quarta-feira, 30 de janeiro de 2019


O singular ministério cristocêntrico de Bolsonaro

               Não foi à toa que grande parte do corpo ministerial do governo Bolsonaro tenha causado tanta repercussão e polêmica nos noticiosos e redes sociais. O fator primário disso é a construção de um perfil conservador, com uma prosaica “fusão” entre política e profundo messianismo religioso. Dos nomes que hoje compõem os ministérios, destacarei em especial os que se alinham ao perfil acima.
                Onyx Lorenzoni foi uma das primeiras nomeações ideológicas. Ministro-chefe da Casa Civil, ele articulou a transição Temer-Bolsonaro. Sua polêmica? Cumpria pena por crimes financeiros ao ser chamado. Foi “perdoado por Deus e Sérgio Moro”. Com o surgimento de nova denúncia contra, vale perguntar se novos pedidos de desculpas vão funcionar.
                Notabilizado pela condenação em primeira instância do ex-presidente Lula no controverso julgamento do tríplex de Guarujá, o ex-juiz Sérgio Moro é o ministro da superpasta da Justiça. Ao contrário de sua esposa e de muitos admiradores e oposicionistas em conversas diárias, é reservado quanto à sua vida particular e à fé religiosa, embora não se esconda de ser politicamente alinhado à direita.
                Ex-professor de Filosofia na UFJF, o colombo-brasileiro Vélez Rodríguez foi chamado para o MEC, por sua posição conservadora para o tema. Já demitiu algumas cabeças no MEC devido a suposto filtro de referências bibliográficas nos livros didáticos. A mando de Bolsonaro, retirou da grade curricular temas como diversidade e violência contra a mulher, nesses 27 dias com 78 confirmações de feminicídio, segundo levantamentos mais recentes.
                O diplomata Ernesto Araújo foi indicado pelo guru Olavo de Carvalho para a pasta do Exterior. Cristão fervoroso, terraplanista e autor de pérolas como “globalismo marxista”, “Brasil dominado por ateus” e “aquecimento global é ideia comunista”, protagonizou a saída do Brasil do Pacto Global de Imigração, fugiu da coletiva de Davos e agora articula a transferência da embaixada brasileira para Jerusalém, metendo o país numa situação perigosa. Foi criticado pelo brasilianista estadunidense Benjamin Moser por aumentar a ridicularização internacional do Brasil.
                Filha de pastores e ex-assessora de Magno Malta, a pastora Damares Alves ocupa a atual pasta de Direitos da Mulher e Humanos. Pérolas polêmicas como Jesus em goiabeira (devido a abusos na infância), o estrito binarismo sexual na velha metáfora das cores e a ideia de que “o darwinismo está acabando com a igreja evangélica” viralizam nas redes sociais. Sua proposta de transferir a responsabilidade de instrução escolar ao lar é uma das mais polêmicas: afinal, a maioria das famílias brasileiras não possui instrução suficiente ou adequada.
                Spoiler: o ex-astronauta e hoje ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes possivelmente é isento com a fé. Segundo mídias como O Globo, Terra e Uol, Pontes rebateu declarações de Damares sobre a teoria da evolução ao dizer que “não se deve fundir ciência e religião, são inconciliáveis”, e desse modo “devem caminhar em paralelo”.
                E não sem razão. O conhecimento religioso é imutável e se baseia nas noções de espiritualidade, autoconsciência e moralidade. O científico, por sua vez, se renova em repetidas investigações e experimentações. A evolução biológica, tão corroborada em sucessivos estudos genéticos e na etologia[1], há muito é ensinada nas escolas brasileiras. E Pontes – incluindo Damares e demais – sabem disso.
De 2/1, atualizado em 11/1/2019.


[1] Ramo cientifico dedicado ao estudo de comportamentos de animais e vegetais em esferas biológica e psicológica. (N da A)

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