terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Análise: outros genocídios de Bolsonaro

 

        Repercute no mundo a comoção pela coletânea de fotografias da crise humanitária do povo indígena Yanomami, e revolta pelo crescente número de evidências cabais do descaso do governo Bolsonaro com os originários. Estima-se que a era Bolsonaro tenha ceifado mais de 2000 do total de 890 mil indígenas do país.
            No artigo anterior, os arts. 6º e 7º do Estatuto de Roma se confirmam nas provas da crise citada, mas cabe amplificar a dimensão dessa necropolítica em efeitos econômicos, cortes e disseminação de doença infecciosa grave, como se fazia no passado.
            Efeitos econômicos- o então ministro Paulo Guedes impôs muitos cortes em benefícios sociais diversos e trabalhistas, implicando em baixas na renda, no consumo alimentar, na habitação e outras necessidades. Serviços públicos essenciais sofreram cortes praticamente no talo.
            Resultados: inflação maior, 33 milhões com fome, de 90 a 120 milhões com todo tipo de insegurança alimentar, quase 30 milhões extremamente pobres, reservas alimentares do Conab vazias, ensino e saúde mais precarizados em recursos humanos e materiais, desemprego real não corrigido.
            A grave crise habitacional combinada à inflação e queda da renda/desemprego explodiu a geral sem-teto. Parte das famílias sem-teto ocupa hoje imóveis públicos e privados abandonados. A falta alimentar e a entrega a vícios favoreceram a explosão de furtos e de abordagens indesejadas.
            Saúde- Das 700 mil fatalidades pela C19, 4000 eram profissionais de saúde. Recordes fatais se anunciaram em surtos de dengue, tuberculose e doenças negligenciadas como malária. O Paraná lidera com a dengue e o Rio está com a tuberculose, esta última também por piora do saneamento nas periferias.
            As carências na saúde pública sempre existiram. A julgar pelos meandros da Lei 8080/1990, que o criou, o SUS já veio ao mundo subinvestido, e ainda assim, antes ele do que nada. Só que na era Bolsonaro não houve só subinvestimento, houve desinvestimento: em hospitais e institutos federais, referências nacionais, faltaram até os insumos mais básicos, como gazes, algodão, luvas, agulhas e máscaras.
            Meio ambiente/populações- o período 2019-22 foi de recordes de devastação ambiental. A Amazônia sozinha sofreu 61% de desmate a mais em 2022 do que no ano anterior. A Mata Atlântica e o cerrado sofreram cifras semelhantes de perda. Os mais afetados, obviamente, são populações indígenas e tradicionais.
            Por serem diretamente afetados pela devastação que ameaça ou atinge suas terras, indígenas e famílias camponesas são os mais afetados. Ainda se investiga o número total de homicídios de lideranças da floresta e de pequenos assentamentos produtivos.
            O que sabemos agora da crise Yanomami (que ainda tem mais 15 mil pessoas em risco) é inferível para outras comunidades indígenas afetadas pela mineração e outras atividades econômicas ilegais, que afetam mais de 100 diferentes terras indígenas. 
            A pedido do STF, o governo Lula age para estancar o flagelo, mas é um desafio enorme. Ainda assim se coloca disposto a levar a ordem a  cabo, enquanto o STF torna todo o governo Bolsonaro na condição de investigado. Sim, todo o governo, o que significa incluir toda a caterva que atuou no centro do poder nos últimos 4 anos.

            Tal como a mineração escravista de coltan (columbita + tantalita) na África ocidental, o garimpo ilegal nas terras indígenas brasileiras é praticamente incombatível. Os interessados maiores nas matérias primas são gigantes de eletrônicos como Apple, Samsung, Motorola, Xiaomi, Sony, Asus e outros.
            Aqui como na África, os nativos são submetidos a ameaças de morte, se não forem mortos de fato. Na Amazônia, clubes de tiro em torno das terras indígenas possivelmente dão suporte aos criminosos, o que merece ser investigado pela PF sobre possíveis assassinatos e desaparecimentos.
            Como se vê, são muitas as facetas do genocídio imputadas só à era Bolsonaro. Levantar números dos mortos também fará parte do governo da vida de Lula. É muito trabalho, mas já está de bom tamanho que todos saibam da dimensão da política de morte, para que ela nunca mais volte.

Para saber mais

- https://www.diariodocentrodomundo.com.br/ricardo-barros-vira-socio-de-empresa-de-mineracao-para-extrair-manganes-no-para/

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