domingo, 28 de outubro de 2018

Antes do grand finale, uma análise da retrospectiva das campanhas

      Nesse domingo ocorrerá o segundo turno das eleições para presidente da República e, em alguns estados, para governador. Tudo normal, assim tem se estabelecido desde que assim foi regulamentado pela lei eleitoral. Mas este pleito tem mostrado aspectos que o colocarão em lugar de destaque na história política desde a redemocratização de 1985.
     Para governador no Rio, enquanto os holofotes se direcionavam para Romário, Eduardo Paes e Garotinho, os resultados preliminares deram Paes e... Wilson Witzel. Atrás destes nomes e até do psolista Tarcísio, Witzel, do PSC, virou o jogo declarando apoio ao presidenciável Jair Bolsonaro. Com direito a terminar na frente do ex-prefeito.
     Juiz federal, Wilson Witzel não fazia campanha tão atraente, até revelar o dito apoio. A viravolta ocorreu graças à grande popularidade do presidenciável no estado. Witzel tem ligações próximas com alguns políticos "milicianos" e da contravenção, na vereança da capital e na Alerj.
     Na presidência, as campanhas de Bolsonaro e Fernando Haddad no segundo turno se mostraram bem distintas. O primeiro evitou sabatinas e debates alegando motivos de saúde. O último foi em todos, sem deixar de lado os corpo-a-corpos e comícios em vários cantos do país, especialmente após o escândalo de caixa 2 das fake news - uma campanha impecável.
     Haddad tem se revelado o grande destaque na corrida. Mais do que o "efeito mártir" da facada sofrida por Bolsonaro. Entrando em setembro na sombra do impugnado Lula, logo alavancou nas pesquisas deixando para trás nomes mais conhecidos e impedindo o pesselista de levar o primeiro turno. Agora, a descrita campanha no segundo leva à possibilidade real de uma viravolta, apesar de deslizes que todo candidato pode cometer.
     Além do citado escândalo de caixa 2, outro fator que impulsionou a campanha de Haddad foi ter investido em slogan contrário - o de amor no lugar do ódio, de livros no lugar de armas. O petista investiu ativamente nisso. Mas sem nos esquecer da participação ativa de vários nomes progressistas de setores da cultura, da intelectualidade e até na religião.
     Por outro lado, o resultado pode levar a temor de se repetir a história de novo período sombrio de autoritarismo em eventual governo Bolsonaro (ou Mourão). E de outro, para os críticos do PT, de o eventual governo Haddad repetir os erros dos petistas anteriores, apesar do seu bom trabalho como ministro e prefeito. Mas, nesse caso, aí cabe aos eleitores escolherem qual história a ser vivida.
     
     
     

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Eleições 2018 e as supostas fake news petistas

     Após a disseminação, pelas mídias em geral, das denúncias de caixa 2 do candidato Bolsonaro relativas ao bombardeio de notícias falsas sobre o PT, o PSL, partido do candidato, tentará represália ao PT em decorrência da descoberta da notícia, que chegou a ser vista como a primeira das top trendings na semana.
     Tratando-se de defender a folgada liderança de Bolsonaro em relação a Haddad, bem como  de recuperar a suposta imagem de honestidade de seu candidato, o partido pretende ir com tudo contra o adversário na justiça, através de um processo, no qual se justifica em suposta ajuda voluntária (aqui).
     Outro suposto triunfo de que o PSL se dispõe é o fato de o PT já ter sido acusado de fato semelhante em eleições passadas. Mas, é possível que não seja relevante para a justiça, uma vez que antes a lei ainda permitia o financiamento empresarial nas corridas eleitorais, e faltam provas de contestação de quantias declaradas.
     A acusação central do PSL ao PT de divulgar notícias falsas sobre a imagem de Bolsonaro é outro ponto difícil para o acusador: em geral, os objetos de acusação são, em geral, vídeos diversos do candidato, alguns mais antigos e outros mais novos, sobre vários assuntos, etc., disponíveis no Youtube por vários canais, não necessariamente do PT.
     Vale ressaltar que, até o momento, não há menção de que tais vídeos serem falsos pelas mídias especializadas em investigar e desmentir fake news - o que enfraquece ainda mais os subterfúgios do PSL contra o PT e Haddad. E quanto a este, até o momento vem tendo, em tese, uma campanha límpida na corrida, exceto pelas críticas ao adversário. Mas aí já é outra coisa.
Eleições 2018: o disparo de fake news e a crise do judiciário

