sexta-feira, 15 de novembro de 2024

ANÁLISE - Eleições EUA 2024 (e o final - reflexões)

 

Kamala x Trump: a ditadura do capital

            Após a confusão da eleição eleitoral na Venezuela que gerou um racha diplomático entre Brasil e o “reeleito” Nicolás Maduro, o mundo se atentou aos Estados Unidos neste dia 3/11. Não era para menos: trata-se de uma eleição presidencial histórica.
            Após a confusão da eleição eleitoral venezuelana que gerou um racha diplomático entre Brasil e o “reeleito” Nicolás Maduro, o mundo se atentou aos Estados Unidos neste dia 3/11. Não era para menos: trata-se de uma eleição presidencial histórica.
            Voto facultativo, sistema confuso – o voto popular nos EUA é facultativo, mas o povo de  lá preza as eleições presidenciais, talvez mais do que para o Capitólio, o Congresso de lá, a despeito do poder parlamentar ser quase como aqui e ser votado junto.
            Em alguns Estados o voto é de papel; em outros, eletrônico; e em outros, por carta enviada via Correios. As motor homes (casas automotivas) com urnas foram disponibilizadas para atender à maior demanda popular deste ano.
            Só tem um problema: o voto popular tem menor peso decisivo do que o dos chamados delegados para definir o eleito. E entra aí a força da Suprema Corte (o STF de lá). Isso já basta para desmontar o mito da “maior democracia do mundo”.
            Diferente do Brasil, os EUA têm um sistema eleitoral meio louco para nós. Em alguns Estados o voto é presencial de papel; em outros é por carta; em outros, eletrônico. Portanto, cartórios, Correios e motor homes recebem os votos.
            Essa diversidade de locais de votação e de votos é, na prática, uma “loucura” organizada. Há maior perda de tempo de contagem a sujeita o sistema a recontagens com possível interferência institucional – o que margeia um abismo fraudulento.
            Os candidatos: perigos subjacentes – os jornalões e seus satélites mencionam 2 partidos políticos nos EUA: Democrata e Republicano. Na prática, ambos embutem cerca de 100 siglas, número superior ao total de partidos no Brasil.
            Se o republicano Trump segue a cartilha nazifascista com negacionismo, racismo, misoginia e xenofobia, Kamala se aproxima da colega Alexandria Ocasio-Cortez na defesa dos ideais femininos, socioambientais e outros e criticar os preconceitos do adversário – em teoria.
            Na prática, a cor de pele e a origem diferente não tornaram Kamala progressista. Em momento vimos críticas à violência policial contra afro-estadunidenses e a manifestantes pró-Palestina, nem mesmo o surreal manifesto neonazi em bairro judeu.
            Relação Brasil-EUA- a parceria entre os dois países é complexa e, invariavelmente, marcada pela dominação dos EUA. A geologia rica em minérios e hidrocarbonetos e a economia de mercado tornam o Brasil um quintal especial para os ianques.
            Implicações – as implicações aqui devem ser consideradas nos dois contextos políticos, interno e externo.
            Política interna- democratas e republicanos só diferem um pouco em direitos humanos. Kamala se limitou a criticar o aprove da proibição total ao aborto, sem criticar a violência policial contra afro-estadunidenses e manifestantes pró-Palestina.
            Embora criticada por ser 100% privada e seletiva, a saúde aparentemente não foi devidamente coberta pelas mídias. A economia interna foi bem coberta, por causa da alta recente da inflação e do crescente domínio da avançada indústria chinesa.
