Repercute
no mundo a comoção pela coletânea de fotografias da crise humanitária do povo
indígena Yanomami, e revolta pelo crescente número de evidências cabais do
descaso do governo Bolsonaro com os originários. Estima-se que a era Bolsonaro
tenha ceifado mais de 2000 do total de 890 mil indígenas do país.
No
artigo anterior, os arts. 6º e 7º do Estatuto de Roma se confirmam nas provas da
crise citada, mas cabe amplificar a dimensão dessa necropolítica em efeitos
econômicos, cortes e disseminação de doença infecciosa grave, como se fazia no
passado.
Efeitos
econômicos- o então ministro
Paulo Guedes impôs muitos cortes em benefícios sociais diversos e trabalhistas,
implicando em baixas na renda, no consumo alimentar, na habitação e outras
necessidades. Serviços públicos essenciais sofreram cortes praticamente no
talo.
Resultados:
inflação maior, 33 milhões com fome, de 90 a 120 milhões com todo tipo de
insegurança alimentar, quase 30 milhões extremamente pobres, reservas
alimentares do Conab vazias, ensino e saúde mais precarizados em recursos
humanos e materiais, desemprego real não corrigido.
A
grave crise habitacional combinada à inflação e queda da renda/desemprego
explodiu a geral sem-teto. Parte das famílias sem-teto ocupa hoje imóveis
públicos e privados abandonados. A falta alimentar e a entrega a vícios
favoreceram a explosão de furtos e de abordagens indesejadas.
Saúde- Das 700 mil fatalidades pela C19, 4000 eram
profissionais de saúde. Recordes fatais se anunciaram em surtos de dengue,
tuberculose e doenças negligenciadas como malária. O Paraná lidera com a dengue
e o Rio está com a tuberculose, esta última também por piora do saneamento nas
periferias.
As carências na saúde pública sempre existiram. A julgar pelos meandros da Lei 8080/1990, que o criou, o SUS já veio ao mundo subinvestido, e ainda assim, antes ele do que nada. Só que na era Bolsonaro não houve só subinvestimento, houve desinvestimento: em hospitais e institutos federais, referências nacionais, faltaram até os insumos mais básicos, como gazes, algodão, luvas, agulhas e máscaras.
Meio
ambiente/populações- o
período 2019-22 foi de recordes de devastação ambiental. A Amazônia sozinha
sofreu 61% de desmate a mais em 2022 do que no ano anterior. A Mata Atlântica e
o cerrado sofreram cifras semelhantes de perda. Os mais afetados, obviamente,
são populações indígenas e tradicionais.
Por
serem diretamente afetados pela devastação que ameaça ou atinge suas terras,
indígenas e famílias camponesas são os mais afetados. Ainda se investiga o
número total de homicídios de lideranças da floresta e de pequenos
assentamentos produtivos.
O
que sabemos agora da crise Yanomami (que ainda tem mais 15 mil pessoas em
risco) é inferível para outras comunidades indígenas afetadas pela mineração e
outras atividades econômicas ilegais, que afetam mais de 100 diferentes terras indígenas.
A pedido do STF, o governo Lula age para estancar o flagelo, mas é um desafio enorme. Ainda assim se coloca disposto a levar a ordem a cabo, enquanto o STF torna todo o governo Bolsonaro na condição de investigado. Sim, todo o governo, o que significa incluir toda a caterva que atuou no centro do poder nos últimos 4 anos.
Tal
como a mineração escravista de coltan (columbita + tantalita) na África
ocidental, o garimpo ilegal nas terras indígenas brasileiras é praticamente incombatível.
Os interessados maiores nas matérias primas são gigantes de eletrônicos como
Apple, Samsung, Motorola, Xiaomi, Sony, Asus e outros.
Aqui
como na África, os nativos são submetidos a ameaças de morte, se não forem
mortos de fato. Na Amazônia, clubes de tiro em torno das terras indígenas
possivelmente dão suporte aos criminosos, o que merece ser investigado pela PF
sobre possíveis assassinatos e desaparecimentos.
Como
se vê, são muitas as facetas do genocídio imputadas só à era Bolsonaro. Levantar
números dos mortos também fará parte do governo da vida de Lula. É muito
trabalho, mas já está de bom tamanho que todos saibam da dimensão da política
de morte, para que ela nunca mais volte.
Para saber mais
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