quinta-feira, 9 de agosto de 2018


MST e a crise: a agricultura orgânica na linha de tiro


Surgido no fim dos anos 1970 na luta pela reforma agrária – velho problema brasileiro – na zona rural do Pontal do Paranapanema (PR), alicerçado pelo progressista MEB da Igreja Católica e pelo movimento campesino de esquerda, o MST se destacaria por sua organização singular, cimentada na estrutura educacional crítica das escolas improvisadas nos assentamentos.
Embora reconhecido após o fim da ditadura militar, o MST continua na luta, com grupos assentando-se em terras ditas improdutivas de grandes fazendas. O que foi tratado como invasão pela grande imprensa, tornando o movimento conhecido (e rejeitado até hoje) pelo grande público. A maioria culpa os próprios sem-terra pela chacina de Eldorado dos Carajás em 1996 e outros confrontos com as polícias, ignorando que assentar-se em terras improdutivas já era proposta discutida com o governo Sarney.
Mas persiste também a ignorância sobre o papel do MST na renovação agrícola, em métodos como controle biológico de pragas e agroflorestas, para produzir alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos. Os sem-terra estão por trás da atuação de algumas cooperativas em pequenas fazendas especializadas na produção de orgânicos, que terminam em crescente número de lares brasileiros.
Ironicamente, a grande imprensa sequer fala disso. Explica-se pela sua ligação com políticos conservadores, muitos dos quais da elite ruralista, fortemente movida por grandes doses de agrotóxicos e culturas transgênicas, fabricadas e generosamente oferecidas pela poderosa indústria do agronegócio. E seus produtos genética e quimicamente modificados, produzidos em massa, chegam mais baratos às mesas das classes trabalhadoras.
A Globo já abordou sobre a produção de orgânicos, mas na perspectiva capitalista, que gera produtos mais caros, consumidos por uma parcela mais restrita e abastada da população, omitindo que o MST está por trás de 65% da produção e do consumo de alimentos orgânicos. É a alimentação saudável na linha de tiro da crise relacional entre dois velhos inimigos: o movimento popular produtor e seus consumidores abastados.



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