            O tema Saúde aparentemente não teve para ambos a mesma relevância que política externa ou economia. Ou as mídias não deram cobertura mais ampla, o que pode ter sido um erro: o sistema 100% privado – e seletivo – é muito criticado.
            Imigrantes latinos não têm direito à assistência. O país enfrenta multidões miseráveis nas ruas e a explosão do vício em fentanil e derivados, superando a da heroína. As autoridades não sabem o que fazer com os zumbis nas ruas.
            A epidemia de violência policial também deveria preocupar. Por força do trumpismo, policiais brancos não precisam fazer operações como as feitas aqui no Brasil: lá os não brancos são gratuitamente abordados nas avenidas das grandes cidades.
            Política externa- os EUA não têm palavra: criaram a OTAN e a guerra fria com os socialistas, prometendo findar tudo em caso de paz (leia-se fim da URSS). URSS e Pacto de Varsóvia morreram e OTAN e guerra fria continuam fortes como antes.
            Com parte dos BRICs, América Latina e África e outros países emergentes do Sul Global, a relação dos EUA de Kamala ou Trump continuará dominante, no velho protocolo pseudodiplomático. Para ambos, são quintais de culturas exóticas e linda biosfera.
            O discurso de narcisismo ianque de Trump e o identitarismo de Kamala não amenizarão o clima belicoso das relações com Oriente Médio, Rússia e as pseudocomunistas China e Coreia do Norte. A guerra fria seguirá terceirizando mão-de-obra bélica.
            E falando em guerras, a política externa de Biden passa aos contrários a falsa impressão de que os republicanos são mais pacíficos. Só que não: os governos George Bush pai e filho arrasam Afeganistão e Iraque, respectivamente, deixando-os em ruínas.
            O fator dessa falsa impressão é o discurso de exaltação ao egocentrismo estadunidense. A promessa de não mais ajudar a Ucrânia não significa o fim da guerra russo-ucraniana, assim como o genocídio palestino e as guerras civis na África ocidental.
            Meio ambiente – talvez esse tema seja o de mais franca oposição entre ambos. Trump é o conhecido negacionista do antropismo climático (mudança climática induzida pela atividade humana). Já Kamala compartilha a preocupação científica.
            Em seu governo, Trump retirou dos EUA a assinatura histórica no Tratado do Clima de Paris de 2015, o qual tratou da exacerbação do aquecimento global pelas emissões humanas de gases estufa. Já Kamala pretende manter a assinatura recolocada por Biden.
            Mais do que a identidade de gênero e cor, meio ambiente foi o que motivou a declaração de apoio de Lula à democrata. Mas o problema é mais do que político. Ele alcança os interesses de mercado, cuja relação predatória com os recursos do planeta ainda domina.
            Política brasileira- cabe o destaque do Brasil aqui. Possivelmente Kamala pretende seguir Biden nas relações políticas com o Brasil de Lula, após críticas daquele às tentativas de golpismo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
            Pode haver algum entrevero diplomático em assuntos bem específicos, como a rivalidade monetária entre dólar e BRICs pelo temor de perder a hegemonia, e tentativas de espionagem estadunidense ou israelense, a exemplo do incidente ocorrido entre Dilma e Obama.
            Por outro lado, em caso de vitória de Trump, é mais possível a continuidade de convivência relativamente pacífica do que a tão esperada relação belicosa alimentada pela claque liderada pelos Bolsonaro. Até porque Trump nada poderá fazer contra o judiciário brasileiro.
            Ou seja, os EUA politicamente seguirão como dantes no quartel de Abranches, conosco aqui e com o restante do mundo. É a ditadura do capital.

