sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Ligeirinhas 12 (Brasil, novos momentos)

 

Nísia sai, entra Padilha. E agora?

        Todos os governos passam por reforma ministerial anualmente e Lula 3 não é exceção. O destaque desta vez foi a demissão de Nísia Trindade do Ministério da Saúde. Mantida com firmeza por Lula 3 para afastar a ambição do Centrão, Nísia saiu com novidades controversas no currículo.
        O bom – ela resistiu aos ataques dos extremistas e do centrão nas convocações da Câmara. Fez a pasta retomar a normalidade científica e de prevenção após o desastre do governo anterior. E de certa forma, dialogou com servidores da saúde federal sobre salários e carreira. Mas...
        O ruim – assinou diploma de incompetente ao afirmar que a pasta “não consegue gerir sozinha a saúde federal do RJ”, repetindo a entrega fracassada dos hospitais federais do RJ e a possível inclusão dos institutos nacionais. E só visitou o Hospital Federal de Bonsucesso, já sob gestão do GHC, a portas fechadas.
        5 hospitais federais foram entregues: 3 ao município, 1 à Ebserh e 1 ao GHC*, todos de direito privado, cedendo servidores para os institutos, que o GHC quer tomar.  Se isso ocorrer, para onde irão os servidores após toda essa rede for entregue a entidades de direito privado, que preferem ter seu próprio pessoal?
        Nísia Trindade agora é substituída pelo médico e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. Para a pasta de Relações Institucionais, onde esteve, foi nomeada Gleisi Hoffman. A experiência de Padilha na Saúde é bem vista por alguns servidores velhos de guerra atuantes no setor.
        Padilha foi ministro da saúde em Dilma 1 (2011-14). Na época houve duas greves por reajustes salariais. Vieram esmolinhas através do diálogo com ele. Mas agora, a maior preocupação – sem perder atenção ao reajuste desse ano – é o rumo da gestão da rede hospitalar federal do RJ.
        Se o retorno de Padilha ao MS para manter afastado o olho gordo de Lira, cabe lembrar que foi na sua gestão que a Ebserh foi fundada. E como Lula é um político sabidamente hábil, a nomeação de Padilha é uma estratégia para dialogar com os servidores sobre seus destinos finais, se concluído toda a privataria.
        Mesmo que o governo atual tenha características mais neoliberais do que os anteriores – o que pode tornar a privataria irreversível –, os servidores da saúde federal vão lutar por seus direitos até o fim. E assim deve ser. A estrela da esperança de revirada deve ser a última a apagar.
*Grupo Hospitalar Conceição, empresa federal de direito privado e matriz gaúcha, presta serviços do SUS. (nome completo: Grupo Hospitalar Nossa Senhora da Conceição)



PGR matou o golpismo ou só adiou?

                    Após o suicídio de Getúlio Vargas em agosto de 1954, o Brasil ficou momentaneamente órfão de presidente. Uma instabilidade se instalou no momento, com um estranho rebuliço nas Forças Armadas, até que o general Henrique Lott gritou um “basta” garantindo o regime democrático.
        Fora o golpe que originou a República, o rebuliço de 1955 foi a primeira tentativa fracassada de golpe militar. Na era JK (1956-61), uma aparente calma reinou, até que novo motim fracassado dos milicos fez Jânio Quadros renunciar dando lugar a João Goulart, finalmente deposto em 1964.
        Bem-sucedido, o golpe militar de 1964 originou a ditadura de 21 anos, cujo saldo necropolítico foi muito maior do que o oficial. Em 1985 veio a transição para a democracia atual a partir de 1990, que se seguiu relativamente estável até 2016, quando a nova extrema-direita se publicizou.
        Parlamentar e civil, o golpe que depôs Dilma Rousseff em 2016 poupou o esforço dos milicos, que veladamente comemoraram a deposição de Dilma Rousseff. Estiveram nos altos escalões do governo Bolsonaro e saíram em Lula 3. Mas eles seguem firmes – até na cadeia, garantindo a virada 2026.
        Mesmo mais à direita do que nos governos anteriores, Lula 3 experimentou o golpismo nos protestos bolsonaristas pós-eleição e na intentona de 8/1. Planejados desde 2019 (daí Bolsonaro fazer 4 anos de campanha eleitoral), os tentos golpistas têm fracassado desde então graças à força do legalismo de vários ministros do STF.
        Mesmo denunciados pela PGR e com alguns presos, Bolsonaro (mesmo inelegível até 2030) e seus aliados querem retomar o poder em 2026. É um delírio, mas relembremos que o golpe bem-sucedido de 1964 veio após fracassos anteriores. O legalismo que os segura hoje pode falhar amanhã. A luta para evitar novo golpe é de todos nós.


