O arriscado governo Trump 2
Apesar de parabenizado protocolarmente pelos
governos em geral no mundo, o estadunidense Donald Trump, eleito e
recém-empossado presidente dos EUA, nos dá mostras do que realmente representa,
em seu pensamento político e como acredita em sua posição de imperador global.
O gesto nazista executado por seu assessor mais
próximo e guru Steve Bannon (e seus seguidores, in off) e seu novo ministro
Elon Musk se torna apenas um detalhe a revelar o verdadeiro pensamento político
de Trump, e o já operante decreto de expulsão massiva de imigrantes ilegais.
Como se não bastasse, ele revogou as políticas
de diversidade nos serviços públicos e a obrigatoriedade das mesmas na lei
trabalhista local. Assim, tal decreto virou senha para culpar a diversidade
social e sexual do pessoal da aviação pelo recente choque aéreo que matou todos
a bordo.
Só três de suas políticas vigentes – deportação
massiva de ilegais em alegação difamatória que ameaça os legais, revogação da
política de diversidade e demissão sumária de servidores públicos da maioria
dos setores – já começam a impor consequências nas atividades econômicas.
Eram os imigrantes que limpavam os as
dependências de comércios, rede hoteleira, escolas, postos e hospitais,
repartições públicas, construção civil, ramo doméstico, ruas – e até mesmo a
Casa Branca. Muitos LGBTQIAPN+ nesses trabalhos foram os principais provedores
familiares.
Já circulam nas redes vídeos de ruas desertas e
estabelecimentos fechados em pleno dia útil. O outro é o da mãe algemada e suas
crianças, levadas por guardas na Disneylândia. E abordagens policiais
aparentemente aleatórias de “suspeitos” em ruas, residências e estabelecimentos
em geral.
São os procedimentos decretados pelo Depto de
imigração, que refletem a vertente ideológica do trumpismo, que agora se mostra
como a nova vertente estadunidense do nazismo. Toda essa conjuntura já desperta
em todo o país um clima de pânico generalizado – e com razão.
Em paralelo, há outros sentimentos velados entre
estadunidenses contrários às medidas: descontentamento, consternação e
sarcasmo. Os sarcásticos criticam a “maior economia do mundo”: como pode ser
democrático um regime que persegue quem faz rodar a economia?
É uma questão importante. A economia quase
paralisada pode levar ao colapso dos EUA além do econômico. Os problemas
sociais internos se aprofundarão ao ponto de os jornalões não mais omitirem a
realidade de uma desigualdade gritante, que ficará ainda pior no isolamento dos
EUA.
O MAGA – “make América great again”, lema
do governo – será só uma frase de boné em pouco tempo. A face neonazista do
trumpismo vai reduzir os EUA a uma terra mambembe apesar de suas riquezas, numa
repetição tosca do que ocorreu com o outrora glorioso Império Romano.
Entre 2019 e 2022, o Brasil viveu um episódio
particularmente trevoso, de cujos detalhes históricos foram tão marcantes
internamente que parte da nação ainda está anestesiada pelos impactos dos
acontecimentos, a despeito da reimplantação progressiva das políticas
pró-sociais do governo atual.
Com Lula à frente do governo atual, o Brasil se reintegra no cenário mundial, participando de vários encontros diplomáticos internacionais a fim de resgatar os laços rompidos. O bloco BRICS retornou ganhando lugar importante na macroeconomia global e, portanto, na grande mídia.
Com Lula à frente do governo atual, o Brasil se reintegra no cenário mundial, participando de vários encontros diplomáticos internacionais a fim de resgatar os laços rompidos. O bloco BRICS retornou ganhando lugar importante na macroeconomia global e, portanto, na grande mídia.
Em 2023, tornado uma potência para o bloco e
tendo Dilma Rousseff eleita presidente do Banco do BRICS, o Brasil tentou
reaproximar Zelensky (Ucrânia) e Putin (Rússia) para o retorno da paz, mas deu
ruim com a bolada do ucraniano. Em 2024, se tornou líder do BRICS.
