Reforma trabalhista, a crise do trabalhador
Assumindo
o governo sob protestos populares, o sempre impopular Temer anunciou a reforma
trabalhista em cadeia nacional, sendo respondido com mais rejeição e manifestos
ainda. Para pacificar os ânimos (sem êxito), Temer garantiu que “os direitos
serão mantidos”. O povo não acreditou e seguiu nas ruas sob tiro, porrada e
bomba da polícia.
A
reforma trabalhista revogou dezenas
de artigos e alterou severamente outras dezenas na CLT: férias distribuídas em
até 3 períodos; redução do tempo de almoço a meia hora; contribuição sindical
opcional; contrato intermitente (antes não havia); flexibilidade remuneratória;
negociado sobre o legislado; mais descontos salariais por interesse do
empregador, etc. Foi aprovada e sancionada em tempo recorde. Políticos favoráveis e empresários
atingiram o orgasmo. Para essa proeza, Temer pagou bilhões pelos votos
favoráveis, como “emendas parlamentares”, de boa. A tríplice bancada BBB (bala,
bíblia e boi) encabeçou os votos favoráveis. A oposição, claro, votou contra.
Apesar
de a reforma vigorar apenas a partir de novembro/2017, os empregadores a
puseram em prática tão logo foi aprovada, em agosto: muitos empregados foram
demitidos e readmitidos pela nova lei, e nos litígios judiciais os
trabalhadores ganharam uma dor extra de cabeça enquanto os ex-empregadores se
safaram.
O
governo e a grande mídia venderam a reforma no slogan de “mais liberdade e menos burocracia”. Mas por que então
quase todo o povo é contrário a ela? Vamos aos pontos.
Alvos: o alvo é a população trabalhadora
do mercado privado. Exceto os que trabalham em empresas diretamente
terceirizadas pelos supremos tribunais, Congresso, Palácio presidencial e
adjacências, que também ganham salários surrais.
Imposto sindical opcional: se o
trabalhador se livra de imposto obrigatório de um lado, pode ficar ainda mais
vulnerável nos seus direitos. Entre os sindicatos, os que têm histórico de mau
proveito de contribuições ou irregularidade com erário público se ferram ainda
mais.
Contrato intermitente: empregos de
baixos salários são mais vulneráveis à precarização de direitos e da renda do
que freelancers de padrão salarial
muito alto.
Descontos salariais: os valores
inicialmente negociados podem ser ainda mais achatados sob alegações diversas
do empregador: tempo de trajeto entre casa e trabalho, cafezinho, banheiro
(ferra o art. 4º da antiga CLT), conforme previsto na reforma.
FGTS: nesse direito em demissão, o
empregador cresce o olho. Embora a lei preveja até 40% para o empregador, há
quem pegue meio bolo de uma vez sem hesitar. Se não pedir mais!
Negociado sobre o legislado: é tanta
liberdade de negociação em motivos diversos (demissões, alterações contratuais
e/ou salariais, férias, etc.), que a lei parece perder seu valor. A
vulnerabilidade do trabalhador chega a ser estapafúrdia. Há muito não podemos
confiar nos empregadores...
Ação judicial: maior margem de perda ao
trabalhador, que além das custas processuais, deve indenizar o ex-empregador. Tudo
que construiu pode ser perdido no martelo do juiz. Já foram noticiados casos
assim, bem antes da reforma vigorar de vez. Virou uma “indústria”, incentivada
pelos próprios empregadores, na garantia de causa ganha.
Foi
essa indústria, resultando em casos como o da ex-funcionária do Itaú em
Curitiba, condenada a indenizar o banco em quase 70 mil reais, que teria levado
o governo, segundo a mídia, a criar uma MP visando amenizar o problema. Mas a
MP se perdeu por... “esquecimento” dos políticos por votação em outros
interesses.
A grande imprensa alardeia que os contrários à reforma "estão enganados". Se fosse verdade, porque ela não se aplica às exceções diretamente terceirizadas pelos poderes em Brasília?
Mais uma vez, evidencia-se a cultura de privilégios e o andar térreo ganha menos e paga mais alto ainda. Com vocês, a Lei do Foda-se Trabalhador, mais um instrumento a favor do aprofundamento da crise nacional.
Publicado em junho de 2018.
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