Bois de piranha, legado fascista
A história nos tem mostrado uma conduta comum em muitos fatos: massas protagonistas de fatos relevantes, impulsionadas por ideias e/ou crenças de um líder, seja este político, religioso ou mesmo midiático. E, a julgar pelos resultados, o final não tem sido feliz.
Não por acaso, tais coletivos são chamados massa de manobra devido à manipulação pelo líder, ou bois de piranha, em analogia aos peixes (líderes) devorarem (dominarem) bois encurralados nos rios e alagados.
Ainda é objeto de estudos por que alguns grupos se entregam mais do que outros, mas é certo que as TICs geram mais capilaridade de absorção de informações e de seus efeitos, pois mas fontes corroboram um discurso determinado.
Mas a manipulação massiva já era muito eficiente antes das TICs. A religião é um poderoso recurso por atuar na fé, sentimento caro por abordar o transcendente. Daí ela ser usada como espaço político. A seguir, alguns exemplos históricos de ações coletivas.
Nazismo- na ideologia mística de extrema-direita, Hitler seduziu massas para a sua política de extermínio de "não arianos"¹. O holocausto judaico teve um fator econômico: ricos empresários judeus empregavam trabalhadores germânicos, ao invés do contrário.
Seis milhões de pessoas morreram diretamente em campos de concentração nazistas. Para esse sucesso, foram usadas teorias conspiratórias como uma dominação mundial judaica e perseguição aos cristãos por comunistas.
Jim Jones- de família muito religiosa, este pastor estadunidense criou uma seita de caráter personalista, na qual se julgava um enviado de Deus para guiar os fiéis ao paraíso na iminência do fim do mundo.
Em 1978, Jones e seus fiéis voaram para a Guiana, na América do Sul, fixando-se na floresta. Com suposta revelação de fim do mundo próximo, deu aos fiéis um chá com ervas venenosas, resultando em grande suicídio religioso que repercutiu no mundo.
Terror islâmico- relevante a partir dos 1960"s, cometeu atentados suicidas a bomba e conflitos armados no Oriente Médio. Mas já avança no Ocidente em represália às tomadas dos países da OTAN² no intuito de tomar-lhes terras ricas em petróleo e gás.
O islamismo é polêmico quanto aos gêneros, mas não é terrorista. A ideologização religiosa fanatizante é o grande problema, tal como o nazicristianismo bolsonarista.
Bolsonarismo- o nazismo tropical substitui o catolicismo por igrejas pentecostais e o arianismo pelo racismo típico, e inclui aporofobia (aversão a pobres). Do brasileiro Jair Bolsonaro, impôs a anticiência e levou à morte mais de 700 mil pessoas na pandemia.
Em 8/1/2023, hordas bolsonaristas invadiram e destruíram acervos históricos e simbólicos no STF, Congresso e Palácio do Planalto. Mais de 1500 foram presos e agora responderão por crime de terrorismo.
Mídia- se destacam as hegemônicas, de grande porte, vertente econômica liberal e com apoio empresarial e político, com maior penetração social graças à ampla divulgação e informes de linguagem acessível e direta.
Chamar de boca de fumo locais de venda de drogas ilícitas nas zonas populares, e de pontos de comércio ilegal de drogas apartamentos das zonas nobres induz o leitor à ideia de os locais populares são “perigosas fontes de criminalidade”.
A cobiça dos líderes em formar movimentos de massa é antiga e não há possibilidade de findar. Psicólogos sociais afirmam os coletivos como naturais, e sociólogos apontam como remodeladores do nosso sinuoso curso histórico político, civilizatório e econômico.
A constante crise civilizatória chancela movimentos extremistas opostos que vivem um feedback. Migrações massivas por guerras ou mudanças climáticas e ambientais são exemplos de crises capazes de insurgir movimentos desse tipo.
Coletivos também podem revelar líderes personalistas, portanto, fascistas ou nazistas. Estes são problemáticos, pois a destruição e o caos são seus objetivos finais.
Portanto, líderes sempre existirão e seduzirão novos coletivos. Pois aí a humanidade se molda e evolui perenemente, como se fez ao longo da nossa história.
Notas da autoria
¹ Não se liga à cor de pele, mas à origem em comum com os dravidianos hindus.