     Todo período eleitoral é conhecidamente marcado por ataques de candidatos contra os adversários, com o fim de angariar maior simpatia dos eleitores e, em consequência, seus votos. E não é uma exclusividade brasileira. Mas, no Brasil, as eleições deste ano estão carregadas de ataques de teor surreal.
     Há algum tempo os brasileiros vêm recebendo muitas notícias falsas nas redes sociais, e já era uma suspeição coletiva que elas viriam engrossar no período eleitoral, o que ocorreria neste segundo turno, estourando a partir do momento em que a simpatia a Haddad se aproximou perigosamente à direcionada a Bolsonaro.
     A "fábrica" de fake news de Bolsonaro contra Haddad e o PT, principalmente via WhatsApp, bancada por empresas em R$ 20 milhões não declarados ao TSE, se tornou notícia nas grandes mídias nesta semana. As denúncias foram para o MP e o TSE. Caiu feito uma bomba nas redes sociais, após emitida pelas mídias online de todos os portes e vieses ideológicos. Uma verdadeira true news sobre Caixa 2, que atinge a imagem de incorruptível de Bolsonaro.
     Se o conceito do judiciário já estava muito mal para a população, agora pode piorar. Afinal, o TSE afirmou não ter como avaliar o caso alegando falta de tempo - pouco tempo menos do que o despendido na corrida pela bem-sucedida prisão de Lula. E, para completar, Haddad apontou: "temos Justiça analógica para lidar com problemas virtuais" (aqui).
     A afirmativa de Haddad engrossa o grave problema enfrentado pela Justiça quanto ao julgamento dos chamados crimes cibernéticos. Se é morosa para tantos casos comuns, que podem parecer irrelevantes para o alto escalão judiciário, mas não para o andar de baixo da pirâmide, imagina-se então para os casos virtuais. 
     Mas outro defeito comum ao nosso judiciário é o interesse. Temos visto o quanto há interesse em resolver alguns casos nos bastidores políticos, enquanto que em outros simplesmente fecha os olhos e se determina a soltura de tantos nomes perigosos. Essa seletividade pode, ou é, a chave para desvendar em quais casos interessa à Justiça se portar analogicamente, consolidando-se a maior crise moral de sua história.
     
     

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Direita x esquerda: distorções no centro da intolerância - esclarecimento

No alto sem delimitação: centro.
Azul-claro: centro-direita (mais mercado, estado democrático)
Azul-médio: direita liberal, mas mais mercado.
Azul-escuro: mau investimento em poderes públicos essenciais, domínio franco do mercado, direitos trabalhistas frágeis (neoliberalismo empresarial)
Negro: ditadura de extrema-direita (censura, perseguições, violência de estado, execuções, etc.). Ideologia se dissolve em controle, poder e acúmulo material.




Rosado: centro-esquerda (melhor atuação dos poderes públicos, democracia)
Vermelho: social-democracia, estado de bem-estar social. Desenvolvimento social no topo.
Vermelho-escuro: domínio do estado, crises políticas, regime ao estilo Maduro da Venezuela.
Negro: ditadura de extrema-esquerda (censura, perseguições, violência de estado, execuções, etc.). Ideologia se dissolve em controle, poder e acúmulo material.

