MST e a crise: a agricultura orgânica na
linha de tiro
Surgido
no fim dos anos 1970 na luta pela reforma
agrária – velho problema brasileiro – na zona rural do Pontal do
Paranapanema (PR), alicerçado pelo progressista MEB da Igreja Católica e pelo
movimento campesino de esquerda, o MST se destacaria por sua organização
singular, cimentada na estrutura educacional crítica das escolas improvisadas
nos assentamentos.
Embora
reconhecido após o fim da ditadura militar, o MST continua na luta, com grupos
assentando-se em terras ditas improdutivas de grandes fazendas. O que foi
tratado como invasão pela grande
imprensa, tornando o movimento conhecido (e rejeitado até hoje) pelo grande
público. A maioria culpa os próprios sem-terra pela chacina de Eldorado dos
Carajás em 1996 e outros confrontos com as polícias, ignorando que assentar-se
em terras improdutivas já era proposta discutida com o governo Sarney.
Mas
persiste também a ignorância sobre o papel do MST na renovação agrícola, em
métodos como controle biológico de pragas e agroflorestas, para produzir
alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos. Os sem-terra estão por trás da atuação
de algumas cooperativas em pequenas fazendas especializadas na produção de
orgânicos, que terminam em crescente número de lares brasileiros.
Ironicamente,
a grande imprensa sequer fala disso. Explica-se pela sua ligação com políticos conservadores,
muitos dos quais da elite ruralista, fortemente movida por grandes doses de
agrotóxicos e culturas transgênicas, fabricadas e generosamente oferecidas pela
poderosa indústria do agronegócio. E seus produtos genética e quimicamente
modificados, produzidos em massa, chegam mais baratos às mesas das classes
trabalhadoras.
A
Globo já abordou sobre a produção de orgânicos, mas na perspectiva capitalista,
que gera produtos mais caros, consumidos por uma parcela mais restrita e
abastada da população, omitindo que o MST está por trás de 65% da produção e do
consumo de alimentos orgânicos. É a alimentação saudável na linha de tiro da
crise relacional entre dois velhos inimigos: o movimento popular produtor e
seus consumidores abastados.
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