segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

CURTAS 55 - ANÁLISES (poder do agro; povo sobre governo; ameaça de morte)

 

O todo-poderoso agro

            No Congresso há, pelo menos, 3 bancadas temáticas: a da bala, a da bíblia e a do boi, o trio BBB. A primeira se refere à política penal e de segurança; a segunda, de costumes; e a última os interesses da elite do agro.
            São distintas, mas se articulam à direita, de conservadorismo rude e muito capitalista. Juntas, elas compõem a maioria dos 647 congressistas. A mais rica, a bancada do boi representa bem os interesses elitistas em geral.
            A bancada do boi se destacou recentemente em jabutis na PEC da reforma tributária: conseguiu isenção em coisas ligadas à agropecuária, embora tenha se frustração ao ter seus luxos tributados.
            Alguns representantes – alguns exemplos se destacam, como Abílio Brunini (MT), Simone Tebet (MS); e Arthur Lira (AL), hoje o nome mais poderoso de Alagoas, alvo de denúncia de ter fazendas em terra indígena.
            Mas no Congresso há nomes que não se assumem da bancada. O próprio Lira é um exemplo, bem como Fernando Collor e Renan Calheiros, entre vários outros – o que denuncia uma dimensão espacial maior do que pensamos.
            Agro brasileiro no Paraguai – como a Bolívia, o Paraguai não tem saída para o mar e tem grande população indígena, o que relativiza a importância cotidiana do idioma espanhol. Mas, diferente do país andino, o Paraguai tem grandes áreas tomadas por brasileiros.
            O governo paraguaio aparentemente não reclama disso. Aliás, defende que os brasileiros “dão muitos empregos” aos locais. Mas o teor das reportagens da mídia De Olho nos Ruralistas revela um contexto oposto.
            Fumigação ilegal de veneno para expulsar indígenas e camponeses; destruição de escolas indígenas, assassinatos de camponeses e devastação ambiental são algumas das denúncias comuns nas reportagens. Há denúncia de trabalho escravo sobre camponeses e indígenas que perderam ilegalmente suas terras.
            Ainda se denuncia que os grandes latifundiários brasileiros contribuíram para a deposição do ex-padre e ex-presidente  Fernando Lugo, então denunciado por pedofilia. A participação brasileira nisso desperta para outros motivos silenciados pela imprensa.
            No Brasil – o teor das denúncias dessas e outras violações pelo agro são conhecidos aqui. PMs e jagunços atuam como mão-de-obra terceirizada para praticar violência campal geral. É uma imensa dor de cabeça para o governo Lula.
            Mas Lula também ajuda nisso: não mexe na errática lei Kandir e ainda concedeu benesse de mais de R$ 300 bilhões aos latifundiários que, como pastores de mega igrejas, interferem profundamente nos rumos dos governos federais.
            Impeachment –o governo Lula ainda não tinha seis meses de vida quando surgiram as primeiras petições para impeachment entregues a Lira. Parte considerável da oposição, a bancada do boi engrossou a lista de assinantes em petições de bolsonaristas ávidos em depor o governo.
            Reflexão – embora as mídias não mencionem, talvez por saber do risco de seu governo, Lula tenha concedido a benesse bilionária à turma do agro. Afinal, com menos de 140 governistas, o governo se depara com um parlamento mais hostil.
            Alguns nomes midiáticos acreditam ser quase impossível Lula ser abortado, graças ao presente aquecimento econômico com maior PIB, valorização do salário-mínimo e muitos empregos formais. Mas há pontuações incômodas.
            Ministérios – Arthur Lira acusa haver super representação do Senado nos ministérios em detrimento da Câmara. Na prática, a Caixa e as pastas dos Esportes, Transportes e Comunicação estão sob o Centrão. Mas Lira considera pouco.
            Ele quer as pastas estratégicas para a economia, como a de Desenvolvimento, Energia, Planejamento, Saúde e, se possível um olho mais gordo, até a Fazenda, ocupadas pelo PT e pelo MDB de Renan Calheiros, aliado de Lula.
            É possível que o reclame de Lira esteja em nome do grupo do agro. E caso isso se confirme, se torna válido afirmar que o mesmo grupo representante da atividade incentivada pelo governo Lula coloca o próprio presidente em risco.

Para saber mais
Série Brasileiros no Paraguai
Dossiês temáticos 
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O maior teste de Lula

