O singular ministério cristocêntrico
de Bolsonaro
Não foi à toa que grande parte
do corpo ministerial do governo Bolsonaro tenha causado tanta repercussão e
polêmica nos noticiosos e redes sociais. O fator primário disso é a construção
de um perfil conservador, com uma prosaica “fusão” entre política e profundo
messianismo religioso. Dos nomes que hoje compõem os ministérios, destacarei em
especial os que se alinham ao perfil acima.
Onyx Lorenzoni foi uma das primeiras nomeações ideológicas.
Ministro-chefe da Casa Civil, ele articulou a transição Temer-Bolsonaro. Sua polêmica?
Cumpria pena por crimes financeiros ao ser chamado. Foi “perdoado por Deus e
Sérgio Moro”. Com o surgimento de nova denúncia contra, vale perguntar se novos
pedidos de desculpas vão funcionar.
Notabilizado pela condenação em
primeira instância do ex-presidente Lula no controverso julgamento do tríplex
de Guarujá, o ex-juiz Sérgio Moro é o
ministro da superpasta da Justiça. Ao contrário de sua esposa e de muitos
admiradores e oposicionistas em conversas diárias, é reservado quanto à sua
vida particular e à fé religiosa, embora não se esconda de ser politicamente
alinhado à direita.
Ex-professor de Filosofia na
UFJF, o colombo-brasileiro Vélez
Rodríguez foi chamado para o MEC, por sua posição conservadora para o tema.
Já demitiu algumas cabeças no MEC devido a suposto filtro de referências
bibliográficas nos livros didáticos. A mando de Bolsonaro, retirou da grade
curricular temas como diversidade e violência contra a mulher, nesses 27 dias
com 78 confirmações de feminicídio, segundo levantamentos mais recentes.
O diplomata Ernesto Araújo foi indicado pelo guru Olavo de Carvalho para a
pasta do Exterior. Cristão fervoroso, terraplanista e autor de pérolas como
“globalismo marxista”, “Brasil dominado por ateus” e “aquecimento global é ideia
comunista”, protagonizou a saída do Brasil do Pacto Global de Imigração, fugiu
da coletiva de Davos e agora articula a transferência da embaixada brasileira
para Jerusalém, metendo o país numa situação perigosa. Foi criticado pelo
brasilianista estadunidense Benjamin Moser por aumentar a ridicularização
internacional do Brasil.
Filha de pastores e ex-assessora
de Magno Malta, a pastora Damares Alves
ocupa a atual pasta de Direitos da Mulher e Humanos. Pérolas polêmicas como Jesus
em goiabeira (devido a abusos na infância), o estrito binarismo sexual na velha
metáfora das cores e a ideia de que “o darwinismo está acabando com a igreja
evangélica” viralizam nas redes sociais. Sua proposta de transferir a
responsabilidade de instrução escolar ao lar é uma das mais polêmicas: afinal,
a maioria das famílias brasileiras não possui instrução suficiente ou adequada.
Spoiler: o ex-astronauta e hoje ministro da Ciência e Tecnologia
Marcos Pontes possivelmente é isento com a fé. Segundo mídias como O Globo,
Terra e Uol, Pontes rebateu declarações de Damares sobre a teoria da evolução
ao dizer que “não se deve fundir ciência e religião, são inconciliáveis”, e
desse modo “devem caminhar em paralelo”.
E não sem razão. O conhecimento
religioso é imutável e se baseia nas noções de espiritualidade, autoconsciência
e moralidade. O científico, por sua vez, se renova em repetidas investigações e
experimentações. A evolução biológica, tão corroborada em sucessivos estudos
genéticos e na etologia[1],
há muito é ensinada nas escolas brasileiras. E Pontes – incluindo Damares e
demais – sabem disso.
De 2/1, atualizado em 11/1/2019.
[1] Ramo cientifico dedicado ao estudo
de comportamentos de animais e vegetais em esferas biológica e psicológica. (N
da A)
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