Nota da autoria
¹ causa socioambiental, direitos reprodutivos femininos e direitos de minorias marginalizadas.

Sal Ross
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Deu Trump: e agora, José?

            O mundo todo estava de olhos voltados aos EUA, dado o clima eleitoral para a presidência e para a nova legislatura. Não foi por menos: são vários os problemas globais em cujos cernes estão os EUA, que gostam de dar a última palavra em tudo.
            Mas, por incrível que pareça, o processo final não foi nada acirrado. Diferente dos pleitos anteriores, o resultado foi um tanto rápido num sistema diversificado e com contagens manuais, mecânicas ou eletrônicas. Deu Trump.
            Embora oficialmente derrotada, Kamala Harris já escreveu um capítulo considerável de sua história. Não só na sua identidade feminina. É por ser a primeira mulher negra a chegar quase lá, enfrentando a cultura viril da Casa Branca.
            Um choque global – após a (falsa) esperança de que os EUA fossem quebrar o tabu de gênero na presidência, o anúncio da vitória de Trump soou como uma verdadeira onda de choque, com diferentes reações pelo mundo. E não é à toa.
            Há muitas razões. Não só pela natureza de seus crimes, com tentativa de golpe de Estado e tudo. Nem pelo peculiar topete laranja esbranquiçado. É um condenado tornado presidente, com todo o vigor reacionário e anticientífico.
            E agora, José?
            Nazifascismo conspiratório- Donald Trump não é pioneiro na extrema-direita. No contexto das Américas, MacCarthy foi o pioneiro. Foi dele a criação do pânico moral anticomunista que mais tarde inspirou as ditaduras militares na América do Sul.
            Esse pânico anticomunista ressuscitou na ideologia de Trump quando de sua estreia política tardia, mas triunfante como presidente, em 2016. Sua vitória favoreceu a eleição de Bolsonaro por aqui, engrossando a política anticientífica e falaciosa.
            A 1ª era Trump ficou na memória do mundo. Ele retirou a assinatura dos EUA do Acordo do Clima de Paris, negando o efeito humano no padrão climático, e também negou a crise social interna de pobreza e drogas. Tudo isso Bolsonaro replicou aqui.
            Sem falar da pandemia de C19 – o ápice do negacionismo científico de ambos, com incentivo a grupos antivacina devido a falácias sobre as vacinas. Resultado: EUA e Brasil foram os campeões letais da C19, com mais de 1 milhão e de 700 mil, respectivamente.
            Como Biden reassinou o Acordo de Paris, Trump prometeu retirá-la novamente. E o pior é que ele costuma cumprir suas piores promessas. Já nomeou, para seus Departamentos (ministérios), cristofascistas que são seus reflexos no espelho ideológico.
            Oportunidade aos dominados – a vitória eleitoral de Trump pode ser assustadora em suas consequências imprevisíveis. Por outro lado, ela oportuniza os governantes de países espoliados por sua ambição, em especial os constituintes dos BRICS.
            Em horas como essa, governantes progressistas democráticos podem apontar recusas como a de Trump como uma admissão obrigatória de culpa pelas consequências globais de seus atos. E antes mesmo de Trump, podemos apontar Biden.
            Biden encerrará o seu mandato marcado sob grossa camada de impopularidade entre os estadunidenses. E não só devido à economia interna. Também pesa em seus ombros a espada do genocídio palestino ao patrocinar Israel com tecnologia bélica.
            Trump foi eleito graças ao discurso de apelo ao narcisismo coletivo ianque que promete solução quase mágica para a economia interna. Mas ele também disse que “tarifa é a palavra mais bonita do dicionário”, em promessa de fechar a macroeconomia externa.
            O que pode não ser nada positivo. Os governantes dos países parceiros – como o Brasil de Lula – farão sua cobrança em eventual pagamento adicional de tarifas. Pois a macroeconomia também se reflete na economia interna.
            Ainda que a extração de recursos fósseis seja compartilhada entre os parceiros, ao menos Trump pode ser cobrado pelos governantes no que tange à ambição pelo urânio do Irã, cujo território foi alvejado por Israel com tecnologia bélica estadunidense.
            Eleições no Brasil e alhures- em tempo vale alertar sobre os reflexos ideológicos nas eleições presidenciais na América do Sul. O movimento dos políticos bolsonaristas no Brasil, com episódios recorrentes de terror, já acendem o alerta laranja.
            Vale alertar que as lideranças brasileiras à esquerda devem se reaproximar de suas bases com novas gerações de líderes populares para manter a frente. O isolamento político de Trump é essencial para manter a ordem democrática e, se possível, até planetária.

Para saber mais - referências válidas para os dois textos
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