Por
que Trump defende Putin
Ao
aproximar do terceiro ano de guerra russo-ucraniana, o presidente da Ucrânia Volodymir
Zelensky viu no retorno de Donald Trump ao governo dos EUA nova oportunidade de
conversar sobre armistício ou paz. Para tanto, foi aos EUA.
Trump
até recebeu Zelensky disposto a conversar sobre o destino da guerra que causou
tantas baixas, inclusive em soldados norte-coreanos aliados da Rússia. Mas acontece
que, o que poderia ser uma troca amistosa virou discussão acalorada.
Algumas
mídias dizem que Zelensky foi humilhado por Trump e seu vice Vance nesse
diálogo acalorado. Faz sentido essa afirmação. Sociopata, o estadunidense não
se importa com os prejuízos econômicos e à vida, nem também com o destino da
guerra
Mau
intento – para Trump, Rússia,
Ucrânia e Europa que se danem nessa guerra. Ele tem outra ideia em mente. Quer
se aproximar do russo Wladimir Putin. Não pela ambição comum de inflar o
tamanho de seus impérios. Ele quer destruir o BRICS.
Capitaneado
por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o BRICS reúne mais 6 países (Irã,
Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Indonésia), tem
instituição financeira própria e pretende desdolarizar as trocas econômicas
entre si.
A desdolarização
é a busca por independência monetária ao dólar na movimentação econômica. Para
Trump, o volume de grana mensurável nos movimentos econômicos entre os BRICS é
imenso devido à riqueza da China e da Rússia.
Trump
considera Putin mais maleável do que Xi Jimping para dialogar sobre a sua promessa
de auferir mais riqueza com a suposta parceria Rússia-EUA do que a Rússia no BRICS.
Se o russo cairá nessa conversa não sabemos. É pagar para ver.
Daí
ser descabida a veneração de parte da esquerda a Putin. Este abandonou o
sovietismo há tempos. Ser eleito sem o apoio nazifascista não o faz oposto de
Zelensky. Ambos são de ultradireita e autoritários, restringindo a liberdade de
imprensa e de expressão popular. E agora, na ambição imperial (anexação territorial),
Putin se aproxima de Trump.
No
primeiro domingo de março, Los Angeles ainda se recupera das cinzas do fogaréu.
Alheios a Trump, seus cidadãos já acordaram para se organizar diante de uma
tradição local: a festa do Oscar da Academia Cinematográfica de Hollywood.
A
festa do Oscar é glamourizada e de tom prioritário de premiar estrelas e
produções estadunidenses. Mas os cidadãos de Los Angeles sabem que a Academia
está sob nova direção e terá participação de novidades interessantes do cinema
global.
Essa
atenção veio desde que o ator-galã Ricard Gere fez no Globo de Ouro em Cannes
discurso preocupado com a ultradireita no mundo em caso de Trump vencer as
eleições. Ele politizou o clima festivo, talvez sem saber que estenderia a Hollywood.
Premiada com Globo de Ouro como Eunice Paiva no filme Ainda Estou Aqui, Fernanda Torres foi uma candidata forte ao Oscar. Ela não ganhou, mas a produção, sim, como Melhor filme internacional, merecidamente. E teve mais surpresa aí.
Premiada com Globo de Ouro como Eunice Paiva no filme Ainda Estou Aqui, Fernanda Torres foi uma candidata forte ao Oscar. Ela não ganhou, mas a produção, sim, como Melhor filme internacional, merecidamente. E teve mais surpresa aí.
Premiada
como melhor documentário, a produção palestino-israelense Sem Chão (“no
other land”) surpreendeu geral. A premiação veio poucos dias após Donald
Trump anunciar querer “comprar” Gaza, visando loteá-la para uns resorts
de luxo.
Ainda
Estou Aqui se centra em Eunice Paiva,
mulher do deputado Rubens Paiva, dado como desaparecido após sequestro, tortura
e morte pelos milicos da ditadura. Sem Chão é uma crítica atroz à tomada
de terras palestinas pelo governo israelense à custa de milhares de vidas
vulneráveis (mulheres, crianças e idosos).
Nesse
sentido, as duas premiações se tornaram politicamente simbólicas. Não só pelo
filme brasileiro apontar que não devemos deixar a história se repetir, nem só o
documentário gritar pela paz e harmonia no Oriente Médio. São duas pancadas
simbólicas sobre o mando imperial da política externa estadunidense sobre a
vida sociopolítica do resto do mundo.
O Carnaval
é uma festa de origem pagã. Sua antiguidade é imensa, havendo registros chineses
de séculos a.C. Na Europa, ele foi assimilado pelos greco-romanos a partir dos
celtas, e foi moldado na Idade Média pela dominante Igreja Católica.
A partir
dessa moldagem, o Carnaval se tornou a festa em que diferentes estratos sociais
invertiam papeis de classe, e comida e bebida estavam à disposição. Era a resistência
dos pobres à fome e ao desprezo dos ricos que criavam piadas dos padres das vilas.
Foi
nessa moldagem que o Carnaval chegou ao Brasil, onde, com o tempo, adquiriu fortes
tons regionalistas e, na Bahia e no Sudeste (regiões de maior aporte de
escravos), ritmos mais africanizados fundidos às crenças ancestrais sincretizadas.
Essa
africanidade de fé e música foi restrita às senzalas, lavouras e pastos nas
fazendas, e em becos de cortiços e favelas, onde nasceram o batuque, o samba, o
chorinho e o maxixe, por vezes atacados pela polícia por serem criminalizados por uma lei elitista de então.
Com
ajuda de Chiquinha Gonzaga e suas marchinhas, eternos sucessos de carnaval de
rua, a africanidade resistiu e ganhou espaço nas rodas de samba das casas noturnas
descoladas na zona Sul carioca e nos desfiles de luxo para turistas estrangeiros que lotam hoteis.
Essa
resistência não branca, especialmente negra, tem incomodado a extrema-direita há
anos. Conscientes da fusão de fé e música, políticos bolsonaristas e líderes
religiosos cristofascistas demonizam a festa popular nas redes sociais para obterem likes. Veio a resposta.
Nas
passarelas, algumas escolas desfilaram sambas-enredos com o colorido dos orixás
e entidades espirituais ligadas, e outras investiram na visibilidade das
culturas religiosas indígenas, mesmo tendo ritmos sambados com enredos
originários.
Os blocos
de carnavais de rua responderam em coro “sem anistia!”, nos quatro
cantos do país. Sofreram os ataques de PMs que esconderam suas identificações,
espirraram gás de pimenta e detiveram alguns “suspeitos”, segundo os jornalões. E inocentes, claro.
Nesses
anos todos, o carnaval tem nos revelado que é, ontem, hoje e sempre, uma festa
popular. O que não aparenta, mas já se carrega de forte mensagem. A de que, por
trás do colorido da diversão mundana se desvela, acima de tudo, toda a sua essência
e de fé popular.
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