quarta-feira, 30 de agosto de 2023

CURTAS 43 - ANÁLISES (cúpula da Amazônia

 
As contradições da Cúpula da Amazônia

                Lula assumiu o governo destacando a política ambiental como prioridade. Mas a especulação da Petrobrás (BR) sobre o potencial produtivo da bacia sedimentar da Foz do Amazonas a 500 km da desembocadura do rio fez o governo balançar um pouco. A BR reitera segurança ambiental e insiste: quer vencer pelo cansaço.
                Nesse contexto, a Cúpula da Amazônia reuniu Brasil, Bolívia, Colômbia, Peru, Equador, Venezuela, Guiana e Suriname em Belém (PA), para traçar diretrizes socioambientais uníssonas em uma carta assinada por todos.
                Declaração de Belém – os governantes partícipes assinaram a Declaração de Belém, um documento que reconhece a urgência em salvar a floresta e as culturas nela construídas, baseadas nos muitos eventos de que são signatários, a partir da ECO-92 do Rio de Janeiro. Ele será apresentado na COP-28 em Dubai (nov. 2023).
                A assinatura ocorreu sob outra pressão: a do duro levantamento técnico do Ibama, que aponta o “risco grave” de explorar petróleo em local de correntezas capazes de danificar estruturas de plataformas, e sensível biodiversidade.
                Contradições – como descrito, a Declaração de Belém reconhece a urgência em salvar todas as culturas da diversidade florestal amazônica, com bases anteriores, conforme supracitado e na íntegra do doc. Mas o fechamento do evento gerou frustração em todos que o acompanharam.
                Faltam ações concretas – para o Observatório do Clima, o documento "repete a sina de outras declarações multilaterais e nivela compromissos por baixo. Ao fazê-lo num contexto de emergência climática, ela falha com a floresta e o planeta". Assim, ela “não oferece soluções práticas, nem calendário de ações para evita-lo”.
                Elogiou o mérito da carta em reconhecer a ameaça de ponto de não recuperação da floresta, mas criticou o “isolamento de Petro”, que deu toques mais realistas para a situação climática e a urgência das ações preventivas.
                Recursos fósseis – duas ONGs em especial, o Observatório do Clima e o Greenpeace, se manifestaram sobre a ausência do tema da exploração de petróleo nas bacias sedimentares da costa amazônica. O Observatório pontuou:
                Ao falhar em incorporar [...] a proposta colombiana de suspender a exploração de petróleo, gás e carvão mineral, os países amazônicos se juntam a vilões climáticos tradicionais como a Arábia Saudita, Rússia e EUA, e novos como o Reino Unido, e permitem a continuidade da farra do petróleo até que o mundo queime”.
                A Declaração de Belém [...] sequer citou o termo combustíveis fósseis, ignorando a intensa mobilização dos dias anteriores. É, no mínimo, uma grande contradição que os governantes [...] não tenham ouvido as vozes que ecoaram em diversos fóruns e protestos na capital”, disse Marcelo Laterman, da Frente dos Oceanos do Greenpeace.
                É preciso objetividade – as críticas das ONGs acima citadas concordam com alertas de cientistas do IPCC sobre a proposta de ações tão urgentes quanto concretas no presente contexto de emergência climática. Mas para isso, os governantes têm que substituir a subserviência à bolha capitalista pela objetividade em soluções planejadas.
                Nada como furar a bolha capitalista alimentada pelos minerodólares e pelo agrobusiness, os maiores geradores de gases-estufa e promovedores da devastação ambiental, e investir forte em educação, ciência e tecnologia com vistas ao desenvolvimento bioeconômico. Como fazer isso? Se virem, a proposta já está dada.

Para saber mais
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Petróleo amazônico: a relevância dos contrários

                Como narrado em artigo anterior, a Cúpula da Amazônia teve contradição entre o diagnóstico ambiental e social da Amazônia e a falta de propósitos claros e detalhados de preservação integral da região com bioeconomia.
                Também foi exposto o isolamento do colombiano Gustavo Petro, contrário à exploração de petróleo e gás na região por motivos óbvios. Ele ouviu as ruas de Belém, mas sem expor uma proposição clara.
                Petro x mercado petrolífero – a Colômbia tem uma produção petrolífera menos destacada, sobretudo, onshore (continente e plataforma continental no mar). Durante 2022, a Agencia Nacional de Hidrocarburos (ANH) investiu fortemente em produção privada, em paralelo à estatal Ecopetrol.
                Mas Gustavo Petro foi eleito e mudou os planos. Contrário à extração de petróleo e outros recursos do solo amazônico, Petro se centrou principalmente em políticas públicas e ganhou uma ala inimiga: o grupo magnata do petróleo de olho na Amazônia. Embora resistente, o colombiano não interferiu nos investimentos já realizados.
                Equador – sua produção ocorre em mar e terra. A do parque amazônico de Yasuníem, a produção foi paralisada após o resultado de um plebiscito popular ocorrido no mesmo domingo da vitória da progressista Luísa González no 1º turno eleitoral (há ainda o 2º). O plebiscito tem caráter definitivo.
                A real – os resultados dos dois governos frustra, de fato, a elite do setor, principalmente a de fora. O lado humanitário é que as estrangeiras empregam menos do que as nacionais, nos salários ou no contingente. De fato, ser grande e estrangeiro de grande não garante obrigatoriamente mais empregos e salários.
                Além disso, a cessão do subsolo para investimentos estrangeiros significa um risco considerável sobre as contas públicas de dois países cujos PIBs não são tão volumosos e já possuem dívidas externas históricas.
                Por outro lado, a posição de Petro e o resultado do plebiscito popular equatoriano não significam a parada nos investimentos. Os dois governos apenas querem que a área mais rica em campos petrolíferos não seja alvo de especulação exploratória. Essa área é a Amazônia, tão cara para manter as boas imagens desses países.
                Enquanto isso, o Brasil ainda não resolveu suas contradições. Fica a lição dos seus vizinhos.

Para saber mais
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