domingo, 24 de dezembro de 2023

CURTAS 54 - ANÁLISES (Dino, sabatina Gonet e Dino)

 

Dino, o comunista

            Flávio Dino já era muito popular no Maranhão. Foi deputado, governador e como senador em 2022, virou ministro de Lula 3 e se tornou um viral comedor de bolsonaristas – e o ministro mais popular. Reflexo do carisma cativante difícil de se ver na esquerda brasileira atual.
            Lula inicialmente não sabia se o lançaria em 2026 ou se o indicaria ao STF: cacife ele tem para tudo. A decisão final se deu mais de 1 mês após a aposentadoria de Rosa Weber.
            Sabatina – nela apareceu um Dino comedido, mas tranquilo diante dos bolsonaristas cuja esperança raivosa virou desespero quando 47 votos o aprovaram. “O STF terá um comunista” ficou viral e temível. Isso tem explicação em uma entrevista pretérita do então governador.
            A uma pergunta Dino explicou: “comunismo é cristão, é partilha”. Ao famoso clichê “comunista de Iphone”, ele respondeu: “mas é claro, tecnologia não deve ser para poucos, mas para todos”.
            Mídias – afirmando que “Dino não é terrivelmente comunista”, as mídias credenciadas definem comunismo como sistema tirânico. O conceito marxista seria inviável em grandes sociedades urbanas. O que funcionou foi um capitalismo estatal autoritário em diferentes nuanças, apesar do intento marxista.
            Resposta a Lula – a afirmação midiática acima citada também foi resposta a um discurso irônico de Lula a jovens militantes, em que deu “graças a Deus que temos um comunista no STF”.
            Saúde à frente – ideologia à parte, Flávio Dino encara sua entrada no STF como forma de aliviar as pressões em sua saúde. Ele já sente os efeitos da obesidade. Ao afirmar que “virou definitivamente a página” ao voltar à Justiça, ele poderá ter menos estresse e se oportunizará se cuidar melhor.
            Por herdar os processos de Rosa Weber e a atribuição do STF de julgar políticos, Dino se ligará à política. Espera-se dele mais progressismo e garantismo, sem perder o legalismo. Pois, ideologias à parte, Dino é fortemente legalista, e isso marcará sua conduta. 
            Se já nos diverte ver o desespero dos bolsonaristas com "um comunista no STF", eles que se preparem mais a partir de agora.

Sal Ross
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Sabatina: um aprove previsível


            Brasília, 13/12/2023. O senado estava em polvorosa, lotado como não se via desde o fim da barulhenta CPMI do 8/1. Mas a data foi especial: era a sabatina de dois juristas, Paulo Gonet para a PGR e Flávio Dino para o STF. Ambos foram indicados por Lula 3.
            Paulo Gonet – servidor de carreira do MPF, ele era praticamente desconhecido do povão. Só veio à luz da mídia meses após a melancólica despedida de Augusto Aras, que manchou sua imagem após 4 anos omitindo os muitos crimes dos Bolsonaro. Discrição à parte, sua indicação foi polêmica nos bastidores do governo.
            Se uma parte elogiava suas qualidades, outra o criticava por ter feito elogio velado à sanguinária ditadura militar e negar indenizações a algumas famílias de militantes mortos pelo regime, e que há décadas aguardavam a restituição do valor judicialmente requerido.
            A sua sabatina foi tão discreta quanto a sua vida pregressa, sem despertar alarde na mídia. Foi mais um aquecimento dos parlamentares para a próxima.
            Flávio Dino – a notoriedade desse maranhense católico e comunista não se deve apenas ao peso de seu CV. Largou a toga de Juiz federal após 12 anos para ser deputado federal e duas vezes governador do MA. Sua popularidade estadual federalizou após “comer” os bolsonaristas nas muitas aparições no parlamento.
            Diferente de Gonet, a sua sabatina de 11 horas foi a mais esperada. Mas não deu alarde, apesar dos achaques bolsonaristas ao cumprimento cordial ao adversário Sérgio Moro antes da arguição, que revelou o Dino jurista, sereno e sério, cujo único toque de humor foi com a ausência do voto de Moro.
            Talvez o povo não tenha gostado do tom comedido, mas Dino fez tirada com Flávio Bolsonaro, Jorge Seif e Eduardo Girão, que alegavam a suposta incongruência de ser cristão e comunista.
            Reflexão – no geral, o resultado das sabatinas foi previsível. Apesar do número final de votos menor do que o previsto (47 pró), Dino foi fortalecido pela campanha contrária. Além do saber jurídico, um reprove seria prejudicial eleitoralmente aos próprios adversários, que já estão com chapa quente na justiça.
            Gonet teve 67 votos, 20 a mais do que Dino. A postura conservadora e o elogio à ditadura sagrada aos bolsonaristas explica. A defesa pela liberdade responsável de expressão não pareceu relevante.
            Enfim, polêmicas e alardes à parte, ambos foram aprovados e ocuparão os novos postos. Então, suas atuações terão atenção da patuleia e dos políticos. Os bolsonaristas já roem as unhas com Dino no STF. Que a legalidade constitucional seja bem superior às fés pessoais que permeiam suas posturas.

Sal Ross
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