terça-feira, 4 de março de 2025

Ligeirinhas 14 (Carnaval, Oscar, Trump)

 

Por que Trump defende Putin

            Ao aproximar do terceiro ano de guerra russo-ucraniana, o presidente da Ucrânia Volodymir Zelensky viu no retorno de Donald Trump ao governo dos EUA nova oportunidade de conversar sobre armistício ou paz. Para tanto, foi aos EUA.
            Trump até recebeu Zelensky disposto a conversar sobre o destino da guerra que causou tantas baixas, inclusive em soldados norte-coreanos aliados da Rússia. Mas acontece que, o que poderia ser uma troca amistosa virou discussão acalorada.
            Algumas mídias dizem que Zelensky foi humilhado por Trump e seu vice Vance nesse diálogo acalorado. Faz sentido essa afirmação. Sociopata, o estadunidense não se importa com os prejuízos econômicos e à vida, nem também com o destino da guerra
            Mau intento – para Trump, Rússia, Ucrânia e Europa que se danem nessa guerra. Ele tem outra ideia em mente. Quer se aproximar do russo Wladimir Putin. Não pela ambição comum de inflar o tamanho de seus impérios. Ele quer destruir o BRICS.
            Capitaneado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o BRICS reúne mais 6 países (Irã, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Indonésia), tem instituição financeira própria e pretende desdolarizar as trocas econômicas entre si.
            A desdolarização é a busca por independência monetária ao dólar na movimentação econômica. Para Trump, o volume de grana mensurável nos movimentos econômicos entre os BRICS é imenso devido à riqueza da China e da Rússia.
            Trump considera Putin mais maleável do que Xi Jimping para dialogar sobre a sua promessa de auferir mais riqueza com a suposta parceria Rússia-EUA do que a Rússia no BRICS. Se o russo cairá nessa conversa não sabemos. É pagar para ver.
            Daí ser descabida a veneração de parte da esquerda a Putin. Este abandonou o sovietismo há tempos. Ser eleito sem o apoio nazifascista não o faz oposto de Zelensky. Ambos são de ultradireita e autoritários, restringindo a liberdade de imprensa e de expressão popular. E agora, na ambição imperial (anexação territorial), Putin se aproxima de Trump.



Oscar: o ato político por trás da festa

            No primeiro domingo de março, Los Angeles ainda se recupera das cinzas do fogaréu. Alheios a Trump, seus cidadãos já acordaram para se organizar diante de uma tradição local: a festa do Oscar da Academia Cinematográfica de Hollywood.
            A festa do Oscar é glamourizada e de tom prioritário de premiar estrelas e produções estadunidenses. Mas os cidadãos de Los Angeles sabem que a Academia está sob nova direção e terá participação de novidades interessantes do cinema global.
            Essa atenção veio desde que o ator-galã Ricard Gere fez no Globo de Ouro em Cannes discurso preocupado com a ultradireita no mundo em caso de Trump vencer as eleições. Ele politizou o clima festivo, talvez sem saber que estenderia a Hollywood.
            Premiada com Globo de Ouro como Eunice Paiva no filme Ainda Estou Aqui, Fernanda Torres foi uma candidata forte ao Oscar. Ela não ganhou, mas a produção, sim, como Melhor filme internacional, merecidamente. E teve mais surpresa aí.
            Premiada como melhor documentário, a produção palestino-israelense Sem Chão (“no other land”) surpreendeu geral. A premiação veio poucos dias após Donald Trump anunciar querer “comprar” Gaza, visando loteá-la para uns resorts de luxo.
            Ainda Estou Aqui se centra em Eunice Paiva, mulher do deputado Rubens Paiva, dado como desaparecido após sequestro, tortura e morte pelos milicos da ditadura. Sem Chão é uma crítica atroz à tomada de terras palestinas pelo governo israelense à custa de milhares de vidas vulneráveis (mulheres, crianças e idosos).
            Nesse sentido, as duas premiações se tornaram politicamente simbólicas. Não só pelo filme brasileiro apontar que não devemos deixar a história se repetir, nem só o documentário gritar pela paz e harmonia no Oriente Médio. São duas pancadas simbólicas sobre o mando imperial da política externa estadunidense sobre a vida sociopolítica do resto do mundo.



Carnaval entre a fé e a política

            O Carnaval é uma festa de origem pagã. Sua antiguidade é imensa, havendo registros chineses de séculos a.C. Na Europa, ele foi assimilado pelos greco-romanos a partir dos celtas, e foi moldado na Idade Média pela dominante Igreja Católica.
            A partir dessa moldagem, o Carnaval se tornou a festa em que diferentes estratos sociais invertiam papeis de classe, e comida e bebida estavam à disposição. Era a resistência dos pobres à fome e ao desprezo dos ricos que criavam piadas dos padres das vilas.
            Foi nessa moldagem que o Carnaval chegou ao Brasil, onde, com o tempo, adquiriu fortes tons regionalistas e, na Bahia e no Sudeste (regiões de maior aporte de escravos), ritmos mais africanizados fundidos às crenças ancestrais sincretizadas.
            Essa africanidade de fé e música foi restrita às senzalas, lavouras e pastos nas fazendas, e em becos de cortiços e favelas, onde nasceram o batuque, o samba, o chorinho e o maxixe, por vezes atacados pela polícia por serem criminalizados por uma lei elitista de então.
            Com ajuda de Chiquinha Gonzaga e suas marchinhas, eternos sucessos de carnaval de rua, a africanidade resistiu e ganhou espaço nas rodas de samba das casas noturnas descoladas na zona Sul carioca e nos desfiles de luxo para turistas estrangeiros que lotam hoteis.
            Essa resistência não branca, especialmente negra, tem incomodado a extrema-direita há anos. Conscientes da fusão de fé e música, políticos bolsonaristas e líderes religiosos cristofascistas demonizam a festa popular nas redes sociais para obterem likes. Veio a resposta.
            Nas passarelas, algumas escolas desfilaram sambas-enredos com o colorido dos orixás e entidades espirituais ligadas, e outras investiram na visibilidade das culturas religiosas indígenas, mesmo tendo ritmos sambados com enredos originários.
            Os blocos de carnavais de rua responderam em coro “sem anistia!”, nos quatro cantos do país. Sofreram os ataques de PMs que esconderam suas identificações, espirraram gás de pimenta e detiveram alguns “suspeitos”, segundo os jornalões. E inocentes, claro.
            Nesses anos todos, o carnaval tem nos revelado que é, ontem, hoje e sempre, uma festa popular. O que não aparenta, mas já se carrega de forte mensagem. A de que, por trás do colorido da diversão mundana se desvela, acima de tudo, toda a sua essência e de fé popular.
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