Joice vs Carla: uma afinidade, dois papéis
A esteira ideológica moralista de Jair Bolsonaro
em 2018 atraiu velhos oportunistas como alguns políticos pastores. E também atraiu
nomes antes desconhecidos, como as catarinenses Carol de Toni e Julia Zanata, a paulista Carla Zambelli e a paranaense Joice Hasselmann.
Este artigo como foco destrinchar os papeis de
Carla e Joice a partir de suas vidas pregressas até alcançar a carreira
política. E como as duas costuraram relações bastante distintas com a
ultradireita bolsonarista, demandando caminhos em separado.
Breves biografias – Carla
Zambelli nasceu em Ribeirão Preto, interior paulista, em 1980. Já Joice
Hasselmann é paranaense de Ponta Grossa, nascida em 1978. Antes que a política
as aproximasse nas eleições de 2018, cada uma teve vida pregressa distinta.
Formada jornalista, Joice acumula passagens por
várias emissoras (BandNews, SBT, CBN, TV Record, Veja e Jovem Pan). Já Carla
iniciou militância política a partir do grupo feminista Femen, e a
posterior guinada radical para a ultradireita. Ambas têm canais no Youtube.
Carreiras políticas – o
bolsonarismo se emergiu da escuridão graças ao movimento de ultradireita MBL. A “febre
anticorrupção-moral cristofascista-armamentismo-neoliberalismo” jogou Carla e
Joice no PSL de Bolsonaro em 2018, acoplando suas campanhas à do então presidenciável Bolsonaro.
Foi na posse no Congresso que elas desenvolveram
uma amizade confidente. Mas foi relação breve. Uma possível razão desse fim
foi, segundo Joice, seu rompimento com o então presidente, que exigiu sua
defesa a seu filho Flávio, investigado pelas “rachadinhas”.
Mesmo rompida com Carla e com o bolsonarismo,
Joice foi favorável às propostas de Paulo Guedes, cujo maior feito foi a
aprovação da PEC que dificulta a aposentadoria e só não privatizou o INSS
porque parlamentares do Centrão viram perigo social e eleitoral nisso.
Fria análise –
o que reforça a hipótese é a fidelidade canina de Carla a Bolsonaro – mesmo
tantas vezes humilhada por este na frente dos jornalistas e apoiadores, dentro
e fora do cercadinho. Isso custou sua dignidade feminina e seu caráter, voltando
a justiça contra si.
Mas ela foi reeleita em 2022 continuando a sua
lealdade a Jair, que hoje a culpa por sua derrota eleitoral. Recente teve o
mandato cassado pelo TRE-SP por fake news relacionados às urnas eletrônicas em
2022, contratando o hacker a pedido do ex-presidente.
Derrotada com pouco mais de 1000 votos em 2022 –
10 vezes menos – Joice disse que “foi melhor”. “Preferi me afastar da
atuação política, estou mais segura agora”. Sua referência à segurança se deve à
perseguição e à estranha violência que sofreu durante o mandato.
Não precisamos gostar de nenhuma delas. Ambas são da
direita – talvez, Carla mais ainda. Mas devemos entender seus papeis políticos.
O de Joice foi denunciar o gabinete do ódio no Palácio da Alvorada e o poder
bolsonarista. O de Carla é darmos conta do quão valiosa é a nossa dignidade pessoal
antes da lealdade a alguém. Mas agradecemos a ela por ter ajudado a derrotar Bolsonaro.
Para saber mais
- http://youtube.com –
canal MyNews- entrevista Joice Hasselmann
Em certos canais da TV aberta, na hora do almoço
ou no final da tarde, o jornalismo sanguinário assalta o espaço antes dedicado a
filmes e desenhos infantis. Ainda não vi os pais reclamarem disso. Mas não
precisei me esforçar muito para saber por quê.
A explicação está no moralismo cristofascista.
Ele resulta do pânico moral coletivo, estratégia eficaz da ultradireita
para conseguir maior alcance eleitoral ao demonizar certos comportamentos cada
vez mais naturalizados. Sim, há seleção comportamental.
