segunda-feira, 26 de novembro de 2018

O caminhar do Brasil nas idiossincrasias de Bolsonaro

     Passadas as eleições, o escolhido Bolsonaro parte para a montagem de seu ministério. Talvez imaginando que não sobraria mais ninguém que se opusesse às suas ideias e propostas, chamando alguns nomes militares, o eleito logo disse que iria diminuir o número de ministérios. Mas também se deparou com intensa pressão popular em alguns momentos.
     Algumas mudanças, como a fusão das pastas da Justiça com a Segurança Pública, não foram criticadas. As críticas e memes recaíram sobre a indicação do juiz Sergio Moro para ministro, que dizia recusar autopromoção política - apesar do significado claramente político da prisão de Lula, efetuada em tempo meteórico. 
     A primeira foi a ideia de fundir a pasta do Meio Ambiente com a da Agricultura. De pronto, opositores da sociedade e políticos reagiram, percebendo que a ambiental seria reduzida a uma secretaria submissa, já que a ministra escolhida é a Musa do Veneno, que briga pela liberação de agrotóxicos condenados pela OMS e maior parte dos países.
     A pressão, principalmente nas redes sociais, surtiu efeito: Bolsonaro recuou. Mas não tombou: inicialmente pensou em escalar um militar, mas depois, para acalmar a galera, cogitou colocar a atriz e ex-Playboy Maitê Proença. Mas, enfim, estão cogitados Ricardo Soavinski, da Sanepar, e o agrônomo Xico Graziano (aqui).
     Outra ideia abortada à força da intensa saraivada de críticas e pressão popular foi a extinção da pasta do Trabalho. O slogan de que o ministério era desnecessário não colou para a classe trabalhadora tão numerosa. Apesar de distintos, ministério e justiça do trabalho atuam juntos: o primeiro tem os fiscais e atende às demandas dos trabalhadores; o último atua juridicamente contra os maus empregadores.
     Se a ideia é "acabar com cabides de emprego" de tantos ministérios, Bolsonaro se contradisse ao propor a pasta da Família, pela fusão da de Direitos Humanos com a de Desenvolvimento Social, visada para o rejeitado Magno Malta. Diante das críticas nas redes sociais, se cogita a pasta da Cidadania, fundindo as já citadas e também políticas de combate às drogas, segundo Onyx Lorenzoni. Até o momento, tudo é especulação.
    Outra pasta que cai na linha moralizante do governo é a do MEC. Enquanto o Escola sem Partido tramita no Congresso, surge Vélez Rodriguez, colombiano naturalizado brasileiro bem conservador, para ministro. Antes calmas, as críticas nas redes sociais se engrossaram sobre o indicador responsável: Olavo de Carvalho.
     Olavo se diz de tudo um pouco: filósofo, médico, astrólogo, físico, cientista político... Até se saber que ele sequer concluiu o ensino fundamental e mora nos EUA sustentado pela filha com quem vive em guerra. O autor de pérolas como "o cigarro é bom para a saúde" e "Geisel era comunista", ele é autor do livro "Como evitar que se torne um idiota". Como se vê, uma figura tão idiossincrásica quanto tosco é Bolsonaro. Se não for idiota, claro. 
     Nessa perspectiva, tudo indica, ou mostra claramente, que o Brasil caminha perigosamente a passos tortos bem na aresta de um imenso abismo.
     

