Dino,
o comunista
Flávio Dino já era muito
popular no Maranhão. Foi deputado, governador e como senador em 2022, virou
ministro de Lula 3 e se tornou um viral comedor de bolsonaristas – e o ministro
mais popular. Reflexo do carisma cativante difícil de se ver na esquerda
brasileira atual.
Lula inicialmente não sabia
se o lançaria em 2026 ou se o indicaria ao STF: cacife ele tem para tudo. A decisão
final se deu mais de 1 mês após a aposentadoria de Rosa Weber.
Sabatina – nela apareceu um Dino comedido, mas tranquilo
diante dos bolsonaristas cuja esperança raivosa virou desespero quando 47 votos
o aprovaram. “O STF terá um comunista” ficou viral e temível. Isso tem explicação
em uma entrevista pretérita do então governador.
A uma pergunta Dino explicou:
“comunismo é cristão, é partilha”. Ao famoso clichê “comunista de Iphone”,
ele respondeu: “mas é claro, tecnologia não deve ser para poucos, mas para
todos”.
Mídias – afirmando que “Dino não é terrivelmente comunista”,
as mídias credenciadas definem comunismo como sistema tirânico. O conceito
marxista seria inviável em grandes sociedades urbanas. O que funcionou foi um
capitalismo estatal autoritário em diferentes nuanças, apesar do intento marxista.
Resposta a Lula – a afirmação midiática acima citada também foi resposta
a um discurso irônico de Lula a jovens militantes, em que deu “graças a Deus
que temos um comunista no STF”.
Saúde à frente – ideologia à parte, Flávio Dino encara sua entrada
no STF como forma de aliviar as pressões em sua saúde. Ele já sente os efeitos
da obesidade. Ao afirmar que “virou definitivamente a página” ao voltar
à Justiça, ele poderá ter menos estresse e se oportunizará se cuidar melhor.
Por herdar os processos de
Rosa Weber e a atribuição do STF de julgar políticos, Dino se ligará à política.
Espera-se dele mais progressismo e garantismo, sem perder o legalismo. Pois,
ideologias à parte, Dino é fortemente legalista, e isso marcará sua conduta.
Se já nos diverte ver o desespero dos bolsonaristas com "um comunista no STF", eles que se preparem mais a partir de agora.
Sal Ross
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Sabatina: um aprove previsível
Brasília, 13/12/2023. O senado estava em polvorosa, lotado como não se via desde o fim da barulhenta CPMI do 8/1. Mas a data foi especial: era a sabatina de dois juristas, Paulo Gonet para a PGR e Flávio Dino para o STF. Ambos foram indicados por Lula 3.
Paulo Gonet – servidor de carreira do MPF, ele era praticamente
desconhecido do povão. Só veio à luz da mídia meses após a melancólica
despedida de Augusto Aras, que manchou sua imagem após 4 anos omitindo os
muitos crimes dos Bolsonaro. Discrição à parte, sua indicação foi polêmica nos
bastidores do governo.
Se uma parte elogiava suas
qualidades, outra o criticava por ter feito elogio velado à sanguinária
ditadura militar e negar indenizações a algumas famílias de militantes mortos
pelo regime, e que há décadas aguardavam a restituição do valor judicialmente
requerido.
A sua sabatina foi tão
discreta quanto a sua vida pregressa, sem despertar alarde na mídia. Foi mais
um aquecimento dos parlamentares para a próxima.
Flávio Dino – a notoriedade desse maranhense católico e comunista
não se deve apenas ao peso de seu CV. Largou a toga de Juiz federal após 12
anos para ser deputado federal e duas vezes governador do MA. Sua popularidade
estadual federalizou após “comer” os bolsonaristas nas muitas aparições no
parlamento.
Diferente de Gonet, a sua
sabatina de 11 horas foi a mais esperada. Mas não deu alarde, apesar dos
achaques bolsonaristas ao cumprimento cordial ao adversário Sérgio Moro antes
da arguição, que revelou o Dino jurista, sereno e sério, cujo único toque de humor
foi com a ausência do voto de Moro.
Talvez o povo não tenha
gostado do tom comedido, mas Dino fez tirada com Flávio Bolsonaro, Jorge Seif e
Eduardo Girão, que alegavam a suposta incongruência de ser cristão e comunista.
Reflexão – no geral, o resultado das sabatinas foi previsível.
Apesar do número final de votos menor do que o previsto (47 pró), Dino foi
fortalecido pela campanha contrária. Além do saber jurídico, um reprove seria
prejudicial eleitoralmente aos próprios adversários, que já estão com chapa
quente na justiça.
Gonet teve 67 votos, 20 a
mais do que Dino. A postura conservadora e o elogio à ditadura sagrada aos
bolsonaristas explica. A defesa pela liberdade responsável de expressão não
pareceu relevante.
Enfim, polêmicas e alardes
à parte, ambos foram aprovados e ocuparão os novos postos. Então, suas atuações
terão atenção da patuleia e dos políticos. Os bolsonaristas já roem as unhas
com Dino no STF. Que a legalidade constitucional seja bem superior às fés
pessoais que permeiam suas posturas.
Sal Ross
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