Mais um crime do agro

        O agro é um tema rico neste blog. Graças aos seus crimes já abordados, como abuso de agrotóxicos, desmatamento descontrolado, grilagem de terras, mando de assassinatos de lideranças comunitárias diversas e ambientalistas e colaboração com a ditadura militar.
        Mas há outro, muito midiatizado agora: o desperdício de alimentos, como protesto alegado de “baixos preços dos alimentos”. Essa prática não é novidade: ela é conhecida há décadas, só é esquecida. Já foi abafada por censura na era militar, e por esquecimento da própria mídia em rememorar.
        Muitas vezes, esse descarte era midiatizado ao mostrar índices altos de desperdício por famílias populares, de 1/3 em média. Essa proporção aumenta quando outros protagonistas, como produtores, transportadores (caminhoneiros) e comerciantes são revelados, podendo chegar a 40% do total produzido.
        O que dá o caráter nefasto e criminoso a essa prática é observarmos que as imagens não são de produtos típicos do grande agro, mas de pequenos e médios produtores, como frutas, verduras, legumes e carne tradicionalmente destinados a mais de 70% da patuleia brasileira. Mas há explicação para isso.
        Birras à parte, em parte a culpa é de Brasília. O governo federal assinou um Plano Safra recorde, de mais de R$ 400 bilhões – desses, só R$ 76 milhões foram destinados exatamente para quem mais responde pela alimentação dos citados 70%. Agora, o governo cede mais R4 4 bilhões. Para quem?
        Essa desproporção pode justificar o acinte – só em parte. É alto o custo em garantir boa produtividade para conseguir alimentar mais de 70% da população brasileira. E não tem os mesmos privilégios tributários desfrutados pelo grande agro, que ainda ganha ao exportar suas commodities.
        Mas o desperdício não se justifica. Os alimentos continuam caros ao consumidor final. Para baratear o custo de produção, os pequenos e médios produtores podem aproveitar tudo na reciclagem de seus solos para plantio. Lição valiosa que o MST já mostra há tempos e ninguém quer aprender.


No debate, um perigo oculto do BP

        No sábado, fui comprar uma marmita de vegetais em restaurante dentro de um clube dentro de casa. Ao pagar a marmita, eu e meu amigo senhor Saulo, dono do estabelecimento, conversamos um pouco. Na TV, a notícia envolvendo uma galera num iate de bilionário chamou a nossa atenção.
        - Basta sonegar imposto para enricar o suficiente para comprar um iate desses – disse eu.
        - Rico paga imposto, muito imposto. Quem não paga é pobre – disse Saulo.
        - Só não paga o Leão até quem ganha pouquinho mais de R$ 2000. Os demais impostos pesam mais nos pobres, proporcionalmente.
        - O resto dos impostos está no consumo, os ricos também consomem.
        - Os bilionários consomem... o que produzem, daí ser bem diferente. Os outros, inclusive os empregados dele, pagam mais.
        - Se é assim, por que o governo não faz nada para acabar com isso? É uma prova de que não existe o que você está falando. Sei que você prega igualdade, mas igualdade é impossível!
        - Como você explica então o enriquecimento em R$ 43 bilhões só dos bilionários brasileiros durante o ápice  da pandemia? – pausei. – Saulo, igualdade nunca existiu, concordo com você, mas os governos podem socializar os tributos para reduzir desigualdades, mas não o fazem por conveniência.
        - Salete, sugiro que você veja o canal do Olavo de Carvalho no Youtube, ele antes de morrer explicou tudo isso direitinho e você vai entender e dar razão a ele.
        Aí entendi tudo. Saulo segue a Brasil Paralelo (BP), plataforma de audiovisual profissional que tem até um bilionário acionista e de perigo penetrante. Invisivelmente, ela se infiltra nas periferias mais pobres e/ou desavisadas a partir de escolas, creches, igrejas e até determinadas faculdades para formar acadêmicos revisionistas Mas o caminho até esses destinos foi sinuoso.
        Primeiramente, a BP soprou uma brisa constante entre a classe média conservadora em que está meu amigo Saulo. Não respondi nada, por saber lavagem cerebral sofrida. Me despedi dele de boa, consciente do quão ferrado ele está. Como muita gente Brasil adentro. Triste, muito triste.