² Organização do Tratado do Atlântico Norte, que agrega vários países ocidentais.
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Taxa de ultraprocessados e o agro familiar
Comida ultraprocessada é a submetida a várias etapas de processamento industrial assumindo aparência, cor e textura diferentes do estado in natura.
As proteínas animais são muito populares, têm fácil e variado preparo e já são pré-cozidas. Versões veganas são mais tímidas, mas vêm ganhando espaço.
A indústria desses alimentos recebe incentivos tão fortes que a dieta brasileira hoje é dominada por eles. Vemos mais supermercados abarrotados deles do que quitandas com alimentos frescos in natura.
Agora o governo quer taxar os ultraprocessados. O motivo é angariar mais incentivo à agricultura familiar, cuja produção chega a 70 dos lares e foi desinvestida pelo governo anterior.
Não é novidade o petismo investir em difundir alimentação saudável em escolas, lares e locais de trabalho, visando reeducação alimentar e combate à fome. Mas no contexto do pós-Bolsonaro há um problema.
O governo anterior retirou IPI de jet-skis, iates, cruzeiros e produtos do agro, e jogou na área alimentar. Para a indústria do ramo, a taxação pode reduzir o consumo popular dos ultraprocessados, que são fortemente promovidos pelos supermercados.
O capital lucra com mazelas sociais, e daí, gigantes sonegadores não aceitarão fácil contribuir. Mas segue um paralelo de suma importância sobre a taxação:
Ela "tem papel essencial no combate à fome [...] e pode financiar políticas públicas (a partir de) uma reforma tributária pensada para incentivar a produção e o consumo de alimentos menos industrializados ou in natura".
É a afirmação de pesquisadores brasileiros que defendem uma reforma tributária progressiva, contribuir em minar a fome e investir em políticas públicas maiores.
Os pesquisadores da ACT Promoção da Saúde acrescentam sobre impactos da comida ultraprocessada na saúde, como obesidade, hipertensão, diabetes e suas complicações.
Com isso os pequenos agricultores e outros produtores tradicionais agradecem. Mas a pressão do mercado - e dos produtores - exigirá muita inteligência do governo em lidar com o problema. Torçamos para que a empreitada se converta em sucesso.
Para saber mais
- https://www.brasildefato.com.br/2023/01/19/taxar-alimentos-ultraprocessados-pode-significar-mais-recursos-para-politicas-sociais
- https://www.brasildefato.com.br/2022/02/28/supermercado-promove-ultraprocessados-mas-tem-meios-para-venda-de-comida-saudavel-diz-estudo
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Bolsonaro e a psiquiatria como álibi
Anderson Torres voltou ao Brasil e se entregou à PMDF graças à prisão decretada por Alexandre de Moraes. Segundo noticiosos, o ex-ministro da justiça e ex-secretário de segurança pública do DF recebeu a visita de um psiquiatra em sua cela no Batalhão de Ação Operacional da PMDF.
A visita de profissional decorre após a alegação de Torres de que, após se entregar e ser preso, teria sido traído pelo ex-presidente da República Jair Bolsonaro, que foi seu chefe.
Tradicionalmente, e por obrigação, os presos, principalmente se seus crimes forem altamente ofensivos ou bizarros, e tendentes à reincidência, devem ser submetidos à avaliação psiquiátrica e psicológica. Não é sem razão: entre a população sentenciada há maior incidência de transtornos do que na população geral.
Mas, em países onde a população carcerária é particularmemte alta e com índices de homicídios bizarros ou em série, como EUA e Brasil, a alegação de insanidade é uma estratégia bastante recorrente, sendo utilizada como álibi para o preso escapar a penalizações mais pesadas. Mas, nem todos têm sucesso, pois nem todos caem na conversa.
O que chama atenção no caso Torres é que se percebe uma situação muito parecida com a do caso Adélio Bispo, acusado de esfaquear Bolsonaro em Juiz de Fora, em 2018 e que ainda segue preso. Bispo foi declarado insano após conversa com um psiquiatra e com o advogado que sequer conhecia. Torres recebeu a visita após depor.
Aliás, o caso Adélio se transformou numa bizarrice: se foi considerado insano após avaliação psiquiátrica, por que ele não foi transferido para um manicômio judiciário? E por que ele não pode receber visita de familiares por quase 4 anos após a sua prisão?
