quarta-feira, 15 de novembro de 2023

CURTAS 48 - ANÁLISES (Invisibilidades)

 Um conflito invisibilizado

                A mídia ocidental tem feito matérias de guerras no Oriente Médio, Europa (Ucrânia x Rússia), em parte da Ásia (China, Taiwan), e América do Norte (11/9/2011, World Trade Center). O mesmo ocorre sobre os desastres naturais e, claro, as diásporas de guerra e climáticas, enfatizando a recepção por países europeus e das Américas.
                As principais diásporas são de sírios, norte-africanos e iraquianos, e agora, palestinos. Mas há um lugar historicamente espoliado pelo capital que há décadas sofre com guerras e crises ambientais: a África. Esse continente com o solo mais cobiçado do planeta é o mais esquecido pela mídia quando se trata de crises humanitárias.
                Em especial, um país geograficamente grande, atormentado há décadas por uma sucessão de crises.
                Congo – segundo maior país africano, a República Democrática do Congo vive ecos de guerra civil desde 1960. Disso veio uma crise humanitária e uma diáspora externa cujo número varia entre 3 e 6 milhões de pessoas, e mais de 1, 5 milhão internamente, segundo dados da ACNUR, órgão da ONU ligado aos refugiados.
                Hoje se segue uma a guerra interétnica (tutsis x bantos). E com uma interferência externa.
                Ruanda – como o Congo, o vizinho interior compartilha a riqueza mineral e conflitos entre as mesmas etnias. Foi palco do genocídio de 1994 que matou 800 mil pessoas, em parte tutsis refugiados em Uganda e Congo. Mas o que tem Ruanda a ver com a atual crise congolesa que descamba em migrações massivas?
                Política – é o que levou ao massacre étnico de 1994 e, agora se volta contra o governo socialista congolês liderado pelo hutu (do grupo banto) Félix Tshisekedi, sucessor do também hutu Joseph Kabila. O governante ruandês é Paul Kagame, um tutsi que alcançou o poder em 2000 através de golpe de Estado que matou o antecessor hutu.
                Os detalhes acima explicam a situação atual do Congo? Não. A questão é mais complexa.
                Ideologia – se o nome oficial do Congo revela um regime de governo socialista, o de Ruanda é uma autocracia militar autoritária à direita com apoio dos EUA, Israel e parte da Europa. Forma-se, assim, uma aliança contra o governo congolês. Mas há também uma briga econômica aí.
                Há ambição da aliança sobre as ricas jazidas minerais congolesas, em especial o Coltan (columbita + tântalo), usado na indústria de eletrônicos (Samsung, Xiaomi, etc.), e o diamante por gigantes da joalheria e petrolíferas¹.
                Contradições na escravidão – embora verídica, a mão-de-obra escrava na mineração congolesa virou pretexto da citada aliança e da oposição local contra Tshisekedi, que enfrenta forças militares sob comando tutsi. Mas nesse tema da escravidão há uma forte contradição, nas grandes plantações de cacau.
                Extensivas em Gana, Nigéria e Senegal, as plantações são propriedades de gigantes como Nestlé, Hershey’s e outras e revelam a submissão do governo congolês à lógica do capital anárquico.
                Como claramente se vê, a étnica não explica a grave crise interna congolesa. Mas o capital sozinho explica.

Nota da autoria
¹ Mais de 90% dos diamantes extraídos no mundo vira componente para cortes de vidros e de perfuração de poços petrolíferos.

Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=ja-qq61_9BI (Cortes do História Pública Ian Neves – Congo: a catástrofe que o mundo ignora)
https://www.acnur.org/portugues/republica-democratica-congo-rdc/. (a crise humanitária atual)
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_do_Congo
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A poluição dos carros elétricos

                Carros elétricos não são novidade: há 100 anos, Ford lançou uma linha, que logo fracassou devido à baixa autonomia. Hoje eles retornam com tecnologia muito sofisticada. Como os carros inteligentes da Tesla dirigidos por alguns patrões por aí, e também nas ruas chinesas, onde são cada vez mais populares.
                A tendência cresce junto à preocupação com o destino de um planeta cada vez mais aquecido. Nesse embalo e na perspectiva ampla de empregabilidade e popularidade, o governo Lula 3 já deu a largada para a gigante chinesa BYD ter sua montadora em Salvador.
                Vantagens – depende do âmbito. A empregabilidade é uma boa. Há uma massa de demitidos das fábricas fechadas no Sudeste e com a privatização da Eletrobras¹ no governo anterior. Moradores da região também podem ser absorvidos por via direta ou terceirizada, beneficiando a economia da região.
                Desvantagens – embora o fato acima seja positivo, a natural expansividade das empresas transnacionais prejudica a competitividade das empresas nacionais. A começar pela indústria. O patrono da siderúrgica Gerdau enfatizou que o aço brasileiro já sente o impacto da desindustrialização nacional.
                Micro e pequenas empresas empregam mais do que as gigantes, com forte destaque em serviços. Daí Lula 3 olhá-las com mais atenção e impulsioná-las com investimento público.
                Meio ambiente – a propaganda “adeus, gases estufa” pode ser real, mas esconde um perigo. Há desatenção pública com outros pontos igualmente relevantes – dos quais nem governo nem empresas falam.
                Consciência ambiental não é o forte do brasileiro. Descarta-se eletrônico em lixo comum ou na rua mesmo. Baterias e outros componentes eletrônicos liberam chorume com metais pesados que contaminam solos e água.
                Mesmo prolongada, a autonomia da bateria decai até chegar a hora de trocá-la. Onde descarta-la? As lojas de automotivos fornecerão tambores especiais destinados ao seu descarte? Por mais que durem, os carros também poderão ter validade determinada. E onde descarta-los? A indústria terá como reciclar seus componentes?
                Assim se conclui que uma política econômica realmente ecológica é complexo e envolve planejamento e boa visão da dinâmica planetária e gestão de resíduos. Portanto, gás estufa é apenas um mísero detalhe nesse universo de saberes que envolve o conceito de sustentabilidade, tanto em política quanto em empreendedorismo.

Nota da autoria
¹ o ex vetou reaproveitamento do quadro após a privataria.

Para saber mais
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