Fatores da violência: uma
teia bem entranhada de fatores
A criminalidade já nasceu como
problema civilizatório. Registros históricos comprovam, como o Código de
Hamurabi e o Romano, este último a principal inspiração para as bases da
Justiça moderna, assimiladas pela maioria das nações, com interpretações
jurídicas próprias.
Há muito a criminalidade é um
grave flagelo brasileiro. Cidadãos dos subúrbios pobres já têm uma infância
marcada pelo estigma da violência cotidiana, consequência mais imediata do
crime que mata, traumatiza, atenta contra a ordem pública e gera prejuízo
moral, social e econômico.
O fenômeno ocorre em todo lugar.
O encantador bucolismo das pequenas cidades do interior pode mascarar a
violência rural com assassinatos por disputas de terras e brigas familiares.
Nos grandes centros dominam assaltos, crimes sexuais diversos, tráfico de
drogas e armas, sequestros, homicídios, estelionato e outros que, mesmo não
sendo violentos, têm potencial ofensivo à vítima.
Policiamento mais ostensivo nas
regiões turísticas e operações de captura de criminosos em comunidades pobres
têm sido os esforços usuais, rotineiros, dos nossos governantes em mitigar o
problema. Mas os índices permanecem firmemente preocupantes perante o cenário
internacional.
Todavia, os governos insistem
justificando tal modus operandi com discursos
populistas. Mas muitos brasileiros sabem que tal esforço não tem visado o
bem-estar social e a ordem pública, mas resolver preocupações econômicas e
salvar a imagem institucional do país frente ao turismo e aos olhos dos seus
grandes parceiros econômicos de alto IDH.
Discursos que não convencem
ninguém mais. Sabe-se que essa medida ineficaz suga muitos recursos
financeiros, logísticos e humanos, tornando a imagem da nação mais tingida de
vermelho. Sabe-se que as operações nas favelas estão por trás da violência para
a segregação social e de recorrentes chacinas a atingir mais os pobres não
brancos, sem efeito na captura e morte de criminosos.
O foco das operações sobretudo
em simples usuários e a influência dos criminosos do topo hierárquico nos meios
empresarial e político, também explicam o fracasso e consolidam mais ainda o
problema, às custas de milhares de inocentes. Os resultados mostram a urgência
de outros esforços.
Apesar da eliminação impossível,
dada a influência nas citadas estruturas de poder e a ligação com a explosão de
delitos comuns, não é impossível mitigar o problema aos níveis próximos aos
aceitáveis socialmente. E o caminho em meio às pedras pode estar na educação
transversal.
Muito mais do que dar aula, a Educação transversal é o debate conscientizador
sobre os males físicos, psicológicos e até espirituais da intensa banalização
da violência cotidiana para a sociedade. As desvantagens são muita perseverança
e certo desgaste psicológico devido ao resultado lento, e a necessária
habilitação dos docentes para essa árdua, mas imprescindível empreitada.
Enquanto isso, outro esforço é
punir corretamente crimes já tipificados com as penalidades correspondentes, e
separar presos aguardando julgamento dos já sentenciados. Investir na adequação
da estrutura prisional calcando na qualificação dos presos para ressocialização
e o mercado a ser conquistado no retorno à liberdade. Privatização e tortura
são caminhos desnecessários e inúteis.
Claro que nada disso é fácil, pois tais esforços
necessitam boa vontade política e, para um retorno garantido, um prazo
relativamente longo, pois a mentalidade coletiva precisa de muito tempo para se
transformar efetivamente, mesmo podendo recair na tentação de ideias
imediatistas, mas negativas. E boa vontade institucional, pois necessita gestão
aprimorada para a efetividade dos mesmos. Um tremendo sacrifício, mas pode
valer a pena para toda a nação.
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