Zucas e Costa: fator comum
Após
o fim do salazarismo pela Revolução dos Cravos, Portugal evoluiu muito. Em 1992
assinou o Tratado de Maastrich, que criou a União Europeia, unidade econômica de
moeda única e livre trânsito, e legislação baseada na DUDH¹, que prevê receptividade
a imigrantes, sejam estes refugiados ou em busca de trabalho ou estudo.
Portugal
recebeu imigrantes de várias nacionalidades, inclusive brasileiros. Mesmo
qualificada, a maioria ocupa profissões de serviços gerais. Mas, ultimamente parece
que isso incomoda os portugueses.
Zucas – são 800 mil brasileiros, ou 8% da população geral.
A maioria dos qualificados atua em serviços gerais e boa parte mora em barracas
de acampamento. Pejorados como zucas, eles relatam insultos e agressões
físicas. Comércios oferecem “pedradas grátis”, e crianças imitando brasileiros
são repreendidas pelos pais e professores.
O clima
‘brasofóbico’ é tão hostil que surgiu entre os acampados uma solidariedade que
aplaca a angústia resultante.
António
Costa – a renúncia do primeiro-ministro
por investigação supostamente enganosa lembrando a nossa Lava-Jato fez os brasileiros
aqui discutirem nas redes sociais a possível causa racista por ele ter pele
escura, ligada à origem paterna de Goa, antiga colônia portuguesa na Índia. Mas
não há evidência que aponte esse fator. Mas fator político, sim.
Onda
reacionária – a
‘brasofobia’ portuguesa e a renúncia de Costa se ligam à ascensão da extrema-direita.
Do salazarista André Ventura, o ‘Chega!’ defende a criminalização do
socialismo e do comunismo (Costa é socialista) e o fim da imigração, para “manter
a unidade cultural e cristã do povo português”.
Enquanto
isso, se vê que nem todos os portugueses são racistas ou xenofóbicos. Embora
sejam frequentes as discriminações, os racistas ou xenófobos são minoria: a
extrema-direita está em ascensão, mas pela tendência da maioria dos
portugueses, a democracia ainda segue como o melhor rumo político a ser
seguido.
Mas
o melhor antídoto à extrema-direita é o investimento em educação que desnazifique o povo antes que a eficiência comunicativa da extrema-direita
seduza o restante geral.
Nota da autoria
¹ Declaração
Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948), que influencia a legislação moderna
nesse campo.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=9oQz6ulgVAg (Reinaldo Azevedo: caso que derrubou governo
português tem cara de “lava-jatice” do MP).
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O antijornalismo dos jornalões
Entre
as invisibilidades, o jornalismo também se insere. Pode parecer que não, pois
não é o primeiro artigo a tratar sobre a imprensa. Mas acontece que, em seu
papel informativo à sociedade, os profissionais imprimem não só a sua visão de
mundo, como também desenvolvem meios de convencer uma coletividade cada vez
mais crítica.
Mas
colocar o fato conforme sua visão de mundo não é antiprofissional: isso é
inerente a todos nós. Mas a antiética pode se sobrepor ao papel de informar. A
Jovem Pan foi um caso emblemático. Vamos entender.
Desinformação – entre 2019-22, a JP se notabilizou em negar
informes de outras mídias, massageando o ego do governo para ter mais concessão
pública. A ética jornalística foi rasgada: veio o antijornalismo. E aí o bicho pegou.
Processos judiciais e saídas de vários profissionais (voluntárias
e forçadas) descredibilizaram a emissora bolsonarista a tal ponto de ela quase
fechar. E ela ainda se mantém na mesma linha. Mas desinformar não é exclusivo
de jornalistas bolsonaristas – que, aliás, preenchem os quadros da grande mídia
também.
Estadão
e governo – de todos os jornalões, o
Estadão se destaca na ferocidade das críticas a Lula 3. São críticas
ferozes, puramente ideológicas. Segundo a matéria, a mulher de um traficante
teria se reunido com a cúpula do MJ, incluindo o ministro Flávio Dino, e dando
a entender que se tratava de um convite deste.
Os
bolsonaristas se aproveitaram disso, e criaram distorções bizarras incluindo
também o... Hamas. E isso respingou no Ministério de Direitos Humanos de Silvio
Almeida.
Denunciantes
do antijornalismo –
mas teve gente que não deixou barato. Enquanto Se Dino respondeu de um lado, de
outro um jornalista investigativo denunciou o antijornalismo dos jornalões:
Leandro Demori. Devido a isso, Demori foi intimidado pelo Estadão, que só
soltou uma nota de que fará uma “reciclagem profissional”.
Já
sabemos que a reunião foi feita com um secretário de Dino, a pedido da Comissão
de Direitos Humanos do Amazonas, e que a esposa do traficante estava
acompanhada da advogada Janira Rocha, ex-PSOL. Em tese, no dia da reunião, ela
estava com processo em liberdade, e depois foi condenada por associação ao
tráfico.
Carlito
Neto é outro a denunciar o antijornalismo ao mostrar recortes de entrevistas
com Felipe D’Ávila e André Esteves: há uma união das grandes com mídias bolsonaristas
(Brasil Paralelo, Revista Oeste, etc.) para depor Lula em nome da absoluta “liberdade
de expressão”, pois Lula “está impondo a censura”.
O
falsete de censura também se liga à velha proposta petista de regulamentar a mídia
ao modo europeu (o blog já abordou sobre), e agora querem uma fusão midiática à
moda Fox News de Rupert Murdock para fazer golpismo.
Entre
problemas da esquerda e os mimimis – o
fato de as mídias independentes terem derrubado a treta da “dama do tráfico”
usando um jornalismo decente revela as fraquezas da centro-esquerda ou do
governo de coalizão. Há tempos que influencers políticos de esquerda revelam a
comunicação como o pior problema.
Nas
redes sociais, a esquerda perde fácil para as mídias de desinformação vinculadas
à extrema-direita e a grande mídia a elas – mesmo que os sites fast-checks
revelem as falsidades difundidas. E o governo ainda mostrou outra fraqueza: o sistema
de segurança.
A
liberdade de entrada popular pela CF-1988 não justifica a falha de segurança em
espaços públicos como a Praça dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios, centro
da governança tripartite. O 8/1 foi um exemplo notório dos riscos futuros. Todas
as identificações por CPFs e RGs devem ser instantâneas e obrigatórias.
A política
de combate às fake news parece não compensar a falha comunicacional do governo,
da qual os extremistas e golpistas se aproveitam, refletindo na impopularidade
do governo na última pesquisa difundida.
Assim,
o mercado da mídia hegemônica e as mentiras insistentes se unem para manipular
a popularidade do governo, o que acende a luz laranja de alerta para Lula. Por
outro lado, eles atuam com dois pesos, duas medidas no sentido de passar pano
para os crimes do governo anterior e cobrar muito do pouco que Lula erra.
É aí
que uma política de comunicação governamental deve melhorar, mesmo que seja desafiador
enfrentar a oposição mal intencionada. A começar pela substituição de Juscelino
Fº e, quiçá, meter Janones na Secom.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=2r1ldFurfCo (O Historiador 22/11/23 – empresários
bolsonaristas e mídia golpista querem se unir para derrubar Lula)
- https://maquinandopensamentos.blogspot.com/2022/01/analise-sobre-c19-desagravo-grande-midia.html
(regukamentação da mídia)
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