        
     
        
            

        
        
















        

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Ligeirinhas 11 (jornalões e Trump, notícias recentes do Brasil)

 

Jornalões: relações vergonhosas

            Durante estágios de aprendizagem e na experiência profissional adquirida, os profissionais da psique estudam meticulosamente as expressões faciais corporais, e o tom de voz e a dos seus pacientes, por mais monocórdios que estes quisessem ser em seus diferentes relatos.
            Enquanto que para esses profissionais tal observação analítica é válida para determinar o método certo de tratar ou orientar, nós, leigos, usamos naturalmente em nossas relações interpessoais e sociais em diferentes momentos. Assim podemos observar como se comportam os âncoras dos telejornais mais assistidos.
           Os nossos telejornais são todos dos jornalões. O JN é até hoje o de maior audiência, mas em todos percebemos diferentes expressões dos âncoras. Sua expressão é grave, em velado reprove quando reportam sobre o governo Lula; e parece mais à vontade sobre governantes assumidamente neoliberais.
            Com os EUA vem a velha viralatice. Nossos jornalões os veem como exemplo de “grande nação de Estado enxuto” que o Brasil deveria seguir. Fake news: até vir Trump 2, 20% da força ativa dos EUA eram do deep state (grupo de servidores de carreira), e no Brasil são só 11%. OJN reportou de boaça a demissão massiva de servidores por Trump 2.
            Mas tal especificidade não apaga a postura sem-vergonha dos nossos jornalões. A degradação do deep state estadunidense é apenas uma das medidas do viés nazista de Trump, cuja sequência é muito similar à executada na Alemanha durante a era do Bigodinho (1933-45). Os âncoras pareciam falar de um herói global.
            Claro que cabe assinalar que essa expressão tão simpática não é nenhuma novidade. Os vimos com essa postura durante os governos Obama e Biden, e mais antigamente, ao reportarem iniquidades como a torcida pela eleição de Collor em 1989, a privataria de FHC e a bagunça de Paulo Guedes na era bolsonarista.
            Acontece que essa simpatia da Globo – e demais jornalões – pela ideologia neoliberal não é o maior dos problemas. É vergonhoso estender o mesmo tom a um sujeito que anseia violar o direito internacional para se apossar do mundo e reforçar seu campo de concentração de Guantánamo, e ferrar seus “inimigos” – também brasileiros.
            No mínimo, a postura deveria ser mais grave do que a relacionada a Lula. Deveria ser de franco repúdio.
Para saber mais


Condenar Bolsonaro só por golpe é pouco

            Já conhecendo a popularidade única de Lula e antevendo a sua derrota eleitoral em 2022, Jair Bolsonaro fez todo tipo de falcatrua para vencer sem o mínimo de ética e dignidade. Seus feitos estão nos artigos “atipicidades da eleição de 2022 – parte 1” e o homônimo parte 2, deste blog.
            Cada vez mais novas provas de peso material surgem nas investigações da PF, desenvolvendo um inquérito com mais de 270 páginas. Isso, só com a série de crimes envolvendo uma orcrim do alto escalão civil-militar para alcançar o golpe de Estado – o que pode condená-lo a mais de 30 anos de prisão.
            Organização criminosa, formação de quadrilha, atentado violento ao Estado democrático de direito e golpe de Estado compõem o cerne criminal do inquérito de mais de 800 páginas inspirado numa CPMI e mais investigações posteriores. Mas isso é só um pouco do total criminal de Bolsonaro.
            Há o caso das milionárias joias sauditas, dadas de presente para o acervo da União e não ao então presidente e sua esposa. Ilegalmente extraviado para ser convertido em dinheiro nos EUA, o presente foi recuperado com ajuda do FBI estadunidense (só temo que Trump nazi se meta em nome do parça).
            O super auxílio da PEC Kamikaze que deu prejuízo de R$ 300 bi à Caixa devia merecer avaliação de sua inconstitucionalidade pelos ministros do STF. Pago com orçamento secreto, o Congresso aprovou aquilo em tempo recorde, 1 mês antes da eleição. Um crime eleitoreiro contra a Constituição e à lei eleitoral.
            Mais ainda: não podem passar em branco os crimes contra a saúde pública que levaram à falta de medicamentos para transplantados, HIV soropositivos, diabéticos, hipertensos e cardiopatas, congelamento salarial de servidores e seus serviços, e o genocídio que ceifou 700 mil, induzido pela gestão negacionista durante a pandemia de C19.
            Dada a gravidade do conjunto criminal de Bolsonaro na presidência – sendo ele o comandante supremo na história, – certamente a sua condenação mais acertada seria de prisão perpétua, pena essa que o Tribunal Penal Internacional de Haia imporia em julgamento por genocídio, seguindo denúncias em mãos.
            É preciso que Bolsonaro seja condenado por, pelo menos os mais graves crimes que atentaram contra a dignidade e a vida do povo e das instituições nacionais. Não pode haver anistia, nem a seus discípulos, e sim a morte política – que será vista por ele como o seu próprio fim.


