segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Governo Bolsonaro e igrejas: uma herança histórica

     Pelo menos desde os anos 2000, a forte proximidade de políticos com o público cristão tem sido a tônica das campanhas eleitorais, com especial atenção aos evangélicos.
     Além de saberem de seu crescimento expressivo, eles perceberam que é um público bom de amealhar votos, tendo a seu favor (ou não) a eficaz mediação dos seus pastores ou bispos.
     São eles que indicam aos fieis os nomes a serem votados, ainda que nem todos os obedeçam com o mesmo afinco religioso. E hoje temos um governo quase evangélico.
     Tal aplicação gera o fenômeno do curral eleitoral, que frequentemente implica em patrocínios públicos flagrantemente ilegais de eventos religiosos, alvos de processos frequentes movidos por representações ateístas.
     E isso mostra outra entrelinha: o que favoreceu esse fenômeno, num Estado laico?
     Na verdade, o fenômeno é histórico, sendo sempre remodelado. Os políticos reconhecem o papel fundamental das igrejas na cultura religiosa e moral do povo brasileiro.
     A constituição imperial de 1824 determinava que somente católicos poderiam ocupar cargos eletivos. Coube a República laica quebrar esse monopólio e permitir geral, para que valores religiosos não ditem mais a lei.
     É interessante que a aliança entre Bolsonaro e igrejas evangélicas tenha herança na relação travada entre os militares (1964-85) e a Igreja Católica.
     A aliança de 1964-85 se deu por manifestos de setores católicos conservadores da elite, entre elas a TFP (Trabalho, Família e Propriedade) e Arautos do Evangelho, que apoiaram o golpe militar junto à maior parte da CNBB.
     Uma relação dúbia: o Vaticano sabia das várias frentes populares católicas que atendiam à ampla diversidade das classes populares, alijadas pelos militares e setores conservadores da elite.
     Tudo isso Bolsonaro testemunhou quando militar, e ele se tornou avesso à ICAR devido ao papel do catolicismo progressista. Daí a aliança atual com o setor evangélico, fortalecida pelo bem pago batizado no rio Jordão, em Israel, com o pastor Everaldo.
     O que nos faz entender o governo com instituições aparelhadas com militares e pastores, a direita conservadora e fortemente capitalista também dos pastores mais influentes, que vendem a sua fé sem pagar um tributo qualquer e gozam de muitos privilégios.
     Tudo isso em detrimento da imensa massa alijada que os apoia.

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