domingo, 2 de março de 2025

Ligeirinhas 13 (mais coisa do Brasil).

 

Joice vs Carla: uma afinidade, dois papéis

            A esteira ideológica moralista de Jair Bolsonaro em 2018 atraiu velhos oportunistas como alguns políticos pastores. E também atraiu nomes antes desconhecidos, como as catarinenses Carol de Toni e Julia Zanata, a paulista Carla Zambelli e a paranaense Joice Hasselmann.
            Este artigo como foco destrinchar os papeis de Carla e Joice a partir de suas vidas pregressas até alcançar a carreira política. E como as duas costuraram relações bastante distintas com a ultradireita bolsonarista, demandando caminhos em separado.
            Breves biografias – Carla Zambelli nasceu em Ribeirão Preto, interior paulista, em 1980. Já Joice Hasselmann é paranaense de Ponta Grossa, nascida em 1978. Antes que a política as aproximasse nas eleições de 2018, cada uma teve vida pregressa distinta.
            Formada jornalista, Joice acumula passagens por várias emissoras (BandNews, SBT, CBN, TV Record, Veja e Jovem Pan). Já Carla iniciou militância política a partir do grupo feminista Femen, e a posterior guinada radical para a ultradireita. Ambas têm canais no Youtube.
            Carreiras políticas – o bolsonarismo se emergiu da escuridão graças ao movimento de ultradireita MBL. A “febre anticorrupção-moral cristofascista-armamentismo-neoliberalismo” jogou Carla e Joice no PSL de Bolsonaro em 2018, acoplando suas campanhas à do então presidenciável Bolsonaro.
            Foi na posse no Congresso que elas desenvolveram uma amizade confidente. Mas foi relação breve. Uma possível razão desse fim foi, segundo Joice, seu rompimento com o então presidente, que exigiu sua defesa a seu filho Flávio, investigado pelas “rachadinhas”.
            Mesmo rompida com Carla e com o bolsonarismo, Joice foi favorável às propostas de Paulo Guedes, cujo maior feito foi a aprovação da PEC que dificulta a aposentadoria e só não privatizou o INSS porque parlamentares do Centrão viram perigo social e eleitoral nisso.
            Fria análise – o que reforça a hipótese é a fidelidade canina de Carla a Bolsonaro – mesmo tantas vezes humilhada por este na frente dos jornalistas e apoiadores, dentro e fora do cercadinho. Isso custou sua dignidade feminina e seu caráter, voltando a justiça contra si.
            Mas ela foi reeleita em 2022 continuando a sua lealdade a Jair, que hoje a culpa por sua derrota eleitoral. Recente teve o mandato cassado pelo TRE-SP por fake news relacionados às urnas eletrônicas em 2022, contratando o hacker a pedido do ex-presidente.
            Derrotada com pouco mais de 1000 votos em 2022 – 10 vezes menos – Joice disse que “foi melhor”. “Preferi me afastar da atuação política, estou mais segura agora”. Sua referência à segurança se deve à perseguição e à estranha violência que sofreu durante o mandato.
            Não precisamos gostar de nenhuma delas. Ambas são da direita – talvez, Carla mais ainda. Mas devemos entender seus papeis políticos. O de Joice foi denunciar o gabinete do ódio no Palácio da Alvorada e o poder bolsonarista. O de Carla é darmos conta do quão valiosa é a nossa dignidade pessoal antes da lealdade a alguém. Mas agradecemos a ela por ter ajudado a derrotar Bolsonaro.
Para saber mais
http://youtube.com – canal MyNews- entrevista Joice Hasselmann