A história nos revela que a cooptação das
correntes cristãs conservadoras pela ultradireita para atacar o progressismo é
um método de voto pelo pânico. Na era digital se destaca, entre vários nomes,
um cristofascista: o deputado federal Nikolas Ferreira.
Todos já sabemos que a transfobia de Nikolas
não é só preconceito: é instrumento para caluniar e induzir violência contra
pessoas trans. Foi assim em casos que valeram processos judiciais que o condenaram.
Mesmo assim, ele alvejou uma pedagoga trans.
O fato- seguindo proposta da
escola, as professoras de educação infantil se fantasiaram de personagens
infantis. De Barbie, a pedagoga trans foi abraçada pelas crianças e fotografada.
A foto foi capturada pelo deputado para caluniá-la. Seu crime viralizou mais do que a verdade do fato.
Na escola, alguns colegas da vítima apareceram
com bíblia e tudo para atacar sua identidade e até ameaça-la de morte. O nível
da coisa chegou a tal ponto que ela mudou de escola e, continuados os ataques,
ela contraiu síndrome do pânico e não sai de casa.
Outros fatos- aqui
e ali pelo país, blocos de carnaval que cantavam contra a anistia a golpistas
foram brutalmente atacados pelas PMs. Indígenas numa cidade de MG foram também
atacados. Imagens da mídia Jornalistas Livres revelam a violência gratuita.
Em Juiz de Fora, o ataque da PM foi contra um
bloco com LGBTQ+, famílias e tudo, que juntos cantavam contra a anistia. Segundo relatos,
os PMs estavam sem identificação. Versões à parte, pessoas ficaram feridas e
outras sentiram mal pelo gás de pimenta.
A violência das PMs e a transfobia de Nikolas se
ligam por um fator comum: o cristofascismo. Este é o mesmo que enfatiza o ódio
e a violência das imagens virais e do jornalismo policial, e que criminaliza a
diversidade, a união, o coletivismo e o amor. Não importa como este último se manifeste, o cristofascismo o condena.
Em 2005 explodiu a notícia do esquema do “mensalão”.
Intimado pelos jornalões, Lula se pronunciou em rede de rádio e TV. Nos anos 2010, manifestos pelo Brasil precederam
o MBL, que trouxe o bolsonarismo à superfície, e Dilma sofreu golpe por acusação de crime de responsabilidade.
Jair Bolsonaro foi eleito presidente através do pânico
moral cristofascista sobre a violência e no discurso anticorrupção. Mas, nestes
4 anos, o que mais vimos foi a escalada da violência urbana a níveis inauditos
e... a maior corrupção da nossa história.
Desde 2023, parlamentares bolsonaristas têm ido
aos EUA para denunciar suposta censura judicial a perfis de ultradireita nas
redes e solicitar intervenção. Em dezenas de viagens, muita grana foi torrada. Pública.
Sem nenhum retorno aos cofres públicos.
A mídia divulgou a gastança (passagens, diárias em
hotéis com spas, restaurantes caros e compras). PT e Psol acionaram o STF para mandar
investigar o objetivo possivelmente criminal dessa viagem e o gasto público sem
estorno. Um chororô foi ouvido nos corredores da Casa.
A PGR cogita chancelar a retenção do passaporte
de Eduardo Bolsonaro, líder da delegação bolsonarista. Outros partícipes já
temem a tomada dos seus. Afinal, a PGR precisa do caminho investigatório sem
qualquer obstáculo. A investigação se faz necessária e urgente.
A falsa denúncia de censura judicial para pedir
intervenção estrangeira na justiça brasileira pode ser crime de lesão ou
traição à pátria, passível de cassação, inelegibilidade e cadeia. E o
gasto sem retorno é corrupção, já considerada crime à luz da lei em vigor.
A mídia costuma dizer corrupção, lavagem
de dinheiro e improbidade administrativa como crimes separados. O Direito
também, para distinguir formas. Mas, na real, corrupção é um termo genérico que
agrupa vários tipos criminais contra o erário público.
E nas práticas dessas diversas formas, bem como a viralizante hipocrisia, todos os
bolsonaristas se revelaram os craques passíveis de prêmio com medalha de ouro.
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