     Com a plena caça às fake News por sites especializados, estão em alta vídeos e textões “históricos” de política de internet que geram muita polêmica entre grupos opostos, que se digladiam na tentativa de “desmascarar” o outro para fazer mudar de ideia. Tais textos acabam merecendo atenção para esclarecimentos.
     Os grupos pró-Haddad, à esquerda, mostram atrocidades cometidas por ditaduras de extrema-direita contra os direitos humanos e opositores: censura, perseguições, violência, desaparecimentos, execuções. Os mais à direita, pró-Bolsonaro, fazem igual em relação às ditaduras de extrema-esquerda. Como se os candidatos fossem de fato extremistas.
    Sobre essa briga dicotômica destaca-se viralizado na internet o textão de L. C. L. Cal, supostamente de Liverpool, Inglaterra, que expõe detalhes chocantes em tom sensacionalista, ou agressivo, se preferir, as atrocidades dos governos totalitários "de esquerda".  O texto está disponível aqui.
     Cal deslinda com esmero tais ditaduras. Não obstante haja provas históricas de seus dados, há erro de julgamento ao minimizar as barbaridades cometidas pelas ditaduras “à direita” e considerar como esquerda todos os governos extremistas apontados, sem inferir que o Estado de bem-estar social se baseia nos princípios da esquerda democrática.
     Costumeiramente se explica as ideologias como que numa linha reta, os regimes extremistas de esquerda e direita nas pontas. Mas, na prática, as vertentes ideológicas se distribuem numa ferradura, cujas pontas (as ditaduras) 
     Tende-se a considerar o direcionamento das diferentes linhas ideológicas como que em uma linha reta, quando na verdade as vertentes ideológicas se distribuem em uma ferradura, cujas pontas, os extremismos "à direita e à esquerda", se esbarram, por mostrarem tantas práticas e objetivos em comum. A figura esquemática, com as cores explicativas, está em cima.
    Ele considera de esquerda ditaduras à direita como: Nguema (Guiné Equatorial), Mugabe (Zimbabue), Kaddafi (Líbia), Oriente Médio (Irã, Iraque, Síria), Botha (África do Sul, apartheid), em Mianmar. Ditaduras tão assassinas quanto as “comunistas” do Khmer Vermelho (Camboja), URSS (inclusive o Holomodor na Ucrânia), China, Cuba, Congo de Nguesso, Angola de Eduardo dos Santos, e Leste europeu.
     A imprecisão nos números da América Latina dos anos 1960-80 agrava as críticas. No Brasil, os 434 mortos da Comissão da Verdade foram subestimados pela recusa de um militar aposentado em “ajudar o inimigo” e a descoberta de dezenas de ossadas no cemitério clandestino de Perus no interior paulista. Sem mencionar os cemitérios de Campos de Goytacazes e de Quissamã, ainda não exumados, os desaparecidos e os 8000 indígenas abatidos pelos militares.
     Isso indica que os regimes extremistas, ao se voltarem contra seus próprios povos com supressão de direitos, perseguições, execuções e violências, se despiram totalmente da organicidade ideológica. Não há mais centro, direita e esquerda, só a sede sanguinária de controle, riqueza material e poder ilimitado, do Estado (“comunista”) ou do oligopólio mercadológico com anuência estatal (capitalista). Por isso estarem tão unidos nas pontas da ferradura.
     O Brasil atravessa um contexto um pouco diferente do anterior ao golpe militar de 1964. O tempo todo a internet lança informações, verídicas ou não, sobre os presidenciáveis, e um deles será escolhido pelo voto. A franca travessia de informações e a liberdade de escolha de um ou outro candidato revela o nosso momento democrático. Ou, quem sabe, o que resta de nossa democracia. É esperar para ver se reviveremos, ou não, a ponta da ferradura.

Crédito: Autor desconhecido, 13 de outubro de 2018.
     

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Eleições 2018: a renovação do velho pelo... velho

     A exemplo do que ocorreu no campo da corrida presidencial, também no campo do legislativo, tanto para a Câmara quanto para o Senado, ocorreu a procura pela renovação do quadro de pessoal. O que faz sentido e, de certa forma, é saudável para a própria democracia enquanto processo constituído.
     Por medo de serem rechaçados, muitos nomes preferiram recuar diante da votação da reforma da previdência à la Michel Temer, fortemente rejeitada pela maior parte da população. Até então maioria no congresso, o conjunto das bancadas da bala, da bíblia e do boi se via otimista em perpetuar seu poder. Só que...
     Pode-se dizer, de certo modo, que houve renovação: o conjunto da bíblia eleito é menor do que o de 2014-18, e enfrentará não um, mas quatro LGBTs. Entre os ruralistas, entraram representantes do meio ambiente e dos povos da floresta, com indígenas e quilombolas. 
     Nesse sentido permanece o necessário embate entre a força majoritária do stablishment à direita e a força minoritária, mas combativa, do antissistema das minorias, à esquerda. O que é, até de certo modo, surpreendente, em meio a tanto ódio da polarização que circula livremente nas ruas e nas redes sociais.
     Em matéria de representação partidária, o PT surpreendeu em ganhar 56 cadeiras na Câmara, acompanhado de PSOL, PC do B e PCB, uma forcinha oportuna à esquerda, enquanto os grandes partidos como MDB e PSDB quase sumiram. Isso talvez tenha motivado o Jornal do Brasil a considerar importante a renovação desse congresso, principalmente se Haddad for o presidente eleito.
     A diminuição da bancada evangélica pode, por um lado, ser considerada uma vitória. Pois essa bancada influenciou muito na aprovação do retrocesso legal, e está por trás de toda a sorte de sentimentos ruins e de fé distorcida, despertados pela banalização da violência na TV em horário livre e escancarados pela abertura total da caixa de Pandora promovida por Bolsonaro e correlatos.
     Mas, por outro lado, a bancada evangélica menor não diminuiu a força conservadora: o pequeno PSL de Bolsonaro quase iguala o PT em número de cadeiras, bem assessorado pelos nanicos de aluguel à direita, o que agrega valor aos interesses privatistas e antissociais do mercado e do agronegócio nada pop. 
     Conclusão: a decantada renovação no Congresso se valeu na entrada de novos nomes e novos partidos, mas o ar viciado da velha política ali permanece, ajudando a mofar o carpete da grande sala de votação. É a renovação da velha política pela... velha política. Talvez menos religiosa, mas com a mesma virulência opressora do neoliberalismo.

