Kamala
x Trump: a ditadura do capital
Após
a confusão da eleição eleitoral na Venezuela que gerou um racha diplomático
entre Brasil e o “reeleito” Nicolás Maduro, o mundo se atentou aos Estados
Unidos neste dia 3/11. Não era para menos: trata-se de uma eleição presidencial
histórica.
Após
a confusão da eleição eleitoral venezuelana que gerou um racha diplomático
entre Brasil e o “reeleito” Nicolás Maduro, o mundo se atentou aos Estados
Unidos neste dia 3/11. Não era para menos: trata-se de uma eleição presidencial
histórica.
Voto
facultativo, sistema confuso – o voto popular nos EUA é facultativo, mas o povo de lá preza as eleições presidenciais, talvez mais do que para o
Capitólio, o Congresso de lá, a despeito do poder parlamentar ser quase como
aqui e ser votado junto.
Em
alguns Estados o voto é de papel; em outros, eletrônico; e em outros, por carta
enviada via Correios. As motor homes (casas automotivas) com urnas foram
disponibilizadas para atender à maior demanda popular deste ano.
Só
tem um problema: o voto popular tem menor peso decisivo do que o dos chamados
delegados para definir o eleito. E entra aí a força da Suprema Corte (o STF de
lá). Isso já basta para desmontar o mito da “maior democracia do mundo”.
Diferente
do Brasil, os EUA têm um sistema eleitoral meio louco para nós. Em alguns
Estados o voto é presencial de papel; em outros é por carta; em outros,
eletrônico. Portanto, cartórios, Correios e motor homes recebem os votos.
Essa
diversidade de locais de votação e de votos é, na prática, uma “loucura”
organizada. Há maior perda de tempo de contagem a sujeita o sistema a
recontagens com possível interferência institucional – o que margeia um abismo
fraudulento.
Os
candidatos: perigos subjacentes –
os jornalões e seus satélites mencionam 2 partidos políticos nos EUA: Democrata
e Republicano. Na prática, ambos embutem cerca de 100 siglas, número superior
ao total de partidos no Brasil.
Se
o republicano Trump segue a cartilha nazifascista com negacionismo, racismo,
misoginia e xenofobia, Kamala se aproxima da colega Alexandria Ocasio-Cortez na defesa dos ideais femininos, socioambientais e outros e criticar os preconceitos
do adversário – em teoria.
Na
prática, a cor de pele e a origem diferente não tornaram Kamala progressista.
Em momento vimos críticas à violência policial contra afro-estadunidenses e a
manifestantes pró-Palestina, nem mesmo o surreal manifesto neonazi em bairro
judeu.
Relação
Brasil-EUA- a parceria entre os dois
países é complexa e, invariavelmente, marcada pela dominação dos EUA. A
geologia rica em minérios e hidrocarbonetos e a economia de mercado tornam o
Brasil um quintal especial para os ianques.
Implicações – as implicações aqui devem ser consideradas nos dois
contextos políticos, interno e externo.
Política
interna- democratas e republicanos
só diferem um pouco em direitos humanos. Kamala se limitou a criticar o aprove
da proibição total ao aborto, sem criticar a violência policial contra
afro-estadunidenses e manifestantes pró-Palestina.
Embora
criticada por ser 100% privada e seletiva, a saúde aparentemente não foi
devidamente coberta pelas mídias. A economia interna foi bem coberta, por causa
da alta recente da inflação e do crescente domínio da avançada indústria
chinesa.
O
tema Saúde aparentemente não teve para ambos a mesma relevância que política
externa ou economia. Ou as mídias não deram cobertura mais ampla, o que pode
ter sido um erro: o sistema 100% privado – e seletivo – é muito criticado.
Imigrantes
latinos não têm direito à assistência. O país enfrenta multidões miseráveis nas
ruas e a explosão do vício em fentanil e derivados, superando a da heroína. As
autoridades não sabem o que fazer com os zumbis nas ruas.