Bem, pode parecer estranho, mas é fato que no caso Adélio a alegação de insanidade foi imposta e assinada. Resta saber se Anderson Torres receberá também a mesa tratativa, correndo o risco de não poder receber a visita de familiares e de nem ser transferido para o manicômio.
Mas há um diferencial: Anderson tem formação superior e foi ministro de Bolsonaro. O que pode decorrer em um resultado completamente distinto, porque Torres pode não deixar barato, mesmo com riscos à sua própria vida.
Mas ainda falta um para alegar insanidade mental: o próprio Bolsonaro. Hospitalizações têm sido a sua manjada desculpa para escapar de apresentações à justiça e, agora, se entregar à prisão, alegando dores intestinais da controversa facada. Do jeito que a psiquiatria entra no álibi, só falta o Bolsonaro, pois essa da facada já deu, não cola mais.
Para saber mais
- https://www.pragmatismopolitico.com.br/2023/01/flagrado-sem-camisa-em-janela-de-batalhao-anderson-torres-recebe-visita-de-psiquiatra.html
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O longo caminho que falta completar
Ainda durante a campanha eleitoral, o então candidato Lula prometeu, entre outras coisas, implicar uma derrota ao bolsonarismo. Foi uma promessa que decorreu em escolha de milhões de pessoas que quiseram se livrar das mazelas da era Bolsonaro.
Eleito e empossado, Lula teve seu primeiro grande teste de fogo: a barbárie bolsonarista de 8/1/2023, que, financiada por empresários de vários ramos e alguns políticos, depredou o acervo histórico e cultural existente nos prédios da esplanada dos Três Poderes.
Instaurada para sanar a depleção causada pela omissão da PMDF e do Exército, a intervenção federal, com a Força Nacional de Segurança, foi imediata e efetiva, prendendo mais de 1000 bárbaros. Agora o governador afastado Ibaneis Rocha e o ex-secretário de segurança Anderson Torres estão com carreiras ameaçadas.
Para tanto, o governo enfrentou de frente as falhas iniciais e, mesmo acalmado após partir para cima do gado terrorista, enfrentará ainda os governadores bolsonaristas. Um deles, Romeu Zema (MG), o acusou de usar o atraso de sua segurança para se vitimizar. O Novo, partido de Zema, é bolsonarismo de sapatênis.
Tudo revela, aos poucos, que punir Jair Bolsonaro não basta. Tem que intimidar também os que o defendem e mantêm tão bem essa versão tropical de nazismo. Não importa quem: entre apoiadores e políticos, a pauta é criminalizar a ideologia.
Para saber mais
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Mercado prende a
ciência
A ciência sempre foi
um bom aliado da humanidade em vários ramos: fez o desenvolvimento dos países e
melhorou a qualidade de vida. E sofisticou a tecnologia que, em feedback,
garante hoje os estudos experimentais com bons resultados em tempo recorde. Como
as vacinas da C19, por exemplo.
Mas há ramos
polêmicos, como os impactos das atividades econômicas na natureza. Ainda nos
anos 1850 surgiram os primeiros estudos sobre a implicação da atividade
industrial e do comportamento social sobre a qualidade do ar, do solo e da
água, e até sobre a saúde humana.
Mesmo lucrando
horrores, a elite industrial da época se incomodou. E olhem que os estudos eram
mais tímidos e pouco tecnológicos.
No século XX, a
indústria do fumo gerou empregos e lucrou muito. Teve na publicidade um aliado
valioso: fumantes jovens fortes e gente classuda induziram milhões de novos
tabagistas. A ciência então afirmou a relação entre tabagismo e doenças graves.
Foi suficiente para um alarido até os anos 1980.
Pelo capitalismo
houve cientistas presos e outros oportunistas contratados pela indústria para negar
o “alarmismo”. Até que, um dia, o famoso cowboy da Marlboro morreu de câncer
pulmonar. Com a morte, a publicidade perdeu sentido e, por lei, alertas
macabros surgem nos maços de cigarro no Brasil.