           Neste 1/1/2024, Lula 3 completou 1 ano de governo. Como vimos em Lula 3,-retrospecto 2023, muita água nova rolou nesse rio. Marcas registradas do petismo retornaram, algumas turbinadas, e novidades como o destaque a indígenas, quilombolas e sem-teto.
           Lula enfrentou testes que o puseram em prova de resistência durante todo o ano que agora findou. E ele sabe que os seus muitos inimigos políticos estão muito dispostos a oferecer mais desafios.
            Mas houve um teste ao longo de 2023 do qual todos os governantes dependem para saber se o rumo tomado está certo ou errado. Trata-se de dos levantamentos de popularidade por institutos de pesquisa.
            Médias estatísticas – os institutos de pesquisa são os mesmos que levantam dados eleitorais de candidatos. As pesquisas de popularidade dos presidentes, governadores e prefeitos também se baseiam em médias estatísticas.
            Se o candidato eleito retorna ao poder – como Lula 3, por exemplo –, comparações estatísticas em séries históricas em diferentes combinações, apenas envolvendo suas passagens anteriores, ou outros governantes.
            Por exemplo: Lula 3 já foi medido comparando o primeiro semestre de 2023 com o primeiro semestre de 2003 (L 1) e de 2007 (L 2).  E houve medidas parecidas com as dos governos Dilma e Bolsonaro (Temer foi breve, mas entrou em outras combinações).
            Popularidade 2023 – pesquisas do governo para todo o ano de 2023 foram publicadas considerando-se as séries periódicas já levantadas durante o ano. A tendência foi de relativa estabilidade em todo o período, com ligeiras variações.
            Tal tendência revelou números de governo ótimo/bom entre 43 e 49%, acompanhados da média de 23-28%, para avaliação regular– tudo em margem de erro em ± 3 %. O número final é a média da soma das duas avaliações.
            Como a soma das avaliações se deu na média abaixo de 50%, segundo o Estadão de 21/12/2023, o governo Lula se manteve superior a Bolsonaro, mas sem alcançar as marcas dos seus dois primeiros mandatos.
            Reflexão – considerando-se as somas das avaliações ótimo/bom com a regular, pode-se dizer que na mediana das somas o governo Lula 3 atingiu um patamar mais baixo de popularidade. Mas vale considerar pontos importantes.
            Parcialidade – a matéria do Estadão comparou o governo atual em seu 1º ano com os anteriores completos, o que requer interpretação mais cuidadosa e atenta à influência da parcialidade que marca o momento presente.
            Contexto – em 2010, Lula completou 2 governos com média de 85 a 87% de popularidade O contexto sociopolítico e econômico então era bem diferente, com o petismo no auge, decaindo somente em 2015, na ascensão da extrema-direita.
            Lula 3 entrou e terminou seu ano na sombra do bolsonarismo capitalista radical que torna o Congresso mais hostil e reverbera na vida social e na mídia mais ampla, e uma nação ainda dividida que mitiga a antiga força do petismo.
            Ainda assim, o petismo revela a sua marca. Em linhas gerais, Lula completou o seu 1º ano melhor do que Bolsonaro e Temer inteiros. Aí não se afogou, mas sabe que precisa melhorar para reconquistar a antiga popularidade. E este será o maior teste de governo de sua vida.

Para saber mais
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Lula ameaçado de morte

     
2023 foi um ano bastante agitado para o governo Lula 3. Como ele disse, “reconstruí um pouco do que foi destruído no governo passado”. Agora ele foi passar o pós-Natal com Janja em praia protegida pela Marinha.
            A menção de descanso pela mídia foi o suficiente para que Nikolas Ferreira (PL-MG) debochar de Lula no X: “o pai dos pobres foi descansar em praia privativa das Forças Armadas”. O post atraiu gente de intenções nada alvissareiras.
            Atentado – um dos seguidores comentou na postagem sugerindo “contratar mercenário com um rifle de alta precisão”.  A intenção do comentário foi clara: matar Lula. Por ser em rede social, a postagem parou na rede da PGR.
            A PGR mandou investigar a postagem para saber se houve incitação indireta de ameaça por Nikolas. Nervoso, o deputado meteu vídeo para convencer seus seguidores a descreditar a denúncia, a mídia e as instituições.
            A princípio, a postagem se refere a uma comparação do descanso de Lula ao de Bolsonaro, que estaria “em meio ao povo” em praia do Nordeste. Aparentemente, a intenção criminosa se limita ao comentário do seguidor do deputado.
             O problema é que o deputado não fez nenhum alerta ao comentarista sobre o risco imposto pelo teor do comentário. E nem o apagou. A rede social tem ferramentas que permitem ao autor do post apagar qualquer comentário não desejado ou problemático. Tal omissão aparente pode incriminá-lo.
            Pode dar ruim –Nikolas está desesperado. Já queimado por processos judiciais por transfobia e condenado num deles, ele é suspeito de incentivo ao terror no pós-eleição e em 8/1, e pode responder agora por suposta incitação de crime.
            E há outros registros bem ruins de sua atuação em referência a Lula: declarou “guerra " em sua posse na Câmara; se referiu a ele como “ex-presidiário” em comissões; e entoou “o ladrão voltou!” com os seus colegas quando Lula foi à tribuna sancionar a EC da reforma tributária.
            Se confirmada a incitação, que é delegar ideação e/ou prática de crime a outrem, em sua postagem, o parlamentar filho de pastor engorda a sua ficha criminal  que já assume uma dimensão suficiente para que seu mandato seja cassado. Afinal, seus crimes se configuram contra a dignidade do outro.
            Segurança – apesar de não aparentar intenção criminal, a postagem de Nikolas levou o interino no MJSP Ricardo Capelli a autorizar reforço na segurança do presidente no trajeto de volta a Brasília. Afinal, ações pretéritas já levam a isso.
            Em 2017, um ônibus da caravana de Lula foi alvejado por tiros no Sul do Brasil. Felizmente ninguém se feriu, nem houve punição. Em comícios da campanha eleitoral de 2022 houve novas tentativas indiretas, todas frustradas.
            Na época, a própria PF reconheceu que o então candidato Lula corria risco máximo de atentado. Ela recomendou um reforço na equipe de segurança, o que foi recusado pelo então presidente do GSI general Augusto Heleno, por sinal um inimigo ferrenho do velho e experiente petista.
            Leal ao presidente e considerando os perigos que ele corre, Capelli tem razão em se preocupar. Afinal, o bolsonarismo radical é cultivado na patuleia por suas referências na classe política. E isso já é perigoso por si só – e precisa ser eliminado¹.

Nota da autoria
¹ André Janones criou PL que criminaliza o bolsonarismo comparando-o ao nazismo, por suas semelhanças e intenções. A PL incomoda os bolsonaristas e pode estar por trás do processo por suposta rachadinha.

Para saber mais
https://www.youtube.com/watch?v=x6O1Kn82yx0 (O HistoriadorNikolas Ferreira pode ser condenado por ameaça a Lula).
outras fontes: informativas: G1 Globo, Metrópoles, UOL e outras.
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