Cacique Raoni, um velho incômodo
Em seu estapafúrdio discurso na ONU, o presidente Jair Bolsonaro fez referências depreciativas aos povos indígenas e, em especial, ao Cacique Raoni, líder do povo caiapó, do Norte brasileiro.
Apesar da rejeição dos demais chefes de Estado presentes, o discurso sinaliza a nova posição brasileira na abordagem dos povos originários. Alerta amarelo no mundo.
A razão dessa importância reside na relação íntima desses povos com a conservação do ambiente natural, e também na resistência deles após cinco séculos de massacres e exploração.
Em 1992 ocorreu a Cop-Rio ou Eco-92, a primeira conferência Mundial pelo Clima no Brasil. Enquanto autoridades se reuniam em recinto fechado, grupos populares de ambientalistas enchiam as adjacências ao redor.
Entre esses movimentos estavam os indígenas, liderados por Raoni Metuktire.
Raoni se tornaria conhecido dos brasileiros por conta desse evento, no qual estava também o cantor inglês Sting, amigo do cacique e também ativista ambiental.
Houve quem acreditasse que, por causa do artista, Raoni surfasse na onda da fama e passasse a ser ativista desde então. Uma fake news por pura ignorância e preconceito.
Seu ativismo se construiu na relação com os irmãos Villas-Bôas nos anos 1950, em encontro com o rei Leopoldo III da Bélgica em 1964, protagonizou o documentário Raoni (1978) e pressionou políticos em 1984 pela demarcação de terras indígenas.
Em 1987 veio a projeção internacional graças a Sting, que conheceu na passagem pelo Parque Nacional do Xingu. Com ele, o cacique passou por 17 países para defender a floresta contra a atual obra de Belo Monte.
Seus projetos são até hoje custeados pela Rainforest Foundation, fundada por Sting, sua esposa e o cineasta Jean-Pierre Dutilleux. A fundação os divulga para o mundo todo.
Agora, Raoni é indicado ao Prêmio Nobel da Paz deste ano, a ser anunciado nesta sexta-feira. Detalhe: tem a companhia da jovem ativista ambiental Greta Thunberg, do papa Francisco e do ex-presidente Lula.
Com essa biografia, o cacique reforça a lista de "inimigos" imaginários de Bolsonaro. Mais um velho internacionalmente reconhecido a incomodar o governante agora mais rejeitado do mundo ocidental.
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