Veja: Eleições 2018 e a caixa de Pandora fascista.


segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Eleição 2018 e a caixa de Pandora fascista

     O pleito 2018 ocorreu entre a tranquilidade e muitas fake news de urnas fraudadas. Depois, milhares de olhos e ouvidos atentos à TV e à internet para o resultado preliminar. Segundo turno entre o esperado Bolsonaro e o surpreendente Haddad, que contrariou expectativas de muitos quanto à possibilidade de haver segundo turno sem o experiente Ciro Gomes.
     Mas, o mais interessante dos resultados surgiu antes e durante o pleito, quando foi exposta a caixa de Pandora da sociedade brasileira, graças aos efeitos da figura do candidato Bolsonaro e aos da prisão de Lula. Uma sociedade dividida basicamente em duas correntes, uma mais à direita e outra mais à esquerda, ambas multifacetadas.
     A corrente mais à esquerda tem fãs ou apoiadores de Lula, partidários petistas ou não, e de independentes como os simpáticos ao PSTU e similares, e é reservada com o mercado. A corrente à direita é basicamente conservadora nas liberdades civis, mas pode ser, ou não, bem aberta ao mercado. Em geral apoiam Bolsonaro, Amoêdo e outros da linha.
     Mas Bolsonaro foi mais além, nas suas propostas de fechamento relativo aos direitos civis, item em que ganhou fãs alucinados, que se pronunciavam já nas redes sociais em ofensivas aos que o repudiam. Ajudaram com espalhe sistemático de fake news contra Haddad e o PT, tendo até ajudinha de Flávio Bolsnaro (veja um exemplo aqui).
     Entretanto, este é apenas um detalhe: há relatos de eleitores nas redes sociais que denunciam atitudes preocupantes de supostos apoiadores de Bolsonaro, como a filmagem de um eleitor armado apertando o número do candidato com o cano do revólver (aqui) e o assassinato de um mestre de capoeira em Salvador por ter votado no PT e criticar o militar (veja aqui).
     A caixa aberta mostrou a maior parte da sociedade brasileira como é: homotransfóbica, excludente, elitista, pseudomoralista, religiosa conforme convém, prefere resolver pendências "no braço" ou "na bala", recusa a sua natureza mestiça. Não admira que as ideias grotescas de Bolsonaro, que geram êxtase em seu fã-clube, sejam frutos desse caldo idiossincrásico.
     Por sorte, é apenas a maioria da sociedade e não a sua totalidade. Políticos da linha de Bolsonaro causam repúdio entre a significativa parcela mais à esquerda, que nesse segundo turno reúne novamente a sua fé na humanidade e todas as forças possíveis para enfim vencer de virada as eleições.
     Certamente um caminho sinuoso e lotado de pedras, talvez mais pela mentalidade fascista tosca liberada da caixa de Pandora do que pelos números a superar. E, quem sabe, com a bem difícil, mas não impossível, vitória de Haddad, quem sabe as pedras fascistas sejam de novo recolhidas para seu lugar de origem, pelo menos.
   

CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...