A
epidemia de violência policial também deveria preocupar. Por força do
trumpismo, policiais brancos não precisam fazer operações como as feitas aqui
no Brasil: lá os não brancos são gratuitamente abordados nas avenidas das
grandes cidades.
Política
externa- os EUA não têm palavra:
criaram a OTAN e a guerra fria com os socialistas, prometendo findar tudo em
caso de paz (leia-se fim da URSS). URSS e Pacto de Varsóvia morreram e OTAN e
guerra fria continuam fortes como antes.
Com
parte dos BRICs, América Latina e África e outros países emergentes do Sul
Global, a relação dos EUA de Kamala ou Trump continuará dominante, no velho
protocolo pseudodiplomático. Para ambos, são quintais de culturas exóticas e
linda biosfera.
O
discurso de narcisismo ianque de Trump e o identitarismo de Kamala não
amenizarão o clima belicoso das relações com Oriente Médio, Rússia e as
pseudocomunistas China e Coreia do Norte. A guerra fria seguirá terceirizando
mão-de-obra bélica.
E
falando em guerras, a política externa de Biden passa aos contrários a falsa
impressão de que os republicanos são mais pacíficos. Só que não: os governos
George Bush pai e filho arrasam Afeganistão e Iraque, respectivamente,
deixando-os em ruínas.
O
fator dessa falsa impressão é o discurso de exaltação ao egocentrismo
estadunidense. A promessa de não mais ajudar a Ucrânia não significa o fim da
guerra russo-ucraniana, assim como o genocídio palestino e as guerras civis na
África ocidental.
Meio
ambiente – talvez esse tema seja o
de mais franca oposição entre ambos. Trump é o conhecido negacionista do
antropismo climático (mudança climática induzida pela atividade humana). Já
Kamala compartilha a preocupação científica.
Em
seu governo, Trump retirou dos EUA a assinatura histórica no Tratado do Clima
de Paris de 2015, o qual tratou da exacerbação do aquecimento global pelas
emissões humanas de gases estufa. Já Kamala pretende manter a assinatura recolocada por Biden.
Mais
do que a identidade de gênero e cor, meio ambiente foi o que motivou a
declaração de apoio de Lula à democrata. Mas o problema é mais do que político.
Ele alcança os interesses de mercado, cuja relação predatória com os recursos
do planeta ainda domina.
Política
brasileira- cabe o destaque do Brasil
aqui. Possivelmente Kamala pretende seguir Biden nas relações políticas com o
Brasil de Lula, após críticas daquele às tentativas de golpismo do
ex-presidente Jair Bolsonaro.
Pode
haver algum entrevero diplomático em assuntos bem específicos, como a
rivalidade monetária entre dólar e BRICs pelo temor de perder a hegemonia, e tentativas de espionagem
estadunidense ou israelense, a exemplo do incidente ocorrido entre Dilma e
Obama.
Por outro lado, em caso de vitória de Trump, é mais possível a continuidade de convivência relativamente pacífica do que a tão esperada relação belicosa alimentada pela claque liderada pelos Bolsonaro. Até porque Trump nada poderá fazer contra o judiciário brasileiro.
Ou
seja, os EUA politicamente seguirão como dantes no quartel de Abranches, conosco aqui e com o restante do mundo. É a ditadura do capital.
Nota da autoria
¹
causa socioambiental, direitos reprodutivos femininos e direitos de minorias
marginalizadas.
Sal Ross
----
O
mundo todo estava de olhos voltados aos EUA, dado o clima eleitoral para a
presidência e para a nova legislatura. Não foi por menos: são vários os
problemas globais em cujos cernes estão os EUA, que gostam de dar a última
palavra em tudo.
Mas,
por incrível que pareça, o processo final não foi nada acirrado. Diferente dos
pleitos anteriores, o resultado foi um tanto rápido num sistema diversificado e
com contagens manuais, mecânicas ou eletrônicas. Deu Trump.