O previsível tombo de Lula 3

            Já sabemos que Lula tem uma vocação genuína para oratória popular envolvente, revelada desde as greves dos metalúrgicos do ABC Paulista no fim dos anos 1970. Essa habilidade pavimentou o inevitável caminho para a sua maior vocação: a política profissional.
            Na política, ele superou o trauma antigo do preconceito por ser nordestino pobre e mal escolarizado para atingir seu ápice como o presidente da República mais popular da nossa história política do pós-ditadura, ao terminar o segundo mandato em 2010 com 87% de ótimo e bom.
            Seu potencial e sua vontade o ajudaram a se eleger em 2022, na “missão” de “reconstruir este país” – lema de seu governo. Mas, esse terceiro mandato democrático, com várias melhorias, tem estado aquém, abaixo dos 60% de aprove. A mais recente* foi ainda pior: 24%, com aumento da rejeição*.
            A queda vertiginosa de 11% em relação à pesquisa anterior do Datafolha pareceu pior do que o acidente doméstico que levou à submissão do presidente a duas cirurgias no crânio. Essa queda muito estranha é perfeitamente explicável, pois ela já era previsível.
            Motivos – a comunicação pública do governo tem sido quase nula, só melhorando com Sidônio Palmeira no lugar de Paulo Pimenta no final de 2024. Se tal troca tivesse ocorrido antes, tantas calúnias dos bolsonaristas não teriam um impacto tão profundo na população.
            Surfando na baixa popularidade de Lula, bolsonaristas falseiam novos fatos em temas sensíveis para a geral, além da taxação do pix e da carestia do café por “má gestão do governo na economia”, omitindo propositalmente a produção quase zerada em 2024 devido à severidade climática de então.
            Sem confrontar os mentirosos de plantão, os jornalões também têm culpa importante nesse processo. Eles reforçam a sua viralatice em relação a Elon Musk e aos EUA, e mal velam a sua intencional omissão sobre a ação dos parlamentares bolsonaristas contra Lula para piorar a pressão mercadológica no governo.
            Além disso, vale destacar que, para os jornalões, o melhor feito do governo foi a entrega de 4 hospitais federais a entes de direito privado (Ebserh, Grupo Hospitalar Conceição) e organizações sociais (OSs) da prefeitura carioca, ameaçando piorar a precarização e demanda de serviços do SUS. Omitem o quão péssimo é para os servidores de carreira.
            Cabe notar que a eficiência manipuladora da comunicação da mídia e dos bolsonaristas pesa bastante. Mas Lula 3 custo, sim, a entender que o Brasil de 2016 já não era o mesmo de 20 anos atrás: assumiu cristianismo fanatizado e ideologizado, mais violento e com ódio à diversidade.
            Essa queda atesta que a Secom – o órgão da comunicação pública oficial do governo – ainda não aprendeu a se comunicar com esse Brasil. Sidônio deve usar toda a sua habilidade para remexer nisso e fazer com que o lulismo, mesmo tão contaminado pela direita, reconquiste o antigo espaço que perdeu.
* Fonte: Datafolha.