Enquanto isso, em novembro de 2024 os EUA elegem
Donald Trump que, como já sabemos, revogou as mudanças de Biden imprimindo, nos
seus decretos, um passo-a-passo muito semelhante, se não igualzinho, à política
implementada pelo bigodinho na Alemanha a partir de 1933. E caiu fora dos
tratados sobre clima e meio ambiente.
Quem esperava um Trump longe do sionista
Benjamin Netanyahu se enganou completamente. Os dois se entrelaçaram numa
declaração bastante resoluta do estadunidense: “vou controlar Gaza.
Esperamos que os 1,8 milhão de palestinos se desloquem para outro local melhor”.
Ele sem querer entregou uma verdade palpável: admitiu,
talvez sem perceber, que ao menos 500 mil moradores de Gaza foram mortos na
guerra; e que esse desejo de controlar o local está na anexação além da velha
cobiça estadunidense na rica jazida de petróleo e gás natural da bacia de Gaza.
Aos poucos, Trump coleciona adversidade política
e desprezo popular, transformando os EUA num país mambembe. Até o Brasil disse
que haverá recíproca em taxas. Netanyahu fez do mundo seu inimigo com o
genocídio. EUA e Israel serão, em pouco tempo, os dois novos isolados globais.
Trump 2 e a nova retórica sobre Gaza
Inicialmente não levado a sério, Donald Trump mostrou
aos EUA e ao mundo que suas palavras não são mera bravata populista. Após estarrecer
geral com suas medidas pirotécnicas de cunho um tanto nazi, cismou que o Golfo do
México é o Golfo da América sem cerimônia nem pedir licença, e cavou reprovação
dos vizinhos.
Agora, Trump volta novamente sua atenção e
intenção para Gaza. Ele repetiu as declarações a Netanyahu ao discursar ao parlamento
dos EUA que o aguardado cessar-fogo acordado “será um momento oportuno para
os EUA controlar e reconstruir Gaza”, pois “não resta mais nada... eles
viverão em situação precária”.
Trump se referiu à cena viral dos contingentes
de palestinos deslocados pelos bombardeios, que agora retornam à sua terra arrasada?
Antes fosse. Na realidade, ele se referiu aos israelenses, que a todo custo,
não importa as vidas “secundárias” dos palestinos, se consideram donos de todo o
território dividido em dois Estados – apenas Israel reconhecido formalmente.
Essa declaração derivou de um acordo conjunto
entre o estadunidense e o israelense, em encontro
deles na Casa Branca. Ao seu colega geopolítico, Trump estipulou que “os
palestinos devem se deslocar para outro lugar”, possivelmente referido
como sendo a Jordânia ou a Síria, também países árabes.
Essa afirmativa desenha o objetivo dos EUA de
Trump 2 de interferir no território ao ponto de este ficar totalmente livre
para a ocupação pelos israelenses. Torna-se relevante a tentativa de apagar a identidade
milenar dos palestinos com suas terras – na prática, uma ferramenta muito útil
para a predação da dupla EUA-Israel em explorar a bacia petrolífera local.
Tomada de terras e predação mercadológica andam
juntas. Tolo foi quem inventou a sinonímia capitalismo significa liberdade.
O sul-africano Elon Musk virou um ícone no
grande capital global como CEO multicorporativo: está à frente da SpaceX
(ramo espacial), da Starlink (material e operação de internet), da Neuralink
(próteses e chips neurológicos), do X (ex-Twitter) e da Tesla (montadora
de automotivos elétricos autônomos).
O que ele faz com seus negócios e como se
enriquece a cada evento, ruim ou bom, não é objeto dessa análise. Mas ser filho
de um obscuro magnata da mineração na África do Sul, e a sua história de
sucesso fortemente nebulosa escancaram, para nós, portas para suspeitarmos
dele.
A sua nomeação pelo presidente eleito Donald
Trump como ministro de Estado revelou a forte proximidade com o estadunidense.
É o normal, considerando-se a classe social em comum. Mas o gesto nazista,
disfarçado pela grande mídia pelo eufemismo “saudação romana”, não foi nada esperado.