O Brasil é eterno palco
de briga entre capitalistas e ambientalistas. No século atual 653 ativistas
morreram. Falta saber dos períodos mais sinistros do século XX. Com a paulatina
publicação dos sigilos de Bolsonaro, já podemos inferir uma cifra grande.
O mais recente fato
foi a ativista Greta Thunberg. Ela foi detida pela polícia alemã por participar
de um protesto ambientalista contra a expansão de uma área de mineração de
carvão. A foto dela sendo carregada pelas pernas com expressão tranquila
viralizou na internet e acendeu o debate público.
O caso Greta veio à
tona pela sua notoriedade, mas também uma contradição europeia, pois os
governos europeus isolaram o Brasil bolsonarista devido à devastação ambiental
sem precedentes. Mas, lá como cá, mesmo apontando soluções inteligentes e ecologicamente corretas, a ciência continua a incomodar o mercado.
Para saber mais
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Entrevista de Lula e
a burrice midiática
Nessa semana, o
presidente Lula teve a sua primeira entrevista desde o início de seu governo. Partido
da produção jornalística da Globo News, o convite aconteceu após a aprove do
plano econômico do ministro da Fazenda Fernando Haddad, e do escândalo das Americanas.
Passada ao vivo a
partir das 19h no canal de TV fechada, a entrevista com Lula teve certo pico de
audiência. Possivelmente pela boa harmonia interacional entre a entrevistadora
Natuza Nery e o educado Lula após 4 anos de ofensas escatológicas e preconceituosas.
Mas, também, pela inteligência do petista.
O momento do convite
foi oportuno para a maior cadeia midiática do país. O que não surpreende, pois
se trata de estratégia das grandes mídias para poderem fazer as famosas
análises de economia, cujo o teor também não surpreende ninguém pela extrema
previsibilidade – todos sabem o que se fala.
Mas, outros temas
foram pautados, como o envolvimento das Forças Armadas na barbárie de 8 de
janeiro, o compromisso contra o desmatamento, a recuperação do Alvorada, e
outros, que tiveram seu espaço. Sobraram elogios ao ambiente amistoso e às
respostas do presidente.
Sobre economia, Lula
não hesitou na sua meta de combater a fome, reincluir classes populares no
orçamento, que “os empresários se enriqueceram também graças aos
trabalhadores”, e que considera “bobagem” a independência do BC por não ter
alterado positivamente os indicadores econômicos.
Vieram os tiros
midiáticos: segundo o Globo impresso de 20/1, Lula “continua
derrapando”; Valor Investe contraria a afirmativa do petista sobre
os resultados do BC independente e aponta ainda o dólar disparando descabelando
o mercado, que se acalma apenas quando a Ibovespa subiu.
Sobre o Imposto de
Renda, Lula relembrou a última correção em 2015, que protegera a patuleia
assalariada, e desde então corrói mais a renda baixa por falta de correção, e
que precisa ser corrigido para que patuleia de até R$ 5000 seja isenta. Não
precisa dizer que o mercado ficou de mau humor.
O mau humor do
mercado descabelou ainda mais quando Lula disse que “empresários ficaram
mais ricos também graças aos trabalhadores”. Embora muito correta, a
declaração arrepiou os analistas econômicos da grande mídia, que responderam: “trata-se
de retórica do modo Lula”.
Sabemos muito bem que
as variações de indicadores do mercado financeiro ocorrem muito mais por outros
eventos do que por simples fala de um presidente. O problema é o algoritmo da
grande mídia ligado no modo ON neoliberal. Não pelas TICs, mas a mando do mercado
que a escraviza.
Não se trata de
retórica, mas de um Lula mais próximo do original que ascendeu à política há 45
anos atrás. Um Lula que sabe que somente medidas sociais mais à esquerda
salvarão a patuleia miserável das mazelas impostas a partir de Temer.
Mas o algoritmo
mercadológico da grande mídia a impede de pensar. A maior prova é se silenciar
com a calhordice econômica de Paulo Guedes que gerou milhões de miseráveis e
sem teto em recorde de tempo, satisfazendo o mercado e, mais ainda, sem dar
satisfação do sumiço misterioso de R$ 1 trilhão, como descobriu o TCU.
Pois aqui deixo
claro: trabalhar no algoritmo neoliberal é burrice midiática.
Para saber mais
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