O racha do Psol

            A definição de esquerda e direita surgiu na tribuna da Assembleia Constituinte francesa em 1791. Representantes da elite e da corte se sentaram à direita, e os do povo à esquerda. Nos anos 1840, Marx e Engels refinaram essa dicotomia no contexto capitalista industrial vigente pela luta de classes.
            Nesse contexto vieram os partidos políticos – organizações ideológicas oficiais em disputa política democrática. O neomarxismo no séc. XX fez surgir várias frentes ideológicas na dicotomia. Um exemplo na esquerda brasileira é virem, após o pioneiro PCB, o PCdoB, o PT e outros.
            Do PT ao Psol – o socialdemocrata PT foi fundado em 1980 por trabalhadores, intelectuais e católicos progressistas. Lula e outros nomes viraram políticos. O PT cresceu e, com Lula presidente, teve uma crise interna que descambou na saída de alguns nomes que fundaram, em 2004, outro partido.
            O Partido Socialismo e Liberdade (Psol) nasce como reformista de esquerda, com várias correntes de diversidade no campo cultural e político, cada uma com uma liderança. Hoje, é a sigla mais diversificada na atuação política. Mas, a idealizada equidade entre correntes não durou.
            Como no PT, um conflito interno ocorreu. Liderada pela esposa do governista Guilherme Boulos, a corrente pró-Lula se sobressaiu e assumiu direção do partido, não dando voz às lideranças críticas das demais. Minoritárias, estas últimas acusaram implosão na democracia interna.
            Debandada – crítico do rumo de Lula 3 e favorável às correntes minoritárias, David Deccache foi demitido do Psol por externar a sua postura crítica ao rumo neoliberal do governo Lula. Chico Alencar e outros ex-petistas se aproximam dos dirigentes. Erundina, Glauber e Sâmia se afastam aos poucos do núcleo.
            Essa debandada inicial revela o auge da crise, ou o rumo desta ao ápice. Mesmo solidários ao governo Lula, mas críticos ao seu rumo neoliberal, Glauber e Sâmia parecem ameaçar sair do partido, conforme revelado na entrevista do deputado ao repórter do Manhã Brasil.
            Nesse ínterim, a niteroiense Talíria Petrone foi eleita novamente pelo partido para assumir a liderança do Psol na Câmara. Revelando-se solidária ao ameaçado governo Lula 3 mesmo não sendo governista, ela talvez tenha sido eleita por conta desse sentimento.
            Fria análise final – a crise do Psol é partidária. Revela que ser à esquerda não escapa das competições de classe com vitória das alas moderadas que consideram as demais radicais, nem de discriminações genéricas como machismo e jogar todos os evangélicos no mesmo balaio, contrariando a pauta identitária.
            A eleição de Talíria Petrone como líder do Psol na Câmara federal é interessante. Ela não é governista, mas solidária ao ameaçado Lula 3. E é próxima das correntes minoritárias que têm seu forte no identitarismo. E não tem tido os mesmos holofote do que sua colega Erika Hilton.
            A eleição de Talíria traduz a busca pelo fim da crise? Não sabemos. Mas suas qualidades parecem fornecer equilíbrio entre duas forças contrárias no partido. Mas ela não resolve, e sim os líderes das correntes e sua militância contra um possível fim do partido mais representativo das classes trabalhadoras.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=AT_4cKB-f0c (Jones Manoel-Manhã Brasil – entrevista a David Deccache)
- https://www.youtube.com/watch?v=4kg4FnZNR9M. (Jones Manoel-Manhã Brasil – entrevista a Glauber Braga)
- https://www.youtube.com/watch?v=S_lH1v2XN2s (Faixa Livre – entrevista a Glauber Braga sobre Deccache)
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Socialismo_e_Liberdade (Wikipedia - Partido Socialismo e Liberdade)


