Ação Operacional da PMDF.
        A visita de profissional decorre após a alegação de Torres de que, após se entregar e ser preso, teria sido traído pelo ex-presidente da República Jair Bolsonaro, que foi seu chefe.
        Tradicionalmente, e por obrigação, os presos, principalmente se seus crimes forem altamente ofensivos ou bizarros, e tendentes à reincidência, devem ser submetidos à avaliação psiquiátrica e psicológica. Não é sem razão: entre a população sentenciada há maior incidência de transtornos do que na população geral.
        Mas, em países onde a população carcerária é particularmemte alta e com índices de homicídios bizarros ou em série, como EUA e Brasil, a alegação de insanidade é uma estratégia bastante recorrente, sendo utilizada como álibi para o preso escapar a penalizações mais pesadas. Mas, nem todos têm sucesso, pois nem todos caem na conversa.
        O que chama atenção no caso Torres é que se percebe uma situação muito parecida com a do caso Adélio Bispo, acusado de esfaquear Bolsonaro em Juiz de Fora, em 2018 e que ainda segue preso. Bispo foi declarado insano após conversa com um psiquiatra e com o advogado que sequer conhecia. Torres recebeu a visita após depor.
        Aliás, o caso Adélio se transformou numa bizarrice: se foi considerado insano após avaliação psiquiátrica, por que ele não foi transferido para um manicômio judiciário? E por que ele não pode receber visita de familiares por quase 4 anos após a sua prisão?
        Bem, pode parecer estranho, mas é fato que no caso Adélio a alegação de insanidade foi imposta e assinada. Resta saber se Anderson Torres receberá também a mesa tratativa, correndo o risco de não poder receber a visita de familiares e de nem ser transferido para o manicômio.
        Mas há um diferencial: Anderson tem formação superior e foi ministro de Bolsonaro. O que pode decorrer em um resultado completamente distinto, porque Torres pode não deixar barato, mesmo com riscos à sua própria vida.
        Mas ainda falta um para alegar insanidade mental: o próprio Bolsonaro. Hospitalizações têm sido a sua manjada desculpa para escapar de apresentações à justiça e, agora, se entregar à prisão, alegando dores intestinais da controversa facada. Do jeito que a psiquiatria entra no álibi, só falta o Bolsonaro, pois essa da facada já deu, não cola mais.

Para saber mais
https://www.pragmatismopolitico.com.br/2023/01/flagrado-sem-camisa-em-janela-de-batalhao-anderson-torres-recebe-visita-de-psiquiatra.html 
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O longo caminho que falta completar

        Ainda durante a campanha eleitoral, o então candidato Lula prometeu, entre outras coisas, implicar uma derrota ao bolsonarismo. Foi uma promessa que decorreu em escolha de milhões de pessoas que quiseram se livrar das mazelas da era Bolsonaro.
        Eleito e empossado, Lula teve seu primeiro grande teste de fogo: a barbárie bolsonarista de 8/1/2023, que, financiada por empresários de vários ramos e alguns políticos, depredou o acervo histórico e cultural existente nos prédios da esplanada dos Três Poderes.
        Instaurada para sanar a depleção causada pela omissão da PMDF e do Exército, a intervenção federal, com a Força Nacional de Segurança, foi imediata e efetiva, prendendo mais de 1000 bárbaros. Agora o governador afastado Ibaneis Rocha e o ex-secretário de segurança Anderson Torres estão com carreiras ameaçadas.
        Para tanto, o governo enfrentou de frente as falhas iniciais e, mesmo acalmado após partir para cima do gado terrorista, enfrentará ainda os governadores bolsonaristas. Um deles, Romeu Zema (MG), o acusou de usar o atraso de sua segurança para se vitimizar. O Novo, partido de Zema, é bolsonarismo de sapatênis.
        Tudo revela, aos poucos, que punir Jair Bolsonaro não basta. Tem que intimidar também os que o defendem e mantêm tão bem essa versão tropical de nazismo. Não importa quem: entre apoiadores e políticos, a pauta é criminalizar a ideologia.

Para saber mais
https://www.youtube.com/watch?v=Mun586HnYRo (Rede TVT, em breve Bolsonaro será preso e o bolsonarismo criminalizado).
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Mercado prende a ciência

