O todo-poderoso agro
No Congresso há, pelo menos, 3 bancadas
temáticas: a da bala, a da bíblia e a do boi, o trio BBB. A primeira se refere
à política penal e de segurança; a segunda, de costumes; e a última os
interesses da elite do agro.
São distintas, mas se articulam à direita, de
conservadorismo rude e muito capitalista. Juntas, elas compõem a maioria dos
647 congressistas. A mais rica, a bancada do boi representa bem os interesses
elitistas em geral.
A bancada do boi se destacou recentemente em
jabutis na PEC da reforma tributária: conseguiu isenção em coisas ligadas à
agropecuária, embora tenha se frustração ao ter seus luxos tributados.
Alguns representantes – alguns
exemplos se destacam, como Abílio Brunini (MT), Simone Tebet (MS); e Arthur
Lira (AL), hoje o nome mais poderoso de Alagoas, alvo de denúncia de ter
fazendas em terra indígena.
Mas no Congresso há nomes que não se assumem da
bancada. O próprio Lira é um exemplo, bem como Fernando Collor e Renan
Calheiros, entre vários outros – o que denuncia uma dimensão espacial maior do
que pensamos.
Agro brasileiro no Paraguai – como
a Bolívia, o Paraguai não tem saída para o mar e tem grande população
indígena, o que relativiza a importância cotidiana do idioma espanhol. Mas,
diferente do país andino, o Paraguai tem grandes áreas tomadas por brasileiros.
O governo paraguaio aparentemente não reclama
disso. Aliás, defende que os brasileiros “dão muitos empregos” aos locais. Mas
o teor das reportagens da mídia De Olho nos Ruralistas revela um
contexto oposto.
Fumigação ilegal de veneno para expulsar
indígenas e camponeses; destruição de escolas indígenas, assassinatos de
camponeses e devastação ambiental são algumas das denúncias comuns nas
reportagens. Há denúncia de trabalho escravo sobre camponeses e indígenas que
perderam ilegalmente suas terras.
Ainda se denuncia que os grandes latifundiários brasileiros contribuíram para a deposição do ex-padre e ex-presidente Fernando Lugo, então denunciado por pedofilia. A participação brasileira nisso desperta para outros motivos silenciados pela imprensa.
No Brasil – o teor das denúncias dessas
e outras violações pelo agro são conhecidos aqui. PMs e jagunços atuam como
mão-de-obra terceirizada para praticar violência campal geral. É uma imensa dor
de cabeça para o governo Lula.
Mas Lula também ajuda nisso: não mexe na
errática lei Kandir e ainda concedeu benesse de mais de R$ 300 bilhões aos
latifundiários que, como pastores de mega igrejas, interferem profundamente nos
rumos dos governos federais.
Impeachment –o
governo Lula ainda não tinha seis meses de vida quando surgiram as primeiras
petições para impeachment entregues a Lira. Parte considerável da
oposição, a bancada do boi engrossou a lista de assinantes em petições de
bolsonaristas ávidos em depor o governo.
Reflexão – embora as mídias não
mencionem, talvez por saber do risco de seu governo, Lula tenha concedido a
benesse bilionária à turma do agro. Afinal, com menos de 140 governistas, o
governo se depara com um parlamento mais hostil.
Alguns nomes midiáticos acreditam ser quase
impossível Lula ser abortado, graças ao presente aquecimento econômico com
maior PIB, valorização do salário-mínimo e muitos empregos formais. Mas há
pontuações incômodas.
Ministérios –
Arthur Lira acusa haver super representação do Senado nos ministérios em
detrimento da Câmara. Na prática, a Caixa e as pastas dos Esportes, Transportes
e Comunicação estão sob o Centrão. Mas Lira considera pouco.
Ele quer as pastas estratégicas para a economia,
como a de Desenvolvimento, Energia, Planejamento, Saúde e, se possível um olho
mais gordo, até a Fazenda, ocupadas pelo PT e pelo MDB de Renan Calheiros, aliado
de Lula.
É possível que o reclame de Lira esteja em nome
do grupo do agro. E caso isso se confirme, se torna válido afirmar que o mesmo
grupo representante da atividade incentivada pelo governo Lula coloca o próprio
presidente em risco.
Para saber mais
Série Brasileiros no Paraguai
Dossiês temáticos
----
O maior teste de Lula
Neste 1/1/2024, Lula 3 completou 1 ano de governo. Como vimos em Lula 3,-retrospecto 2023, muita água nova rolou nesse rio. Marcas registradas do petismo retornaram, algumas turbinadas,
e novidades como o destaque a indígenas, quilombolas e sem-teto.
Lula enfrentou testes que o puseram em prova de resistência
durante todo o ano que agora findou. E ele sabe que os seus muitos inimigos
políticos estão muito dispostos a oferecer mais desafios.
Mas houve um teste ao longo de 2023 do qual todos
os governantes dependem para saber se o rumo tomado está certo ou errado. Trata-se
de dos levantamentos de popularidade por institutos de pesquisa.
Médias estatísticas –
os institutos de pesquisa são os mesmos que levantam dados eleitorais de
candidatos. As pesquisas de popularidade dos presidentes, governadores e prefeitos
também se baseiam em médias estatísticas.
Se o candidato eleito retorna ao poder – como Lula
3, por exemplo –, comparações estatísticas em séries históricas em diferentes combinações, apenas envolvendo suas passagens anteriores, ou outros governantes.
Por exemplo: Lula 3 já foi medido comparando o
primeiro semestre de 2023 com o primeiro semestre de 2003 (L 1) e de 2007 (L 2).
E houve medidas parecidas com as dos
governos Dilma e Bolsonaro (Temer foi breve, mas entrou em outras combinações).
