sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

CURTAS 50 - ANÁLISES (Invisibilidades 3)

 

A invisibilidades de um golpe

              Cansada da miséria e do descaso imposto por políticas colonialistas e corruptas dos governantes da elite branca de Santa Cruz de La Sierra, os bolivianos (56% indígenas) fizeram história ao escolherem um candidato diferente e inédito para chamar de seu: Evo Morales. O feito se deu em 2006.
             Evo – comunista convicto e ateu, ele é para a sigla ‘Partido do Trabalho’ o que o Lula é para o PT: o maior expoente político. E por ser indígena Uru-Aymara, ele foi uma surpresa para o mundo. E seu governo virou um incômodo.
            Socialista democrático como Mujica, Morales foi mais além. Nacionalizou subsidiárias de transnacionais e da nossa BR, reestatizou serviços públicos então privatizados e universalizou o atendimento, contribuindo para a arrecadação pública recorde, mesmo com inflação alta. E empoderou a Wiphala, a bela e colorida bandeira indígena.
            Mais popular do que antes, foi reeleito mais vezes. Com 13 anos de mandato e recém-eleito em 2019, veio um golpe civil-militar, e violentos protestos populares tomaram as ruas da capital La Paz. Históricos aliados como o então preso Lula e o uruguaio Pepe Mujica condenaram o golpe que deu poder à cristofascista Jeanine Aiñez.
            Golpe – segundo denúncia da OEA¹ divulgada pela grande mídia, a reeleição teria sido fraude e violentos protestos populares tomaram as ruas porque um suposto referendo contra Morales não teria sido respeitado. Mas como os protestos foram mais em cidades mais pobres e indígenas, uma desconfiança surgiu.
            Apesar de golpista, Aiñez assentiu pela manutenção das eleições diretas para presidente visando pacificar o povo em insistentes protestos, que por seu turno eram dos pró-Morales. Aí se levanta a suspeita de lawfare², tal como a feita pela nossa Lava-Jato. Nesse golpe com breve governo de Aiñez houve algo por trás.
            Lítio e tecnologia – em sua era, Morales ambicionou transformar a Bolívia em um polo de tecnologia de ponta. Ele criou escolas profissionalizantes para técnicos e muniu as universidades públicas com mais vagas nos cursos ligados à área. E tudo isso por um fator: as ricas jazidas de lítio na região do salar de Uyuni.
            Morales tinha o plano de explorar e manufaturar o mineral localmente para consumo interno, com capital humano local. Isso afastaria a ambição de mineradoras e exportadoras transnacionais a serviço das gigantes dos eletroeletrônicos.
            O mandato da extrema-direita foi breve. Mas durou tempo suficiente para minar a ambição de Morales, formalizando assim a manutenção da dependência econômica do país ao grande capital – e também a corrupção que o mesmo capital sustenta para continuar o seu parasitismo.

Notas da autoria
¹ Organização dos Estados Americanos – infelizmente aparelhada pelos EUA.
² termo criado por professor de Harvard (EUA) que designa armação jurídico-política (um golpe disfarçado).

Para saber mais
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As reais regras de uma guerra

            A guerra Israel-Hamas completou 1 mês em 7/11. Nesse período a grande mídia fez comoção no Brasil sobre as pouco mais de 2000 vítimas israelenses, apesar dos mais de 12 mil palestinos mortos (40% crianças). E nos dois lados, essas mortes arrancam lágrimas de dor nos entes queridos sobreviventes.
            O desequilíbrio é tão evidente que parte da grande mídia amenizou o discurso pró-Israel. À Al-Jazeera se deve essa mudança de postura. Mas o genocídio étnico extensivo à Cisjordânia ainda é comumente omitido.
            Nisso, a eficiente rede de desinformação da extrema-direita alcança os cristãos que ignoram o judaísmo que nega Jesus, e digladia com a mídia independente que replica a Al-Jazeera e tem um espaço público crescente. O exemplo é a postagem de Carla Zambelli sobre a águia EUA-Israel capturando um ratinho palestino.
            Evocando claramente a eliminação de uma etnia, a figura desconsidera a mesma origem semita dos dois povos, como a mesma origem eslavo-nórdica de russos europeus e ucranianos.
            Como já abordado no blog, por trás da guerra há a ganância de estadunidenses, israelenses e ingleses na enorme jazida de gás da Bacia de Gaza. Por essa ganância, civis palestinos pagam com suas próprias vidas. E aí entra uma questão: uma guerra tem mesmo regras?
            Regras – na perspectiva de Direitos Humanos do Direito Internacional, prisioneiros de guerra devem ter a atenção devida em alimentação e saúde, e devem-se evitar alvos civis como crianças, idosos e mulheres, e escolas, hospitais e residências. Entretanto, a realidade anatômica da guerra tem sido bastante diferente disso.
            Armados ou não, sempre houve ataques a civis na história bélica. Os armados já vemos pelas mídias. Já entre os não-armados, o estupro é talvez o crime mais abjeto de guerra, por rasgar a dignidade íntima das vítimas. Mas ele é rotineiro mesmo na guerra em tela e nas demais, por ser eficiente para levar a desfechos rápidos.
            Diferente do que dizem os bolsonaristas, no caso do estupro na guerra em tela devemos considerar todos os lados partícipes – além de Israel e do grupo Hamas, em recado de que as regras que ditam guerras como esta são outras.
            A regra do capital – não há como saber se a doutrina do Direto Internacional “delira” sobre a realidade dessas ocorrências. Mas é certo que por trás dos derrames de sangue há o mais silencioso, mascarado e perigoso dos fatores: o capital. E para o capital, as guerras não importam.

Para saber mais
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