sábado, 2 de dezembro de 2023

CURTAS 51 - ANÁLISES (=Invisibilidades)

 

A invisível xenofobia sul-africana

            Tradicionalmente, as democracias liberais ocidentais se publicizam para o mundo muitos bons atrativos, como belas paisagens e boas oportunidades de empego e moradia. Mas há um ponto nada alvissareiro por trás: a xenofobia. Ela é o oposto da hospitalidade e receptividade a um ou mais povos estrangeiros.
            Antes adstrita aos países mais desenvolvidos do Ocidente, a xenofobia agora se espalha entre ex-colônias nas quais imigrantes tiveram papel cultural importante. O Brasil figura como exemplo, na esteira bolsonarista. Mas estão xenofóbicos outros países que sequer poderíamos imaginar. Como, por exemplo, a África do Sul. Isso mesmo.
            Um país colorido – famoso polo paleoantropológico, a África do Sul foi colonizada por holandeses e ingleses que tomaram as terras de vários povos (xhosa, zulus, suazis, sotos, ndebeles, san, etc). Os indianos e malaios são os principais povos asiáticos. Há importante parcela mestiça (coloureds). Os brancos são 8%.
            Os idiomas são variados. O inglês é língua escolar universal e o africâner (holandês + afro e malaio) é falado por 13% da população. A maioria fala línguas nativas, mas o bilinguismo ou trilinguismo é amplo entre os nativos.
            Nesse colorido reconhecido desde Mandela, a África do Sul vive ecos sociais do apartheid que, verdade, não é exclusivo de lá. No atual pós-apartheid, o país se torna um novo palco de movimento nacionalista: Operação Dudula.
            Um novo partido político – de origem zulu, esse movimento prega ódio aos estrangeiros. Suas lideranças os culpam pela piora das mazelas socioeconômicas e pelo aumento do uso de drogas por adolescentes. Mas outro motivo, crucial e silencioso os movimenta: o neopentecostalismo. Agora, a Operação Dudula é partido político.
            Como no Brasil – o neopentecostalismo lá se tornou uma praga. Seus líderes têm forte influência econômica e política. E por serem em geral negros, eles abocanham muitos fiéis. Um deles ficou famoso por fazer seus fiéis comerem grama e beberem gasolina como se fosse suco de abacaxi. Imaginem no que deu este último.
            Reflexões – nesse sentido a Dudula soa análoga à extrema-direita aqui e na Europa. Por ser originário, esse movimento se destaca. Racismo reverso? Não. Em verdade eles associam as perdas do passado, impostos por colonizadores europeus, com os flagelos atuais a partir dos imigrantes.
            Ainda assim, não soa xenofóbico? Sem dúvida. Mas há outra explicação: o governo atual tem sido distante das necessidades de sua população, em muda abstenção. Nisso, ele é o maior culpado pela tragédia sociopolítica que tem grande chance de conquistar seu espaço.

Para saber mais
https://www.youtube.com/watch?v=yfTo-PF51Xg (BBC News Brasil – operação Dudula, o crescente movimento nacionalista que persegue imigrantes na África do Sul, 19/11/2023).
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O ouro secreto da extrema-direita

            O título do artigo soará no mínimo estranho, se não houver explicações que lhe dão o sentido necessário. Na prática, essa é mais uma invisibilidade por trás de toda a espetacularização que marca a contundência atual dos principais personagens da extrema-direita aqui e lá fora.
            Isso preocupa as lideranças socialdemocratas e de esquerda, inclusive o nosso Lula sob pressão de uma equipe recheada de direitistas, que buscam soluções para combater o extremismo, só que não sabem como. Mas valem algumas estratégias:
            Eficiência comunicativa – a eleição de Milei na Argentina e a força do bolsonarismo e do trumpismo se explicam na comunicação massiva em redes sociais. Mensageiros instantâneos viraram agregados de mentiras de prints de apelativas e coloridas postagens contra adversários, que seduzem os incautos.
            Nessa área, a esquerda deveria aprender a lição de sair do academicismo adotando linguagem popular. O problema não é não atacar seus oponentes, mas sim não usar prints sobre suas realizações. Muito embora tenha um exímio, mas esquecido colaborador, que joga parecido, mas não igual: André Janones, agora sob risco.
            Se dizer antissistema – muito embora alguns grupos da velha guarda da esquerda critiquem o capital como sistema que é de fato, a extrema-direita tomou a dianteira em se autodeclarar antissistema usando métodos do nazismo. Mas é possível mesmo ser antissistema? Como já sabemos, a resposta é um retumbante não.
            Um sistema já se preconiza na estrutura social, no conjunto de regras para a ordem social. Portanto, nos falta entender como é o sistema adotado pelos outsiders da extrema-direita atual em expansão.
            Ao pregar a criminalização do comunismo/socialismo e explorar a liberdade em rede social, os outsiders conquistam os jovens desiludidos com a frustração das perspectivas sociais da democracia, sem revelar, claro, os seus verdadeiros interesses que se ligam à face mais extrema e cruel do sistema capitalista: o anarcocapitalismo.
            A criminalização da esquerda e o neoliberalismo com a falácia de mercado autorregulado são as principais marcas anarcocapitalistas. Isso Pinochet pregou e fez no Chile, daí ser uma inspiração para os outsiders. E aí se desvela um segredo: os ditadores pretéritos são rejeitados pelos mais velhos e os jovens iletrados¹ desconhecem.
            Através das redes sociais atingindo, sobretudo, os mais jovens, a extrema-direita revela sua flexibilidade – que a esquerda atual luta para recuperar. Portanto, podemos dizer que os maiores responsáveis pela divulgação de falsetes printados foram os mais jovens e não os “tiozões do zap” que viveram os “bons tempos” da ditadura.
            Pois os jovens reúnem condições ideais, como o desconhecimento de experiências e o uso intenso de tecnologias – bem diferente da maioria dos mais velhos, por exemplo.
            A flexibilidade é o elo que liga os outsiders da extrema-direita ao mercado. Ao atingirem um público mais vulnerável e ignorante da realidade histórica, as duas partes se vangloriam ao compartilhar um segredo: o mesmo interesse em se enriquecer extremadamente à custa da destruição do patrimônio social e natural.

Nota da autoria
¹ não entendem a ligação dos interesses atuais aos fatos e nomes do passado.

Para saber mais
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Atenção!! A fonte de todas as imagens usadas no blog é o Google Imagens.
            













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