Popularidade 2023 – pesquisas
do governo para todo o ano de 2023 foram publicadas considerando-se as séries periódicas
já levantadas durante o ano. A tendência foi de relativa estabilidade em todo o
período, com ligeiras variações.
Tal tendência revelou números de governo ótimo/bom
entre 43 e 49%, acompanhados da média de 23-28%, para avaliação regular–
tudo em margem de erro em ± 3 %. O número final é a média da soma das duas
avaliações.
Como a soma das avaliações se deu na média abaixo
de 50%, segundo o Estadão de 21/12/2023, o governo Lula se manteve
superior a Bolsonaro, mas sem alcançar as marcas dos seus dois primeiros
mandatos.
Reflexão – considerando-se as somas
das avaliações ótimo/bom com a regular, pode-se dizer que na mediana das somas o
governo Lula 3 atingiu um patamar mais baixo de popularidade. Mas vale considerar
pontos importantes.
Parcialidade –
a matéria do Estadão comparou o governo atual em seu 1º ano com os anteriores
completos, o que requer interpretação mais cuidadosa e atenta à influência da
parcialidade que marca o momento presente.
Contexto – em
2010, Lula completou 2 governos com média de 85 a 87% de popularidade O contexto
sociopolítico e econômico então era bem diferente, com o petismo no auge,
decaindo somente em 2015, na ascensão da extrema-direita.
Lula 3 entrou e terminou seu ano na sombra do
bolsonarismo capitalista radical que torna o Congresso mais hostil e reverbera
na vida social e na mídia mais ampla, e uma nação ainda dividida que mitiga a
antiga força do petismo.
Ainda assim, o petismo revela a sua marca. Em linhas gerais, Lula completou o seu 1º ano melhor do que Bolsonaro e
Temer inteiros. Aí não se afogou, mas sabe que precisa melhorar para reconquistar
a antiga popularidade. E este será o maior teste de governo de sua vida.
Para saber mais
----
Lula ameaçado de morte
2023 foi um ano bastante agitado para o governo Lula
3. Como ele disse, “reconstruí um pouco do que foi destruído no governo
passado”. Agora ele foi passar o pós-Natal com Janja em praia protegida
pela Marinha.
A menção de descanso pela mídia foi o suficiente
para que Nikolas Ferreira (PL-MG) debochar de Lula no X: “o pai dos pobres
foi descansar em praia privativa das Forças Armadas”. O post atraiu
gente de intenções nada alvissareiras.
Atentado –
um dos seguidores comentou na postagem sugerindo “contratar mercenário com
um rifle de alta precisão”. A
intenção do comentário foi clara: matar Lula. Por ser em rede social, a postagem
parou na rede da PGR.
A PGR mandou investigar a postagem para saber se
houve incitação indireta de ameaça por Nikolas. Nervoso, o deputado meteu vídeo
para convencer seus seguidores a descreditar a denúncia, a mídia e as
instituições.
A princípio, a postagem se refere a uma
comparação do descanso de Lula ao de Bolsonaro, que estaria “em meio ao povo” em
praia do Nordeste. Aparentemente, a intenção criminosa se limita ao comentário
do seguidor do deputado.
O problema é que o deputado não fez nenhum alerta ao comentarista sobre o risco imposto pelo teor do comentário. E nem o apagou. A rede social tem ferramentas que permitem ao autor do post apagar qualquer comentário não desejado ou problemático. Tal omissão aparente pode incriminá-lo.
Pode dar ruim –Nikolas
está desesperado. Já queimado por processos judiciais por transfobia e
condenado num deles, ele é suspeito de incentivo ao terror no pós-eleição e em
8/1, e pode responder agora por suposta incitação de crime.
E há outros registros bem ruins de sua atuação em referência a Lula: declarou “guerra " em sua posse na Câmara; se referiu a ele como “ex-presidiário” em
comissões; e entoou “o ladrão voltou!” com os seus colegas quando Lula foi à tribuna sancionar a EC
da reforma tributária.
Se confirmada a incitação, que é delegar ideação e/ou prática de crime a outrem, em sua postagem, o parlamentar filho de pastor engorda a sua ficha criminal que já assume uma dimensão suficiente para que seu mandato seja cassado. Afinal, seus crimes se configuram contra a dignidade do outro.
Segurança – apesar de não aparentar intenção criminal, a postagem de Nikolas levou o interino no MJSP Ricardo Capelli a autorizar reforço na segurança do presidente no
trajeto de volta a Brasília. Afinal, ações pretéritas já levam a isso.
Em 2017, um ônibus da caravana de Lula foi alvejado
por tiros no Sul do Brasil. Felizmente ninguém se feriu, nem houve punição. Em comícios
da campanha eleitoral de 2022 houve novas tentativas indiretas, todas frustradas.
Na época, a própria PF reconheceu que o então
candidato Lula corria risco máximo de atentado. Ela recomendou um reforço na equipe
de segurança, o que foi recusado pelo então presidente do GSI general Augusto
Heleno, por sinal um inimigo ferrenho do velho e experiente petista.
Leal ao presidente e considerando os perigos que
ele corre, Capelli tem razão em se preocupar. Afinal, o bolsonarismo radical é cultivado
na patuleia por suas referências na classe política. E isso já é perigoso por
si só – e precisa ser eliminado¹.
Nota da autoria
¹ André Janones criou PL que criminaliza o bolsonarismo comparando-o ao nazismo, por suas semelhanças e intenções. A PL incomoda os bolsonaristas e pode estar por trás do processo por suposta rachadinha.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=x6O1Kn82yx0 (O
Historiador – Nikolas Ferreira pode ser condenado por ameaça a Lula).
- outras fontes: informativas: G1 Globo,
Metrópoles, UOL e outras.
----
Nenhum comentário:
Postar um comentário