Cristofascismo e criminalização do amor

            Em certos canais da TV aberta, na hora do almoço ou no final da tarde, o jornalismo sanguinário assalta o espaço antes dedicado a filmes e desenhos infantis. Ainda não vi os pais reclamarem disso. Mas não precisei me esforçar muito para saber por quê.
            A explicação está no moralismo cristofascista. Ele resulta do pânico moral coletivo, estratégia eficaz da ultradireita para conseguir maior alcance eleitoral ao demonizar certos comportamentos cada vez mais naturalizados. Sim, há seleção comportamental.
            A história nos revela que a cooptação das correntes cristãs conservadoras pela ultradireita para atacar o progressismo é um método de voto pelo pânico. Na era digital se destaca, entre vários nomes, um cristofascista: o deputado federal Nikolas Ferreira.
            Todos já sabemos que a transfobia de Nikolas não é só preconceito: é instrumento para caluniar e induzir violência contra pessoas trans. Foi assim em casos que valeram processos judiciais que o condenaram. Mesmo assim, ele alvejou uma pedagoga trans.
            O fato- seguindo proposta da escola, as professoras de educação infantil se fantasiaram de personagens infantis. De Barbie, a pedagoga trans foi abraçada pelas crianças e fotografada. A foto foi capturada pelo deputado para caluniá-la. Seu crime viralizou mais do que a verdade do fato.
            Na escola, alguns colegas da vítima apareceram com bíblia e tudo para atacar sua identidade e até ameaça-la de morte. O nível da coisa chegou a tal ponto que ela mudou de escola e, continuados os ataques, ela contraiu síndrome do pânico e não sai de casa.
            Outros fatos- aqui e ali pelo país, blocos de carnaval que cantavam contra a anistia a golpistas foram brutalmente atacados pelas PMs. Indígenas numa cidade de MG foram também atacados. Imagens da mídia Jornalistas Livres revelam a violência gratuita.
            Em Juiz de Fora, o ataque da PM foi contra um bloco com LGBTQ+, famílias e tudo, que juntos cantavam contra a anistia. Segundo relatos, os PMs estavam sem identificação. Versões à parte, pessoas ficaram feridas e outras sentiram mal pelo gás de pimenta.
            A violência das PMs e a transfobia de Nikolas se ligam por um fator comum: o cristofascismo. Este é o mesmo que enfatiza o ódio e a violência das imagens virais e do jornalismo policial, e que criminaliza a diversidade, a união, o coletivismo e o amor. Não importa como este último se manifeste, o cristofascismo o condena.


Do golpe “anticorrupção” à corrupção da ultradireita

            Em 2005 explodiu a notícia do esquema do “mensalão”. Intimado pelos jornalões, Lula se pronunciou em rede de rádio e TV. Nos anos 2010, manifestos pelo Brasil precederam o MBL, que trouxe o bolsonarismo à superfície, e Dilma sofreu golpe por acusação de crime de responsabilidade.
            Jair Bolsonaro foi eleito presidente através do pânico moral cristofascista sobre a violência e no discurso anticorrupção. Mas, nestes 4 anos, o que mais vimos foi a escalada da violência urbana a níveis inauditos e... a maior corrupção da nossa história.
            Desde 2023, parlamentares bolsonaristas têm ido aos EUA para denunciar suposta censura judicial a perfis de ultradireita nas redes e solicitar intervenção. Em dezenas de viagens, muita grana foi torrada. Pública. Sem nenhum retorno aos cofres públicos.
            A mídia divulgou a gastança (passagens, diárias em hotéis com spas, restaurantes caros e compras). PT e Psol acionaram o STF para mandar investigar o objetivo possivelmente criminal dessa viagem e o gasto público sem estorno. Um chororô foi ouvido nos corredores da Casa.
            A PGR cogita chancelar a retenção do passaporte de Eduardo Bolsonaro, líder da delegação bolsonarista. Outros partícipes já temem a tomada dos seus. Afinal, a PGR precisa do caminho investigatório sem qualquer obstáculo. A investigação se faz necessária e urgente.
            A falsa denúncia de censura judicial para pedir intervenção estrangeira na justiça brasileira pode ser crime de lesão ou traição à pátria, passível de cassação, inelegibilidade e cadeia. E o gasto sem retorno é corrupção, já considerada crime à luz da lei em vigor.
            A mídia costuma dizer corrupção, lavagem de dinheiro e improbidade administrativa como crimes separados. O Direito também, para distinguir formas. Mas, na real, corrupção é um termo genérico que agrupa vários tipos criminais contra o erário público.
            E nas práticas dessas diversas formas, bem como a viralizante hipocrisia, todos os bolsonaristas se revelaram os craques passíveis de prêmio com medalha de ouro.

            





  













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