A invisível xenofobia sul-africana
Tradicionalmente,
as democracias liberais ocidentais se publicizam para o mundo muitos bons
atrativos, como belas paisagens e boas oportunidades de empego e moradia. Mas
há um ponto nada alvissareiro por trás: a xenofobia. Ela é o oposto da
hospitalidade e receptividade a um ou mais povos estrangeiros.
Antes
adstrita aos países mais desenvolvidos do Ocidente, a xenofobia agora se
espalha entre ex-colônias nas quais imigrantes tiveram papel cultural
importante. O Brasil figura como exemplo, na esteira bolsonarista. Mas estão
xenofóbicos outros países que sequer poderíamos imaginar. Como, por exemplo, a
África do Sul. Isso mesmo.
Um
país colorido –
famoso polo paleoantropológico, a África do Sul foi colonizada por holandeses e
ingleses que tomaram as terras de vários povos (xhosa, zulus, suazis, sotos,
ndebeles, san, etc). Os indianos e malaios são os principais povos asiáticos. Há
importante parcela mestiça (coloureds). Os brancos são 8%.
Os
idiomas são variados. O inglês é língua escolar universal e o africâner
(holandês + afro e malaio) é falado por 13% da população. A maioria fala
línguas nativas, mas o bilinguismo ou trilinguismo é amplo entre os nativos.
Nesse
colorido reconhecido desde Mandela, a África do Sul vive ecos sociais do apartheid
que, verdade, não é exclusivo de lá. No atual pós-apartheid, o país se
torna um novo palco de movimento nacionalista: Operação Dudula.
Um
novo partido político –
de origem zulu, esse movimento prega ódio aos estrangeiros. Suas lideranças os
culpam pela piora das mazelas socioeconômicas e pelo aumento do uso de drogas
por adolescentes. Mas outro motivo, crucial e silencioso os movimenta: o
neopentecostalismo. Agora, a Operação Dudula é partido político.
Como
no Brasil – o
neopentecostalismo lá se tornou uma praga. Seus líderes têm forte influência econômica
e política. E por serem em geral negros, eles abocanham muitos fiéis. Um deles
ficou famoso por fazer seus fiéis comerem grama e beberem gasolina como se
fosse suco de abacaxi. Imaginem no que deu este último.
Reflexões – nesse sentido a Dudula soa análoga à
extrema-direita aqui e na Europa. Por ser originário, esse movimento se destaca.
Racismo reverso? Não. Em verdade eles associam as perdas do passado, impostos por
colonizadores europeus, com os flagelos atuais a partir dos imigrantes.
Ainda
assim, não soa xenofóbico? Sem dúvida. Mas há outra explicação: o governo atual
tem sido distante das necessidades de sua população, em muda abstenção. Nisso,
ele é o maior culpado pela tragédia sociopolítica que tem grande chance de conquistar
seu espaço.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=yfTo-PF51Xg (BBC News Brasil – operação Dudula, o
crescente movimento nacionalista que persegue imigrantes na África do Sul,
19/11/2023).
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O
ouro secreto da extrema-direita
O
título do artigo soará no mínimo estranho, se não houver explicações que lhe
dão o sentido necessário. Na prática, essa é mais uma invisibilidade por trás
de toda a espetacularização que marca a contundência atual dos principais
personagens da extrema-direita aqui e lá fora.
Isso
preocupa as lideranças socialdemocratas e de esquerda, inclusive o nosso Lula
sob pressão de uma equipe recheada de direitistas, que buscam soluções para
combater o extremismo, só que não sabem como. Mas valem algumas estratégias:
Eficiência
comunicativa –
a eleição de Milei na Argentina e a força do bolsonarismo e do trumpismo se
explicam na comunicação massiva em redes sociais. Mensageiros instantâneos
viraram agregados de mentiras de prints de apelativas e coloridas postagens
contra adversários, que seduzem os incautos.
Nessa
área, a esquerda deveria aprender a lição de sair do academicismo adotando
linguagem popular. O problema não é não atacar seus oponentes, mas sim não usar
prints sobre suas realizações. Muito embora tenha um exímio, mas esquecido
colaborador, que joga parecido, mas não igual: André Janones, agora sob risco.
Se
dizer antissistema –
muito embora alguns grupos da velha guarda da esquerda critiquem o capital como
sistema que é de fato, a extrema-direita tomou a dianteira em se autodeclarar
antissistema usando métodos do nazismo. Mas é possível mesmo ser antissistema?
Como já sabemos, a resposta é um retumbante não.
Um
sistema já se preconiza na estrutura social, no conjunto de regras para a ordem
social. Portanto, nos falta entender como é o sistema adotado pelos outsiders
da extrema-direita atual em expansão.
Ao
pregar a criminalização do comunismo/socialismo e explorar a liberdade em rede
social, os outsiders conquistam os jovens desiludidos com a frustração
das perspectivas sociais da democracia, sem revelar, claro, os seus verdadeiros
interesses que se ligam à face mais extrema e cruel do sistema capitalista: o anarcocapitalismo.
A
criminalização da esquerda e o neoliberalismo com a falácia de mercado
autorregulado são as principais marcas anarcocapitalistas. Isso Pinochet pregou
e fez no Chile, daí ser uma inspiração para os outsiders. E aí se desvela um
segredo: os ditadores pretéritos são rejeitados pelos mais velhos e os jovens
iletrados¹ desconhecem.
Através
das redes sociais atingindo, sobretudo, os mais jovens, a extrema-direita
revela sua flexibilidade – que a esquerda atual luta para recuperar. Portanto,
podemos dizer que os maiores responsáveis pela divulgação de falsetes printados
foram os mais jovens e não os “tiozões do zap” que viveram os “bons tempos” da
ditadura.
Pois
os jovens reúnem condições ideais, como o desconhecimento de experiências e o uso intenso de tecnologias – bem diferente da maioria dos mais velhos,
por exemplo.
A
flexibilidade é o elo que liga os outsiders da extrema-direita ao
mercado. Ao atingirem um público mais vulnerável e ignorante da realidade
histórica, as duas partes se vangloriam ao compartilhar um segredo: o mesmo
interesse em se enriquecer extremadamente à custa da destruição do patrimônio
social e natural.
Nota da autoria
¹ não
entendem a ligação dos interesses atuais aos fatos e nomes do passado.
Para saber mais
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Atenção!! A fonte de todas as imagens usadas no blog é o Google Imagens.
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