Bônus
A democracia relativa do Brasil

             Muitos acreditam que nossa ditadura “foi democrática” porque o povo “sempre votou”. Mas havia a censura que a era Sarney derrubou, e legalizou os partidos de esquerda para a atuação política. Foi aí que vimos nomes hoje conhecidos como José Dirceu, Flávio Dino e Lula.
            O ex-operário Lula avançou e alcançou a presidência da República. Ele cravou o seu nome na história ao ser o único presidente de origem popular, e ser o único também em ser eleito pelo povo para o seu 3º e atual mandato, graças às lembranças de suas políticas públicas.
            Depois de dois mandatos altamente populares e fortes, Lula vive o atual menos popular, devido às transformações sociopolíticas dos últimos 10 anos, apesar dos feitos positivos notórios na economia e no social, e também recuperar a boa e tradicional diplomacia do país.
            Se atentou às eleições em vizinhos Peru, Argentina, Colômbia e Venezuela. Em entrevista sobre a Venezuela, Lula disse: “se tem eleição, tem democracia. Lembrado dos poréns¹ e do autoritarismo de Maduro, ele emendou: “isso cabe ao povo venezuelano. É uma democracia relativa”.
            Apesar de chocar nossos jornalões, Lula acertou. No Brasil há liberdade em candidato de qualquer corrente sem risco de fraude. Mas isso não o livra de ser uma democracia relativa, em variados exemplos tanto no ambiente político quanto na vida social.
            Na política – a esquerda só chega à presidência se for permeável às pautas dominantes da direita (mercado). O processo também se vê regionalmente. São as alianças de apoio. Hoje, não é o PT no poder, é a Frente Ampla com a direita não bolsonarista.
            A nossa democracia é representativa (políticos eleitos são nossos representantes). Há participação popular online (projetos e petições em sites oficiais) ou presencial, por testemunho direto de debate e votação nas casas legislativas. Os diálogos diretos são quase impossíveis.
            Na sociedade – na vida social impera um relativismo cotidiano traduzido em desigualdades visíveis nas relações de gênero/sexualidade, de raça/etnia, de religião/crença e de classe/status social, na diferença de abordagem policial, tipificação criminal e penalização dos réus.
            Tais desigualdades concordam com o princípio da liberdade absoluta de expressão nos EUA, diferente do nosso, relativo. A compreensão desse princípio como verticalizador nos debates nos leva a entender a necessidade responsável da nossa liberdade relativa de expressão.
            Assim se revela o relativismo democrático no Brasil. Os exemplos acima mostram a sua dualidade: se as relações são desvantajosas entre grupos distintos, ao menos a nossa grande vantagem está na horizontalidade dialógica da liberdade relativa de expressão. A democracia é naturalmente relativa.
¹ referentes às eleições municipais na ditadura























            

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Ligeirinhas 10 (Trump - reflexões e novis)

 

O arriscado governo Trump 2

            Apesar de parabenizado protocolarmente pelos governos em geral no mundo, o estadunidense Donald Trump, eleito e recém-empossado presidente dos EUA, nos dá mostras do que realmente representa, em seu pensamento político e como acredita em sua posição de imperador global.
            O gesto nazista executado por seu assessor mais próximo e guru Steve Bannon (e seus seguidores, in off) e seu novo ministro Elon Musk se torna apenas um detalhe a revelar o verdadeiro pensamento político de Trump, e o já operante decreto de expulsão massiva de imigrantes ilegais.
            Como se não bastasse, ele revogou as políticas de diversidade nos serviços públicos e a obrigatoriedade das mesmas na lei trabalhista local. Assim, tal decreto virou senha para culpar a diversidade social e sexual do pessoal da aviação pelo recente choque aéreo que matou todos a bordo.
            Só três de suas políticas vigentes – deportação massiva de ilegais em alegação difamatória que ameaça os legais, revogação da política de diversidade e demissão sumária de servidores públicos da maioria dos setores – já começam a impor consequências nas atividades econômicas.
            Eram os imigrantes que limpavam os as dependências de comércios, rede hoteleira, escolas, postos e hospitais, repartições públicas, construção civil, ramo doméstico, ruas – e até mesmo a Casa Branca. Muitos LGBTQIAPN+ nesses trabalhos foram os principais provedores familiares.
            Já circulam nas redes vídeos de ruas desertas e estabelecimentos fechados em pleno dia útil. O outro é o da mãe algemada e suas crianças, levadas por guardas na Disneylândia. E abordagens policiais aparentemente aleatórias de “suspeitos” em ruas, residências e estabelecimentos em geral.
            São os procedimentos decretados pelo Depto de imigração, que refletem a vertente ideológica do trumpismo, que agora se mostra como a nova vertente estadunidense do nazismo. Toda essa conjuntura já desperta em todo o país um clima de pânico generalizado – e com razão.
            Em paralelo, há outros sentimentos velados entre estadunidenses contrários às medidas: descontentamento, consternação e sarcasmo. Os sarcásticos criticam a “maior economia do mundo”: como pode ser democrático um regime que persegue quem faz rodar a economia?
            É uma questão importante. A economia quase paralisada pode levar ao colapso dos EUA além do econômico. Os problemas sociais internos se aprofundarão ao ponto de os jornalões não mais omitirem a realidade de uma desigualdade gritante, que ficará ainda pior no isolamento dos EUA.
            O MAGA – “make América great again”, lema do governo – será só uma frase de boné em pouco tempo. A face neonazista do trumpismo vai reduzir os EUA a uma terra mambembe apesar de suas riquezas, numa repetição tosca do que ocorreu com o outrora glorioso Império Romano.