domingo, 11 de novembro de 2018

Moro e Guedes: superministros do Trabalho de Bolsonaro

     Nas redes sociais, a convocação de um ministério com alguns militares pelo presidente eleito Jair Bolsonaro tem sido fonte de maior ansiedade e desespero para boa parte da população. Mas, pode ser que os militares não sejam o maior temor, mas sim dois nomes: Sergio Moro e Paulo Guedes.
    A escolha de Moro para ministro da Justiça do governo Bolsonaro causou regozijo entre seus eleitores, que sempre depositaram confiança na integridade de sua atuação como juiz da Lava Jato. E a confiança pode aumentar, com a indicação dele por Jair para ser não só ministro, mas superministro da Justiça.
     Já Guedes foi convocado para ser superministro na área econômica. De fato, é um economista cuja ideologia liberal agressiva se deriva do fato de ele ser banqueiro - é um dos donos do BTG Pactual. 
     E por que esse posto? O governo Bolsonaro pretende fundir (na verdade, eufemismo para extinção) algumas pastas tradicionais como, por exemplo, a do Trabalho. E, apesar da pressão inicial e de protestos nas redes sociais, o que deu certo quanto ao Meio Ambiente, a pasta do Trabalho será formalmente extinta.
     Nos planos do governo, a pasta do Trabalho será uma secretaria do superministério do Planejamento de Guedes, que absorverá também as da Fazenda ou da Economia (ainda a confirmar). Assim, essa imensa pasta será responsável pelas leis trabalhista e tributária.
     A pasta da Justiça também se torna um superministério, mas basicamente com a finalidade de absorver todos os aspectos e searas jurídicas. A Justiça do Trabalho, entre outros temas, ficará a cargo desse ministério, com atributos de fiscalização e apreensão de crimes contra os direitos trabalhistas.
     Embora critique a legislação brasileira quanto a "estar cheia de direitos", Bolsonaro promete que direitos como 13º, férias e salário mínimo serão mantidos por serem cláusulas constitucionais pétreas. Faz sentido, quando Guedes diz querer flexibilizar mais os direitos, com a adoção da carteira verde-amarela sem CLT, destinada aos jovens em primeiro emprego, paralela à convencional azul da "antiga CLT", de trabalhadores mais antigos.
     Resta saber se os dois superministros, que agirão como uma dupla dinâmica do governo, se darão conta de tanta coisam, e se não entrarão em conflito em torno do interesse que é a questão trabalhista. E, com isso, se houver alguma "troca de tiros", quem certamente ficará no meio do fogo cruzado é a classe trabalhadora.
     
     
     

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O Brasil de Bolsonaro e a possível justiça aos governos petistas

     Enfim, após o tenso Fla x Flu que marcou a corrida eleitoral de 2018, houve a escolha: foi eleito o militar Jair Bolsonaro, tendo como vice o general Hamilton Mourão. Uma escolha que, na prática, não foi pela maioria dos eleitores, senão pelos votos válidos.
     Embora não fosse surpreendente, o resultado final gerou uma série de sentimentos entre os fãs e apoiadores do militar vencedor e do derrotado Fernando Haddad. A angústia, o medo e a tristeza dos eleitores do petista foram pisados com virulência quase sociopática pelo regozijo doentio e violento dos eleitores do militar. 
     Tal falta de empatia é fruto da caixa de Pandora aberta pela identidade com as pérolas do militar, soltas ainda nos tempos de deputado. Mas também é fruto da intensa ignorância acerca dos motivos que alimentam os sentimentos dos eleitores de Haddad. E os motivos são vários, e não sem razão.
     A derrota quase inesperada foi a razão mais óbvia para a súbita tristeza após o vislumbre de esperança perto do desfecho. Mas também simbolizou, para muitos, o luto pela morte da democracia. Essa morte leva à angústia gerada pela visão pessimista da vida nesses quatro anos restantes. E essa visão pessimista do futuro desse período levou ao medo, que se concretiza na medida que propostas austeras e autoritárias avançam em Brasília antes de 2019.
     Por um lado, a derrota de Haddad nas eleições pode significar um momento decisivo para as forças progressistas, de esquerda ou não, em se reerguerem como um bloco de resistência ao autoritarismo através das lutas populares. Para tanto, faz-se necessária uma autocrítica de teor construtivo, seja para reconstruir conceitos de poder e restabelecer o Estado democrático.
     Por outro lado, a era Bolsonaro poderá proporcionar aos cidadãos antipetistas radicais o momento de repensar seus conceitos sobre os governos petistas. Talvez os acontecimentos possam oportunizá-los de se lembrar de que, durante o petismo e antes, eles tiveram toda a sua liberdade de expressar, de ir e vir, e a vários benefícios agora seriamente ameaçados de desaparecer.
     Pois toda a justiça deve ser feita aos governos petistas quanto ao momento de maior plenitude de conquistas sociais até hoje atingidas, maio empregabilidade, e maior facilidade de crédito - ainda que precisasse fazer algumas coisas nada certas para tanto.

CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...