        A ciência sempre foi um bom aliado da humanidade em vários ramos: fez o desenvolvimento dos países e melhorou a qualidade de vida. E sofisticou a tecnologia que, em feedback, garante hoje os estudos experimentais com bons resultados em tempo recorde. Como as vacinas da C19, por exemplo.
        Mas há ramos polêmicos, como os impactos das atividades econômicas na natureza. Ainda nos anos 1850 surgiram os primeiros estudos sobre a implicação da atividade industrial e do comportamento social sobre a qualidade do ar, do solo e da água, e até sobre a saúde humana.
        Mesmo lucrando horrores, a elite industrial da época se incomodou. E olhem que os estudos eram mais tímidos e pouco tecnológicos.
        No século XX, a indústria do fumo gerou empregos e lucrou muito. Teve na publicidade um aliado valioso: fumantes jovens fortes e gente classuda induziram milhões de novos tabagistas. A ciência então afirmou a relação entre tabagismo e doenças graves. Foi suficiente para um alarido até os anos 1980.
        Pelo capitalismo houve cientistas presos e outros oportunistas contratados pela indústria para negar o “alarmismo”. Até que, um dia, o famoso cowboy da Marlboro morreu de câncer pulmonar. Com a morte, a publicidade perdeu sentido e, por lei, alertas macabros surgem nos maços de cigarro no Brasil.
        O Brasil é eterno palco de briga entre capitalistas e ambientalistas. No século atual 653 ativistas morreram. Falta saber dos períodos mais sinistros do século XX. Com a paulatina publicação dos sigilos de Bolsonaro, já podemos inferir uma cifra grande.
        O mais recente fato foi a ativista Greta Thunberg. Ela foi detida pela polícia alemã por participar de um protesto ambientalista contra a expansão de uma área de mineração de carvão. A foto dela sendo carregada pelas pernas com expressão tranquila viralizou na internet e acendeu o debate público.
        O caso Greta veio à tona pela sua notoriedade, mas também uma contradição europeia, pois os governos europeus isolaram o Brasil bolsonarista devido à devastação ambiental sem precedentes. Mas, lá como cá, mesmo apontando soluções inteligentes e ecologicamente corretas, a ciência continua a incomodar o mercado.

Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=DbYhgsXiNa0 (Meteoro Brasil – presa por tentar salvar o planeta)
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Entrevista de Lula e a burrice midiática

           Nessa semana, o presidente Lula teve a sua primeira entrevista desde o início de seu governo. Partido da produção jornalística da Globo News, o convite aconteceu após a aprove do plano econômico do ministro da Fazenda Fernando Haddad, e do escândalo das Americanas.
        Passada ao vivo a partir das 19h no canal de TV fechada, a entrevista com Lula teve certo pico de audiência. Possivelmente pela boa harmonia interacional entre a entrevistadora Natuza Nery e o educado Lula após 4 anos de ofensas escatológicas e preconceituosas. Mas, também, pela inteligência do petista.
        O momento do convite foi oportuno para a maior cadeia midiática do país. O que não surpreende, pois se trata de estratégia das grandes mídias para poderem fazer as famosas análises de economia, cujo o teor também não surpreende ninguém pela extrema previsibilidade – todos sabem o que se fala.
        Mas, outros temas foram pautados, como o envolvimento das Forças Armadas na barbárie de 8 de janeiro, o compromisso contra o desmatamento, a recuperação do Alvorada, e outros, que tiveram seu espaço. Sobraram elogios ao ambiente amistoso e às respostas do presidente.
        Sobre economia, Lula não hesitou na sua meta de combater a fome, reincluir classes populares no orçamento, que “os empresários se enriqueceram também graças aos trabalhadores”, e que considera “bobagem” a independência do BC por não ter alterado positivamente os indicadores econômicos.
        Vieram os tiros midiáticos: segundo o Globo impresso de 20/1, Lula “continua derrapando”; Valor Investe contraria a afirmativa do petista sobre os resultados do BC independente e aponta ainda o dólar disparando descabelando o mercado, que se acalma apenas quando a Ibovespa subiu.
        Sobre o Imposto de Renda, Lula relembrou a última correção em 2015, que protegera a patuleia assalariada, e desde então corrói mais a renda baixa por falta de correção, e que precisa ser corrigido para que patuleia de até R$ 5000 seja isenta. Não precisa dizer que o mercado ficou de mau humor.
        O mau humor do mercado descabelou ainda mais quando Lula disse que “empresários ficaram mais ricos também graças aos trabalhadores”. Embora muito correta, a declaração arrepiou os analistas econômicos da grande mídia, que responderam: “trata-se de retórica do modo Lula”.
        Sabemos muito bem que as variações de indicadores do mercado financeiro ocorrem muito mais por outros eventos do que por simples fala de um presidente. O problema é o algoritmo da grande mídia ligado no modo ON neoliberal. Não pelas TICs, mas a mando do mercado que a escraviza.
        Não se trata de retórica, mas de um Lula mais próximo do original que ascendeu à política há 45 anos atrás. Um Lula que sabe que somente medidas sociais mais à esquerda salvarão a patuleia miserável das mazelas impostas a partir de Temer.
        Mas o algoritmo mercadológico da grande mídia a impede de pensar. A maior prova é se silenciar com a calhordice econômica de Paulo Guedes que gerou milhões de miseráveis e sem teto em recorde de tempo, satisfazendo o mercado e, mais ainda, sem dar satisfação do sumiço misterioso de R$ 1 trilhão, como descobriu o TCU.
        Pois aqui deixo claro: trabalhar no algoritmo neoliberal é burrice midiática.

Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=uNvbt1DknBM (Cortes G1, Lula defende isenção de IR para quem recebe até R$ 5 mil)
- https://www.youtube.com/watch?v=XKopKmHFr9Q (Cortes G1, compromisso contra desmatamento)
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CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

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