Os novos isolados

            Entre 2019 e 2022, o Brasil viveu um episódio particularmente trevoso, de cujos detalhes históricos foram tão marcantes internamente que parte da nação ainda está anestesiada pelos impactos dos acontecimentos, a despeito da reimplantação progressiva das políticas pró-sociais do governo atual.
            Com Lula à frente do governo atual, o Brasil se reintegra no cenário mundial, participando de vários encontros diplomáticos internacionais a fim de resgatar os laços rompidos. O bloco BRICS retornou ganhando lugar importante na macroeconomia global e, portanto, na grande mídia.
            Em 2023, tornado uma potência para o bloco e tendo Dilma Rousseff eleita presidente do Banco do BRICS, o Brasil tentou reaproximar Zelensky (Ucrânia) e Putin (Rússia) para o retorno da paz, mas deu ruim com a bolada do ucraniano. Em 2024, se tornou líder do BRICS.
            Enquanto isso, em novembro de 2024 os EUA elegem Donald Trump que, como já sabemos, revogou as mudanças de Biden imprimindo, nos seus decretos, um passo-a-passo muito semelhante, se não igualzinho, à política implementada pelo bigodinho na Alemanha a partir de 1933. E caiu fora dos tratados sobre clima e meio ambiente.
            Quem esperava um Trump longe do sionista Benjamin Netanyahu se enganou completamente. Os dois se entrelaçaram numa declaração bastante resoluta do estadunidense: “vou controlar Gaza. Esperamos que os 1,8 milhão de palestinos se desloquem para outro local melhor”.
            Ele sem querer entregou uma verdade palpável: admitiu, talvez sem perceber, que ao menos 500 mil moradores de Gaza foram mortos na guerra; e que esse desejo de controlar o local está na anexação além da velha cobiça estadunidense na rica jazida de petróleo e gás natural da bacia de Gaza.
            Aos poucos, Trump coleciona adversidade política e desprezo popular, transformando os EUA num país mambembe. Até o Brasil disse que haverá recíproca em taxas. Netanyahu fez do mundo seu inimigo com o genocídio. EUA e Israel serão, em pouco tempo, os dois novos isolados globais.


Trump 2 e a nova retórica sobre Gaza

            Inicialmente não levado a sério, Donald Trump mostrou aos EUA e ao mundo que suas palavras não são mera bravata populista. Após estarrecer geral com suas medidas pirotécnicas de cunho um tanto nazi, cismou que o Golfo do México é o Golfo da América sem cerimônia nem pedir licença, e cavou reprovação dos vizinhos.
            Agora, Trump volta novamente sua atenção e intenção para Gaza. Ele repetiu as declarações a Netanyahu ao discursar ao parlamento dos EUA que o aguardado cessar-fogo acordado “será um momento oportuno para os EUA controlar e reconstruir Gaza”, pois “não resta mais nada... eles viverão em situação precária”.
            Trump se referiu à cena viral dos contingentes de palestinos deslocados pelos bombardeios, que agora retornam à sua terra arrasada? Antes fosse. Na realidade, ele se referiu aos israelenses, que a todo custo, não importa as vidas “secundárias” dos palestinos, se consideram donos de todo o território dividido em dois Estados – apenas Israel reconhecido formalmente.
            Essa declaração derivou de um acordo conjunto entre o estadunidense e o israelense, em encontro deles na Casa Branca. Ao seu colega geopolítico, Trump estipulou que “os palestinos devem se deslocar para outro lugar”, possivelmente referido como sendo a Jordânia ou a Síria, também países árabes.
            Essa afirmativa desenha o objetivo dos EUA de Trump 2 de interferir no território ao ponto de este ficar totalmente livre para a ocupação pelos israelenses. Torna-se relevante a tentativa de apagar a identidade milenar dos palestinos com suas terras – na prática, uma ferramenta muito útil para a predação da dupla EUA-Israel em explorar a bacia petrolífera local.
            Tomada de terras e predação mercadológica andam juntas. Tolo foi quem inventou a sinonímia capitalismo significa liberdade.


