A invisibilidades
de um golpe
Cansada
da miséria e do descaso imposto por políticas colonialistas e corruptas dos
governantes da elite branca de Santa Cruz de La Sierra, os bolivianos (56%
indígenas) fizeram história ao escolherem um candidato diferente e inédito para
chamar de seu: Evo Morales. O feito se deu em 2006.
Evo – comunista convicto e ateu, ele é para a sigla
‘Partido do Trabalho’ o que o Lula é para o PT: o maior expoente político. E
por ser indígena Uru-Aymara, ele foi uma surpresa para o mundo. E seu governo virou um
incômodo.
Socialista
democrático como Mujica, Morales foi mais além. Nacionalizou subsidiárias de
transnacionais e da nossa BR, reestatizou serviços públicos então privatizados
e universalizou o atendimento, contribuindo para a arrecadação pública recorde,
mesmo com inflação alta. E empoderou a Wiphala, a bela e colorida bandeira indígena.
Mais
popular do que antes, foi reeleito mais vezes. Com 13 anos de mandato e
recém-eleito em 2019, veio um golpe civil-militar, e violentos protestos
populares tomaram as ruas da capital La Paz. Históricos aliados como o então
preso Lula e o uruguaio Pepe Mujica condenaram o golpe que deu poder à
cristofascista Jeanine Aiñez.
Golpe – segundo denúncia da OEA¹ divulgada pela grande
mídia, a reeleição teria sido fraude e violentos protestos populares tomaram as
ruas porque um suposto referendo contra Morales não teria sido respeitado. Mas
como os protestos foram mais em cidades mais pobres e indígenas, uma
desconfiança surgiu.
Apesar
de golpista, Aiñez assentiu pela manutenção das eleições diretas para
presidente visando pacificar o povo em insistentes protestos, que por seu turno
eram dos pró-Morales. Aí se levanta a suspeita de lawfare², tal como a
feita pela nossa Lava-Jato. Nesse golpe com breve governo de Aiñez houve algo por
trás.
Lítio
e tecnologia – em sua era, Morales ambicionou transformar a Bolívia em um polo
de tecnologia de ponta. Ele criou escolas profissionalizantes para técnicos e
muniu as universidades públicas com mais vagas nos cursos ligados à área. E
tudo isso por um fator: as ricas jazidas de lítio na região do salar de Uyuni.
Morales
tinha o plano de explorar e manufaturar o mineral localmente para consumo
interno, com capital humano local. Isso afastaria a ambição de mineradoras e
exportadoras transnacionais a serviço das gigantes dos eletroeletrônicos.
O
mandato da extrema-direita foi breve. Mas durou tempo suficiente para minar a
ambição de Morales, formalizando assim a manutenção da dependência econômica do
país ao grande capital – e também a corrupção que o mesmo capital sustenta para
continuar o seu parasitismo.
Notas da autoria
¹
Organização dos Estados Americanos – infelizmente aparelhada pelos EUA.
²
termo criado por professor de Harvard (EUA) que designa armação
jurídico-política (um golpe disfarçado).
Para saber mais
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As reais regras de uma guerra
A
guerra Israel-Hamas completou 1 mês em 7/11. Nesse período a grande mídia fez
comoção no Brasil sobre as pouco mais de 2000 vítimas israelenses, apesar dos
mais de 12 mil palestinos mortos (40% crianças). E nos dois lados, essas mortes
arrancam lágrimas de dor nos entes queridos sobreviventes.
O
desequilíbrio é tão evidente que parte da grande mídia amenizou o discurso
pró-Israel. À Al-Jazeera se deve essa mudança de postura. Mas o genocídio
étnico extensivo à Cisjordânia ainda é comumente omitido.
Nisso,
a eficiente rede de desinformação da extrema-direita alcança os cristãos que
ignoram o judaísmo que nega Jesus, e digladia com a mídia independente que
replica a Al-Jazeera e tem um espaço público crescente. O exemplo é a postagem de
Carla Zambelli sobre a águia EUA-Israel capturando um ratinho palestino.
Evocando
claramente a eliminação de uma etnia, a figura desconsidera a mesma origem
semita dos dois povos, como a mesma origem eslavo-nórdica de russos europeus e
ucranianos.
Como
já abordado no blog, por trás da guerra há a ganância de estadunidenses,
israelenses e ingleses na enorme jazida de gás da Bacia de Gaza. Por essa
ganância, civis palestinos pagam com suas próprias vidas. E aí entra uma
questão: uma guerra tem mesmo regras?
Regras – na perspectiva de Direitos Humanos do Direito
Internacional, prisioneiros de guerra devem ter a atenção devida em alimentação
e saúde, e devem-se evitar alvos civis como crianças, idosos e mulheres, e
escolas, hospitais e residências. Entretanto, a realidade anatômica da guerra
tem sido bastante diferente disso.
Armados
ou não, sempre houve ataques a civis na história bélica. Os armados já vemos
pelas mídias. Já entre os não-armados, o estupro é talvez o crime mais
abjeto de guerra, por rasgar a dignidade íntima das vítimas. Mas ele é
rotineiro mesmo na guerra em tela e nas demais, por ser eficiente para levar a
desfechos rápidos.
Diferente
do que dizem os bolsonaristas, no caso do estupro na guerra em tela devemos
considerar todos os lados partícipes – além de Israel e do grupo Hamas, em recado de que as regras que ditam guerras como esta são outras.
A regra
do capital – não há como saber se a
doutrina do Direto Internacional “delira” sobre a realidade dessas ocorrências. Mas é certo que
por trás dos derrames de sangue há o mais silencioso, mascarado e perigoso dos
fatores: o capital. E para o capital, as guerras não importam.
Para saber mais
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