Embora oficialmente derrotada, Kamala Harris já escreveu um capítulo considerável de sua história. Não só na sua identidade feminina. É por ser a primeira mulher negra a chegar quase lá, enfrentando a cultura viril da Casa Branca.
Um
choque global – após a (falsa) esperança de que os EUA fossem quebrar o tabu de gênero na presidência, o anúncio da vitória de Trump soou como uma verdadeira onda de choque, com diferentes reações pelo mundo. E não é à toa.
Há muitas razões. Não só pela natureza de seus crimes,
com tentativa de golpe de Estado e tudo. Nem pelo peculiar topete laranja esbranquiçado. É um
condenado tornado presidente, com todo o vigor reacionário e anticientífico.
E agora, José?
Nazifascismo
conspiratório-
Donald Trump não é pioneiro na extrema-direita. No contexto das Américas, MacCarthy
foi o pioneiro. Foi dele a criação do pânico moral anticomunista que mais tarde
inspirou as ditaduras militares na América do Sul.
Esse
pânico anticomunista ressuscitou na ideologia de Trump quando de sua estreia
política tardia, mas triunfante como presidente, em 2016. Sua vitória favoreceu
a eleição de Bolsonaro por aqui, engrossando a política anticientífica e
falaciosa.
A 1ª
era Trump ficou na memória do mundo. Ele retirou a assinatura dos EUA do Acordo
do Clima de Paris, negando o efeito humano no padrão climático, e também negou a
crise social interna de pobreza e drogas. Tudo isso Bolsonaro replicou aqui.
Sem
falar da pandemia de C19 – o ápice do negacionismo científico de ambos, com incentivo
a grupos antivacina devido a falácias sobre as vacinas. Resultado: EUA e Brasil
foram os campeões letais da C19, com mais de 1 milhão e de 700 mil, respectivamente.
Como
Biden reassinou o Acordo de Paris, Trump prometeu retirá-la novamente. E o pior
é que ele costuma cumprir suas piores promessas. Já nomeou, para seus
Departamentos (ministérios), cristofascistas que são seus reflexos no espelho
ideológico.
Oportunidade
aos dominados – a
vitória eleitoral de Trump pode ser assustadora em suas consequências imprevisíveis.
Por outro lado, ela oportuniza os governantes de países espoliados por sua
ambição, em especial os constituintes dos BRICS.
Em horas
como essa, governantes progressistas democráticos podem apontar recusas como a
de Trump como uma admissão obrigatória de culpa pelas consequências globais de
seus atos. E antes mesmo de Trump, podemos apontar Biden.
Biden encerrará o seu mandato marcado sob grossa camada de impopularidade entre os
estadunidenses. E não só devido à economia interna. Também pesa em seus ombros
a espada do genocídio palestino ao patrocinar Israel com tecnologia bélica.
Trump foi eleito graças ao discurso de apelo ao narcisismo coletivo ianque que promete solução quase mágica para a
economia interna. Mas ele também disse que “tarifa é a palavra
mais bonita do dicionário”, em promessa de fechar a macroeconomia externa.
O que
pode não ser nada positivo. Os governantes dos países parceiros – como o Brasil
de Lula – farão sua cobrança em eventual pagamento adicional de tarifas. Pois a
macroeconomia também se reflete na economia interna.
Ainda
que a extração de recursos fósseis seja compartilhada entre os parceiros, ao
menos Trump pode ser cobrado pelos governantes no que tange à ambição pelo
urânio do Irã, cujo território foi alvejado por Israel com tecnologia bélica estadunidense.
Eleições
no Brasil e alhures- em
tempo vale alertar sobre os reflexos ideológicos nas eleições presidenciais na
América do Sul. O movimento dos políticos bolsonaristas no Brasil, com episódios
recorrentes de terror, já acendem o alerta laranja.
Vale
alertar que as lideranças brasileiras à esquerda devem se reaproximar de suas
bases com novas gerações de líderes populares para manter a frente. O isolamento
político de Trump é essencial para manter a ordem democrática e, se possível, até
planetária.
Para saber mais - referências válidas para os dois textos
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