O bilionário mais impopular do mundo

            O sul-africano Elon Musk virou um ícone no grande capital global como CEO multicorporativo: está à frente da SpaceX (ramo espacial), da Starlink (material e operação de internet), da Neuralink (próteses e chips neurológicos), do X (ex-Twitter) e da Tesla (montadora de automotivos elétricos autônomos).
            O que ele faz com seus negócios e como se enriquece a cada evento, ruim ou bom, não é objeto dessa análise. Mas ser filho de um obscuro magnata da mineração na África do Sul, e a sua história de sucesso fortemente nebulosa escancaram, para nós, portas para suspeitarmos dele. 
            A sua nomeação pelo presidente eleito Donald Trump como ministro de Estado revelou a forte proximidade com o estadunidense. É o normal, considerando-se a classe social em comum. Mas o gesto nazista, disfarçado pela grande mídia pelo eufemismo “saudação romana”, não foi nada esperado.
            O gesto seria só um detalhe grosseiro, não fossem os muitos militantes trumpistas o imitando nos EUA. Mas, para a Europa que renasceu das cinzas, mas ainda com o trauma mal superado da guerra do nazismo há 80 anos, aquilo foi muito mal recebido. E já começa a dar consequências.
            Aqui no Brasil, Musk já enfrentou o poder da justiça em relação às antenas da Starlink sem autorização pública em terras indígenas, e depois teve sua rede X tesourada pelo STF por ter mantido perfis judicialmente proibidos. Agora, a Europa, que mal deixa rodar o X, rejeita os carros Tesla.
            
É claro que as multas cobradas não passam de cócegas no imenso volume financeiro de Musk. Nem o atual desprezo dos europeus por seus carros. Mas a grana toda só compra a dignidade de governos e de empresários ligados às empresas de Musk. Mas não a ética de um povo que, traumatizado pela guerra, levou décadas para se reconstruir após 1945.


O novo alvo do trumpismo 2.0

            Donald Trump revela que, de fato, seu olhar político sobre os EUA e o mundo transcendeu os tênues limites do viés político dominante em seu país.  Além das primeiras ordens executivas em temas já abordados em textos anteriores, o governante quer ampliar suas interferências no mundo exterior.
            Além dos alvos conhecidos – Canadá, Groelândia e Canal do Panamá, já tendo respostas negativas dos dois primeiros ao seu desejo de anexar – Trump expressou cobiça sobre Gaza em controversa, mas esperada recepção a Netanyahu, alegando “ajudar Israel” em seu domínio sobre a área.
            Agora ele volta sua atenção para um país do Sul Global: a África do Sul. Até onde sabemos, não é por suas jazidas de diamantes ou ouro. Nem petróleo. É uma nova política de reforma agrária, assinada pelo presidente sul-africano Matamela Cyril Ramaphosa.
            O país tem uma desigualdade fundiária muito grande: a maior parte das terras pertence aos brancos, desde a era do Apartheid racial. A reforma atual quer lotear áreas improdutivas das fazendas “brancas” para assentar famílias não-brancas que reclamam suas antigas posses – sem indenização, o que induziu a acusação de confisco de terras.
            As antigas fazendas “brancas” são o quase total das terras rurais, excluindo quase toda a população, de não-brancos. Diversas tentativas vieram, sem resolução efetiva do problema. Então Ramaphosa decidiu pisar fundo. Mas há um perigo: uma nova explosão de violência racial e financeiro.
            O fim do apartheid racial assinado por Nelson Mandela e Frederik de Klerk (1936-2021, último branco presidente) não combateu o racismo local, que segue muito forte. Se após 136 anos de Lei Áurea o Brasil continua racista, não seria diferente na África do Sul apenas 36 anos depois do acordo.
            A assinatura de Mandela foi humanitária, e de Klerk, econômica. Este quis reaproximação com os EUA para combater o prejuízo das sanções atribuídas ao apartheid – que não seria problema para Trump. Este alega haver, na reforma de Ramaphosa, “violação aos direitos humanos”. Dos brancos. E prometeu dar asilo a estes.
            Trump alega que os ruralistas brancos aquecem a economia local e “dão empregos às famílias negras”. Explicando não ser uma tomada de terras, Ramaphosa negou voltar atrás em sua decisão. E por motivo forte: ele nasceu numa família Xhosa abrigada em Soweto após expulsa de sua terra.
            Ramaphosa entrou na política pelo Congresso Nacional Africano, partido de Mandela. Ex-operário sindicalista, ativista e empresário, marcado pela opressão, ele enfrentou inimigos com coragem e teimosia. Foi em nome dessa resistência que ele foi eleito presidente. Páreo duro para quem está acostumado a rebaixar o mundo.


            
            













CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...