O gesto seria só um detalhe grosseiro, não
fossem os muitos militantes trumpistas o imitando nos EUA. Mas, para a Europa
que renasceu das cinzas, mas ainda com o trauma mal superado da guerra do
nazismo há 80 anos, aquilo foi muito mal recebido. E já começa a dar
consequências.
Aqui no Brasil, Musk já enfrentou o poder da
justiça em relação às antenas da Starlink sem autorização pública em
terras indígenas, e depois teve sua rede X tesourada pelo STF por ter
mantido perfis judicialmente proibidos. Agora, a Europa, que mal deixa rodar o
X, rejeita os carros Tesla.
É claro que as multas cobradas não passam de cócegas no imenso volume financeiro de Musk. Nem o atual desprezo dos europeus por seus carros. Mas a grana toda só compra a dignidade de governos e de empresários ligados às empresas de Musk. Mas não a ética de um povo que, traumatizado pela guerra, levou décadas para se reconstruir após 1945.
É claro que as multas cobradas não passam de cócegas no imenso volume financeiro de Musk. Nem o atual desprezo dos europeus por seus carros. Mas a grana toda só compra a dignidade de governos e de empresários ligados às empresas de Musk. Mas não a ética de um povo que, traumatizado pela guerra, levou décadas para se reconstruir após 1945.
Donald Trump revela que, de fato, seu olhar
político sobre os EUA e o mundo transcendeu os tênues limites do viés político
dominante em seu país. Além das
primeiras ordens executivas em temas já abordados em textos anteriores, o
governante quer ampliar suas interferências no mundo exterior.
Além dos alvos conhecidos – Canadá, Groelândia e
Canal do Panamá, já tendo respostas negativas dos dois primeiros ao seu desejo
de anexar – Trump expressou cobiça sobre Gaza em controversa, mas esperada recepção
a Netanyahu, alegando “ajudar Israel” em seu domínio sobre a área.
Agora ele volta sua atenção para um país do Sul
Global: a África do Sul. Até onde sabemos, não é por suas jazidas de diamantes
ou ouro. Nem petróleo. É uma nova política de reforma agrária, assinada pelo
presidente sul-africano Matamela Cyril Ramaphosa.
O país tem uma desigualdade fundiária muito
grande: a maior parte das terras pertence aos brancos, desde a era do Apartheid
racial. A reforma atual quer lotear áreas improdutivas das fazendas
“brancas” para assentar famílias não-brancas que reclamam suas antigas posses –
sem indenização, o que induziu a acusação de confisco de terras.
As antigas fazendas “brancas” são o quase total
das terras rurais, excluindo quase toda a população, de não-brancos. Diversas
tentativas vieram, sem resolução efetiva do problema. Então Ramaphosa decidiu
pisar fundo. Mas há um perigo: uma nova explosão de violência racial e
financeiro.
O fim do apartheid racial assinado por Nelson
Mandela e Frederik de Klerk (1936-2021, último branco presidente) não combateu
o racismo local, que segue muito forte. Se após 136 anos de Lei Áurea o Brasil
continua racista, não seria diferente na África do Sul apenas 36 anos depois do
acordo.
A assinatura de Mandela foi humanitária, e de
Klerk, econômica. Este quis reaproximação com os EUA para combater o prejuízo
das sanções atribuídas ao apartheid – que não seria problema para Trump.
Este alega haver, na reforma de Ramaphosa, “violação aos direitos humanos”.
Dos brancos. E prometeu dar asilo a estes.
Trump alega que os ruralistas brancos aquecem a
economia local e “dão empregos às famílias negras”. Explicando não ser
uma tomada de terras, Ramaphosa negou voltar atrás em sua decisão. E por motivo
forte: ele nasceu numa família Xhosa abrigada em Soweto após expulsa de sua
terra.
Ramaphosa entrou na política pelo Congresso
Nacional Africano, partido de Mandela. Ex-operário sindicalista, ativista e
empresário, marcado pela opressão, ele enfrentou inimigos com coragem e teimosia.
Foi em nome dessa resistência que ele foi eleito presidente. Páreo duro para
quem está acostumado a rebaixar o mundo.
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